I
Tércio-décimo dia do calendário, o número treze é grafado com dois algarismos primos, a saber: o 1 (um) e o 3 (três). Por extenso, ou letra cursiva, inclinada, reta ou curva, o treze há de possuir sempre cinco letras, duas sílabas, e na articulação (da boca), obriga a língua a parar na ponta dos dentes da frente, a fazer um movimento de recuo, depois um vibrar ligeiro e úmido, seguido de um assoprar abrupto com som saindo entre lábios contraídos; fazendo rugas à cara dos velhos, sujando o batom das moças.
II
Culpa é do Latim que pariu a palavra, uma composição de tre (três) e décim: tredécim. Tredécim> tredcim>trezim> treze. Algarismo de dois dígitos: número esguio, seguido de peitos (ou bunda) salientes de acordo com o ângulo, a predileção, o gosto de quem mira. Já a fama de mau dia, deve-se à azaração de Loki, espírito do mal e da discórdia, penetra na festa de Odim; ou à Friga, ressentida deusa nórdica do amor e da beleza; ou ao sempre apedrejável Judas, décimo terceiro a ocupar a mesa e dar beijinhos falsos em Jesus.
III
Já a numerologia diz que o treze, além de primo e irregular, não possui a nobreza e a exatidão dos doze meses, não gira na roda festiva do zoodíaco, chuta o cestinho da dúzia, não é duas vezes o sete, número mágico das fadas, das simbologias maçônicas, da perfeição litúrgica e sua lista de pecados e virtudes.
IV
Treze é número insolúvel, indivisível, o fim em si mesmo, a hipótese de uma má sina, de um destino desatinado, sem sossego. Ou desassossegado.
V
Feito um tal Fernando Pessoa, -- sujeito multíplice, ele e o outro, ele e ele mesmo, heterodoxo total, [que sorte do acaso e surpresa de quem pensa /digita /compõe /reescreve /bloga essa ode/parode] faria aniversário justamente neste 13 de junho. Ou seja, não fosse morto desde 1935, hoje faria por certo 121 anos, constituindo-se o poeta mais longevo de toda uma geração de modernistas portugueses, decrépito, mas vivo: pura maravilha em decomposição poética. Mas não quis a cirrose, o doce sabor amargo de ser triste e fingidor fazê-lo chegar a tanto.
VI
[Por isso presto aqui, para não fugir à ocasião, meu fiapo (também) de pieguíssima homenagem, antes de cair na subjetvia primeira pessoa do singular, que é afinal, a preferida dos blogues, mãe da Lírica e de onde provém, por certo, toda Filosofia, toda Literatura e Arte].
VII
De pronto, recuso-me a dar as caras do meu nome, pois, como mais que bem dito falou Julieta na pena de Shakespeare: “O que é um nome? A rosa, se tivesse outro nome, seria menos perfumosa?!” Eu que não sou de feder nem de cheirar, afirmo que o treze, de todo calendário, é o único dia que por si tem história para se contar. Tirando a sequência interminável de filmes ruins feitos em seu nome, sobrevive com ar de mistério, pondo pavor mundo afora.
VIII
Parascavedecatriafóbicos ou frigatriscaidecafóbicos são esta espécie raríssima de gente que se péla às sextas-feiras 13. Ainda mais infelizes são os triscaidecafóbicos, que morrem um pouco mais todo mês ao décimo terceiro dia. Não por acaso, no tarô é a Morte (prometendo também renascimento), e só dá sorte mesmo no galo, para quem aposta no jogo do bicho.
IX
Treze é torto, é vesgo, é sinistro, é o gauche drummondiano. Thirteen é o looser dos números. Por isso mesmo, cardinal que eu catei para mim, por vocação atávica de crer nos mistérios mais banais. Número da sorte de quem tropeçou anos e anos no az-zahar, flor árabe do jogo de dados que os franceses nomeiam hasard. Sujeito pensante, quieto, solitário, medroso. Mil rituais brotando na alma por conta do número. Mantra assoprado na infância combinado com três toques na madeira. Prisioneiro deste tique de riscar as páginas lidas dos livros da biblioteca Cecília Meireles, e marcar assim, sua existência míope: 13, 130, 133.
X
Mistério inaugurado no conto preferido de Andersen, a moça oferecendo-se ao príncipe que sucumbe à tentação logo na primeira noite.
XI
Dos treze, a melhor de todas as memórias: a inauguração da consciência exata do corpo. O febril orgasmo solitário numa noite sem data, escura e subitamente luminosa. A convicção maravilhada de uma infração gravíssima. A entrada definitiva no pecado, a se repetir com culpa declinante e gozo vida a fora.
XII
Dois algarismos, duas sílabas: nenhum mistério. Superstição sobrepondo-se a toda lógica, extensão tranqüila da divina providência contra toda ordem, certeza e práxis. Start de um mundo novo, possível, promissor. Treze é para mim violação profana do que não está instituído em nenhum livro sagrado. Promessa de todos os mistérios sem dogmas ou ciência ensejadas num só número.
XIII
E eu saúdo, muito artificial, nesses treze fragmentos, a inauguração do dia 13 no blog dos 30, para crédito e descrença dos que habitam o mundo dos sentidos.
Bom, acabei de chegar em casa (estou bêbado), tomei um iogurte de mel, um banho e entrei aqui. 13! PT - puta texto! Eu gosto dos escritos do Eduardo, até já elogiei antes deste blog existir, mas ele nem nem. hehe Abraço, moço.
ResponderExcluirAh, fui o primeiro. E bêbado.
Edu, muito bom seu texto, show de cultura (daquela inútil, que sempre tem utilidade). E adorei as palavras que nomeiam os medrosos(que são difíceis de dizer lendo, imagina de se lembrar então), um dia vou tentar dize-las bêbado. Vamos ver o que dá... Abraço!!!
ResponderExcluirEduardo Araújo também é cultura. Adorei a menção a Fernando Pessoa (jogada de mestre), a Shakespeare (o que há num simples nome?), ao gauche de drummond (genial)...
ResponderExcluirEnfim, soube desdobrar o próprio número e vender o próprio peixe. Mal posso esperar pelo dia 13 de julho.
Queria comentar coisas legais, mas o comentário do Cleytão me comoveu, pois também estou bebado. E o Edu, ele é foda. Fico feito analfabeto (que sou) maravilhado com tudo que está escrito, inclusive com o que eu não faço a menor idéia do que seja.
ResponderExcluirHehehe, alem de interessante o Edu consegue ser ao mesmo tempo papibaquigraficamente instrutivo. (vê-se que cinema é mesmo sua praia, o texto tem roteiro!), Logico, coerente, bem construido, muito bom!
ResponderExcluirok, depois desta extensa aula sobre tais algarismos,culta e de requinte impecável,nobre tal qual nos tempos áureos e monárquicos, faço um resumo do que aprendi:
ResponderExcluiraos 13, eduardo se masturbou pela primeira vez.
.
Erudição? Um pouco de google, dicionário, ironia e confissão. Estão me levando a sério demais! E yes, Lucas, aos 13, velho demais?
ResponderExcluirO 3 não é nem seio nem bunda, é uma grávida de perfil. Seios fartos e barriga de quase parto.
ResponderExcluirEduardo, se você discorrer sobre o sentido das cores dos grilos, pararei para ler, e aposto que será instigante, divertido, complexo, simples, delicioso.
ResponderExcluirUm prazer sempre, nas janelinhas ou no post.
Pronto, inaugurei minha prestação de homenagem, depois de já ter inaugurado a primeira pessoa do singular.
gosto do numero 13, mas prefiro o numero 3 sozinho.
ResponderExcluirNão tenho nada contra o treze...até acho um nº simpatico!
ResponderExcluirExceção,não bebi nessa noite, li sóbrio o texto. Fiquei orgulhoso do dia 13 ser o dia do meu aniversário e ter um texto, sem babação de ovo, brilhante.
ResponderExcluirClaro que sem surpresa nenhuma para aqueles que conhecem o seu blog.
O 13o. comentário! Rá!
ResponderExcluirAgora, sério!
ResponderExcluirAdoro como você escreve, Edu, e foi por isso mesmo, pelo seu blog, que fui parar no blog do Lucas, e ele no meu, e vim parar aqui. Seus textos são sempre muito bons, adoro, adoro!
Parabéns, e porque não, obrigada!
13 é Galo! Adoro o 13!
Beijos
O treze n é bunda, nem peito, nem grávida, é um pau e... deixa p la...
ResponderExcluirAmei o texto, e eu não acho q 13 anos é cedo, nem tarde, foi mais ou menos nessa idade que eu descobri meu corpo também. Sozinha, diga-se de passagem.
13 é um número mágico, mas quem sou eu p dizer, eu acho todos os números mágicos!
eu que tinha birrinha do 13 por darem a ele uma importância incomum... terminei o texto achando-o super simpático.
ResponderExcluirmais uma fã confessa sua, eu.
O 13 é meu número, mas gosto mais quando ele está no mês anterior a esse. Sabia que seu texto ficaria bom.
ResponderExcluirCitando Edu "Dois algarismos, duas sílabas: nenhum mistério".
ResponderExcluirCitando Du: "...maravilhado com tudo que está escrito, inclusive com o que eu não faço a menor idéia do que seja."
Letícia que não é a Letícia, espero que não se aborreça se eu comentar os comentários. Mas aqui estamos livres para fazer o que quisermos, até auto-ajuda, auto-elogio, auto-crítica, sempre com sarcasmo e alguma delicadeza: pois o que a gente quer é festa. Já no meu texto, não resisti e acrescentei o Galo do jogo do bicho (thank you Ana) e a Morte da carta do Tarô, que tinha esquecido (pois os amigos também podem alterar o escrito). Cleyton, não ignoro não, agradeço demais seu comentário bêbado e todos os sóbrios. Adorei "papibaquigraficamente" (citando a Babi que cita o outro Edu: "...maravilhado com tudo que está escrito, inclusive com o que eu não faço a menor idéia do que seja.". Ok treze é peito, bunda, mulher grávida, pode ser pau também (no caso, sempre o olhar de quem vê). Já no campo da auto-crítica, fico devendo agora um post pequenininho, dessa vez não deu.
ResponderExcluirAbço
cade o comentario da leticia q nao é leticia?
ResponderExcluirainda bem que, antes de ler este post, eu já tinha abandonado a idéia de escrever quinze pequenos textos para o meu dia 15...
ResponderExcluiragora, saudade do tempo em que eu tinha 13 anos, não tenho absolutamente nenhuma: os 13 anos (pelo menos os meus) são poéticos no texto e só no texto...
clap clap clap clap clap \o/
ResponderExcluirNunca surpreende!
ResponderExcluirPelo simples fato de saber que sempre sai algo de impecável,impressionante e lindo de você..sempre é assim e sempre será...
lindo e apaixonante pelo nº 13.
[ainda atrasado, lido no dia, mas sem ânimo de dizer algo...acho que não ando nos melhores dias]