(Puberty - Munch)
Ela dormia com as luzes acesas.
Todas as noites:
A noite toda mantinha a casa inteira iluminada,
Pra não acordar de madrugada e dar de cara com si mesma.
Vestia roupas normais.
E o normal simplesmente não agrada, nem irrita.
Não favorece os olhos,
Nem espanta a alma.
É normal.
E passa...
Sem que ninguém note...
Não era feia, meu Deus!
Juro que não era.
Mas era pior:
Cara de coisa, voz de qualquer um, jeito sem graça.
Não chamava atenção,
Nem pro mal, nem pro bem.
Era conjunto vazio perdido no infinito.
Admirava as belas...
E seus longos saltos altos, bicos finos, decotes em V.
E por pior que seja,
Também gostava das medonhas...
Elas sim, pareciam ter:
Uma razão justa, palpável e compreensível,
Pra toda cara de sofrimento, arranhado no rosto e unhas mal lixadas.
Era pedra bruta, cascalho, pedregulho.
Sabe a pedra pequena?
Que não chega a atrapalhar o caminho, nem entrar no sapato?
Ninguém sabe...
Ninguém vê...
Ninguém nota...
Ela era pedra.
Ela guardava uma caixinha de sonhos
Embaixo do braço, enquanto dormia.
Vez ou outra desgarrava um rebelde...
E adentrava naquela cabeça insossa de menina
(sem corpo de mulher, sem cara de criança)
Ela então acordava sufocada
Pelos próprios desejos,
Pelos impossíveis sonhos.
E voltava a dormir.
Uma noite sonhou que podia ser lagarta.
Que apesar da feiúra intragável do animal,
A hora bendita,
A hora da estrela,
Sua hora e vez,
Iria chegar.
Chegou...
E da lagarta feia e estranha,
Nasceu uma borboleta:
Não-azul, não-desenhada, não-agradável, não-borboleta.
Uma borboleta sem cor:
Comum, fria e sem dó.
(Mayra Massuda - junho/09)
Todas as noites:
A noite toda mantinha a casa inteira iluminada,
Pra não acordar de madrugada e dar de cara com si mesma.
Vestia roupas normais.
E o normal simplesmente não agrada, nem irrita.
Não favorece os olhos,
Nem espanta a alma.
É normal.
E passa...
Sem que ninguém note...
Não era feia, meu Deus!
Juro que não era.
Mas era pior:
Cara de coisa, voz de qualquer um, jeito sem graça.
Não chamava atenção,
Nem pro mal, nem pro bem.
Era conjunto vazio perdido no infinito.
Admirava as belas...
E seus longos saltos altos, bicos finos, decotes em V.
E por pior que seja,
Também gostava das medonhas...
Elas sim, pareciam ter:
Uma razão justa, palpável e compreensível,
Pra toda cara de sofrimento, arranhado no rosto e unhas mal lixadas.
Era pedra bruta, cascalho, pedregulho.
Sabe a pedra pequena?
Que não chega a atrapalhar o caminho, nem entrar no sapato?
Ninguém sabe...
Ninguém vê...
Ninguém nota...
Ela era pedra.
Ela guardava uma caixinha de sonhos
Embaixo do braço, enquanto dormia.
Vez ou outra desgarrava um rebelde...
E adentrava naquela cabeça insossa de menina
(sem corpo de mulher, sem cara de criança)
Ela então acordava sufocada
Pelos próprios desejos,
Pelos impossíveis sonhos.
E voltava a dormir.
Uma noite sonhou que podia ser lagarta.
Que apesar da feiúra intragável do animal,
A hora bendita,
A hora da estrela,
Sua hora e vez,
Iria chegar.
Chegou...
E da lagarta feia e estranha,
Nasceu uma borboleta:
Não-azul, não-desenhada, não-agradável, não-borboleta.
Uma borboleta sem cor:
Comum, fria e sem dó.
(Mayra Massuda - junho/09)
Puta que pariu que animal ! o texto e a última foto.
ResponderExcluirDe cair o queixo, de tirar o fôlego, de levantar no ar, de levitar o pensamento. Entre os lugares-comuns que eu anuncio no meu comment, a uma bela revelação desta prosa em poesia, desta narrativa-confissão, desta imagem cantada, da pintuara a fotografia, para o ser transformado em pura alma-borboleta-Psiquê, a grande admiração da descoberta deste belo post.
ResponderExcluirE de você
ResponderExcluir<---trans/lúcida---->
butterfly
papillon
Mayra Massuda.
Muito fora do q se lê por aí. Gostei bastante. Mas prefiro pensar q a personagem não era assim tão sem sal. Às vezes, o imperceptível é o q mais atrai atenção, o q mais causa curiosidade e admiração. Ela só se via dessa maneira, tlz fosse falta de amor próprio ou simplesmente ausência de vaidade.
ResponderExcluirque lindo, mayra...
ResponderExcluirqueria ter escrito isso.
desculpe a arrogante intromissão, mas prá mim ela era eu. rs.
beijo.
estou surpresa e extremamente feliz com os elogios...
ResponderExcluirobrigada pessoal...
apesar da falta de tempo pra fazer td.. e principalmente as coisas que eu gosto...
espero sempre conseguir agradá-los nos dias 24´s
beijõezões
eu já sabia!
ResponderExcluirmayra, que coisa mais linda.
não falo mais nada pra não estragar a beleza das palavras.
fui.
Lindeza de post!
ResponderExcluirDiferente de tudo que já li nas andanças pela blogosfera.
ResponderExcluirLindo e original.
Lembrei de Kafka, a metamorfose...
ResponderExcluirbelo post!!!!
Nossa, é seu primeiro texto que leio e acho que viciei. Muito bom!
ResponderExcluiradorei!
ResponderExcluirlembra Macabea da hora da estrela...
texto de bom gosto e muita sensibilidade.
toca a alma...
parabéns!
E a feiúra que parece agredir?
ResponderExcluirPost lindo, sem precedentes no mundo dos blogs... as imagens foram perfeitamente selecionadas. Parabéns!
ResponderExcluiras palavras já disseram tudo. belo texto...
ResponderExcluirque lindooooooooooooooooo, putz!
ResponderExcluirLindíssimo poema.
ResponderExcluirEu, que muitas vezes, me sinto como essa lagarta que espera sua hora e acaba virando uma borboleta sem cor, acredito que até mesmo essa borboleta, um dia vai se descobrir, um dia vai entender sua graça.
mayra massuda! massa!!! mesmo!
ResponderExcluirPeloamordospoetas!!!!!
ResponderExcluirQue coisa mais linda é essa?????
ai...
ai...
e
só
ai...
ai...
Meu... .maravilhoso... adorei... obrigada por dividir...
ResponderExcluirEntão, Mayra (pronuncia-se Maira ou Maíra?). No começo fiquei meio arredia com seu texto. Não é toda a prosa-poesia q me prende de primeira. Aí fui lendo, lendo... e me envolvi. Talvez pela identificação, sei lá. Super sensível, feminino (no sentido de profundo, não de delicado). Aí quando cheguei no final, fiquei até meio triste por achar q ela viraria cisne, como todo conto de fadas de meninas feias e desengonçadas. Mas não! Vc me surpreendeu!
ResponderExcluirAdorei, mesmo!
Parabéns
mas capaz de bater asas aqui e provocar um tufão do outro lado do mundo.
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