sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Little girl blue*

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Era uma manhã cinzenta de uma semana difícil. Acordei atrasada e levantei da cama um pouco atordoada, enquanto um turbilhão de pensamentos invadia a minha mente. “Tome logo uma decisão, se mexa, está na hora de mudar”, dizia a mim mesma. Passava por um período em que não conseguia enxergar nada de muito bom ao meu redor – logo eu, normalmente tão otimista. Apesar do horário avançado, me vestia tranquilamente até alguém gritar da sala me oferecendo carona à estação da CPTM. Preferia mil vezes ir de Metrô, mas a ideia de encarar ônibus lotado com o mau tempo era desanimadora. Chovia a cântaros na cidade. Corri me apressar e quinze minutos depois estava com o meu pai na plataforma do trem. Assim que as portas do vagão se abriram, olhei desconsolada para os rostos que me cercavam. Via um bando de pessoas hostis, cada uma fechada em seu próprio mundinho interior, disputando um espaço entre as barras de ferro. Eu estava triste. E ainda por cima não conseguia encontrar nenhum lugar onde pudesse me segurar; temia cair no primeiro sacolejo sobre os trilhos. Foi quando notei o meu pai ao meu lado. “Vou segurar no seu braço, tá?”, disse, já entrelaçando as minhas mãos ao redor do seu corpo. Naquele momento, como num flash, me lembrei de quando era uma garotinha e ele me levava onde eu julgava ser o fundão do mar, me segurando bem forte a cada onda que surgia. Quando pulava a elevação das águas, eu vibrava de felicidade e o meu pai dava gostosas risadas, notando a minha expressão exultante. Ao relembrar esses momentos, os meus olhos marejaram e senti uma vontade irresistível de encostar a minha cabeça em seu ombro, apenas me deixando ficar ali, quieta, até a tristeza passar. Há quanto tempo eu não dizia que o amava? Será que ele saberia o quanto? De repente, ele puxou um assunto qualquer e prosseguimos o caminho conversando. Minutos depois a voz do maquinista indicava a estação que eu deveria descer. Ele me deu um beijo na testa, nos despedimos, e, por alguns instantes, tudo voltou a ficar bem.




* Também tem a ótima versão da Janis Joplin aqui.

15 comentários:

  1. Primeirão! Ah, eu já comentei sobre o post com ela. =D

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  2. Bonito texto e ótima trilha sonora. Eu já disse e repito, a Michele é sempre doce.

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  3. MANO! a nina tá sendo minha trilha sonora ultimamente.

    e que texto bonito é esse! pessoas fechadas em seus mundos entre barras de ferro...

    e me deu uma vontade de ligar pro meu pai.

    é o que vou fazer agora.

    .

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  4. que bonito. nao converso muito com meu pai. nao consigo. nao é nem por falta de assunto...é alguma outra coisa que ainda nao consegui identificar. mas nao gosto disso não...logo mais ele vai embora e vou ficar amargando as conversas nao tidas.

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  5. que bonito.

    que saudade do meu pai.

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  6. http://folhiart.zip.net/


    comunicação visual !

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  7. o trem é uma coisa bem selvagem mesmo. Roots! Hahaha.

    eu gosto.

    principalmente dos chocolates a 1 real.

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  8. Lindo. É bom ter este sentimento ainda.

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  9. Eu fico pensando. A personagem, olhando para os rostos hostis, cada um fechado no seu mundo.

    E como essas pessoas estariam vendo a narradora? Há alguma outra forma de ser.

    Ou sera que um dos rostos ao olhar para a narradora tb nao estaria vendo uma pessoa hostil, no seu proprio mundo ??

    Lets think about it

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  10. "maaais um produção don...teee!"

    que bonito, mi! e juro, tenho ouvido demais a tal pequena azul de joplin. e que nina não fique enciumada, sabe que a amo.

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  11. de muita delicadeza,uma suavidade em descrever (detalhar)a hostilidade "das pessoas" cada um centrado em si, e do próprio sentimento dela em relação a tudo.
    Muito,muito lindo.

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  12. Pelo amor de Deus!

    Acho que vcs combinam né...será possível...tudo de uma só vez, o post lindo e a música???

    Nina Simone tem encantado...e seu post é encatamento puro...

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  13. Gostei gostei gostei...
    muito lindo..
    se eu escrevesse,acho que escreveria como vc. ou pelo menos, gostaria muito de fazê-lo.

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