segunda-feira, 31 de agosto de 2009

3 meses...


então... três meses de blog e continuamos todos vivos. ok, alguns estão em coma, mas o importante é que estamos conseguindo manter o ritmo e aquela ideia inicial der ser um ponto de encontro. Mas este post é só pra registrar algumas manifestações de leitores que mandaram e-mail. aproveito para esclarecer uma coisa. temos recebido várias mensagens de gente querendo participar do blog, sério, daria pra montar um outro blog com mais 30 pessoas! mas, por enquanto, a única forma das outras pessoas participarem é por meio dos comentários...


ah, alguns dos 30 sugeriram uma ideia que achei bacana, de propor um tema que seja comum a todos os posts durante um mês. escolheríamos um assunto e o autor escreveria um texto ou qualquer outro tipo de postagem que tenha o mesmo tema, o que acham?


bom, enquanto isso, agradeço aí aos que escrevem e aos que leem e vice-versa e vamos que vamos. abaixo algumas mensagens muito bacanas que recebi por e-mail estes dias...


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Olá, bom dia!

Resolvi mandar esse e-mail apenas para dizer o quanto gosto e o quanto me viciei no blog das 30 pessoas. Conheci por meio da Letícia, e desde então, virou meu devocional! Não fico um dia sem passar por lá e ver o mundo do ponto de vista de pessoas tão interessantes. Mesmo quando elas não escrevem textos extensos - a própria Letícia - é ótimo. A sua idéia foi muito boa mesmo, e os 30 parecem terem sido escolhidos á dedo. Por meio do blog eu viajei, li poesias lindas, conheci o seu próprio blog, soube da Vineyard em São Paulo, aprendi sobre fotografia, enfim, o blog é tudo de bom!

Parabéns!

Ana Carolina

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Olá, 30 escritores aninônimos. Mesmo lendo as suas palavras, vocês continuam anônimos, porque palavras podem vir mascaradas. Acho incrível essa idéia de trinta pessoas "distintas" escreverem num muro, num mesmo lugar, como num muro, deixando sua marca. Existe a possibilidade dos colaboradores mudarem? Se existir eu gostaria de colaborar! Obrigado pela atenção e parabéns!

Dandara de Morais

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Gente,

Que coisa mais linda é o blog de vcs. Fiquei encantada. Não consegui ler tudo, mas com certeza o farei. Parabéns pela "brilhante" idéia. Vivemos num mundo tão veloz que as novidades que lemos por aí parecem ultrapassadas assim que são postadas na net. Geralmente me atenho a poucos blogs, mas o de vcs me pegou pelo coração. Dá muita vontade de escrever junto e para, como vcs. Pena que o mês de vcs só tem 30 dias, né? rs... Quando decidirem fazer um bimestral, me avisem. hehehehe. Bom, um grande beijo e um aplauso de pé para o projeto. De uma publicitária que vive enlouquecida com tanta informação e tanta dislexia de sabedoria.

Parabéns!

.lu minami.

www.cafecigarros.blogspot.com

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Sensacional idéia!

Achei super legal essa idéia de vocês. Sou amigo da Lubi. Tbm um blogueiro e, muito feliz por ver blogs de tão bom conteúdo. Sucesso! Abraço,

Júlio Frutuoso

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domingo, 30 de agosto de 2009

A vida (não) tem liquid paper

– Mas o moleque não para com a choradeira. Parece que o mundo vai acabar pra ele...
– O que aconteceu não tem nenhuma importância. É besteira de criança.
– Vou falar com a dona Bezinha, a diretora da escola. Ela vai nos ajudar a resolver isso.
– A professora dele está de licença. Quem aplicou as provas foi a substituta. Depois ligo para a casa dela.

Ser chamado para a diretoria era o pior pesadelo de qualquer aluno. Com um misto de medo e de ansiedade, o menino entrou meio desconfiado na sala decorada com móveis que poderiam ser facilmente comercializados em antiquários.

– Só um minutinho que vou localizar o arquivo da classe dele.
– Isso é muito constrangedor, mas a ideia da senhora deve solucionar o problema.
– Também tenho filhos e sei o quanto eles importunam quando querem algo.
– Já expliquei que isso acontece, mas ele não aceita o fato.

De soslaio, o guri observa que as pernas obesas da diretora lembram o mapa hidrográfico da Região Norte. A diferença é que cada variz parece o próprio Amazonas e, ao contrário do que mostra o Atlas, várias pororocas sobrassaem na pele alva.

Ela retorna com um pacote de papel pardo encimado com os dizeres “Terceira série A” escrito à mão. Revira as folhas impressas no mimeógrafo até achar o detonador daquele berreiro todo.

– Aqui está a sua prova. Vou apagar com cuidado as duas respostas que você errou.
– Veja se você não vai se enganar de novo, hein! – brincou o pai, instantaneamente fuzilado pelos olhos rútilos do garoto.
– Prontinho. Amanhã pedirei à secretária para alterar o seu 9,0 para 10,0 e você vai passar de ano com nota máxima, como sempre aconteceu. Parabéns!

Do alto dos seus 9 anos, o menino saiu da sala da “dona Cafezinha” (como a molecada a chamava), com pelo menos duas convições:

- quanto maior o problema, chorar mais alto sempre resolve;
- a vida tem uma tecla rewind. Basta retroceder, apagar e escrever por cima.

***

Como acontece nos momentos derradeiros das novelas, o tempo deu um salto de vários anos. O cenário que levou à puerilidade da crise de outrora hoje é pintado com matizes ainda mais fortes. Ainda hoje, para muita gente o segundo lugar no pódio é o mesmo que a derrota, como atestam os discípulos de Rubinho. Permanecer na primeira posição requer energia de que somente poucos dispõem.

Após inúmeras porradas, o cara da “nota 10 fake” amadureceu um bocadim e mantém permanentemente acionado o botão de “fuck you” para as idealizações que tentam lhe pespegar. Em vez da toxina botulínica que corrige mas imobiliza, optou pela liberdade de falhar livremente, para gáudio dos caçadores de erros. Ao fazer piadas sobre a própria sorte intenta estar “acima do seu destino”, como disse Freud.

Liberal para os conservadores, bundão para os liberais, exaspera quem tenta encaixotá-lo em quaisquer tipos de rótulo. Improvisa quando esperam que siga o roteiro e usa o tom (ébrio) solene quando a descontração é a (água) tônica. “Irresponsabilidade de Peter Pan retardado”, vociferam alguns, enquanto ele voa para “a segunda estrela à direita e então direto, até amanhecer”. Na sua Neverland particular, os crocodilos permanecem em dieta.

“Falta-lhe solidão. Tem de sair de picareta, ceifando, demolindo as admirações que hão de corrompê-lo fatalmente.” Nelson Rodrigues acertou no diagnóstico e na prescrição. Graças a Deus, a personagem destas (in)confidências descobriu a tempo que na cela das expectativas alheias, a fechadura fica do lado de dentro. E ninguém há de colocar novamente a mão nas chaves. Nunca mais.

sábado, 29 de agosto de 2009

Embarque nesse carrossel...

E quem não lembra? Eu me lembro. Lembro da canção e da boca mexendo antes da fala.E lembro da professora Helena e seu jeito tão carinhoso com os alunos. E como não lembrar do Cirilo que fazia morder os lábios de tanta raiva. Ah que moleque chatinho e bobo, odiava vê-lo correr atrás da Maria Joaquina, menina rica, chata e esnobe. E nunca esqueço quando chegou a vez dele esnobar, pinta de paquitão, menino negro-rico metido, bem que tentava, mas não adiantava,pois prevalecia nele a doçura e jeito meigo...ah sim! O Cirilo era meu aluno predileto e Maria Joaquina a quem mais odiava. E lembro da menina gordinha que falava "é tão romântico" (risos), ou da morenina que não lembro o nome, que tinha óculos de fundo de garrafa e tinha como melhor amigo o menino de cabelos de anjo.

É minha memória está péssima, um bagaço para os detalhes, porém, ainda resta algumas lembranças.Lembro da novelinha mais brega que já existiu, mas que deixava viciada e vidrada na telinha Enfim, lembro de quase tudo e como toda criança já desejei ser a professora Helena. Não minto, e quem quando criança nunca sonhou em ser professora? A maioria com certeza já brincou ou pensou em ser. E hoje, na volta pra casa, pensava em como estou me sentindo a professorinha Helena. Faz um tempinho que fizeram um convite que, no ínicio fiquei cheia de dúvidas, na época disse - não, não posso, não dá, não tenho tempo, e inventei milhões de argumentos, desculpas mil, alegando total falta de jeito pra coisa. Até que uma conversa amoleceu meu coração e destruiu minhas desculpas esfarrapadas e acabei aceitando o convite.


Sim, é isso mesmo. Em quase todos os sábados eu sou professorinha.É quase de "brincadeirinha", mas sou. No primeiro dia, super assustada, algumas crianças me assustam, eles são elétricos e espertos demais, e pra dizer a verdade nunca levei jeito pra coisa. Penso que nasci sem o tal dom maternal, adoro crianças, principalmente quando filhos dos amigos, parentes, me sinto muito imatura e desligada demais para ter filhos. Não sou dessas que não pode ver uma criança que fica com graça, adulando, passando a mão no rosto cabelo empastando a pobre criança , chamando de lindo toda hora, na verdade sou meio "secona" no início. E acho que os pequenos percebem e acabam gostanto. Não tem um que não me veja que não fique se engraçando, olhando e dando risada, brincando de esconder no colo da mãe...das duas uma, ou eu tenho jeito engraçado e rosto de palhaça ou realmente gostam de mim...sei lá rs.

No primeiro dia, estava com medo, mais do que eles,olhei e vi todos quietinhos, em silêncio olhando pra mim com cara de quem não estava entendo nada. Olhei pra uma que ria o tempo todo, branquinha, com olhos grandes, cílios enormes, boca bem pequena e fina, é muito meiga, mais que outras. E outro que diz - qual o seu nome tia? ...e duas horas depois de novo - qual o seu nome tia? E tem um que é arredio, não brinca, não fala, só olha,fica com cara amarrada e quando chego perto ele ignora. Mas este já está amolecendo, já ri e brinca e disse que vai casar comigo (hahahaha)...acho que vou esperar ele crescer, pois é tão gentil, me leva flor do jardim do vizinho e doce de $0,50... é muito sincero. E tem outro que tenta fugir com desculpas de que esta precisando ir ao banheiro. Nossa e como eles gostam de ir ao banheiro, nunca imaginei que faziam tanto xixi (risos)...ufa. E tem outros que poderia falar por horas de tão especiais que são.

Mas sabe qual é a graça? Sou eu. Sim eu, por que jamais imaginei que lidar com crianças fosse tão divertido e prazeroso. Jamais imaginei que ficaria mais à vontade e feliz ao lado delas. E brinco mais do que elas.E o que dou risada não é brincadeira! Elas são engraçadas, espontâneas, falam coisas sinceras o tempo todo, soltam uma gracinha atrás da outra... é muito divertido! Todos os sábados estou mais feliz, um tempo precioso, para brincar e dar muita risada , ouvir - olha tia o desenho que eu fiz...e vejo uns rabiscos, sol quadrado, árvore torta, pássaro bizarro, casinha estranha e dizer - está lindo...e vê-los saltando de alegria, por que recebeu um elogio, saem com um sorriso no rosto maravilhoso. Ah sim! Eu não tenho palavras para descreve-las e não sei como agradecer por existirem.E quase todos os sábados sou mais feliz pela escolha certa e boa de embarcar nesse carrossel doce, sincero, divertido e atrapalhado...estou amando de paixão!

[gente peço desculpas pelo atraso, no dia uma correria sem fim e à noite chegando tarde, sendo obrigada a pouco a tomar outro banho pra
tirar as massinhas de modelar do cabelo,isso quando gruda não sai mais, tirar as tintas dos dedos, do rosto..enfim...já viu né! hoje como nos outros sábados foi bom d+ ...risos]

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sobre amigos, melhores amigos, amigos de verdade e colegas

Provavelmente você não vai ter Friends como esses.

Provavelmente você não vai ter Friends como esses.

Hoje em dia anda muito difícil fazer amigos e eu não falo isso porque não entra mais ninguém decente no Chat do UOL não. Pra quem não lembra do processo, tudo começa ainda no colégio, quando você descobre que existe os amigos, aqueles pra quem a gente conta as coisas, e os colegas, os que andam junto contigo, mas que não merecem muita confiança. Criam-se os grupos e provavelmente o cara mais bonito da sala vai pegar a menina mais gata e despertar a sua primeira inimizade.

Quando éramos mais novos, mais bonitos e menos barbudos, fazer amigos era a coisa mais fácil do mundo. Era só tropeçar em alguém da mesma idade, com uma cara de saudável e perguntar: “oi, quer ser meu amigo?”. Se morasse perto então ou tivesse brinquedos legais, ficava melhor ainda. Não exigia confiança, número de celular e raramente ele te pedia dinheiro emprestado.

Na pré-adolescência, o que estragava era a história dos melhores amigos, que são uma versão primitiva dos amigos de verdade. Os melhores amigos são aqueles com quem voce passava horas no telefone ou no shopping se voce for uma garota; passava horas jogando futebol e falando da prima gosta se voce for um garoto; passava horas jogando Mortal Kombat II no SuperNes se você for um nerd.

Hoje, ja não é possível fazer amizades de verdade após os 23 anos. Mesmo porque, depois de ficarmos razoávelmente velhos, começamos a diferenciar os amigos dos amigos de verdade e isso é uma bobagem que só faz com que você passe os sábados vendo Tina Fey imitar Sarah Palin no Saturday Night Live. Exigimos que eles compreendam nossos dramas, nossa falta de tempo, que aceitem nossas loucuras excentricidades e que nos dêem ingressos pra shows de graça.

A vida passa e vamos nos acostumando também a ter grupos de amigos sazonais. Os amigos do trabalho, os amigos do ex-estágio, os amigos do prédio, os amigos da faculdade e acabamos perdendo alguns pelo meio do caminho. Eles começam a namorar e te deixam de lado, mudam de religião, viram vegetarianos ou começam a comer insetos e participar de cultos de xamanismo. E é bem provável que com o tempo você se esqueça da maioria deles.

O ICQ morreu, veio o MSN, depois o Orkut e conseguimos dar uma certa sobrevida à amizades mal-resolvidas e distâncias mal-explicadas. No entanto, não é raro aparecer um ex-amigo, perdido no tempo, deixando um scrap dizendo que está morrendo de saudades, que casou e yatta yatta yatta vocês voltam a se falar. Mesmo que já não tenham mais nada em comum a não ser conversar sobre o passado.

É uma pena que a gente se acostume a manter contato com essas pessoas apenas pelo meio virtual. Saber o que ela está fazendo pelo Twitter, as músicas que ouve pelo Last.fm e as pornografias que ela está cadastrada pelo Google dá um certo alívio de não ser um amigo relapso. Sempre tive medo de ser aquele que não liga pra ninguém, que se faz de blasé e vive trocando de amigos, mas, acontece.

O tempo e essa vida corrida toda torna cada vez a gente mais distante de ser um amigo, um melhor amigo, um amigo de verdade. Triste saber que dizer “oi, quer ser meu amigo”, quer dizer pedir pra você clicar aqui. E se você pensa assim, no donut for you!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Paradoxo da beleza!



Pôr-do-sol na zona oeste de São Paulo no dia 13 de agosto. Muita poluição deixou o céu lindo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Curtas!

- primeiro full review do novíssimo Snow Leopard, ou Mac OS 10.6 (para os íntimos!): http://bit.ly/yo1o ,

- aconteceu de 11 a 13 de agosto o Photo Image Brazil '09, pra quem gosta de "saboneteira engraçadinha", estava cheia de novidades, pra quem gosta de cameras "high-end" quase nada de novo (meu caso!),
- se a moda do Ronaldinho Gorducho pega...
http://migre.me/5UK0

E por fim, façam sua lista de pedidos, caríssimos 29 demais e leitores da coluna, em outubro embarco pra Academia Americana de Oftalmologia que esse ano será em São Francisco:
http://www.aao.org/meetings/annual_meeting/sanfrancisco.cfm

Um abração!!!

ps: yes! Eu tenho barriga!!! Suashuahuashua!!!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ter pança é cool

Se o NY Time disse, quem sou eu pra discordar?

No artigo chamado "It's hip to be round", eles dizem que a moda agora em NY são pançudos assumindo com orgulho sua bordinha recheada. Os barrigudos estão todos saindo do armário e não se incomodando tanto com aquela capa de gordura extra. Concordo plenamente!

Pensando assim, sempre fui um trendsetter vanguardista que esteve um passo à frente da moda, meus caros. Prefiro curtir alguns prazeres da carne e da vida do que me privar de algo em nome da estética. Já diz o clichê que toda escolha é uma renúncia, certo?

Não é legal gastar tanto, mas tanto tempo mesmo, cuidando do seu corpo de forma obsessiva. A troco de que é isso? Segundo o NYT, e que ninguém ouse dizer o contrário, essa obsessão pela barriga de tanquinho já passou dos limites e deixou de ser algo masculino. Como tratamentos excessivos de beleza, bronzeamento artificial e creminhos. Ter uma barriguinha lisinha pode denunciar que você tem tempo demais livre e não cuida de outras coisas da vida.

Já dizia o sábio: Um homem sem barriga é um homem sem história.

Um brinde a barriga, aos prazeres da vida e a falta de frescura!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Aquele... do dia 24 =/



O
Toque
Da Pele
Misteriosamente
Me arrepia!
.
.
.
E logo passa:
Paixão Primata!

(Mayra Massuda)

* Como disse no e-mail aos 29... desculpas sinceras por ter perdido o dia...
* Sintam-se à vontade para apagar o post se quiserem...

domingo, 23 de agosto de 2009

Apenas mais uma de amor

Eu me lembro quando morávamos na nossa casa,
Éramos uma família incrível.
Ainda somos, mas hoje tudo é tão diferente.
Não é comigo que meu irmão conversa antes de dormir,
Meu pai não nos traz mais chocolates à noite,
Hoje eu não troco a comida da minha mãe por miojo,
Eu não sei o que eles assistem na TV, nem o que eles jantam.
Eles não sabem o último filme que eu vi, o livro que estou lendo, que escrevo num blog, quem é meu melhor amigo, se estou apaixonada, se fui trabalhar, se sou educada ou se fiz o dever de casa.
Eu não subo mais em árvores nem boto medo nos meninos mais velhos que eu.
Meu irmão não sobe mais no muro para espiar a vizinha pelada,
Minha mãe não esconde mais meu carrinho de rolimã na semana de provas.
Naquela época a Zona Leste ainda não era a ZL,
Nós só tínhamos bons momentos, momentos felizes.

Eu me lembro de quando nós simplesmente jogávamos nosso dia fora
Como eram boas nossas conversas e brincadeiras. As melhores!
Eu achava que nada iria nos separar.
Eu sempre acho que tudo vai ser pra sempre.

A nossa casa era o melhor lugar do mundo pra ser feliz

sábado, 22 de agosto de 2009

Eu NUNCA... e você??

Perto de toda faculdade tem um bar. E em um bar perto de faculdade sempre tem uma brincadeira de faculdade. A brincadeira do bar perto da minha faculdade é boba, mas é onde todo mundo fica amigo por alguns minutos e onde todo mundo fica sabendo dos supostos segredos dos outros para sempre.

Junta todas as patotas da sala, desde os NERDs até as meninas descoladas, desde o bonitão que se acha o tal até o excluído. Mas tudo é muito relativo, pois quando acaba a brincadeira todo mundo volta para a sua rodinha odiando os demais e etc.

Todos com um copo de cerveja (ou qualquer outro líquido que contenha álcool, mas de preferência barato, afinal somos apenas universitários) formam uma rodinha e um por um vai falando “Eu nunca fiz tal coisa...” e quem já fez tem que dar um gole da tal bebida.

Óbvio que os meninos de 20 e poucos anos falam bobagens para saber se algum amigo já não é mais virgem ou se tem “tendência” a ser gay ou coisa e tal (é sempre assim!) e as meninas (também de 20 e poucos anos) falam coisas para saber o segredo daquelas outras meninas que as odeiam. Eu digo óbvio porque é realmente isso que a gente faz, ou seja, infelizmente me incluo na brincadeira ridícula (fútil, eu sei!).

E baseando-me nessa brincadeira de faculdade que brincamos no bar perto da faculdade que pensei em dizer algumas coisas que eu NUNCA fiz... Claro que existe o blefe, mas aí vai da minha e da sua dignidade, caro leitor, colaborar comigo e dizer se nunca ou já fez as coisas que irei dizer a seguir...

Eu NUNCA fiquei bêbada(o)...
Eu NUNCA fui a um estádio de futebol...
Eu NUNCA tive um namorado(a)...
Eu NUNCA briguei com uma pessoa...
Eu NUNCA disse eu te amo...
Eu NUNCA falei/pensei mal dos outros...
Eu NUNCA blefei...

E você já ??

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Contos sem Fadas


era uma vez uma menina que atendia pela alcunha de 'chapeuzinho vermelho'. era uma infante graciosa, de sorriso resplandecente, e vivia saltitando por entre as vielas de sua pacata cidade. certo dia, sua mãe pediu que atravessasse o bosque para entregar uma cesta com guloseimas para sua vovó, que estava adoentada. ela logo acatou o pedido e seguiu, mas não antes de receber a recomendação de não tomar o atalho, que era muito escuro e perigoso, habitado por um tal 'lobo mau'. chegando na entrada da mata, chapeuzinho, obediente como era, pegou o caminho longo e não viu nem sinal do lobo. quando estava se aproximando da casa da vovó já era quase noite e a lua começava a despontar no céu. foi quando o caçador avistou, de longe, a jovem donzela de figura angelical e não conseguiu resistir aos seus impulsos pedófilos. agarrou a menina, estuprou e matou. vovó não recebeu os docinhos. o corpo da menina jamais fora encontrado, pois seus restos, desovados na parte escura do bosque, foram devorados pelo sempre faminto lobo. a mamãe se arrependeu por ter mandado uma criança fazer uma tarefa de adulto e, hoje, não consegue dormir sem tomar sua dose prescrita de valium. sem mais.


[Hans Bellmer - La Poupée]

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ressaca

Em meados de 2000 comecei a escrever uma série de contos chamada O Vale dos Leprosos, baseadas em experiências (há muito) passadas, sobre um grupo de transgressores perdidos pelos becos de São Paulo, vivendo exclusivamente para satisfazer desejos imediatos, afundados em ilusões mundanas e comendo o pão que o diabo amassou até começarem a perceber outros aspectos da vida e buscar um sentido real para ela.

Os contos ficaram escondidos do mundo durante um longo tempo, até que mostrei Ressaca, o primeiro texto da série, para um amigo. Eis minha surpresa quando o cara (Eduardo Pinheiro, guarde esse nome) resolve investir em um curta-metragem baseado no texto.

Por isso resolvi publicar Ressaca, o primeiro da série. Texto adormecido durante tanto tempo e que agora está livre e desperto, para quem quiser. Espero que gostem.

Ressaca

O Quarto estava sujo.

Havia copos quebrados e manchas de bebida no tapete. Aquele tinha sido o fim de semana mais louco que eles já haviam vivido, agora… Tomas estava vomitando o vazio de seu estômago no banheiro, ele já havia vomitado tudo, mas seu estômago insistia na ânsia em espasmos violentos, expelindo a própria bílis. Baco estava imóvel no sofá por umas três horas, devia estar desmaiado, o único indício de vida que ele demonstrava era um suave movimento da respiração, ao seu lado, mais êmese.

Aline não havia bebido tanto, mas fumou maconha a madrugada inteira e agora estava colocando “Heart Shaped Box” no CD Player (tudo o que Ellen não queria). Ellen estava arrependida de ter convidado seus amigos para passar o fim de semana em seu apartamento enquanto seus tios viajavam, a ressaca a torturava. Um cara conhecido como Licurí trouxe as drogas na sexta e, naquela hora, tudo parecia tão divertido, havia festa e sorrisos, tanta música e alegria. Agora, todos estão vomitando seus demônios, lutando contra um “eu” interno. Ninguém tinha forças, a cocaína levou toda energia e deixou o vazio, "She eyes me like a Pisces when I am weak" canta uma voz triste no ambiente. "Desliga essa porra!" tenta gritar Ellen, mas a voz não sai, nem a vontade de mover os lábios.

Ellen poderia estar se perguntando por que vivemos?, mas o desespero que sente agora anula quaisquer pensamentos sobre o sentido da vida. Ela quer apenas o alívio da dor que vem de dentro do seu crânio. Por isso, tudo que passa pela sua cabeça confusa é "Já estou morta, não importa o que aconteça e a culpa é toda minha, onde está Rabilú?".

Rabilú está morto, um acidente de carro o levou há três meses. Carlos está na cozinha, bebendo lentamente um copo de água gelada para que seu organismo não rejeite. Seu nariz está sangrando, mas ele não percebeu. Então ele pega o copo e vai para sala, olha para Baco deitado no sofá imóvel e ouve os gritos de ânsia de Tomas, ainda no banheiro. Em sua frente está Ellen, deitada no chão, mas acordada. Aline está em seu mundo de maconha escolhendo qual o próximo CD que vai colocar para ouvir, agora ela tem um do Velvet Underground nas mãos.

"Que dia é hoje?" pergunta Ellen para Carlos. "Hoje é segunda-feira".
"Meus tios estarão aqui daqui a pouco, estou ferrada, eu devia estar trabalhando agora, mas mal consigo falar. Carlos… a gente só faz merda né?".

Carlos olhava dentro dos olhos de Ellen, que agora pareciam mortos, amarelados, percebeu que ela cheirou cocaína demais, não havia lágrima alguma em seus grandes olhos castanhos. Ele quis dizer a ela que nunca mais iriam fazer aquelas bobagens, que não iriam mais beber tanto ou cheirar, seja lá o que for, mas sabia que não podia dizer isso, que na semana seguinte já estariam querendo se divertir novamente. Carlos sabia que Ellen o amava como a um irmão, eram amigos há muitos anos e sabia que tudo o que ela precisava, naquele momento, era de um abraço seu. Ele queria mais que um abraço. Desejava ser seu amante, mas apenas teve coragem de perguntar:
"Quer água?"
"Sim"
"Ok".

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Apaga a luz e peida comigo


Porque o aparelho digestório
com o tempo falha mesmo.
E se a vida é divisão,
que seja assim sempre,
até a derradeira.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sobre com quem eu rompi

Há um tempo (pouco tempo) descobri a diferença entre ser simpática e ser boazinha. Em ser boazinha está implícita a ajuda, o companheirismo a qualquer custo e a obrigação de engolir gente de quem nunca gostei, mas poxa, é difícil romper laços.
Com o tempo e a constatação, como diz Lourenço Mutarelli, de que a vida é dura, aprendi a ser rude e a evitar pessoas. Em alguns casos, aprendi a selecioná-las e - desculpe a palavra, ou melhor, é isso mesmo - descartá-las.
Foi-se o tempo em que eu já fiz amizades mais rapidamente - era preciso pouco, perguntar meu nome e uma latinha de cerveja ou uma fila de banheiro para eu contar minha vida e criar mais uma amizade “sólida” -, mas mesmo assim, considero-me uma pessoa até simpática. Claro, nas devidas proporções. Não peça para morrer de amores pela ex do meu namorado ou pela vaca que roubou meu lugar na fila. Como disse, a bozinha non ecziste más.
O fato é que tem muita gente que me cansa. Pelos mais diversos motivos. Se eu vivesse 24h ao lado de alguém com voz de taquara rachada sei que ele ia me cansar. Mas minha implicância quase nunca é por coisas contra as quais as pessoas não podem lutar, como a voz que Deus lhes deu.
Em geral, me enfezo, de verdade, com pessoas que me fazem mal. Seja por me jogar contra outras, seja por serem injustas, seja por acreditarem que eu as ameaço. Não estou dizendo que não faço mal a ninguém. Já tomei atitudes erradas na vida como qualquer pobre cristão, mas nesses casos sei admitir que errei. Peço desculpas, mando cartões com justificativas quilométricas. Na maioria das vezes, passa-se por cima e deu.
Porém, há pessoas que fazem da sua rotina diária pensar no mal dos outros, principalmente de quem tem uma vida, julgam elas, melhor do que a sua. Valha-me Deus, para eu ser um indivíduo de vida invejável falta-me muito. Portanto, quando é assim, uma criatura dessas merece meu desprezo e que eu a expulse da minha vida.
Já rompi relações com gente com quem convivi dias inteiros e julguei de coração valioso. E para quem vê de longe todo o script é difícil de acreditar. “Ué, não se falam mais?”. “Pra você ver, acabou”. “E por quê?” “Sabe quando acaba o amor no namoro e o relacionamento esfria? Ninguém sabe ao certo como acabou, só se sabe que nada mais é como antes?”. Amizade falsa não se sustenta, gente hipócrita me dá ânsia e eu prefiro que o destino final seja mesmo o fim.
Lógico que já houve rompimentos mais dramáticos. Na minha coleção de ex-amigos, há pessoas que não recebem nem meu cumprimento ao passar pela rua. Optei por aquele apagamento de memória do “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” na vida real e apaguei tudo o que aquela pessoa representou na minha vida. Claro que existe a falha do sistema e surgem alguns resquícios daquela amizade tão, tão “perene”.
- Ei, nessa foto aqui... Essa não é aquela menina da biblioteca? Vocês foram amigas?
- Não, você deve estar se confundindo. Essa menina aí foi embora para Hong Kong.
É claro, você sabe que esse era seu sonho secreto. Mas ela continua lá e em certas horas a existência do serzinho lhe faz pensar, principalmente em épocas de final do ano, se não foi um erro você desistir dela, que afinal, nunca lhe deu grandes motivos para o rompimento. Aí você se rebaixa, pede desculpas, canta a ode à amizade e... ela estraga tudo. Com um comentário maldoso pelas costas, por um complozinho armado, pela sacanagenzinha do dia-a-dia.
E se o Poeminha do Contra de Quintana poderia ser perfeito para esbravejar para esses que atravancam meu caminho, eu prefiro terminar esse post com outro, não mais bonito, mas talvez com o conselho que eu devesse seguir:

DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana - Espelho Mágico

domingo, 16 de agosto de 2009

O Carnaval está acabando

Eu poderia, quando estivesse bebendo com os meus amigos, depois daquela golada libertadora, acender o Marlboro e numa tragada não menos libertadora, aproveitar a liberdade que somente um bar pode nos proporcionar. Poderia nessa mesma noite, desde que tivesse abonado, ir ao Bahamas. Talvez, continuar a bebedeira na sauna ou mesmo brincar com aquelas modelos que dormem de dia.

Esquecendo um pouco dos prazeres noturnos, eu poderia no trânsito infernal das manhã no Elevado me perder em sonhos eróticos gatilhados pelas imensas propagandas de lingeries que existiam naqueles prédios decadentes. Eu poderia, também, deixar o meu carro em casa e ir de fretado ao trabalho. Ou melhor, eu poderia utilizar o transporte público sem medo de gripe.

Aqui tá ficando igual aqueles países que ficam em sua grande maioria nos hemisfério norte, cheio de pessoas púdicas e sem graça, que insistem em ser politicamente corretas e que querem criar por meio de leis uma sociedade a sua semelhança.

Eu quero a volta do País do Carnaval.



sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Little girl blue*

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Era uma manhã cinzenta de uma semana difícil. Acordei atrasada e levantei da cama um pouco atordoada, enquanto um turbilhão de pensamentos invadia a minha mente. “Tome logo uma decisão, se mexa, está na hora de mudar”, dizia a mim mesma. Passava por um período em que não conseguia enxergar nada de muito bom ao meu redor – logo eu, normalmente tão otimista. Apesar do horário avançado, me vestia tranquilamente até alguém gritar da sala me oferecendo carona à estação da CPTM. Preferia mil vezes ir de Metrô, mas a ideia de encarar ônibus lotado com o mau tempo era desanimadora. Chovia a cântaros na cidade. Corri me apressar e quinze minutos depois estava com o meu pai na plataforma do trem. Assim que as portas do vagão se abriram, olhei desconsolada para os rostos que me cercavam. Via um bando de pessoas hostis, cada uma fechada em seu próprio mundinho interior, disputando um espaço entre as barras de ferro. Eu estava triste. E ainda por cima não conseguia encontrar nenhum lugar onde pudesse me segurar; temia cair no primeiro sacolejo sobre os trilhos. Foi quando notei o meu pai ao meu lado. “Vou segurar no seu braço, tá?”, disse, já entrelaçando as minhas mãos ao redor do seu corpo. Naquele momento, como num flash, me lembrei de quando era uma garotinha e ele me levava onde eu julgava ser o fundão do mar, me segurando bem forte a cada onda que surgia. Quando pulava a elevação das águas, eu vibrava de felicidade e o meu pai dava gostosas risadas, notando a minha expressão exultante. Ao relembrar esses momentos, os meus olhos marejaram e senti uma vontade irresistível de encostar a minha cabeça em seu ombro, apenas me deixando ficar ali, quieta, até a tristeza passar. Há quanto tempo eu não dizia que o amava? Será que ele saberia o quanto? De repente, ele puxou um assunto qualquer e prosseguimos o caminho conversando. Minutos depois a voz do maquinista indicava a estação que eu deveria descer. Ele me deu um beijo na testa, nos despedimos, e, por alguns instantes, tudo voltou a ficar bem.




* Também tem a ótima versão da Janis Joplin aqui.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

São Paulo - impressões 2009

Em São Paulo tudo é mais concreto. E não há horizonte à vista, pois há sempre um prédio bloqueando a paisagem, de modo que a cidade só é contemplável na perspectiva aérea, dos mil e tantos helicópteros que plainam diários sobre ela e que nos devolve, volta e meia (via satélite-cabo-tv) flagrantes policiais de violência.

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Avistável apenas do alto, São Paulo só me vem à mente como paisagem vertical rapinada do terraço do Sesc Paulista. E eu descreio sempre daquele impossível mirante posto entre imensas antenas de transmissão que põem loucos todos os aparelhos eletrônicos último tipo made in Corea.

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A cidade é aquele vento zunindo frigidíssimo na orelha, noturno e cinematográfico, fingindo-se possível o seu amor por nós. Aquela faixa cinzenta, que quando a umidade do ar é pouca, torna o dia mais noite, engole estrelas soturnas, e entope postos de saúde com crianças ávidas por ar.

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E somos pequenos nas ruas, e solitários, e sedentos. A gente encarna sem querer aqueles personagens perdidos/pervertidos/melancólicos do Caio Fernando Abreu. Famílias terrivelmente felizes de Aquino, o inferno provisório de Ruffato, que hoje eu ando pensando que é aquele que sabe de tudo, e vai mais fundo do que qualquer pézinho de Mirisola julgue poder ir.

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E eu queria ver ovnis lançando raios do alto do Masp, fazendo tremer o vão onde turistas fotografam o vazio. Ovnis que incendiassem a mata obscena do Parque que há em frente, com suas árvores cobertas de fuligem; e o sensabor daquela natureza cercada, castrada, escassa e inútil.

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Eu pensando comigo que esse povo elegeu Kassab para fazer São Paulo mais triste. Mais burocrática e repleta de proibições. Sem altdoors numa cidade com vocação para pôr-se à venda. Meretriz feliz, a quem agora arrancam da boca o cigarro, obrigando-a a voltar para casa, sóbria, pois os bares fecham mais cedo e não há bingo onde possa jogar fora o pouco valor que lhe resta (ela é das que se perdem por uma ficha). Por consolo, não lhe sobrará nem mesmo a possibilidade do álcool, para arrebentar os cornos bêbada num poste.

Querem impor-lhe o fim do vício, uma pureza de legislação, a virtude a seco. E ela vai acabar louca, metendo a cara dentro da passagem estreita da privada da quitinete no cantinho da Augusta, alugada por uns 1.500 reais, o dedinho premendo a descarga. Imagino o bilhete suicida falhado no espelho com batom: "Ka, filho da puta, essa morte é para tua estatística cidade-limpa. Logo tu Brutus, eu que já fui musa-rebordosa, e a favor de todas as minorias viadas, como tu."

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Há sempre um viaduto sobre todos nós. Um cão ganindo ao pé de um mendigo, um pedinte e um cego, um menino encardido da cabeça aos pés. Há sempre o engrolar anasalado de um coreano, um turco doido, um judeu que passa sisudo, uma banca de jornal com suas news, carros desfilando egos, filmes cults nos camelôs à porta do Unibanco, sebos com últimos cults, emos efeminados e garotas iludidas com delineador que destilam estilosas neo-melancolias.

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Em São Paulo, faltam os "S" e os "EMES" em todos os plurais, ninguém tem tempo para profilaxia linguística, prolixidade litúrgica. Ninguém atura sensibilidades alheias, delicadezas desinteressadas. Ninguém manda recado, a gente manda torpedos e explode via email messenger fax nossas mais intensas e irredutíveis paixões eternas.

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Em São Paulo nunca nos perdemos, pois sempre estamos em algum lugar, embora nenhum lugar seja de fato nosso destino. Em São Paulo, todos paulistas estamos sempre de passagem. E de tão vista, no transitar, no ir e vir cansativo dos ônibus-trem-metrô casa-trabalho, nosso corpo tenso se eletrifica: a vida são vans impedidas de circular. Ela, a cidade com nome de santo atarracado, faz-se tão nitidamente espelhada e concreta que a gente não se vê quando a miramos, como se ela fosse o arquétipo da coisa: cidade em si. De tão dura e presente, ela, contraditoriamente, torna-se invisível, invisibilidade que nos estarreceria se antes ela não nos tivesse cegado.


E tateamos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Forevermente, São Paulo.

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sem dicas,
o primeiro que acertar o local da foto abaixo
ganha um presente-surpresa, entregue em casa.

fácil:

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Antibiótico + Corticóide

Amigdalite. É isso. Alguém aí sabe qual é a leitura corporal da amigdalite? Porque é sempre ela.
Segunda-feira acordei bem. Aliás, ótima. Ótima, não. Quase ótima, não fosse um mal-estarzinho que identifiquei como restinho de ressaca do domingo. Acordei bem. Ponto. Final de tarde, no escritório, o mal-estarzinho já era uma dorzona pelo corpo todo, moleza, os olhos cheios de areia. É febre, pensei. Saí do escritório, fui pra pós. Fazer trabalho de grupo da pós. Já tinha desmarcado a academia e a corrida por conta do trabalho. Avisei que queria andar logo com aquilo, que eu tava sentindo que tava com febre. Cheguei em casa, pus o termômetro. Febre. Não era um febrão, era só uma febre. Me conheço, baby. Tomei um banho, uma sopa, um antitérmico, e fui dormir.
Terça-feira acordei péssima. Febrão, garganta tampada. Impossível falar, impossível comer, dificílimo engolir qualquer coisa líquida e quente. Tomei um leite morno, um antitérmico, um analgésico, mandei mensagem pro chefe, pro subordinado, pro fiscal, e voltei a dormir. Acordei de novo. Desmarquei o dentista e a fisioterapia. Tirei mais um cochilo. Tomei um banho e fui trabalhar. Voltei a sentir mal. Sentir mal e mal-humorada. Com sede, mas sem conseguir beber água. Com fome, mas sem conseguir comer. E justo eu, que falo tanto, assim, tão calada. Fui ao hospital, quase duas horas esperando pra ser atendida por um otorrino plantonista. As pessoas estão desesperadas com esse tal vírus H1N1, o hospital lotadaço, e eu querendo só uma receitinha da combinação fabulosa de antibiótico + corticóide, que pras minhas amigdalites é tiro e queda. Saí do hospital e fui pra farmácia, atrás dos comprimidinhos mágicos de Clavulim e Prednisona.
Quarta-feira acordei ótima. E amo corticóides, desculpa. Eu sei que o bilhão de efeitos colaterais não é nada fácil, mas o alívio que 40mg ou 80mg desse negocinho me trazem é tão tão tão tão tão grande, que eu já chego na frente do doutor pedindo: antibiótico + corticóide, por favor? Como quem pede pro garçom uma cerveja gelada e uma porção de torresmo. Aí, tá. Trabalhei normal, desmarquei a academia e a corrida de novo, e vim pra casa. Não tem ninguém em casa. Fiz a minha parte do trabalho de grupo da pós. A internet não funciona. A TV também não. O pessoal da assistência técnica vem aqui só amanhã. Beleza, Ana, vai ver um DVD. Vai ler um livro então. Você adora. E tem uma pilha na cabeceira da cama esperando por você. Ok. Vou lá. Mas sabe qual é o problema???? A #&$%*@#% do corticóide não me deixa concentrar!!!!!!!!!!! Eu já sou agitada, mas com esse tal de Prednisona eu fico no estágio constante da bolinha. Agitadésima!!!!!! Fora que esse negócio dá uma fome fenomenal também... Affe!!!
A TV eu nem ligo, não assisto mesmo. Mas eu queria baixar umas músicas, atualizar meu iPod, escrever no blog, ler o blog dos outros, ler meus emails, responder meus emails, ler umas notícias inúteis, ler umas notícias, ver as estréias da semana nos cinemas de Beagá, ver se o Fluminense tá ganhando do Cruzeiro, bater papo no MSN, mandar a minha parte do trabalho de grupo pro resto do pessoal, atualizar o extrato da conta do banco, fazer a arte do cartão de agradecimento pelos presentes de casamento que uma amiga pediu. Sei lá. Eu queria opções. Justo hoje que eu tinha tantas opções. Fondue com vinho, buraco, japonês. Não posso, tô doente, e é melhor ficar quietinha hoje pra sarar direitinho e aproveitar melhor o final de semana. É, melhor. Já liguei pra minha irmã, uma prima, uma tia, dois amigos, uma amiga, um ex paquera, um possível futuro paquera, um aspirante a futuro paquera... E resolvi escrever pra ver se não ligo pra mais ninguém.

29.07.2009

domingo, 9 de agosto de 2009

Minicapítulos aleatórios de uma biografia anarística

Um vascaíno me beijou a força na porta de uma boate de Belo Horizonte. Ele fingiu ser meu amigo o dia inteiro e, quando eu ia embora de uma festa onde fomos todos, não me deixou entrar no táxi com meus amigos enquanto eu não desse um beijo nele. Resisti por dez minutos, mas tive que ceder porque meus amigos, um menino e uma menina que observavam tudo, me apressavam para entrar no táxi. Agiram com tanta naturalidade que eu fui obrigada a disfarçar o enorme sentimento de humilhação que por muitos anos parecia infinito. Ele depois fez amizade com a minha irmã mais nova e nunca perdeu a oportunidade de ser falsamente educado e amigável comigo, só para ver como eu reagiria. Éramos todos estudantes de colégios jesuítas da região sudeste do Brasil e participávamos do "churrasco em BH", um evento anual que reunia os estudantes de primeiro, segundo e terceiro colegial que participavam dos retiros espirituais promovidos pelos colégios durante a Semana Santa.

Instituíram um belo dia que nas aulas de sábado os alunos do segundo colegial os estudantes poderiam ir ao colégio sem uniforme. Uma revolução dentro daquela quadra na Avenida Paulista cheia de grades cinzas, santos empoeirados e aula de matemática em pleno fim de semana. Minha tia que vive nos Estados Unidos tinha vindo ao Brasil e me trouxe um par de tênis Adidas. Era lindo. Azul marinho. E um número menor que o meu pé. Isso não me impediria de aparecer na primeira aula de matemática livre das calças de moletom e camisa polo com o meu novo tênis legitimamente importado. Vesti uma calça legging azul marinho, meias brancas de corrida, uma camisa da Polo Sport que outra tia me havia dado e, para domar o meu cabelo, fiz duas trancinhas na franja que crescia, uma em cada lado da cabeça. Eu, que tinha passado o primeiro colegial no Pueri Domus e sendo importunada diariamente por não ser rica, patricinha ou precisar pedir cola durante a prova, parecia um típico exemplar da espécie que freqüentava a Rua Jacurici, no Itaim. Só que na Rua Haddock Lobo, a coisa era diferente. Uma menina do terceiro colegial me viu na entrada e desatou a rir. No intervalo, desceu no meu andar para usar mais vezes a palavra "baiana". Chegou a hora do recreio e ela me pegou na escada para continuar a esbaldar-se com as minhas trancinhas. Eu não era tão eloqüente naquela época (vide episódio do vascaíno acima) e agüentei por um bom tempo até que me veio um estalo e eu disse: "escuta, cada um é livre para usar a roupa que quiser, ainda mais quando nem o uniforme é obrigatório aos sábados. que tal se você for passar o recreio com as suas amigas e me deixar em paz, porque eu não vou tirar essas tranças, não importa o que você diga, porque você não decide o que é feio e o que é bonito". Ela, que até era legal, tenho que dar o braço a torcer, disse: "pois é, tem razão, faz o que você quiser".

Quando tinha 17 anos, fui importunada pela Internet, durante dois anos, por um americano maior de idade. Ele queria que eu o enviasse uma foto minha nua para ele. Ele era o desenvolvedor de um programa de mensagem instantânea + games que vocês nunca ouviram falar. Ali se reunia um grupo de pessoas de tudo quanto era canto do planeta quando webcam era um trambolho caro e a minha internet fazia um barulho horrível durante vários segundos antes de abrir meu ICQ com a velocidade de uma lesma. Foi lá que eu desenvolvi meu inglês, o meu gosto pelo webdesign e pelo Tetrinet. Havia muitos canadenses, eu estava me preparando pra passar um ano lá realizando meu sonho de fazer intercâmbio e queria descobrir tudo sobre o país. Meu fichário no colégio estava todo pichado com a palavra CANADÁ e meu professor de física me deu um choque de verdade um dia pra ver se eu acordava pra vida. Quando eu já vivia no Canadá, e só tinha uma hora por semana para usar a Internet, este homem ainda assim me atazanava para conseguir a foto. Um dia, achei uma foto de uma menina com os peitos de fora e a cara cortada do quadro. Ela era morena que nem eu e então fiz charme durante dois dias para fingir que havia tirado uma foto mas não tinha coragem de enviar, e então enviei pra ele. Ele nunca mais falou comigo.

Lá no Canadá, eu descobri que, quando eu falava que preferia o frio ao calor, é porque eu não sabia o que exatamente era frio. Se há uma única coisa que eu queria ensinar aos outros depois das minhas andanças é que 15 graus é CALOR. E em algumas culturas, as amizades não superam a temperatura negativa. No meu segundo semestre como estudante do colegial canadense, fui abençoada com o status de única menina na aula de Educação Física. Além do colírio grátis três vezes por semana, eu ainda tinha o privilégio de correr menos e jogar futebol americano como café-com-leite. Meu amigo Danny, um menino magro e espichado que quase nunca falava, mas tinha uma simpatia tremenda, aprendeu rápido que, no Brasil, contato físico não era sinônimo de atração física. Todos os dias depois da aula ele deixava que eu lhe desse um grande abraço para esquentar um pouco o meu dia. O melhor amigo do Danny, o Tyler, começou a espalhar para todos que eu estava apaixonada pelo Danny. Gastei muita saliva tentando explicar para um irredutível Tyler que abraço é uma expressão de amizade. Até que me cansei. Quando chegou o verão, tivemos um torneio de golfe. Cheguei exausta ao salão para ver os resultados e sentei em uma cadeira no meio do recinto. Dez minutos depois chega o Tyler, também exausto. Me vê no meio do salão, caminha diretamente na minha direção e me dá o abraço mais inesquecível da minha vida.

Meu primeiro celular quem me deu foi meu primeiro namorado. Ele arranjou um usado do amigo dele e me deu porque não suportava não saber onde eu estava durante o dia. Nos primeiros seis meses de namoro não passávamos dois dias sem nos ver. Telefone diariamente. Comprei um carro. Ele ficou com ciúmes porque eu não precisaria mais das suas caronas para ir à faculdade. Quando fizemos três meses juntos, eu, que já sabia que queria estudar fora de novo, estava pensando em me inscrever para uma bolsa de estudos de um ano nos EUA, que começaria treze meses depois da inscrição. Ponderei ponderei e por fim decidi não optar por aquela bolsa porque o curso não era tão interessante, meu emprego não era tão ruim, ainda tinha prestações do carro para pagar e, vá lá, eu tinha um namorado gente fina que poderia durar. [acompanhe com atenção a próxima frase porque ela é tão absurda quanto verdadeira] Antes de tomar essa decisão, ele me disse que a psicóloga dele havia dito que aquele meu projeto de talvez viajar era a pior coisa que poderia acontecer para ele naquele momento. Quando eu anunciei que renunciaria à seleção para a tal da bolsa, só revelei pra ele os outros motivos, porque achei que ninguém gostaria de ser culpado por acabar com planos de alguém que sempre teve planos assim. Ele, é claro, ficou bravo por não ser citado como razão para que eu abdicasse do meu sonho. Dez meses depois, ou seja, três meses antes de data onde eu possivelmente poderia estar embarcando, eu me cansei do abuso psicológico e terminei com ele. Depois de sete meses fazendo tudo o que ele queria, decidi tentar conseguir algum espaço na nossa relação para coisas que eu queria fazer. Foi então que começamos a brigar. Ele se enfezava, virava as costas, batia a porta e sumia até o dia seguinte, quando tudo havia sido magicamente apagado pelo brilho do luar. Certa vez, me dei um ultimato e me proibi de aceitar tal comportamento. Que se repetiu, como aconteceria com qualquer pessoa acostumada a ter tudo o que quer. No dia seguinte, quem deu com a cara na porta foi ele, e foi nesse momento que eu descobri um significado para a palavra liberdade que nunca me haviam ensinado antes. Talvez tenha a ver com o que sentia Tiradentes ou os franceses que derrubaram a Bastilha nas aulas de História, mas não há texto que o Hobsbawn possa escrever que te esclareça tão bem quanto sentir o cheiro da liberdade no vento.

sábado, 8 de agosto de 2009

hoje, nada, tudo

hoje não sei o que escrever. não sei o que pensar, não sei o que esperar.

é o novo.

é o nada.

é o tudo.






"Outros, outros e outros: um turbilhão que nos leva a um campo ermo, onde nos livramos do que se tornou inútil para nós, uma identidade que não faz mais sentido preservar nesse novo mundo. Nada nos falta nesse novo mundo: o coração segue batendo no peito, os pulmões continuam recebendo oxigênio, o nosso corpo continua a sentir os outros corpos. Não há como faltar amor a esse mundo: por estarmos destinados à relação, estamos destinados a amar."

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Amauri Ferreira em "O anjo exterminador"

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Futuro

se te sei apenas semente
e já inteiro em nós
meu pensamento
não abandona suposições
como será quando for
visível teu corpo & jeito,
teu saltar pra vida.

*

Sobre o(a) sobrinho(a) que soube recentemente.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Subterfugiu

De repente ele chega quieto, como sempre faz, mas dessa vez é diferente, seu olhar não tem mais felicidade.
Com as mãos nos bolsos, cabeça levemente caída para frente, olha sobre os óculos para enxergar o caminho, que agora é escuro.
Parece que todo o seu corpo sabe que o dia vem chegando. A morte acontece de diversas formas. Se morre, sem se morrer e se morre sem se viver, outros vivem na morte. Ele não. Ele é diferente. Misterioso, quieto, centrado e a única coisa que o termina é querer algo diferente do que todos querem para ele.
Sem ele perceber, é observado, ele sorri sutilmente, passam alguns minutos e aquele sorriso continua, um tanto introspectivo, mas continua. O faz lembrar de algo que traz um pouco de brilho aos seus olhos castanhos.
Tem um rosto com traços marcantes, másculos, não é o mais bonito de todos, até se perde entre os mais belos, mas tem um charme único, é interessante observá-lo.
Sua boca, que tão pouco fala, agora fala menos ainda.
Continua caminhando com elegância, senta-se com elegância e tem presença, mas agora ela perdeu a luz.
Sua altivez dá lugar para a sutileza, que vai esvaindo, vai sentindo o fino fio do resto. Não do resto eterno, mas do resto escolhido. Aquele caminho acaba, é hora de andar nas pedras cristalinas e sobre pêssegos com gosto de romã.
A tristeza que está presente naquele rosto que tanto me prende não é uma tristeza dolorida, é uma tristeza que existe para ser deliciada. Não por maldade, mas por beleza.
Ao olhar para ele, sentado no lado esquerdo do banco, ouso dizer que jamais vi tristeza mais bela, mais singular e mais sofrida do que o desistir daquele rosto.
Um rosto que permanece na ligeira inconstância da inquietude. Um suar de mãos, de testa, de pés inconformados, de garganta seca e palavras difusas.

Imerso em seu sofrimento tão próprio juntou suas últimas forças para pôr-se de pé e partir. Uma ida sem volta, mas que lhe deixou na boca do doce gosto de uma iluminada satisfação. A satisfação da tarefa descumprida.

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Ao DR minha admiração constante e meus agradecimentos sinceros, sempre.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Oi,

Gostaria de dizer que amei tomar licor de menta na tua boca. Por mim, essa cavidade do teu rosto seria o meu copo pro resto da vida. Gostei de todos os teus buracos. Os olhos que se apertavam para me ver, as narinas que insistiam em adivinhar meu cheiro doce, os ouvidos, teu cu. Sim, por que não? Deslizar meus dedos longos por entre teus fios sedosos. Teus dentes de cavalo, o beijo na ponta do pé para me alcançar. O sorriso que me ganhou, que me segurou. Teu cheiro, tu me chamando de fofo o tempo todo e apreciando a forma que eu ajeitava os óculos de nerd, armação pretinha. “ah, eu gosto de quem usa esses óculos, ah eu gosto de quem usa Allstar”. Então vem. Tenho uma coleção de óculos quadradinhos e de Allstar. Invade meu quarto, rouba meu beijo e me atira. Me atira na cama e me prende que eu me rendo. Gostaria de dizer que... porra a caneta tá falhando.
Bei j o.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

prá embelezar nossas páginas.

quando vi esse ensaio não pude deixar de publicar algumas das fotos aqui, mesmo correndo o risco de ser repetitiva para muitos.
gustav klimt e suas delícias indizíveis foi homenageado nesse ensaio fotográfico, produzido pelo estudio kattaca para a revista ae.
fotografia de moises gonzález, maquiagem de yurema villa e cabelo de raul zarco. mais fotos aqui: http://www.behance.net/Gallery/La-Esencia-de-Klimt/50709.




segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Dia do amigo

Ainda me lembro do meu primeiro dia das crianças. Acho que eu tinha uns seis, sete anos. De um dia para o outro começaram anunciar, nos intervalos dos programas infantis, uma chamada que dizia “ faltam 10 dia das crianças”, “faltam 9 dias para o dia das crianças”, alternando com imagens de brinquedos. Existia um dia das crianças então? Como ninguém havia me dito antes? Era incrível!

Eu acompanho as crianças hoje em dia e os pais dão brinquedos qualquer dia, em um simples passeio ao shopping, mas no meu tempo não, amigo. No meu tempo se ganhava presente no dia do aniversário e no natal. Só. Inventar outro dia para se ganhar presentes era a coisa mais legal que podia acontecer.

Na escola ninguém falava de outra coisa. E então? O que você vai pedir pros seus pais? Eu ganhei um Murphy, aquele gorila que fazia um barulho quando apertava a barriga, mas foi com muito custo, porque os pais em geral não gostaram muito da idéia de ter mais um dia pra gastar. Lembro de uma cena engraçada, de um amigo que correu até o pai e perguntou, “Pai, o que você vai me dar de dia das crianças?”, o pai dele meio sem entender aquilo, vira e diz: “Dia das crianças? Que porra é essa?”

Passado muitos anos me deparo com o comercial do tal dia do amigo, dia 20 de julho. Eu não me lembro de existir isso ano passado. Logo que vi, achei que não pegaria, mas soube de gente que cortou relações porque o outro não podia sair pra comemorar. Mas como assim? Isso agora vai existir mesmo? Vou ter que mandar cartões? Sair pra beber? Lembrar de pessoas que não me ligam há anos? Ah, não. Estou com o pai do meu amigo. Dia do amigo? Que porra é essa?

domingo, 2 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

.: sempre :.

eu poderia falar de um livro muito bom que nunca li e citar seu autor, quiçá um trecho que talvez tenha ouvido alguém falar. eu poderia falar de uma banda muito boa que nunca ouvi, com muitos fãs e discos e shows, muitos deles realizados em países muito bonitos onde nunca estive, mas que talvez tenha visto em mapas por aí. eu poderia, ainda, falar de pessoas muito boas que nunca conheci, mas conheço muito bem porque já me contaram tudo sobre elas e o que viveram e que talvez tenham ido a shows daquela banda naquele país desenhado num mapa daquele livro que eu nunca li. e porque posso tudo isso, eu posso também falar de um filme muito bom que nunca assisti, mas que caiu aqui como um presente.

e como um presente eu dou.





* o filme que nunca vi chama-se a dupla vida de veronique, de krzysztof kieslowski
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