sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desculpaê

Reza o clichê que “religião, política e futebol” não se discute. Como não sou chegado a rezas e a-do-ro quebrar clichês, permitam-me abrir o coração (#momentoemo) e lascar algumas besteiras envolvendo ao menos 2 itens dessa tríade proibida.

Como protestante nas diversas acepções do termo (inclusive a religiosa), peço desculpas pela invasão de pastores na TV. Você tá lá sussa querendo esquecer do trampo e aparece um indivíduo de terno gelo, alfinete (não o do Pânico) na gravata e um sorriso plastificado para contar as vantagens de você pagar carnês. Tipow um Baú da Felicidade Gospel que você deve pagar religiosamente (com trocadilho) e no final recebe um nada divino conjunto de 6 pratos âmbar. #credo

Você muda de canal e aparece uma ex-presidiária coberta de maquiagem gemendo e repetindo frases positivas, do tipo “decrete aos céus que vai conseguir um varão (ui!) pra casar e você vai conseguir, amada”. Please não pense besteiras porque o dialeto evangélico é pra lá de surreal mesmo. Aposto que você ainda vai ouvir alguns crentes chamando outros de “vaso”. Aff...

O maridão dessa senhora disse que foi visitado na penitenciária por um anjo que lhe revelou o nome do demônio por trás (capeta sodomita?) da Rede Globo. Crédulos como o Kaká, os irmãos da igreja fizeram campanha pela falência da Vênus Platinada e o expediente tão-somente contribuiu para a quase bancarrota da credibilidade dos cristãos. Malz aê.

Entediado, você desliga a TV e resolve tentar o rádio. Nem a invasão dos marcianos no badalado programa radiofônico de 1938 provocaria tantos sustos como acompanhar as ondas (literalmente) curtas evangélicas. De pastor berrando para expulsar demônios surdos a cantores decadentes que converteram sua área de atuação, vale (quase) tudo. #muitomedo

Uma ligeira espiada no cenário político já é suficiente para mostrar como anda a cambada, digo, bancada evangélica. A primeira imagem que aparece na mente é a da “oração da propina”, episódio emblemático das safadezas que ainda são feitas usando (em vão) o nome de Deus. Isso sem falar que grande parcela de crentes (em quê?) envolvidos no escândalo dos sanguessugas. Estamos em todas, hein!

Tem muita gente de cara e fazendo beicinho por conta do sucesso do filme do Chico Xavier. Todo santo dia aparece na blogosfera alguém afirmando que existe uma estratégia para difundir o espiritismo patrocinada... pela Globo. RÁ! Esse complexo de vira-lata é ½ furado. Explico: é só a gente juntar os atores evangélicos e dar o troco. Depois da inesquecível atuação em Cinderela Baiana, ninguém melhor que Carla Perez para ser a protagonista. Irmãos na fé, Dedé Santana e Kid Bengala também poderiam participar, neam... Aliás, que tal o cara trocar a nome artístico para Kid Varão? :P

Melhor parar por aqui com esse refogado gospel de abobrinhas para evitar compressão testicular em quem teve paciência de chegar até aqui. No entanto, não posso meter (ops) um ponto final neste panteão tosco antes de mencionar a Maria Osmarina. Analfabeta e com a saúde frágil, ela só aprendeu a ver as horas com 14 anos. Não vou desfi(l)ar toda a trajetória dela porque em breve a jornalista Marília Cesar vai fazer isso com + competência. Recorrendo ao poeta, “Marina [Silva], você já é bonita com o que Deus lhe deu”. #salve

Sei que a irmã senadora não tem chances e será repelida até no seio (muxiba) da igreja evangélica. Enfadado, emputecido e desnorteado com a pasmaceira que vivemos, peço vênia pra sonhar um pouco. “Se tenho de sonhar, porque não sonhar os meus próprios sonhos?”, orou Pessoa. Marina é quimera... Os outros são “quimer(d)a”. Deus nos ajude.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

É hora de acordar...

Mas que preguiça de acordar...Eu enrolo demais, para dormir e acordar...E eu gosto de dormir, mas não durmo cedo.O meu prazer quase sempre está na noite. É quando leio os livros que mais gosto e ouça minhas canções prediletas. E quando assisto as mesmas cenas dos mesmos filmes na TNT, e quando a preguiça deixa, corro na locadora e alugo algum filme bacana.Fico irritada quando tenho que dormir cedo, por que logo mais tenho que acordar.Tudo tão rápido de dia, mal vejo o dia passar.Então desejo uma noite boa, longa e gostosa.Normalmente largada na sala com almofadas, livros, cds, lençol, chocolate, pacotes de jujuba, balas, doces...Só como "porcarias", claro depois de comer uma saladinha. Ontem, foi prazeroso dormir tarde, por que sabia que hoje não acordaria cedo. Acordei quase agora, enrolando demais, batendo as pernas, agarrando o travesseiro, olhando o relógio e dizendo: não, não só mais um pouquinho vai...então acordei às 13:45.É, morra de inveja eu não vou trabalhar hoje, amanhã e depois.Essa folga, que na verdade são férias fragmentadas, por conta do trabalho "escravo" veio a calhar. Por que hoje, eu vou fazer tudo de novo. E se a preguiça deixar escrevo, que enrolei demais para dormir e acordar...e talvez que assisti alguma peça,um bom motivo para sair de casa. Para outras cositas mais minha preguiça insana não permite, prefiro o aconchego do lar.É...eu ando preguiçosa demais!




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Esse é meu jeito de acordar, ouvindo Vanessa da Mata...

Passando a vez.

Hoje, não é fácil escapar dos jogos, desses peões coloridos, pulando de casa em casa, sem medo de ficar duas ou mais rodadas sem jogar. Se é sorte encontrar quem não guarde cartas na manga, azar de quem tem medo de lançar os dados.

Hoje, eu sei que posso passar minha vez sem temer ficar pra trás. Sei que há mais nesse tabuleiro do que o fim, o dinheiro e o bônus. E mesmo quando o adversário é a pessoa mais próxima, há companhia e nunca um inimigo.

Hoje, eu sei que há você, você e eu e algo no meio disso. E que por mais que outros possam tentar blefar, enganar ou conspirar, o que é natural não se perde porque é simples, inteiro. Ponto nosso.

Hoje, eu sei que é verdade que o amor é desigual. Que os sentimentos são diferentes, se complementam, se encaixam e se fazem completos na hora certa. E sei também que, se há aquele que ama mais que o outro, que seja eu este sortudo então. Porque é muito bom amar. Sua vez.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Viagra Natural


Fotopost de como é vendido o Parmezão lá na Itália.


segunda-feira, 26 de abril de 2010

Koinobori.

Quem nunca foi numa festa tradicional japonesa e não viu umas bandeiras dessas penduradas e alguma vez já se perguntou sobre o seu significado? (cliquem na foto para abrir em hi-res)


Pois bem, lá vai!
O correspondente aos meninos do Hinamatsuri acontece no dia 5 de maio. Durante os anos de ocupação pós-guerra, o nome do festival foi mudado de Tango no Sekku (Dia dos Meninos) para Kodomo-no-Hi (Dia das Crianças), mas continuou sendo celebrado da mesma forma e somente para os meninos.

Em todo o país, famílias com filhos homens hasteiam, neste dia, sobre um mastro de bambu, o Koinobori, que é uma carpa colorida de tecido ou papel. Quando o Koinobori é visto tremular junto ao céu azul tem-se a impressão de estar vendo uma carpa nadando contra a correnteza. O Koinobori representa o Dia dos Meninos, e a carpa é um símbolo de força, persistência, bravura e sucesso. Esse peixe consegue nadar e subir correntezas e cataratas sem a ajuda de ninguém, e numa fábula chinesa, a valente carpa se transforma num dragão no final da escalada. Os atributos que a carpa simboliza parecem virtudes militares (persistência, coragem, sucesso), e de fato, ela está em algumas lendas que falam de guerras ocorridas num período remoto, tanto é que nos santuários do deus da guerra, Hachiman, são distribuídos amuletos em forma de carpa.
A prática de hastear o Koinobori surgiu no século XVII entre os plebeus urbanos, que resolveram apresentar uma alternativa ao costume dos samurais de exibirem suas armas e armaduras no Dia dos Meninos. Além de ser mais simples, a carpa de tecido simbolizaria os mesmos valores pretendidos pelos guerreiros sem ser tão ostensivo. As duas formas de celebrar a data foram mantidas por muito tempo. Mesmo atualmente, além do Koinobori no lado externo da casa, os meninos devem expor dentro de suas casas, miniaturas de bonecos de guerreiros, com armadura, arma e capacete.
Os alimentos associados a esta data são o chimaki (bolinho de arroz embrulhado em folha de bambu) e o kashiwa mochi (bolinho de arroz recheado com massa de feijão doce e embrulhado em folhas de carvalho).
É costume também colocar essências ou folhas de íris na banheira (ofurô) nesse dia. Acredita-se que o forte aroma de íris afaste os maus espíritos, e além disso, íris chama-se shõbu no Japão, que é foneticamente igual a shõbu, que significa luta. Assim, os antigos samurais ligavam essa planta à sorte na guerra ou batalha.
Os costumes mudam com o tempo e hoje é possível ver famílias hasteando o Koinobori para suas filhas. O Dia dos Meninos, que agora é o Dia das Crianças, é o último feriado da seqüência chamada de "Golden Week" pelos japoneses da atualidade, ávidos por um descanso prolongado. Em tempo de paz, o Koinobori continua colorindo o céu e "nadando", mas num outro contexto.



fonte: www.culturajaponesa.com.br


domingo, 25 de abril de 2010

Amoureux

Quando a ausência de uma única pessoa transforma a companhia de todas as outras em solidão, amigo, você está apaixonado.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Obrigada!

Hoje é sexta feira e eu estou apaixonada.
Apaixonada pela minha vida, pela minha saúde, pela família, pelo namorado, pelos amigos, pelo trabalho, por todas as coisas maravilhosas que têm acontecido. (não nessa ordem)
Ainda quero (e preciso) juntar dinheiro, viajar, fazer um intercâmbio, conseguir um emprego melhor, emagrecer, voltar a estudar, aprender outra língua e mais mil planos.
E de que vale viver sem sonhos?
Só sei que hoje é um dia perfeito para dizer

Que hoje é sexta feira e eu estou apaixonada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O priapo dele.

Eu tinha 17 anos quando o conheci. Era uma segunda-feira, dez horas da noite.
Ao nosso redor muitas pessoas, mas nada disso o fazia sentir vergonha de me olhar e gemer. Ele falava coisas que até então eu achava que era pecado ouvir. No fundo, eu me deliciava em ouvir as palavras sensuais que ele tanto dizia. Algumas eu pouco conhecia, mas toda aquela inteligência era extremamente afrodisíaca e me deixava louca, mas eu não podia – nem devia – demonstrar aquele fervor em meio a tanta gente. As palavras, os gestos, os atos. Ele narrava detalhadamente e com tremenda perfeição tudo o que havia ocorrido. O arrepio tomava conta de mim. Era muita sensualidade para uma menina de apenas 17 anos. A vergonha deu lugar à vontade de vivenciar tudo aquilo. Minha paixão não era por ele, nem por suas palavras. Era, na verdade, pelo seu priapo, seu pica-flor, ou como mais desejava chamá-lo. Gregório nunca tinha sido tão bem explicado em uma aula de literatura. Fernando havia conseguido. Se tornou um exímio intérprete do tão promíscuo poeta. Até as freiras do tal poeta o aclamaram: aleluia!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Inferno astral

Eu comentei que não ia fazer um post sobre as coisas ruins que tem acontecido na minha vida há exatos um mês. O propósito deste blog não me parece ser este e ler sobre o quanto somos vítimas de um sistema de saúde público e precário, com profissionais medíocres, é pior ainda.

Resolvi rabiscar estas linhas apenas para constar que meu aniversário é em agosto e que se (é que existe) o tal inferno astral deveria começar teoricamente em julho para mim e não em março. Nem quero ver quando chegar as vés[eras do meu aniversário então...

O que tem me irritado mais nesse período itinerante entre casa, hospital, consultório e casa dos pais é esbarrar com gente com aquele papo cristão. Explico: "- Calma, minha filha! Deus nunca dá uma cruz maior que a gente não possa carregar!" Explico de novo: não nasci para carregar porra nenhuma, quero que o mundo acabe em barranco para eu me encostar nele. Não nasci para salvar o mundo. Não vim para esta terra para levar a palavra de ninguém a não ser a minha própria e isso sem querer ser catequizadora, ok?

Então, eu nasci, cresci, escolhi casar-me com um cara, optei ter uma profissão e tenho tentado ser bem sucedida dentro daquilo que me propus a fazer. Mas está difícil. Não basta apenas isso? Só isso, hein, Deus? E olhe que nem acredito mais em você.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Vivendo um argumento

Começo o texto já pedindo desculpas pelo seu tamanho, mas não deu pra fazer menor...

Tudo começou em uma discussão da auto-proclamada blogosfera (conhecida como umbigosfera) sobre caridade e filantropia me deixou com uma pulga atrás da orelha. Afinal, a ação feita para ajudar pessoas necessitadas pode ser genuína e sincera, sem uma intenção oculta e secundária em benefício próprio e autopromoção ou tudo não passa de charlatanismo oportunista?

Foi num sábado ensolarado, fotografando por aí que me deparei com a oportunidade de viver uma experiência que me traria parâmetros para compor uma posição: o GEA. Conheci o trabalho, conversei com os voluntários e combinei retornar na semana seguinte para desenvolver um trabalho. O resultado você confere abaixo.

Dezenas de pessoas em situação de rua se concentravam na Paz – Praça da Paz – pequeno recanto verde rodeado por estabelecimentos nordestinos e japoneses no bairro de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo. Eles estavam à espera dos voluntários do Grupo Esperança e Amor (GEA), que todos os sábados promovem um almoço beneficente no local.

Entro no meio deles e não vejo nem sombra de tristeza, os moradores de rua chegam cumprimentando-se como se estivessem em uma festa, tirando sarro um do time do outro, juntando-se em pequenas rodinhas espalhadas por toda a praça, colocando em dia assuntos de toda natureza. Estranham minha presença mas são acolhedores, não me conheciam mas me cumprimentaram e me trataram como um igual. Ali, ninguém é superior a ninguém e não há motivo para hostilidades.

Alguém me oferece um cigarro, não obrigado. Alguém me pede um cigarro, não fumo, obrigado. Alguém estende a mão, “Olá, sou Denis, prazer, eles estão demorando hoje né?”, pergunto. “Sim, mas nunca falham, logo estão aí”.

Todos estão sentados na mureta da praça, em uma fila que cresce. Em sua maioria são senhores de idade, muitos bem vestidos, mas também há jovens, mulheres e crianças. Perdidos entre o descaso social e o fantasma da falta de informação. Ali, eles receberão mais do que uma refeição semanal: encontrarão amigos prontos para resgatá-los das margens do Estado.

Perto das 13h30 chega o primeiro grupo de voluntários do GEA, eles estão ali para contar quantos apareceram hoje. Todos se conhecem, um a um, e a receptividade é calorosa. Se abraçam como a velhos amigos. Não há espaço para nojo ou qualquer coisa do tipo. Finalmente um voluntário suspira aliviado. “Hoje compareceram muitos moradores de rua, mais do que a média. Felizmente fizemos muitos marmitex e vai dar”.

Logo em seguida surge o carro do GEA com o porta-malas adaptado em um isopor gigante cheio de “quentinhas”. Milton, um homem alto, de gestos fortes e voz grave, da um boa tarde geral. É ele quem organiza tudo ali. Em seguida, chama a atenção de todos na praça e, com autoridade, agradece a presença de todos. Hoje o presidente do GEA, Freitas, está presente e cumprimenta a todos com simpatia. Milton é vice presidente, ele me puxa ao seu lado e manda:
Este aqui é o jornalista Denis, amigo nosso que vai fazer a divulgação do GEA, vamos recebê-lo com uma salva de palmas”.

Fico sem jeito e tiro meu chapéu em sinal de respeito e agradecimento aqueles grandes homens que vencem a mais dura das lutas todos os dias, me aplaudindo sem que eu entenda como posso receber um tributo de pessoas mais fortes do que eu, as das maiores vítimas da sociedade subvivendo pelos mais variados motivos.

Não é só pela bebida ou drogas que as pessoas acabam na rua. Muitas sofrem decepções e traumas desconcertantes, a exemplo de Antônio Conselheiro, que desmascaram o teatro encenado por nós todos os dias. Não conseguem mais ver sentido numa vida sem sentido como a nossa, preferem a simplicidade e verdade fria das ruas, por mais dura que seja.

Outros saem de casa por vergonha da família, por não conseguirem trabalho, envergonhados, ficam na rua e não voltam enquanto não conseguem uma colocação no mercado. Parece um absurdo pensar assim no conforto de nossos lares, com nossas garantias e proteções, mas é preciso conhecer a realidade destes pais de família, desesperados sem conseguir levar nada para casa, dia após dia, apenas sobrevivendo de colaborações de vizinhos e família, decide ajudar com uma boca a menos para comer em casa: a sua. Vivendo na rua esperando pelo milagre que nunca chega do céu, a não ser pelas mãos de pessoas como o GEA, que tem o almoço como um atrativo para a ONG.

Coloco-me a refletir. Certa ocasião um amigo repudiou tais pessoas, julgando-as de fracas, pois na sociedade impera a lei do mais forte. "É assim na natureza, quem é mais fraco, perde, morre, acaba, inexiste".

Alimentar ali não é a prioridade, e sim ajudar. “As pessoas vem atrás da comida, mas encontram no GEA a possibilidade de uma reabilitação”, diz Milton. “Somos uma organização sem barreiras de religião, sexo, cor ou idade. Temos espíritas, evangélicos e católicos trabalhando lado a lado para melhorar a vida do próximo, conseguir uma inserção ou qualquer coisa, não temos condições de dar uma casa, um emprego, um tratamento ou qualquer coisa, mas podemos ir atrás, falar com pessoas, telefonar, tentar ajudar como for possível, desde que a pessoa deseje”.

O problema é que nem todo mundo deseja ser resgatado. Muitos não tem força para deixar a bebida de lado e voltar para a família, é algo que depende exclusivamente da vontade da pessoa, mesmo que aconteça uma recaída, a pessoa precisa desejar mudar e isso as vezes leva tempo, revelou uma outra voluntária.

A distribuição das quentinhas começa sem bagunça, todos permanecem sentados e são servidos pelos voluntários. Hoje temos arroz, feijão, salsicha com batata e banana. Também tem suco e um voluntário fica exclusivamente responsável pela pimentinha. “Se não tiver essa bem ardida aqui eles reclamam, não pode faltar”.

Em pouco tempo, todos os moradores receberam sua refeição e comem com a soberba de reis. Aliás, nem todos são moradores de rua, alguns tem sua casinha, mas vem para ver amigos e conversar. São colaboradores, claro, como dona Lazara. Senhora simples que contribuiu com arroz, mas faz questão de sentar na praça para comer com os amigos. "Moro na favela e lá criei sozinha 5 filhos. Fui bom exemplo para eles e hoje uma filha mora na Itália e um filho tem uma chácara do lado da chácara do Jair Rodrigues", conta orgulhosa, mas sem abandonar a favela. “Não vou mentir para você, não pago nem água e nem luz, mas vivo bem na simplicidade”, confessa.

Dona Lazara, voluntária, também não perde uma boquinha

Outro que conversou com o Bravus foi Belarmino Viena Alves. Homem sério e religioso que vive na rua por falta de oportunidades mas está se recuperando. “No que eu puder ajudar, em nome de Deus eu venho e faço de bom grado. Eu estava desandado nessa vida, mas meu Pai me ajudou e assim eu sigo”.


Seu Belarmino, rumo à reabilitação (em nome de Deus)

As marcas da dureza da vida estão presentes no rosto de cada um. Lá não se pensa em palavras como filantropia, caridade, voluntariado, autopromoção ou qualquer coisa do tipo. Há uma realidade presente que nos leva a um pensamento, sentimento e movimento que só quando presentes é possível sentir: há um trabalho que deve ser feito, então fazemos. Apenas isso. Todas as filosofias e condições psicológicas na origem do ego caem por terra durante o ato. Tudo isso perde o sentido e só é possível entender quando vivemos esta ação. Se pudesse, aconselharia cada pessoa a experimentar para poder construir um conceito mais sólido, um argumento sobre o assunto, mesmo que contrário.

Outros braços do GEA

O almoço aos sábados não é o único ato promovido pelo GEA. Nascido no dia 1º de abril de 1999, o Grupo Esperança e Amor foi idéia de quatro casais de amigos que queriam apenas ajudar e hoje conta com cerca de 60 voluntários.

O GEA também trabalha com a doação de fraldas geriátricas para pessoas que precisam. São 15 pessoas assistidas por esse programa. Além disso, muitas famílias recebem ajuda com cestas básicas.

Como colaborar?
A sede que fica na Rua Pedro Soares de Andrade, 94 – Fundos.
Para mais informações o telefone do GEA é (11) 6584.4666.

Mais fotos do ato:


segunda-feira, 19 de abril de 2010

Bisavó cabocla

Diz a lenda que todo brasileiro tem uma.

Segundo meu pai, a minha bisavó cabocla era uma mulher linda, mesmo velhinha. Segundo meu tio, era uma criatura cruel que batia nos netos com um porrete, mesmo depois de cega. Segundo minha tia, o único que não apanhava era meu pai, a quem a velha chamava de "meu caboclinho", mesmo quando já não lembrava mais quem ele era.

Minha filha tem olhos rasgados e um tom de pele surpreendentemente saudável pra um bebê. Se herdar os cabelos lisos e escuros do pai, um dia poderá ser a bisavó cabocla de alguém.

Espero que, da vertente indígena, Letícia herde a aparência, o afeto e o senso de higiene. Bater nos netos com um porrete é muita sacanagem!!!!

Feliz Dia do Índio.

domingo, 18 de abril de 2010

En français

Mon amour quer champagne, caracu, whiskie/redbull e pitú
O Alfajor do Belchior e o abajur do Jorge Ben Jor
Marselhesa no balé, rebolar doida relembrando o cabaré
Correr pela Champs-Élysées, bêbada, ofegante com um bouquet
Fechos pro soutien, lingerie bordô e quitar seu carnê
Piraquê com petit gateau, ir ao toalete e vomitar no bidê
No arco do triunfo arejar, molhar o maiô pra refrescar
Escargot no bistrô, procurar defeito na Brigitte Bardot
Quer a cor-de-rosa do viver, en français

sábado, 17 de abril de 2010

Velho galpão

Dei pela existência do velho galpão faz tempo, foi quando tinha uns quatro anos. Minha família decidiu abrir uma livraria numa cidade vizinha, bem menor. Meus pais decidiram me matricular em uma creche lá, portanto, todo dia cedo viajava com eles. O trajeto era curto, uns 7 quilômetros, que se tornavam uma eternidade para uma criança.
Com o tempo, aprendi a omitir a costumeira pergunta “tá chegando?”, que tanto irrita os pais. Fui notando que perto do destino havia um galpão gigante, na metade da altura de uma ladeira. A última ladeira antes de chegar à cidadezinha que teve a honra de hospedar a Livraria Tatiana (sim, era esse o nome). De modo que ao avistar o galpão sabia que a viagem e os sacolejos chegavam ao fim.
Na época da abertura da livraria meu pai tinha um fusca branco. Como nunca teve apego a carros e como sempre teve a destreza de negociar, seus bens iam e vinham. Os fuscas iam mudando de cor. Tivemos um amarelo, um vermelho, um azul. Cheguei a criar o passatempo de ficar adivinhando qual era a cor do fusca com o qual meu pai apareceria me buscar.
A livraria fechou, mas a cidade permaneceu no meio do caminho da cidade onde o ônibus para e aquela onde mora minha família. Quando venho visitá-los, meu pai me pega na primeira e me leva até a segunda, geralmente reclamando da vida, querendo saber de tudo. Nem sempre presto atenção no galpão.
Hoje, reparei nele. Muito velho, com as madeiras meio apodrecidas pelo tempo, a pintura descascada. Mesmo assim, imponente sobre a ladeira. Achei engraçado observar depois de pelo menos 20 anos um local que me era um importante ponto de referência. Estranho como as coisas perdem a importância. Mais engraçado ainda olhar para o lado e ver como homem que dirigia o carro também estava velho. Barba longa, fios brancos, testa enrugada pelo tempo, pelos problemas de cada dia.
O galpão, sempre lá. Meu pai, sempre ali.
Não é uma conclusão triste. Mas o galpão, meu pai, as rusgas, as rugas , a sonoridade dos pássaros na cidade tranquila, a chegada, a passagem e a partida me fizeram perceber que nada vai mudar. Será, de um jeito até meio sombrio, sempre assim.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Claro

Devido aos chamados:
  • 201069179016;
  • 201066926041.
Não houve a possibilidade de publicação. O meu Claro 3G, que hoje deixou de ser meu, pois, cancelei a linha. Ficou 2 semanas inoperante.

Cansei de vez, agora migrei para ViVo e espero ser mais feliz!

Postando na data que me compete, todo dia 16.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

(in)citações

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"you develop control by letting go"
Bob Ernst

"on rêve avant de contempler. Avant d'être un spetacle conscient tout paysage est une expérience onirique"
Gaston Bachelard

"sofrer é viver pelo avesso"
Marcelo Dolabela

"Da mihi castitatem et contientiam, sed noli modo"
Santo Agostinho

"yo siempre tengo una gran alegría cuando no entiendo algo y al revés: cuando leo algo que entiendo perfectamente, lo abandono desilusionado"
Enrique Vila-Matas

"aprendi que o tempo era apenas fração de nosso sonho"
Everardo Norões

"Citar é ser injusto"
Fernando Pessoa


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quarta-feira, 14 de abril de 2010

O telefone

-Seu telefone quebrou.
-Como?
-Não sei.
-O que que ele tem?
-Eu fiquei aqui a tarde inteira e ele não tocou.
-Alguém tentou me ligar?
-Como é que eu vou saber? O telefone tá quebrado.
-E como é que você sabe que ele tá quebrado?
-Por que ele não tocou a tarde inteira.
-Mas se ninguém tentou me ligar, o telefone não ia tocar mesmo.
-E como é que eu vou saber se alguém tentou te ligar se o telefone não tocou a tarde inteira?
-O telefone tá dando linha?
-Tá. Foi só a campainha que quebrou.
-Pega o seu celular e liga pra cá. Aí a gente vê se quebrou mesmo.
-Não dá, meu celular tá sem crédito. Liga você.
-Meu celular tá sem crédito também.
-Então liga pra alguém e pede pra ligar pra cá e vê se toca.
-Vou ligar pra quem?
-Sei lá, liga pra qualquer um.
-Tá bom, então. Deixa eu ver um número aqui.
-E aí?
-Calma. Tá chamando.
-Atenderam?
-Alô? Mãe? Sou eu! Como assim quem, mãe? Você tem quantos filhos? Ah, tô bem sim, mãe. E você, como tá? É, eu sei que faz tempo que não ligo. Não, mãe, não esqueci de você. É mesmo, mãe? Que legal...

(Meia hora depois).

-...então tá, mãe. Tchau. Beijo.
-E aí?
-Ela te mandou lembranças.
-Mas ela vai ligar de volta?
-Ih, esqueci de perguntar.
-Como esqueceu? Liga de novo!
-Ai, caramba. Peraí. Alô, mãe? Sou eu de novo. Como assim quem, mãe? Eu acabei de falar com você. Não mãe, não aconteceu nada, é que eu precisava de um favor. Que dinheiro! Eu só quero que você ligue pra mim. Eu sei que a gente tá falando no telefone, mas eu quero ver se ele não tá quebrado. Tá bom então.
-Pronto?
-Pronto. Ela vai ligar.

(Dez minutos depois).

-Eu falei que tava quebrado.
-E se minha mãe esqueceu de ligar?
-Liga pra ela de novo e pergunta.
-Falar com minha mãe de novo? Melhor que esteja quebrado mesmo.

terça-feira, 13 de abril de 2010

VIAGEM


Voltando para casa, às cinco da manhã, manhã, manhanzinha, parei a leitura do livro para filmar a paisagem da janela e as pessoas dormindo no trem que sacudia para Mauá. Pus também música que ouvia no fone de ouvido do mp3 na câmera e filmei a página do conto lindo que estava relendo, Frontal com Fanta. Tudo que edito, com leitura em voz alta, para agora postar lá, no Blog das 30 pessoas.

[CARÍSSIMOS, PERDI O DIA 13 POIS MEU COMPUTADOR ESTÁ COM DATA ERRADA, E EU SOU A DISTRAÇÃO EM PESSOA. MAS PREPARO O VÍDEO, POSTO AMANHÃ, SE TUDO DER CERTO. SEI QUE É FORA DA DATA, MAS É O QUE POSSO FAZER. ABRAÇO.]

domingo, 11 de abril de 2010

Dando uma limpa no armário

Eu adoro a diversidade, a possibilidade de mudanças, mesmo que diante de dois sorvetes de sabores diferentes eu não consiga escolher e fique com um de duas bolas. Acho fantástico poder escolher, e isso desde um simples par de sapatos ao Presidente da República, duas tarefas difíceis, mesmo com tanta discrepância de alternativas. Tenho mania de comprar três vestidos iguais, de cores diferentes, pelo simples prazer de poder escolher depois, entre uma roupa que me deixa bonita, a cor que me cai melhor naquele dia. Para isso preciso também de bolsas, cintos, sandálias, tiaras, brincos, lenços, tudo aquilo que combine ou não, mas sempre é necessário escolher. E escolher toma tempo. É um processo que começa nas vitrines das lojas, nas revistas entregues em domicílio, nas propagandas da televisão. Com o tempo nós sabemos bem aquilo que mais nos agrada, o melhor modelo de calça, blusa, calcinha ou tênis. Aquela fôrma é grande, o outro modelo é pequeno. Determinada marca passa ser a preferida. Assim também acontece nos relacionamentos. No mundo existem milhares de pessoas em exposição: nas ruas, nos escritórios, cinemas, bares, ônibus, danceterias. Olhamos todas, queremos algumas e acabamos ficando com uma. Depois da escolha, levamos para casa. Umas estragam com o tempo, deixam de servir: engordamos, elas encolhem. Outras nós perdemos, emprestamos, não pegamos de volta. Mas aquelas que são preciosas, que nos são caras, exigem um cuidado especial, e mesmo que o tempo (muito tempo) passe, não perdem seu valor. São básicas, nos servem sempre. Rasgam aqui, desfiam dali, mas a gente não "encosta". Não deixa de vestir, não deixa de usar. Se estraga, mandamos consertar. Se suja, mandamos lavar. E elas ficam para sempre, viram relíquia, viram lembrança, viram passado, presente, futuro. Combinam com tudo. Combinam com a gente.


Juliana Morais

sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Um amigo espanhol"

Vivo longe de todos os meus melhores amigos. Já estou acostumada, faz parte do meu show, tenho muito talento para o cargo de amiga à distância. Mas não tenho medo de admitir que sinto falta das músicas que me ajudavam a dormir nas madrugadas insones pré-formatura. Dos almoços com suco de limão com rosa seguido de um filme aos sábados, dos abraços coletivos na hora do gol no estádio, do cafuné feito com as pontas dos dedos no ponto mais alto da testa. De fazer o ridículo e se divertir mais do que ninguém nas aulas de Badminton, das intermináveis partidas de Literati, dos torneios de Tetrinet, de fazer as palavras cruzadas a quatro mãos e dividir o Danette ao som de Pat Metheny. De passar as tardes escutando a Rádio Mix enquanto estudamos química, afogar os sonhos mortos em suco de amarelo no bandejão do Coseas e depois ver as nuvens passarem por cima da Torre do Relógio. De adotar as gírias alheias e recontar as mesmas histórias, brigar para que o Estatuto esteja 100% correto, não importa o cansaço dos envolvidos, e o Manual não tenha nenhum erro ortográfico.

Amanhã você entra nessa lista. Graças à sua partida, a média de altura do grupo de amigos distantes vai subir, é você é o primeiro sócio masculino desse clube que tem mãos pequenas o suficiente para entrar nas minhas luvas sem rasgar-las. Sempre são bem-vindos os integrantes que usam óculos, preferem o Desmond, dançam como se ninguém estivesse olhando e não perdem a compostura depois de beber, porque não precisam de ajuda para praticar a sinceridade.

Da próxima vez que eu fizer um resumo como o do primeiro parágrafo, mencionarei a saudade de ganhar sempre no quebra-cabeça e perder sempre no campo minado, ou a falta que me faz engasgar com a mistura da ventania, a paisagem alucinante e a companhia de alguém que se ofereceu para estar ali tomando vento de graça. Omitirei seu nome e te citarei apenas como “um amigo espanhol”.

Se me pedirem para detalhar um pouco mais, talvez eu lhes diga que nos demos muito bem porque compartilhamos a mesma visão de mundo, apesar de que a maneira como aplicamos essa filosofia na prática é diametralmente oposta. E que ajudou consideravelmente o fato de que desde o início só poderíamos ser amigos. E que era um momento em que me faltava ter por perto essa visão de mundo parecida. E que poderíamos ter tido o triplo do tempo, não fosse pela minha mania de começar as coisas e deixá-las pela metade, mas que isso não importa porque se eu não fosse caótica talvez não fôssemos amigos.

Pode ser que eu lhes conte sobre como ontem falávamos sobre mais uma das nossas muitas diferenças. Você não gosta de quase ninguém e eu gosto de quase todo mundo. Você desviou o olhar e fez aquela cara séria que deixa teu rosto ainda mais esguio e destaca teus óculos de armação preta e grossa. E então pairou uma pausa dramática, à qual contribuí porque preciso de tempo para entender o teu espanhol prolífico e em baixo tom. Também costumo esperar para ver se um dos cantos da tua boca vai se encolher e revelar a ironia que vive na ponta da tua língua e corta seis cabeças de quase todos os bichos.

Mas vão dizer que é amor, isso de ficar falando sobre os cantos da tua boca, a cor dos teus óculos e o teu vocabulário. E eu vou ter que dizer, mais uma vez, que não, não é amor. Mas eu não gosto de mentir, e eu sei que sim, é amor. Mas amor de amigo. O problema é que ninguém se interessa por amor de amigo, platônico, simples e natural. Esse tipo de amor não esgota a bilheteria, não entope a caixa de comentários e não sobrevive muito tempo às fofocas do almoço de domingo. Todo mundo quer emoção, intriga, histórias épicas, braços ao ar e vozes alteradas.

Mas nem tudo na vida precisa lembrar uma novela. Às vezes é bom se contentar com pouco. Quando o pouco basta, o pouco vira muito. E mais não poderia pedir.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Plágio

Leio Blogs, mas comento pouco. Agora aqui no blog, de repente, tenho muito para ler e gosto disso, mas um problema que dá, ou melhor, um medo que me dá, é ler algo e copiar sem querer. Sem querer mesmo, aquela idéia que fica na sua cabeça, vai se infiltrando até que um dia você acha que a idéia é sua.

Comigo é assim, alguém vem me contar uma novidade, e eu interrompo: - Sim, eu sei, eu que te contei isso semana passada,não foi?
Antigamente eu compunha músicas, fazia letra e música com o violão. Algumas eu tocava com amigos, outras guardava e muitas esquecia.Um dia fiz uma música linda , daquelas que se ouve uma vez e pronto, letra e canção.
Toquei vários dias, depois mostrei para alguns amigos que também tocavam. Todos disseram que realmente era boa, muito boa a canção.
Dias depois, emendo ela com uma música da Shakira, que tinha sido hit a alguns meses. Percebi que minha melhor música não era minha, era um mero plágio da Shakira.

Pensei quantas das minhas músicas seriam plágios, ou pior, versões? Ou só seria essa, por isso era mais bonita?
Por fim não fechei contrato com a EMI e não perdi milhões com processos de plágio.





quarta-feira, 7 de abril de 2010

Armas & Rosas

Guns n' Roses, 05/04/2010, Risos de Janeiro.
Realizei um sonho.




terça-feira, 6 de abril de 2010

O funeral da Bisa

Mais um dia de chuva fina e interminável em um funeral, parece que sempre chove quando algum conhecido morre, desta vez era minha bisavó, 96 anos. Não sei explicar o porquê, mas não fiquei surpreso com a notícia e nem triste, bom quanto à surpresa tem explicação, quando alguém tem 96 anos você sabe todo dia que um dia pode acordar com um telefonema lhe informando o horário do velório e funeral.

Em relação a tristeza eu não consigo ver muitas coisas positivas em se viver tanto tempo, copas do mundo? Minha bisavó nem gostava de futebol mesmo... Netos e bisnetos? São legais até o momento em que acham que suas bochechas são feitas de plástico e seus bolsos não tem fundo. Terei eu me deixado ser influenciado tanto pela leitura de “o estrangeiro” que agora estou me parecendo com seu personagem central? Talvez.

Quando cheguei ao cemitério já havia muita gente, muitos cumprimentos, reencontros de longa data, abraços longos e conversas, se minha bisavó estivesse viva certamente iria distribuir alguns cala a boca. Minha mãe contava á minha tia a receita do frango que ela havia feito na noite anterior, meu padrinho contava sobre sua ultima viagem e todas as peripécias que alguém que acabou de se separar pode fazer.

A sala já está cheia, muita gente fica do lado de fora fumando, alguns começam a recordar os melhores momentos da bisa, suas sapequiçes quando era criança, seus namorados estranhos (incluindo o meu bisavô), suas manias de velha – como trocar os nomes dos netos, dormir no pé da cama e cantar absurdamente alto enquanto se trocava – o dia que ela comprou o produto para tingir cabelo da cor errada e apareceu de cabelo azul (era natal...) -.

Rapidamente estavam todos enturmados, as crianças brincavam de esconde-e-esconde entre os túmulos, o vinho que alguém trouxera como presente de aniversário para um primo que mora longe foi aberto e muita gente já começava a falar coisas que não deveria, até que chegou a hora da cremação. Não sei por que minha bisavó quis isso, acho uma cerimônia cansativa e agonizante para os que ficam e nada honrosa ao defunto (acho que alguns têm essa pretensão), fomos todos para uma sala onde o caixão ficava no centro, como se fosse o palco e o morto o ator principal, a gente em volta e em círculo éramos a platéia e foi ali que surgia a primeira piada mórbida - se existia algum vendedor de pipocas por perto - fez relativo sucesso. Depois que todos estavam devidamente acomodados surgiu repentinamente Bach e sua Toccata em Fuga, nos primeiros acordes já uns cinco pularam, uma amiga da minha bisavó teve ataque de soluço teve que se retirar da sala, algumas pessoas não seguraram o riso enquanto outros se perguntavam qual era o próximo passo.

O caixão começou a descer, parecia que ia ser o fim da cerimônia, mas foi então que o caixão travou não se sabe se foi problema elétrico, alguma coisa relacionada à máquina, ele simplesmente não desceu, funcionários correram para tentar consertar, foi nessa hora que acabou a música de Bach, que deu lugar a Maracangalha, foi um caos... Os funcionários berravam e corriam tal qual as crianças, estas assustadas e confusas, algumas pessoas tentavam ajudar, minha avó chorava, eu e meus primos rolávamos de rir, o caixão desceu de repente e então começou uma série de barulhos, a gente não sabia se estavam quebrando o caixão ou se os funcionários estavam brigando.

Terminado o “espetáculo” parece que todos estavam mais aliviados, antes de entrar no carro alguém disse ter ficado sabendo que no próximo enterro prometeram uma música melhorzinha e mais animação, muitos após o funeral foram para casa, minha mãe mostrou o famoso frango para minha tia que anotou com entusiasmo a nova receita, mais vinho e cerveja derrubaram rapidamente os foliões que não demoraram muito a ir embora.

Foi o melhor funeral que já fui e a ultima boa lembrança que tenho de... Perae, mas quem morreu mesmo?

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Vlad Galli

domingo, 4 de abril de 2010

O dilema do homem-bala: osso ou graveto?

Foi uma aterrissagem desastrada. O excesso de pólvora ou um erro na calibragem do canhão atirou o homem-bala para muito além dos limites da cidade.

Como ninguém apareceu para resgatá-lo, ergueu-se com dignidade. Recomposto, espanou com as mãos o pó do uniforme, colocou seu capacete azul embaixo do braço e foi procurar ajuda.

Encontrou uma praia (ou foi encontrado por ela). Sentia no rosto uma solidão solar – e o único ruído audível era o barulho das ondas quebrando de mansinho. Havia um pressentimento rondando, algo que ansiava por tradução, um sussurro qualquer vindo de não sei onde.

Um vira-lata famélico apareceu no horizonte. Daquela distância ainda era impossível precisar se o que ele trazia na boca era um osso ou um simples graveto. “Se tem cão, tem gente”, raciocinou.

E ele seguiu aquela pista. Mas o cão, embora magro, era do tipo velocista – o que impediu que o homem-bala se aproximasse muito.

Por sorte (ou por aquilo que até aquele momento ainda não podia ser chamado de azar), o animalzinho tinha corrido em direção a uma cabana simples, fincada no pé de uma geométrica e caprichosa formação rochosa.

A porta só não estava aberta porque não havia nenhuma esperança de porta ali. O jeito foi bater palmas e aguardar uma resposta. Silêncio. “O dono foi pescar ou tomar banho de mar”. Sem outra alternativa, o homem-bala entrou.

O lugar estava abandonado. Não. Isso não é verdade. Tinha um cão magro (que mordia um osso ou um graveto) escondido embaixo de uma mesa. Em cima dela, um prato de espaguete, talheres de prata e uma taça de vinho tinto.

Uma tentação que o homem-bala só não superou porque sons estranhos saíam de sua barriga. “Eu pago”, repetiu para si mesmo – sem notar que estava sem a sua carteira.

Enquanto degustava aquele banquete, notou que o cão aconchegava-se entre suas pernas. Sentiu-se em casa. Ensaiou um sorriso e foi, lentamente, pegando no sono.

Dormiu. Ou achou que tinha dormido. Acordou com um leve toque no ombro. Ao virar-se, demorou para entender que criatura era aquela. Teve a sensação de que o sujeito ao seu lado era um anão – mesmo sabendo que ele deveria ter mais de 1,80m de altura. “Gostou da refeição?”, perguntou o suposto anão.

Antes que pudesse responder afirmativamente, o anfitrião disse que o espaguete tinha sido uma dica de um velho amigo. “Quando soube da sua chegada, perguntei ao seu avô sobre o seu prato predileto”, comentou.

O homem-bala tentou corrigir o anão de 1,80m. Afinal, seu avô, o primeiro homem-bala da família, havia morrido na Revolução de 1932. “Eu agradeço o espaguete, mas eu não sou a pessoa que você estava esperando”, argumentou.

Um pouco curvado para não bater a cabeça no teto da cabana, o anão (que agora parecia ter quase 2 m de altura) soltou uma gargalhada que fez a praia toda estremecer. Assustado, o homem-bala apanhou o capacete azul, que estava sobre a mesa, e, sem despedidas, fugiu em direção à praia.

Avistou dezenas de pessoas saindo do mar. Feito uma bala (típico do homem-bala), correu ao encontro dos banhistas.

Era como se o mar regurgitasse suicidas. Uma gente pálida, muda, alheia ao tempo, caminhando pela areia com uma rosa de Iemanjá na mão esquerda. O homem-bala bem que tentou, mas ninguém percebeu sua presença.

Sentou-se na beira daquele mar estranho. Seus pensamentos viajavam para uma galáxia distante quando sentiu o cão famélico se aproximar. O que o animal trazia na boca não era um osso, nem um graveto. Mas um dedo. O dedo médio do homem-bala.

sábado, 3 de abril de 2010

Eu, Adulto.

Quando é mesmo que a gente vira adulto? Fiquei me perguntando depois de ver minha mãe pedir desculpa para uma pessoa que eu havia agredido por telefone. “Olha, você tem que entender que ela agiu assim porque ficou com medo, ela é uma menina”.
Há. Eu? Uma menina? Mesmo? Mas eu tenho 27 anos! Eu não deveria ter me tornado um adulto aos 18? Talvez eu seja apenas um adulto sem noção. Ou minha mãe tem razão? Não sei.
Eu nunca entrei no rotativo do cartão de crédito, eu voto, ainda que às vezes nulo, e sei que passo mal se tomar dipirona, então tomo paracetamol. Esses fatores me tornam adulta?
Por outro lado, acho que minha mãe tem que pagar o plano de saúde e as despesas educacionais. Isso faz de mim o que? Um semi-adulto? E tenho uma blusa com estampa do Mickey, dos Sete Anões e uma do Super-Homem. É, isso não é nada adulto, mas acho que teve uma evolução nos últimos anos. Eu não uso mais gorros, por exemplo. Há dois anos eu usava ainda o meu gorro roxo no inverno, ou o listrado. Ano passado eu fui usar e me senti patética. Envelheci, por fim?

Lembro de quando eu estava com meu amigo Glauter no habbib`s e usava chinolochas, ou melhor, crocks. Senti frio nos pés e precisei colocar meias. Esse fato isolado já seria ridículo, mas pra piorar não eram qualquer meias, eram meias que vão quase até o joelho, listadas, e com um espaço para cada um dos dedos separadamente. Sabe qual? Meia de dedinhos? E consegue imaginar uma cena mais patética que essa? Glauter, meu amigo, me perdoe por isso. Hoje em dia eu iria há lugar nenhum com as minhas crocks. No máximo vou do quarto para a cozinha.Tá certo, vou a padaria, mas sair socialmente não.
E você ainda pode dizer que desenvolver o bom senso de não sair por ai de crocks ou gorro é só uma questão de bom senso, e não maturidade, mas não é só isso. Eu deixei de tomar Nescau pra tomar café preto, nem sei qual a programação da MTV, não vejo mais sentido em mascar chiclete, não faço loucuras por amor e trufa de marshmallow é doce demais. E então, eu sou um adulto? Sou?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Os anos 80 voltaram, ou não.

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“Hapinnes how'd ya get to be happiness”, lembram-se dessa música do Goldfrapp? Faz parte do álbum Seventh Tree, mas felicidade é ouvir Head First, o novo álbum da banda. Rocket é o prenúncio das ótimas canções que virão em seguida, passando por Believer e Dreaming que tem teclados lembrando os anos 80, a excelente Head first que dá nome ao álbum, e Alive que tem um “Q” de disco music e é a mais animada.

Head First inaugura a safra de boas surpresas 2010, que até então estava pacato, e tem tudo para ser um dos melhores do ano – “I’m feeling alive again”.

Alive (Head Fist)


Happiness (Seventh Tree)

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

o dia em que eu perdi o menino mais esperto do mundo



Fiquei bem feliz quando soube que seria lançado no Brasil a HQ "Jimmy Corrigan - o menino mais esperto do mundo", do Chris Ware com tradução do Daniel Galera. Tinha ouvido falar do estilo diferente do Ware, "tão difícil quanto Ulisses", do Joyce (que enfeita lindamente minha biblioteca...) e fiquei curioso com este livro dele. Jimmy Corrigan é um homem de meia-idade insatisfeito com o trabalho e dominado pela mãe. Até que um dia seu pai (que nunca o viu) o convida para conhecê-lo em outra cidade e a trama se desenrola a partir deste evento. Me disseram que é uma leitura pesada, realista e dolorida.

Qual não foi minha surpresa ao encontrar a HQ exposta numa bancada da Livraria Cultura de São Paulo, sempre um ponto de encontro meu. Já marquei de tudo por lá e em vários setores, dependendo da pessoa com quem ia me encontrar e do objetivo do encontro. Setor infantil pra alguns, de música pra outros, arte pra poucos outros e assim por diante. Enfim, voltemos ao Jimmy.

Fiquei apaixonado pelo livro. Denso, aparentemente triste, um tanto realista.

Comentei com várias pessoas sobre o livro e, para minha surpresa, no outro dia, recebo a notícia de que ganhei o livro. Não aceitei. Pediram meu endereço. Não dei. Ganhei.

No mesmo dia, ao comentar que tinha ganhado o livro, soube que outra pessoa também tinha comprado o livro pra mim. Fiquem sem saber o que fazer, mas como não consigo deixar minha língua quieta na boca, disse que já tinha ganhado. Perdi.

Na verdade até peguei o livro em minhas mãos, mas a decisão não era minha. O livro não era meu e foi devolvido de onde veio. Pra estante da livraria. O outro livro andou viajando pela mochila e não chegou a mim. E não vai chegar.

No fim das contas, eu, que ganhei dois livros iguais - e que saberia perfeitamente lidar com isso - perdi os dois e acabei comprando - dias depois - da forma mais solitária do mundo. Só eu, minha internet e meu cartão de crédito.

Foi assim que comprei o menino mais esperto do mundo.
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