quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Vida loka vida

A cena é conhecida e se repete inúmeras vezes em álbuns do Orkut. O adolescente segura orgulhosamente uma arma e faz cara de “mau” para a câmera. Sem camisa como os colírios da Capricho, exibe um tanquinho esculpido pela falta de comida na mesa e pelo consumo regular de drogas. A privação dupla (de recursos e de noção) lhes proporciona o que playboyzinhos tentam conquistar desfilando seus Nike Shox na academia.

Antes do clique, o cenário é cuidadosamente preparado. As paredes com tinta descascada nem incomodam. Em primeiro plano, várias cédulas estão dispostas sobre a mesa. Da mesma forma que policiais compõem palavras com a munição apreendida, os moleques desenham “vida loka” com notas meio amarfanhadas de 2, 5 e 10. Uma solidária cédula de 50 é usada na perninha do “k”. Após a postagem na rede social, a legenda “É nóis” completa o momento que permanecerá muito além da vida breve de seus protagonistas.

***

– Porra, você não entende que esse tipo de evento é importante para a minha carreira? Fui promovido no mês passado e não posso perder a oportunidade de mostrar para todos que agora estou em outro nível.
– Eu sei, amor, mas gastar R$ 8 mil num terno de grife com a mensalidade da escola das crianças atrasada não é um contrassenso?
– Se você fosse mais inteligente e tivesse um pouco de visão, saberia que é justamente por causa do futuro delas que às vezes precisamos fazer certos investimentos.
– Acontece que é a burra da casa que precisa mentir a cada ligação do gerente do banco para avisar que o cheque especial tá estourado. Sem falar nas parcelas vencidas do financiamento do carro. Imagine a vergonha se um dia tiver de devolver seu xodó importado para a agência...
– Eles que se atrevam... Nunca vou esquecer a cara dos outros gerentes quando viram nosso carro novo. Eu não sou foda?

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Bonés nas mãos, os amigos rezam um pai-nosso no cemitério da periferia na hora de se despedir do companheiro. Do outro lado da cidade, o jazigo da família ganha mais um hóspede. Os dois universos distintos aparecem misturados na reportagem sobre o assalto que terminou em tragédia. Três balas no executivo e, minutos depois, 6 azeitonas da polícia mandaram mais um presunto juvenil para o inferno.

Na verdade, os pipocos apenas consumaram mortes que já tinham acontecido há muito tempo. Sem possibilidade de sonhar, o vida loka da favela decidiu buscar atalhos e partir para o “tudo ou nada”. Momentos fugazes de curtição antes de virar mais um número nas estatísticas. “Bandido bom é bandido morto”, respirou aliviada boa parte dos leitores.

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Casamento destruído, filhos com dinheiro no bolso para compensar a falta de carinho, nenhuma amizade verdadeira na empresa após incontáveis expedientes para ascender na carreira... Um autêntico vida loka em versão corporativa. Valores trocados, escolhas malfeitas. No fundo (ou seria melhor “no raso”?), a mesma busca de aparentar algo que não é.

Tivesse mesmo a tal da visão que cobrava da esposa, teria enxergado que profissionalmente não passava de uma prostituta. Em vez do corpo, alugava seu tempo para a empresa obter lucros obscenos. Quantas foram as vezes que acedeu aos desejos do chefe fingindo prazer? A satisfação que exibia nas reuniões era tão real quanto o sentimento de uma puta chamando o cliente de “amorzinho”. Vida de bunda sonhando com a Caras. “Ninguém vai nos perdoar... nosso crime não compensa.”

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

É privilégio de quem sabe





Ia postar algo totalmente diferente, desisti. Não cabe, não hoje. Lendo agora, o blog que eu adoro, sobre focar no que é importante, mudei. Do vídeo da Elza Soares de semanas atrás, deixo apenas o título, por que chora, é pura melancolia...O preto e branco o "azedume" de Nelson, a música bonita, mas (ainda) soando melancolia. E quero distância, quero ficar bem longeeeee da melancolia. Contraste com o preto e branco, palavras bonitas, ela não sabe, mas acabou de me salvar. Hora de focar no que é importante, este é o último citando a melancolia. Será "regra", para o dia 29. :))

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Reflexos em Bariloche


Reflexos no passeio de barco pelo lago em Bariloche.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Wouldn't it be nice?

Não seria legal se nós ficássemos juntos?

Vendo os filmes horríveis que eu escolho e adoro, procurando programas bizarros na tv aberta, rindo dos vídeos do you tube e comendo big x picanha?

Não seria muito legal dizer todos os dias "bom dia" e "boa noite"? Te abraçar e dizer baixinho no seu ouvido "te amo"?

Não seria legal?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Desenhando com a luz

A fotografia tem um efeito muito forte em mim, não sei o motivo, mas mesmo estática, voto nela como um dos mais impressionantes meios de comunicação e arte.

Uma imagem pode revelar segredos, provar, desprovar, inibir, divulgar ou expressar. Posso ficar horas vendo uma boa foto. Gosto também de sair com amigos pela cidade ou pra fora dela com uma câmera nas mãos, registrando detalhes, paisagens, pessoas... eu briso.

Mas, entre todas as possibilidades da fotografia, nenhuma desperta em mim tantos sentimentos quanto a sua versão de testemunha da passagem humana pela Terra. É um sentimento parecido com o que me toma durante a exibição da retrospectiva anual, uma confusão de emoções... as vezes orgulho, as vezes nojo, revolta…

A fotografia desafia o tempo e nos é cruel ao ser capaz de jogar em nossa cara, com um frio realismo, tudo aquilo que somos capazes: vemos atrocidades quando nos achamos bons demais; vemos superações quando nos subestimamos.

Vou fazer um pequeno apanhado, para exemplificar:

A Primeira Fotografia
Ousadia
A Força
Nagasaki
A Garota de Napalm
O Protesto de um Monge
A Força de 1
Intolerância
Power Flower
E continuamos parados...
Almoço na Contrução do Rockfeller Center



domingo, 19 de setembro de 2010

Me importa o tamanho

Peço desculpas a todos os meus colegas blogueiros em adiantado pela barbaridade que confessarei. Mas a verdade, a mais pura verdade, é que eu não leio posts grandes. E entendo como posts grandes qualquer texto mais longo que o comprimento do meu celular (o que não é muito).

Pra mim internet é a terra da rapidez, da efemeridade e da promiscuidade intelectual. Se na vida "concreta" eu encaro sem nenhuma preocupação listas telefônicas literárias como "Guerra e Paz" e "Senhor dos Anéis" sem o menor medo, aqui eu fico no nível dos bilhetes e pronto. É claro, faço exceções, mas só pra confirmar a regra.

Não é por maldade, nem por descaso. É preguiça mesmo.

Foi mal.

=/

sábado, 18 de setembro de 2010

Brochura

Fosse eu dono da rítmica
Horas seriam linhas
Alegria seria ponto
Tristeza seria vírgula

O caderno moradia
Choro uma grafia
A saudade/reticiências
De borracha morreria

Aspas e colchetes
o lápis negaria
E escrito gritaria
O eterno rascunho, vida

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sobre o que não ganhei de herança ou: sobre o que minha mãe não quis me dar




Sempre admirei a luz da minha mãe. Semelhante à luz que ela deixa entrar quando abre todas as portas e janelas da nossa casa, para que a claridade tome conta de tudo. A mesma claridade quando ela me dá uma solução para qualquer problema, desde o choro do bebê, o cabelo ressecado ou a cólica menstrual. Tem sempre uma resposta para tudo, mesmo que seja a mais rápida e nem sempre cabível à dificuldade.
Talvez essa não seja uma qualidade intrínseca a minha mãe, mas a todas deste universo. E pode ser que pelo fato de ainda não ser mãe, não me encaixo nesse perfil. E estou longe de me orgulhar disso. Desde pequena eu tenho desapontado a minha mãe, por não ter alguns de seus talentos. Estou longe de ter sua mão santa, seja na cozinha ou no manuseio de papéis e fitas. Sempre fiquei embasbacada como ela conseguia fazer qualquer pacote de presente, por mais disforme que fosse o conteúdo. E o resultado sempre era uma obra de arte. Dê uma fita e uma dúzia de enfeites para minha mãe e você verá a mais bela árvore de natal de todos os tempos.
Por isso deve intrigar-lhe o fato de que eu seja sua filha. Eu demorei a aprender a amarrar o cadarço. A primeira vez que fiz arroz, cozinhei meia xícara para cinco pessoas. Eu nem sei regar as plantas direito. Minhas roupas estão sempre encardidas ou furadas, porque (droga, odeio admitir), mal sei dar ponto em roupa. Por isso meu quarto e minha casa, no que depende de mim, está sempre na maior desordem. Talvez, por isso, minha vida quase sempre está em desordem.
Esses tempos presenciei minha mãe arrumar uma mesa de aniversário com três papéis e alguns balões. Em dez minutos de estica, puxa, ajeita e cola, tivemos uma mesa que não só chamava a atenção dos convidados, mas deixava o ambiente com um toque todo especial. E esse sempre foi seu trunfo. Com suas mãos de gênio, ela sabe mostrar que passou por ali. Quando ela ia me visitar, mudava todas as coisas de lugar e eu relutava um pouco em aceitar suas alterações. Pouco depois, eu não conseguia mais deixar nada do jeito anterior.
Hoje percebo que não se trata apenas de eu não ter recebido como herança genética seus dons, mas porque eles nunca tenham sido estimulados como deveriam. E atribuo parte da culpa a minha mãe. De um jeito só seu, sutilmente, ela me fez ao longo da vida trilhar um caminho diferente do dela. Ela me criou, por mais estranho que pareça, para ser uma versão sua às avessas, uma cópia, sim, mas daquelas dessemelhantes. Como um reflexo no espelho, que ergue a mão direita quando levantamos a esquerda.

E se assim for, mãe, eu espero estar te orgulhando.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Chandler

Eu sempre tive muitas dúvidas do que queria fazer, qual profissão seguiria, como faria para ter o ganha pão.
O meu pai fez coro para que eu fosse ferramenteiro, a mais nobre função do chão de fábrica, bem que tentei. Entretanto, graças ao uso de uma inofensiva bermuda, não fiz a prova do Senai da Grob. Passei no vestibulinho da ETE e escolhi o curso que tinha informática no nome. Naquela época queria ser engenheiro, como o clichê dos meninos, queria ser automobilístico. Enjoei dos números e quando chegou a hora de fazer uma faculdade, quis glamour de terno e gravata. Contudo, a barriga no balcão é tão enfadonha e injusta.
Sempre tive dificuldades em explicar para o que faço. Os meus amigos não entendem que chega a mais de 3 anos que atendo um cliente e que entrego é um sistema. A maioria deles acredita no plug in play e que uma vez instalado, já era, pode ir embora.
Algumas das minhas mulheres não acreditavam quando afirmava que naquela madrugada eu ficaria em frente ao computador, tentando colocar algo em funcionamento e que sempre eu não tinha saco de explicar. Na cabeça delas, eu tinha outra e que faria sexo selvagem naquele período.
Pois bem, continuo nessa vida, com uma corajosa que duvidará de mim e mesmo assim quer se casar comigo. Embora ontem, sofreu com a possibilidade que eu tenha que passar alguns dias e algumas noites em Araxá, que me fez prometer que cumprirei todos os meus deveres conjugais. 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Supernova

Enquanto ela continuava a correr, podia ouvir ficando mais distantes os berros desolados do menino. Ela perseguia uma estrela. Na verdade, um balão de gás hélio com aquele formato que foi arrastado pelo vento matinal de outono. 

Antes de se movimentar para ir atrás do brinquedo fugitivo, ela cogitou deixar para lá. Mas estava tão triste naqueles dias que temia que o pranto do garoto a sensibilizasse a ponto de ele precisar consolá-la. Trocando uma cena patética pela outra, foi. Apressou o passo desengonçadamente até conseguir agarrar a fita que unia a estrela a um prendedor de roupas. Era o prendedor que impedia o brinquedo de deixar o chão, embora não tenha sido muito útil para evitar que ele fosse levado. 

Voltou a passos lentos e entregou, apática, a estrela para o menino. Ignorou os pulos de felicidade do garoto, mas quase conseguiu sorrir quando ele a beijou no joelho, em forma de agradecimento. "Quase", frisou para si mesma.

Ela se sentou para recuperar o ar. Observou o menino brincar com a estrela até abandoná-la, dois minutos depois, para se entreter com outra coisa. Ela achou a cena metafórica e clichê: ninguém dá valor ao que tem como garantido. Sentiu pena de si, quando lembrou das vezes que foi tratada como aquela estrela. Também foi afetada pela culpa ao recordar as vezes que desamparou outras estrelas, tantas vezes que poderia formar uma pequena constelação de renegados.

O remorso a invadiu de forma tão arrebatadora que ela não reagiu ao ver o garoto desamarrar o prendedor de roupas que segurava o brinquedo. Recobrou os sentidos apenas a tempo de assistir ao balão subir até a copa de uma árvore, topar com alguns galhos e estourar. 

Enquanto a estrela desfigurada caía, ela fechou os olhos e fez um pedido.

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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A noite em que cruzei com Caetano na Lapa


Descendo a Taylor pra acompanhar Jo, que ia ver Céu no Circo Voador, eu cruzei com o Caetano Veloso que vinha sorridente a pé ao lado de um garoto e uma moca muito linda de cabelos curtos. Achei-o bonito com seu sorriso rápido e tênis baixos, e a meia-noite e seu tanto ficou mais estelar. Eu até que quis ir atrás, dizer a ele muito devoto: Caetano, eu gosto você, você é o cara que me ensinou a ser mais livre.  E um tanto ridiculo, para constrangê-lo ou ve-lo rir, diria: Caetano, você é o meu Chico Buarque. Mas não fiz nada disso, eu já tinha vivido uns minutos antes minha porção de estrelas no apê daquela argentina.

*


Meu coração é vadio e eu tenho sede da sede sentado na ladeira onde quase ninguem passa e a luz amarela de postes antigos colabora para dar mais brilho ao noturno celestial deste Rio novo, antiquíssimo.  E eu sou mais feliz depois desse beijo noturno, predestinado em Santa Teresa com seus ateliês abertos. Beijo com trilha  e sem pudor ante a multidao que é samba, reggae e bossa.




*

Porque tudo é interessante demais o tempo todo.

*

[Eu me liguei quase agora do quanto tenho feito por mim. E o fator principal é essa minha entrega um tanto dionisiaca à vida, e ao encontro com pessoas. Queria postar sobre a importância de ter amigos, de revê-los, o prazer resgatado de estar com eles, de rir mais, beber mais, conversar longamente. O prazer de descobrir gente nova, outras amizades, olhos que me ensinam a olhar. E eu tenho uma sorte incrivel, pois nunca são encontros fúteis, ostentação e olhar blazé. É que eu tenho aquela sorte (que me invejam) para gente.  Essa mania cristã de querer só o bem para quem me quer tão bem. E voo.


sábado, 11 de setembro de 2010

Post it

Eu nunca achei que teria um blog. Não tenho Orkut, nem Facebook, nem Twitter, e nem no MSN ando entrando mais. Aí um dia uma amiga minha fez um blog comunitário e me colocou pra escrever lá, assim, quando quisesse. Passei meses sem escrever nada, e ela reclamava que só ela escrevia. Até que um dia escrevi um postzinho à toa, depois outro, e mais outro. Quando vi, já tava lá. Só que o blog não era meu, era nosso, e eu tinha mania de achar que só podia escrever nele só que o que não fosse só meu, e sim o que fosse, assim, mais genérico, sabe? E então eu senti falta de um espaço meu, que não fosse comunitário, onde eu pudesse escrever as coisas minhas, e não genéricas, e pudesse ser eu. Não que no outro eu não pudesse. É que eu não conseguia.
E nessa brincadeira de blog, vim parar aqui, num outro blog comunitário, e me peguei com o mesmo bloqueio. Não consigo escrever aqui coisas que são minhas, só minhas, acabo querendo me concentrar só nas genéricas. O problema é que eu não sou escritora, nem nada que o valha, e não sei escrever nada que não venha de dentro, e que não seja meu. Não sei inventar histórias que não me tenham como personagem, por menor coadjuvante que seja.
Olhando pra trás, vejo que por mais que me esforce, mesmo os assuntos bestas acabam sendo eu. Mas, sabe, adoro chegar aqui todo dia onze e falar de alguma coisa, genérica ou minha.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O dia 9 (parte I)

Vamos fazer um trato? Eu te amo, você me ama, eu cuido de você, você cuida de mim, formamos um time de dois e enfrentamos juntos as noites frias, os olhares feios, os bafômetros surpresa, as brigas de bar e as contas de luz.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Amor



Eis que, vil, furtaste de mim tempo valioso e incompensável.
Amargamente atinge um gosto lenitivo, adocicado.
Porém,
Quando exacerbado se torna, provoca
insensatez e  insânia.


      Lucinha e Júlio se conheceram quando ainda eram crianças. Lucinha se formou em arquitetura, Júlio em direito, se casaram aos 27 anos. A pessoa mais feliz no casamento era Dona Luzia, mãe de Júlio, cuja meta e sonho na vida era brincar com seus netos. Dona Luzia vivia na casa dos dois, sempre a lembrar de seu sonho. Lucinha, que chegava nervosa sempre do trabalho, começou a ver a perspectiva de dar um pé na bunda da sua sogra. Dona Luzia chegou a conclusão de que Lucinha não era a pessoa certa para seu filho e inventou um amante para a mesma.
     Julio, sem culpa e com dolo, colocou estricnina na bebida que Lucinha supostamente beberia. Lucinha fez sua grande obra, um bolo recheado de cianureto. Dona Luzia chegou naquela tarde no lar do casal e pensou em saciar sua fome, devia ter comido em sua casa. Julio ficou sabendo que nunca existira um amante.Os dois tiveram três filhos e estão mais felizes do que nunca.
 
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Carlos: Eaí Joca como andam as coisas entre você e a sua vizinha?
Joca: Ah cara, acabou, ela comprou uma persiana.
Carlos: Que sacanagem.

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@bia1984 Te amo Gui!
@bia1984 Te amo Gui!  Retweeted by guigafonseca and 2 others
@guilordoni - Também te amo, meu docinho!
@guigafonseca - @bia1984  @guilordoni  ????
@bia1984  - @guilordoni burro...
@guigafonseca - @guilordoni Filho da puta!

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    Janete era ascensorista e tinha um amor tido pela mesma como platônico por Mário, do 6º. Andar. Mário todo dia alimentava a paixão de Janete ao deixar seu perfume no elevador. Até que um dia Janete, Mário e Jurandir ficaram presos no elevador. Era a chance de Janete e realmente o amor aconteceu.
    Mário e Jurandir estão juntos até hoje e Janete estava certa, era platônico mesmo.
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Claudia é palmeirense fanática, Carlos corintiano não tanto roxo. Certo dia Carlos pediu para Cláudia se decidir: ou o Palmeiras ou ele.
Cláudia hoje vai ao estádio sozinha e é muito feliz.

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    Michelle (43) é escritora, Pierre jornalista, crítico de arte. Pierre (48) se cansou do que ele chamava de pseudo-intelectualidade-movida-a-uma-preguiça-funcional da parte de Michelle e pediu divórcio. Algumas poucas semanas depois estava com Natasha (21), uma loira voluptuosa, estudante de Ed.Fisica, que possuía muita elasticidade e que segundo o próprio Pierre tinha como maior virtude (ou atributo) saber o Kama Sutra de cor, de trás pra frente. Michelle conheceu através de uma amiga Luciano (34), responsável por escrever o horóscopo no jornal em que Pierre trabalhava.
     Depois de cinco meses Pierre se cansou de Natasha, na verdade ela o deixou cansado. Michelle confessadamente sentia falta de Pierre, mas não sabia como terminar com Luciano. Disse então que aquele amor não estava escrito nas estrelas, foi clichê, mas deu certo. Infelizmente pros dois o divórcio saiu rápido, Pierre deu a idéia de se casar de novo, mas Michelle achou por bem desistir desta idéia, não queria ter de se separar de novo.
    

Tão claro como obscuro causa fixação,
embriaguez, leviandade, estupidez.
Fosse óbvio então, tornaria a vida mais fácil.
Estereotipa uma arte e seus atores.
Perverso és e que nos faz sermos,
 patéticos.  



Vlado Galli
                 

sábado, 4 de setembro de 2010

33 motivos para escrever uma crônica

Por Gilberto Amendola

1 - O jeito como ela conta as moedas com a mão espalmada, separando as de dez e cinco centavos, antes de entregá-las ao cobrador de ônibus.
2 - O jeito como ela arruma o cabelo atrás da orelha, como se estivesse usando uma presilha invisível.
3 - O jeito como suspira toda vez que vê uma foto do Ewan McGregor na internet.
4- Aliás, o jeito como usa o teclado do computador, catando milho, usando apenas dois dedos, e se atrapalhando na hora de achar as letras “B” e “Y”.
5 - O jeito como combina cores esdrúxulas e extravagantes. A rainha do “verde limão” em sobreposição ao “azul celeste”.
6 - O fato de sempre, em qualquer circunstância, derrubar molho, creme ou comida na própria roupa. E o jeito que ela fica constrangida com isso.
7 - Ah, o jeito como ela toma sorvete de morango, é claro.
8 - Depois de cada tatuagem, um arrependimento instantâneo. O jeito como ela esconde suas tattoos antigas e as ideias que tem para cobri-las com outras tatuagens (que serão renegadas logo depois de concluídas).
9 - O jeito como ela olha para máquina de doces. O tempo que gasta nisso – e a triste constatação que o Suflair acabou.
10 - O jeito como assiste futebol. Ela tem o repertório mais abrangente de palavrões que eu conheço. O hábito de levantar do sofá a cada perigo de gol – e dizer que odeia o juiz e o atacante do time adversário.
11 - Ela não sabe dançar. O jeito como ela tenta.
12 - Repare nos pés dela. Um sobre o outro, sempre.
13 - O jeito como fala de Buenos Aires e pronuncia a palavra “alfajor”.
14 - O jeito como ela espalha seus post-its na porta da geladeira – onde ela escreve tudo que ela acha que vai esquecer. E esquece.
15 – Sabe o jeito que ela opera um iPhone? Então...
16 - O tempo que ela demora no chuveiro. É que ela fica decifrando os desenhos do azulejo e escrevendo mensagens cifradas com o vapor da água quente no box.
17 - Quando ela encosta a cabeça no vidro do ônibus e parece sonhar com desenhos animados que ainda não existem. O jeito que ela cochila.
18 - O jeito que ela fica depois de chorar. Seus olhos vermelhos.
19 - O desamparo dela.
20 - É como abraçar uma nuvem – mas isso tem mais a ver com o meu jeito do que com o dela.
21 - O jeito como ela presta atenção quando alguém lê um poema perto dela. Sempre é pra ela, mesmo não sendo.
22 - O jeito como dirige. Cheio de ousadia. Mas o melhor é quando faz baliza. Abre um sorriso de brotar coração em estátua de mármore toda vez que acerta de primeira.
23 - A mania de estalar os ossos antes de começar qualquer coisa.
24 - Ah, ela também costuma bater com a caneta nos dentes da frente. Só vendo.
25 - A forma como escreve e-mails, sem abreviações e com quase nenhum erro de português.
26 - Um dia ela me pediu para soletrar Schwarzenegger. E eu não consegui.
27 - O jeito como ela não acredita em Deus, acreditando.
28 - Em como fica empolgada quando conhece uma banda nova e obriga todo mundo a ouvir pelo menos uma música.
29 - O jeito como olha pra mim toda vez que percebe que estou fazendo uma burrada.
30 - Toda vez que ri de uma piada sem graça por educação.
31 - O jeito como quer decorar seu apartamento imaginário.
32- A delicadeza com que, olhando no meus olhos, me disse “não” – que de tão doce e franco parecia um “sim”.
33 - Acho que, principalmente, o jeito que o jeito dela me deixou.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

No olho do furacão

Eu queria ter a honra de nunca ter postado aqui um pseudo-texto, um post tapa buraco, um post preguiçoso ou um post sem tempo, mas não deu. Pensei até em não publicar nada então, deixar meu dia vazio mesmo, mas sei lá, fico com pena.
Pensei em trocar com alguém, mas de última hora não achei ninguém com o texto pronto. O que fazer? E meu texto estava quase pronto no computador que eu deveria ter ligado há um dia atrás, mas mudaram os planos, os horários, os dias, o motorista atrasou, a companhia não quis trocar a passagem, e aqui estou, nem lá, nem cá, em Campinas, voltando de Franca, indo para Poços de Caldas, em uma Lan House cara enquanto meu segundo ônibus não vem.
Segunda-feira eu já tenho que começar a trabalhar e eu nem sei se eu quero mesmo ir, ou se quero pra outra empresa que me mandou um e-mail agora, nesse minuto, nessa lan house, enquanto eu abria o blogspot . Por isso vou colocar esse título, porque é como eu me sinto, no olho do furacão.




quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O menino vidente da Bahia

Numa pequena cidade do interior da Bahia, em meados do século XIX, um menino de apenas 11 anos descobriu sem querer, durante um dever de casa da escola, que era dotado de um curioso talento. Ele era capaz de prever para os próximos sete dias, com absoluta precisão, se iria ou não chover.

A notícia se espalhou rapidamente pelo colégio graças a iniciativa do seu melhor amigo, que o fazia postar toda semana, no mural destinado aos estudantes da quarta série, a previsão do tempo para os sete dias seguintes. Os alunos das outras séries também passaram a acompanhar as previsões do mural e o melhor amigo do menino fazia questão de fazer um "c" de certo, como se estivesse corrigindo uma prova, no fim de cada dia. Em questão de três ou quatro meses, um grupo de meteorologistas de Salvador fez questão de conhecer pessoalmente o garoto com o intuito de desvendar quais técnicas ele empregava nas suas previsões. Vale lembrar que os meteorologistas - brasileiros e estrangeiros - mal conseguem prever o tempo para as próximas duas horas, imagine então sete dias.

- Minha professora de português me disse que vocês analisam a temperatura, a pressão atmosférica e a umidade do ar. Mas eu nem sei o que significa pressão atmosférica. Acho que vocês já podem empacotar as suas malas e ir embora desse fim de mundo. Não tenho nada para oferecer a vocês.

- O que você quer dizer com isso? - perguntou um dos meteorologistas.

- Como assim, meu chapa? - retrucou o garoto.

- Você nem olha para o céu para fazer as suas previsões?

- Não. Eu simplesmente sei o que vai acontecer. Me coloque numa sala escura e fechada que eu vou conseguir prever o tempo do mesmo jeito.

- Impressionante - disse outro meteorologista, perplexo com as declarações.

Quando o menino estava com 17 anos, manifestou o seu desejo de fazer uma faculdade de direito. Então o seu pai aconselhou-o a se mudar para o Rio de Janeiro, onde teria um futuro muito mais promissor do que se continuasse a morar na Bahia.

Além de adivinhador, o menino era muito bom aluno e passou sem dificuldade para o melhor curso de direito do Rio. Por mais que ele só tenha demonstrado o seu talento premonitório aos seus amigos mais próximos, a notícia correu pela faculdade, de modo que a situação abaixo se tornou frequente:

- Não precisa se preocupar, meu caro, não vai chover no fim de semana.

- Como você sabe?

- O Gustavinho disse que não vai chover.

- Tá, e daí? Quem é Gustavinho?

- Ele é vidente.

As explicações continuaram em todos os lugares possíveis, no refeitório da universidade, na farmácia, no banco, na praça.

- Ele é vidente, por isso não vai chover.

- É vidente, vai chover.

- Vidente não existe.

- É vidente? Por isso vai chover?

- Exatamente. É vidente que vai chover. Quero dizer, vai chover porque ele é vidente.

Nos meses seguintes, ao invés de dizer que "amanhã não vai chover porque o menino vidente disse que não vai", as pessoas passaram a dizer "é vidente que não vai chover", como uma maneira de simplificar a explicação e como também uma forma implícita de dizer que aquela previsão tinha o respaldo do menino vidente, não era uma opinião de um leigo no assunto meteorológico.

Com o passar dos anos, o termo "é vidente" passou a ser empregado em outras situações como no caso de um filho respondendo para a mãe, "é vidente que eu fiz o dever de casa". Apesar daquela informação não conter o respaldo do menino vidente, o garoto estava dizendo para a mãe que era claro, óbvio, que ele tinha feito o dever de casa.

Esta é a verdadeira origem da palavra "evidente". Além do que, procurei no Google, e não encontrei nada. Melhor esta história do que nenhuma, não acham?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

[mais] uma mensagem de amor



ok, ainda faltam alguns minutos para a meia-noite, então ainda é meu dia aqui no blogão. não sei se falei, mas gosto de escrever sempre no dia da postagem. algumas vezes escrevo na noite anterior, mas raramente programo os posts. eis que pouco depois de acordar e pouco antes de ligar o computador, olhei o celular e havia quatro ligações não atendidas. era minha mãe. liguei e ela avisou que meu sobrinho, o arthur, de 11 meses, estava internado devido a uma alergia a um medicamento erroneamente indicado por uma vagabunda médica. apavorei. twittei sobre o tules e recebi dezenas de mensagens desejando força. dia corrido, cobranças, exigências, prazos. e eu só pensando no tules. chorei. pensei que ia perdê-lo, o que causaria em mim um buraco na alma, nem sei. pensei na possibilidade dele não existir mais entre nós e o mundo se tornou algo mal, feio, sem sentido. trancado no banheiro, percebi que sem ele minha vida até poderia continuar, mas pela metade. pensei em deus, na família, nos amigos. pensei em gente que nem conheço. aí meu coração se acalmou, lavei o rosto e vi que tudo isso era uma viagem. tules é forte e não são cinco dias no hospital que farão dele um menino mais fraco. tules é uma luzinha que acende no meu cérebro sempre que estou mal. tules está todo empipocado e com uns negócios na veia que esqueci o nome, mas ainda assim me abraçou quando cheguei ao hospital. ele olhou fixamente pra mim e se aconchegou no meu ombro, como minha irmã mais nova fazia. ele olhou pra mim com um olhar triste e só então percebi que ele é um humano. um humanozinho, mas ainda assim, um humano. agora eu sei que o tules adoece e fica triste. a luz que acende no meu cérebro quando estou mal é transcendente, mas é humano. então pensei no futuro do tules e nas coisas que vamos fazer juntos. ele vai se orgulhar de muita coisa minha e vai se decepcionar com outras, porque ele é humano e humanos agem assim. e eu fiquei feliz, mesmo com o coração moído. e agora compartilho com o mundo o primeiro registro do tules no papel. uma mensagem que ele escreveu pra mim. e eu vou guardar pra sempre, pois o que está escrito... está escrito. te amo.
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