no mês passado, o dia 26 passou em branco. fiquei desolada quando me dei conta. havia encerrado um momento importante do meu trabalho na universidade que eu resolvi considerar como o fim de um ciclo. estava exausta. talvez daí o "branco".
desde então, percorri longas distâncias. e ainda agora estou bem longe de casa. há um modo mais simples de dizê-lo: saí de férias. mas se o digo de modo tão grave é porque estas distâncias são também interiores. dizem respeito também às decisões. deslocamento é uma palavra bonita, não? e também misteriosa. nem sempre percebemos, mas tem a ver com desapropriação, com não-lugar. é um desarranjo nos dias e, por consequência, uma perturbação no corpo.
e só traz consequências interiores se, junto com o deslocamento, acatarmos essa desapropriação, essa perturbação com desejo. em palavras mais simples, não adianta viajar se for para continuar vivendo como se estivesse no aconchego da casa, querendo as mesmas comodidades. é preciso deixar-se perturbar. abrir espaço para o inesperado, para a surpresa, mesmo que nem sempre seja boa. talvez esta seja a busca mais necessária::: em cada lugar, acatar o que há de vir com voracidade.
a imagem, então, ainda é a mesma do dia 26 de maio: a do desejo. porque tenho cá para mim que sem desejo só resta a imobilidade; o oposto do deslocamento. sem desejo não há como querer fazer do até então desconhecido algo conhecido.
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Linda, Milena!
ResponderExcluir"é um desarranjo nos dias e, por consequência, uma perturbação no corpo."
Guardarei para mim, no meu caderninho de boas definições.
Cada vez acredito mais que fiz uma boa escolha. Hehe
Um abraço bem abraço
Gostei da figura.
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