Entrou na farmácia, comprou uns antigripais. No curto trajeto até o caixa, esqueceu-se do rosto da balconista que recomendou-lhe um Resfenol. Esqueceu-se inclusive da sua voz. No caixa, enquanto buscava a carteira na bolsa, olhou de relance o atendente. Óculos de aros grossos, franja de lado e uma vozinha afetada. “Débito ou crédito?”. Esqueceria dele, também, não fosse o que aconteceria em seguida. “Débito”, respondeu de cabeça baixa, já procurando a maquininha de digitar a senha. Catou a sacolinha e na hora de receber o cartão das mãos do estranho segurou pela pontinha, esperando que ele também lhe entregasse apenas segurando na outra ponta.
Ele então apertou a mão dela entre suas mãos enquanto passava o cartão. “Obrigada e tenha um bom dia”. Ela olhou para ele espantada, mirou-o pela primeira vez nos olhos, muito tenros, não viu nenhuma intenção descabida no gesto, viu apenas uma pessoa que desejava um bom dia a outra espontaneamente, com uma saudação e um toque. O toque, justamente o que a perturbava tanto. Pessoas estranhas não se relam sem qualquer constrangimento. Pessoas estranhas não se tocam, embora uma das formas de transmissão de energia é pelas mãos. Talvez pagando uma massagem cara no Jardins você recebe uma boa dose de energia de um estranho, pensou. Ainda pensava enquanto desviava os olhos e saía tropeçando nas gôndolas para sair logo dali.
Sentiu vontade de chorar.
Talvez em algum outro país isso não seja estranho, eu acho estranho. Preciso ir pra outro país e me adaptar =/
ResponderExcluirPois é, daquele toque que muda um pensamento. Texto incrível, assim como o blog, ficando aquela sensação chata por ter demorado tanto por conhecê-lo.
ResponderExcluirTati, você escreve coisas que a gente pensa/sente antes mesmo de a gente se ligar que pensa/sente elas. Lindo dom o seu. Continuo sua fã.
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