Praticamente passei a minha infância em um boteco, as primeiras palavras que escrevi foram nos papéis que embalavam os cigarros.Os meus pais eram donos do Nova Coimbra, que o meu pai comprara com o dinheiro adquirido com o plano de devolução voluntária da Volkswagen. Entre um freguês e outro, dores de corno, choro de bêbado, eis que meus pais sublocavam o canto esquerdo do bar para o jogo do bicho.
O Japonês, era o responsável por tirar o jogo, pacientemente nipônico, chamava atenção pelo jeito de fumar, sem tragar, e pela marmita sempre muito cheirosa. Esse cara tinha classe no momento de ser preso. Elegantemente silencioso, aliás, não me lembro dele ter falado em algum momento. Ele sempre trazia consigo os jornais Diário Popular e Notícias Populares. Como toda criança curiosa, eu me afeiçoei ao NP. Para quem não sabia ler ainda as fotos sem concessões tinha o efeito chamariz do proibido, ainda mais que ele ficava escondidinho, no recheio do jornal da família Quércia.
Conforme o meu processo de aprendizagem avançava eu entendia que a graça estava nos textos. Curtos, cheios de duplo sentidos, carregado com a linguagem falada nas ruas, como a impagável coluna do Voltaire, com as primeiras análises musicais me ajudaram a formar o meu atual gosto musical, com suas excelentes séries como Crimes do Século, a biografia nada autorizada do Rei Roberto Carlos, a coluna sobre Sexo. Os dias que o Japonês faltava ao trabalho, geralmente devido a problemas policiais, eu sentia falta da leitura do jornal.
Conforme o meu processo de aprendizagem avançava eu entendia que a graça estava nos textos. Curtos, cheios de duplo sentidos, carregado com a linguagem falada nas ruas, como a impagável coluna do Voltaire, com as primeiras análises musicais me ajudaram a formar o meu atual gosto musical, com suas excelentes séries como Crimes do Século, a biografia nada autorizada do Rei Roberto Carlos, a coluna sobre Sexo. Os dias que o Japonês faltava ao trabalho, geralmente devido a problemas policiais, eu sentia falta da leitura do jornal.
As fotos da gata do NP, dos bailes de carnaval que na minha adolescência foram muito importante para o meu auto conhecimento, ficarão para outro post...
NP, o jornal que sangrava.
ResponderExcluirRodrigo, a história é tão doida e tão bem contada que cheguei a pensar que fosse fruto da sua imaginação. Mas, como parece ser verdade, digo apenas que invejei a sua infância de bons personagens (bares sempre são reduto deles)! Não é à toa que você virou um escritor e tanto. Abraços
ResponderExcluirRapaz, eu nunca vou esquecer de uma manchete com os dizeres “Constatado Fumar Deixa o Bimbo Torto” e de outra que dizia “Padre extermina 15 diabos por domingo” Eu fui até numa festa que o pessoal do programa Garagem da Brasil 2000 fez em homenagem ao jornal quando ele fechou.
ResponderExcluirEu lia direto o jornal trabalhava em uma farmácia onde o cara era muito mão de vaca e comprava o jornal mais barato, ainda bem rs
O bairro de Rudge Ramos poderia ser a minha Yoknapatawpha e o Nova Coimbra poderia ser o principal palco. Sinceramente não sei mais o que é verdade ou mentira, só sei que entre a verdade e o mito, fico com o mito.
ResponderExcluirOs caras do Garagem trabalharam no NP, outro que merece um post é o Garagem.
ResponderExcluirTo ligado, acompanhei por um bom tempo o programa e fui em muita festas dos caras.
ResponderExcluirSem duvida os caras merece um post
Abç