o que dizer na última postagem do ano? falar do que já passou ou do porvir? no meio desta dúvida, decidi escrever sobre o desejo, que de certo modo reúne todos os tempos em mim::: o que passou, o agora, o porvir.
por causa do desejo, fiz mais uma daquelas viagens a sampa. atribulada com mil tarefas, só me dei conta que 2012 era o ano da bienal de artes de são paulo, no dia em que ela teve início. estava em Natal para um evento acadêmico e desde então fiquei me lamentando por não ter dado uma "passadinha" por lá, como se fosse fácil... e não é. é bom lembrar que eu sou uma professora universitária que mora na mata (e o que isso significa em termos de - pouca - grana e - muita - distância dos grandes centros culturais). mas se há algo que me incomoda, é um certo modo de vida vazio que vejo muito por aí, em que (parece) haver dinheiro para tudo (sempre o risco dos desejos materiais), mas nunca para um programa cultural, a compra de um livro, de um cd (ainda se compram cds? quanto a mim, a resposta é afirmativa), para uma viagem para ver pessoas amadas ou mesmo para um jantar mais sofisticado ou uma boa noite regada a churrasco e cerveja. e, sim, eu não sei viver sem isto. e não carrego nenhuma culpa por isso.
então eu fui - seguindo a lógica de que daqui a dois anos haverá bienal outra vez, mas não esta bienal - a que foi pensada (e muito bem pensada, posso dizer agora) pelo curador Luiz Pérrez-Oramas, com este belo título: A iminência das poéticas. segui a lógica de que o agora importa, que desejar não apenas objetos, mas sobretudo vivências, é o que realmente tem importância. e por pensar assim, vivi momentos muito intensos, não apenas na bienal, mas também no seu "entorno"::: a belíssima exposição de Adriana Varejão no MAM, o novo filme de Abbas Kiarostami, Um alguém apaixonado, o super show da Madonna; Goeldi, na Pinacoteca, Otto no boulevard São João, os jantares e as pausas nos bares com pessoas amadas, amigas, lindas, que sempre têm algo a me dizer e que acabam por habitar em mim para sempre.
e como são paulo, para mim, sempre se parece com uma maratona de peças de teatro, desta vez foi uma para cada noite que passei na cidade. e os deuses do teatro me abençoaram, porque todas foram obras ímpares, em que, cada uma do seu jeito, deixou em mim um sentimento profundo, um ponto de interrogação infinito: A casa amarela, com Gero Camilo, Toda nudez será castigada, de Nelson Rodrigues, com direção de Antunes Filho, Ato de comunhão, de Lautaro Vilo, e Luiz Antônio... Gabriela, de Nelson Baskerville. E se não fossem duas das pessoas de que falei acima não teria visto estas duas últimas peças.
por que as pessoas também devem fazer parte dos desejos. e este foi um dos meus principais aprendizados deste ano::: que só devo querer ao meu lado quem realmente pode me "dizer" algo, me mostrar algum lado bonito da vida. porque eu sou boa aprendiz. sou dispersa, sou incrustada em mim, mas sou atenta às pessoas "bonitas" e nisto não excluo o contraditório::: boniteza de alma, para mim, não tem a ver com perfeição. tem a ver com a potência que cada um carrega de desejo, de querer estar no mundo e pensar sobre o mundo de um modo que não seja óbvio, que não seja dado.
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e por último (nesta postagem que fala de um pouco de tudo)
(é apenas isto que tenho tentado ensinar ao meu filho. que eu e o tatupai temos tentado::: manter seu olhar curioso ante a beleza do mundo e das pessoas). e sinto que temos conseguido::: Poeminha gosta de gente e gosta de "coisas" - ele gosta, deseja, pede, classifica de "legal" e de "chato", de "bom" e de "ruim". e para isso pula, dança, ouve músicas, vê filme, folheia livros, leio livros para ele, rola na areia do pesqueiro dos amigos, "voa" se autodizendo "eu sou um passarinho", e na água, "eu sou um peixe", espantando-nos com sua tranquilidade, com sua concentração, com sua sensibilidade. quanto a mim, chamo isso de ensinar a "fantasiar", a "desejar". para que ele cresça e saiba das diversas faces do mundo, que estão aí para serem saboreadas. para que ele cresça e não queira apenas um carro, uma super casa, o "mais novo" modelo de celular, de tablet, e o escambal, que são muito bacanas, mas vazios de sentido se forem apenas isto. que ele cresça e queira ver o mundo todo - como nós. nas diversas acepções de "mundo todo". não sei se dará certo. é uma aposta no escuro. mas uma aposta que eu e tatupai conduzimos porque somos, nós mesmos, seres desejantes. porque consentimos. con-sentimos. sentimos.
lindo!
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