Há alguns meses tenho a sensação de que o tempo mudou de alguma maneira,não sei como,nem o porquê,mas fiquei com essa idéia de que as coisas tem um ritmo diferente.
E hoje estava vendo uma entrevista com o editor do `El País ´,um jornal espanhol,explicando o que vem acontecendo em relação a família real espanhola e achei a explicação dele muito interessante.
Em 2003 o genro do Rei Juan Carlos da Espanha,o famoso atleta Inaki Undargarin, fundou uma ONG,o Instituto Nóos,mas desde 2006 vem sendo alvo de investigações e no ano passado se comprovou que sua ONG está envolvida em desvios de dinheiro público e mais seis crimes,que vão desde falsificação de documentos até sonegação de impostos.Tudo tem vindo a tona muito lentamente,já que ele é genro do rei e todos sabem que é impossível alguém se mexer tanto no sistema público sem o aval do rei,sendo assim os advogados da casa real estão cortando dobrado,para ganhar tempo,para que alguns crimes possam prescrever e poder afastar a idéia de que o rei sabia e recebia uma parte do dinheiro desviado.
Diante disso os espanhóis pensaram o que todos pensam quando dinheiro e poder vão de mãos dadas,que nada aconteceria,finalmente o genro é o pai dos netos do rei,não tem como ele ser preso,é matematicamente impossível imaginar a filha do Rei,a Infanta Cristina,visitando o marido na cadeia.Mesmo assim a casa real espanhola ficou desmoralizada e fragilizada diante do escândalo.
E nessa entrevista o editor resolveu defender a casa real,coisa que precisa de muita convicção,porque o desvio de dinheiro público em um país que está falido é um nervo exposto,as pessoas estão cansadas e irritadas,os espanhóis estão perdendo suas casas e seus empregos enquanto a família real deita e rola na vida mansa.Mas o editor foi rápido e esperto,defendeu a casa real dizendo que o tempo da internet não é o mesmo da justiça espanhola,a internet tem seu próprio ritmo acelerado,mas a vida real não tem essa rapidez.Ele diz que o fato de que os espanhóis possam ler todos os dias na internet como vai o processo ou ficar sabendo de detalhes não quer dizer que as audiências são no mesmo dia e o veredicto saia na hora.
Estamos tão acostumados a tudo de imediato na internet que quando não vemos a justiça agir na mesma velocidade achamos que alguém está sendo acobertado.
Ele também menciona essa questão na vida pessoal de todos,antes havia um tempo nos relacionamentos,uma demora em saber quem era o outro.Hoje antes mesmo de namorar é possível fuçar as redes sociais que a pessoa freqüenta e assim ter um perfil mais elaborado,desde aquelas informações que a gente já sabe até fotos de ex-namoradas ou namorados.
Na defesa a casa real o editor pede paciência aos espanhóis e fé na justiça,o processo contra o genro está correndo,mas não é um site,que pode se abrir e fechar em segundos.Também menciona que as pessoas devem aprender a separar o tempo da internet do tempo real,no mundo virtual podemos ver na tela pratos de comida em segundos,enquanto na vida real a comida leva tempo ficar pronta.
De todas as defesas que já li a casa real espanhola essa foi sem dúvida a melhor,porque não deixa de ser verdade.É real isso,estamos vivendo acelerados,achando que tudo tem que acontecer em segundos.Eu já sou impaciente por natureza e de repente vou abrir um site e demora,já fico puta da vida,querendo quebrar o computador,esperar dois minutos para mim é uma vida inteira.
Mas o fato é que nem na Espanha nem em qualquer outra parte a justiça é rápida,pelo contrário,é lenta,demorada,arrastada e nem sempre acerta.É possível que mesmo com toda a irritação dos espanhóis o processo contra o genro do rei se arraste por anos e com tantos advogados trabalhando para a casa real as probabilidades de uma condenação são mínimas.
A tendência é piorar nossa noção do tempo,porque com o avanço da tecnologia todos os brinquedos que usamos todos os dias vão estar cada vez mais rápidos,já toda a máquina que nos cerca,desde questões de justiça até hospitais,trânsito,tudo vai ficar cada vez mais lento,mais saturado,mais emperrado.É melhor mesmo a gente começar a se acostumar com esses dois mundos,um no qual estamos fechados e tudo tem a velocidade da luz,outro no qual estamos abertos e nada anda pra frente.É como uma moeda,um lado pertence ao passado,a burocracia e o outro lado pertence ao futuro,a informações que voam e diversões em segundos,ficamos ali no meio tentando nos equilibrar,algumas vezes tontos pela velocidade de dentro,algumas vezes irritados com a lerdeza de fora.Cada época tem sua sina,imagino que essa será a nossa,equilibrar o passado e o futuro sem perder a cabeça.
E hoje estava vendo uma entrevista com o editor do `El País ´,um jornal espanhol,explicando o que vem acontecendo em relação a família real espanhola e achei a explicação dele muito interessante.
Em 2003 o genro do Rei Juan Carlos da Espanha,o famoso atleta Inaki Undargarin, fundou uma ONG,o Instituto Nóos,mas desde 2006 vem sendo alvo de investigações e no ano passado se comprovou que sua ONG está envolvida em desvios de dinheiro público e mais seis crimes,que vão desde falsificação de documentos até sonegação de impostos.Tudo tem vindo a tona muito lentamente,já que ele é genro do rei e todos sabem que é impossível alguém se mexer tanto no sistema público sem o aval do rei,sendo assim os advogados da casa real estão cortando dobrado,para ganhar tempo,para que alguns crimes possam prescrever e poder afastar a idéia de que o rei sabia e recebia uma parte do dinheiro desviado.
Diante disso os espanhóis pensaram o que todos pensam quando dinheiro e poder vão de mãos dadas,que nada aconteceria,finalmente o genro é o pai dos netos do rei,não tem como ele ser preso,é matematicamente impossível imaginar a filha do Rei,a Infanta Cristina,visitando o marido na cadeia.Mesmo assim a casa real espanhola ficou desmoralizada e fragilizada diante do escândalo.
E nessa entrevista o editor resolveu defender a casa real,coisa que precisa de muita convicção,porque o desvio de dinheiro público em um país que está falido é um nervo exposto,as pessoas estão cansadas e irritadas,os espanhóis estão perdendo suas casas e seus empregos enquanto a família real deita e rola na vida mansa.Mas o editor foi rápido e esperto,defendeu a casa real dizendo que o tempo da internet não é o mesmo da justiça espanhola,a internet tem seu próprio ritmo acelerado,mas a vida real não tem essa rapidez.Ele diz que o fato de que os espanhóis possam ler todos os dias na internet como vai o processo ou ficar sabendo de detalhes não quer dizer que as audiências são no mesmo dia e o veredicto saia na hora.
Estamos tão acostumados a tudo de imediato na internet que quando não vemos a justiça agir na mesma velocidade achamos que alguém está sendo acobertado.
Ele também menciona essa questão na vida pessoal de todos,antes havia um tempo nos relacionamentos,uma demora em saber quem era o outro.Hoje antes mesmo de namorar é possível fuçar as redes sociais que a pessoa freqüenta e assim ter um perfil mais elaborado,desde aquelas informações que a gente já sabe até fotos de ex-namoradas ou namorados.
Na defesa a casa real o editor pede paciência aos espanhóis e fé na justiça,o processo contra o genro está correndo,mas não é um site,que pode se abrir e fechar em segundos.Também menciona que as pessoas devem aprender a separar o tempo da internet do tempo real,no mundo virtual podemos ver na tela pratos de comida em segundos,enquanto na vida real a comida leva tempo ficar pronta.
De todas as defesas que já li a casa real espanhola essa foi sem dúvida a melhor,porque não deixa de ser verdade.É real isso,estamos vivendo acelerados,achando que tudo tem que acontecer em segundos.Eu já sou impaciente por natureza e de repente vou abrir um site e demora,já fico puta da vida,querendo quebrar o computador,esperar dois minutos para mim é uma vida inteira.
Mas o fato é que nem na Espanha nem em qualquer outra parte a justiça é rápida,pelo contrário,é lenta,demorada,arrastada e nem sempre acerta.É possível que mesmo com toda a irritação dos espanhóis o processo contra o genro do rei se arraste por anos e com tantos advogados trabalhando para a casa real as probabilidades de uma condenação são mínimas.
A tendência é piorar nossa noção do tempo,porque com o avanço da tecnologia todos os brinquedos que usamos todos os dias vão estar cada vez mais rápidos,já toda a máquina que nos cerca,desde questões de justiça até hospitais,trânsito,tudo vai ficar cada vez mais lento,mais saturado,mais emperrado.É melhor mesmo a gente começar a se acostumar com esses dois mundos,um no qual estamos fechados e tudo tem a velocidade da luz,outro no qual estamos abertos e nada anda pra frente.É como uma moeda,um lado pertence ao passado,a burocracia e o outro lado pertence ao futuro,a informações que voam e diversões em segundos,ficamos ali no meio tentando nos equilibrar,algumas vezes tontos pela velocidade de dentro,algumas vezes irritados com a lerdeza de fora.Cada época tem sua sina,imagino que essa será a nossa,equilibrar o passado e o futuro sem perder a cabeça.
Acho que certas burocracias são mais lentas quando convém, né?
ResponderExcluirEste caso da Espanha, é um exemplo disso.Eles vão enrolar tanto, que no fim, o povo vai se cansar e deixar pra lá.
Mas acho que me sinto privilegiada por ter nascido nesta época da Internet.Tudo é rápido, tudo é bem mais fácil que antigamente.Hoje temos mais informações, mais entretenimento...adoro.
bjs
Burocracia e ampla defesa são necessárias. Estes sempre farão o tempo da justiça ser lento, mas acho que precisamos desse tempo. Em um contexto muito menor, é comprovado que com a cabeça quente fazemos um monte de burradas, mas podemos voltar atrás, imagina se a justiça fizesse o mesmo? Acho que essa morosidade será nossa parceira por muitos anos.
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