Jukebox

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(in Manual do leitor de posts obscuros, 3ª edição)

Foi ainda no útero materno que pude sentir pela primeira vez sua afável presença. Ainda não era algo perfeitamente inteligível mas já produzia, tal como hoje, os mais diversos efeitos sobre mim. Conforme ia crescendo mais intimo ia me tornando dela, presença cativa em todos os momentos. Sempre teve o misterioso poder de me confortar nos momentos mais difíceis, de conter minha fúria nos dias de cão, de me acalmar quando o medo me espreitava, de embalar meus devaneios, de encorajar meus sonhos, de me tirar da inércia. E não houve festa em que ela não esteve para que com ela todos se animassem. E não houve enterro em que ela não esteve para que com ela a dor se amenizasse. Ela, sempre ela. E dela não há boa ou ruim, só há aquela que nos toca e aquela que não nos toca. E também há aquela que não nos diz nada num dia, mas que no outro é capaz de nos levar às lágrimas. Ela, sempre ela. Ela que tem o poder de me transportar para épocas e lugares que com ela ficaram inesquecíveis. Ela que tem o poder de me tirar do mundo por alguns instantes. E é para ela que presto minha homenagem em dó, ré, mi, fá, sol, lá, sí e todas as suas combinações...