(Ter um lugar no mundo pede responsabilidade. Só posso,
então, iniciar com um pedido de desculpas. E de licença para ocupar o dia 27, quando deveria ser dia 26, antes
que Luana aqui chegue. Já faz meses que não apareço por aqui. A palavra não me
fugiu, mas o tempo para criar a intimidade com as palavras tem sido cada vez
mais escasso. É o que tenho feito com a vida sem saber como estancar este
veneno amargo. Qual é o segredo de quem
consegue? Consegue o tempo da delicadeza, da reflexão, da ruminação? Já fui boa nisso, mas o agora me testa com sua foice. E tira a
responsabilidade que havia em mim para tempos de respiro).
Mas não podemos fazer tantos parênteses ocos na vida. E por
isso, persisto. E persistir, para mim, significa estar próxima daqueles que
sabem se abstrair, para que eu mesma possa me abstrair. Qual é o segredo? Bergman, no seu livro autobiográfico, Lanterna mágica, descreve seu primeiro
momento ante uma câmera e eu sinto como se as palavras ali estivessem exatas.
Foi ali que ele descobriu o que seria. E para seu espanto, nem sempre foi um
homem agradável, tão submerso estava na constituição do seu ser. Este assombro percorre toda essa autobiografia ao mesmo tempo amarga e plena.
Não sei se Ana Cristina Cesar, nas cartas que escrevia,
sabia que constituía ali uma imagem que depois seria cultuada por cada um de
nós que lemos a sua obra – até aquela parte que devia ser íntima, como as
cartas enviadas aos amigos. O certo é que a imagem, ali, é de quem carrega em
si algo indefinível – sempre entre a pose
e o puro sentimento. O que somos::: o supérfluo que nos alegra (as batas
bonitas, a poupança inesperada, os presentes). O que somos::: o medo de ser
preterida, as inseguranças com os amores, a vontade de brincar de casinha, a
impaciência com o trabalho que não satisfaz.
E ainda que sejamos coincidentes na matéria do ser, ainda somos cada um
– um. Ninguém é Ana C.
E ninguém é Bergman. Mas somos um pouco de todos que passam
por nós. Por isso, ainda leio. Ainda que num tempo reduzido, ainda que quase
tudo à volta me exija uma posição de eficácia, insisto na possibilidade desse
encontro. Porque ler é também um modo de vermos [e querermos nos insurgir contra]
a nossa pequenez nos dias que correm.
essa tal grande pequenez dos últimos tempos.
ResponderExcluirufa, consegui um tempo pra escrever um "oi".
ResponderExcluirhttp://filmesonlinetocadoscinefilos.blogspot.com.br/search/label/Ingmar%20Bergman
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