Quando eu tinha doze anos uma amiga da escola me ensinou um gráfico que seu avô, professor de matemática tinha feito. Era simples e ela me explicou que ele dizia que era para toda a vida, ela tinha que colocar tudo ali, relacionamentos, vida, trabalho, tudo como se fosse uma conta, caso não fechasse alguma coisa estava errada. De um lado ela escrevia o que estava dando para o que tivesse escolhido e do outro o que estava recebendo. Depois era só somar e ver se a conta estava certa, caso ficasse no vermelho, então alguma coisa estava errada.
Não entendi na época, mas depois de alguns anos ela me explicou novamente e eu fiquei chocada. Eu estava no auge da minha maneira de ver a vida emocionalmente, achava que existia o ''bem'' e damos o que queremos, sem ficar esperando nada em troca, tudo me parecia certo, já que existia o ''castigo divino'' e as ''boas pessoas'' que sempre são recompensadas, com minha lógica para que um gráfico frio, vazio, distante e interesseiro? Ora, se eu sou uma boa garotinha faço as coisas porque quero, não porque espero receber algo em troca, não é assim que tem que ser?
Perdi o contato com minha amiga e tenho lembrado muito dela nos últimos tempos, só hoje consigo entender a genialidade do seu avô, um visionário que percebeu que tudo na nossa vida é uma questão matemática. Já na época que eu era criança ele era muito bem sucedido, apesar de ser professor em um país que isso não faz a menor diferença, principalmente economicamente.
Hoje conhecendo a natureza exploradora do ser humano entendo a importância de fazer as contas. Quando eu gostava de alguém, eu gostava, me jogava mesmo e nunca fiz contas nem gráficos, pelo contrário, na minha ingenuidade eu ia pela vida caminhando achando que o amor supera tudo e emoções são para serem vividas, não calculadas. Imagina, eu dou amor porque eu quero, pra que fazer contas, é amor, não é?
Não fiz e agora consigo ver como minhas contas viviam em vermelho. Eu entrava na relação, dava o possível e impossível e o outro não investia nada além do mínimo, eu ficava no vermelho. Comecei a fazer as contas de várias mulheres da minha família, todas exploradas pelos seus maridos. Elas deram tempo, energia, amor, dedicação para construir uma família e ainda trabalharam fora e o que receberam? Homens encostados, folgados, infiéis e irresponsáveis. E tudo isso aconteceu simplesmente porque ninguém fez uma simples conta de matemática, que até uma criança de sete anos pode fazer, se eu dou dez e recebo um, então quem fica no prejuízo? Quem vai pagar os nove que estão faltando? E o que é importante para mim, estou recebendo do outro lado o que eu quero ou estou me contentando com migalhas e vivendo no vermelho emocional, econômico, sexual e profissional?
E não foi só no amor que eu errei nas contas, foi em tudo. Não calculei prejuízos em trabalho, amizades, saúde, em nada, nunca fiz a porra de um gráfico, porque achava que o que nós dávamos as pessoas fazíamos isso por vontade própria não pensando em receber. Mas em um mundo que se construiu e gira ao redor da exploração não fazer contas é pedir pra morrer na merda. Investi tempo, dedicação em trabalhos que fui explorada, investi em amizades que fizeram a mesma coisa. Já vivemos em um país onde vemos o governo levar 77% do que ganhamos e ainda podemos ser explorados por amigos, amores e chefes? É muita coisa, mas pelo menos podemos evitar uma parte.
Ah, fazer contas parece tão frio, tão desumano. Mas não é? Também acho, mas alguém saiu ganhando nas contas que eu não fiz, alguém ficou no lucro.
Não é difícil de fazer, é só pegar um caderno e separar por temas. Começa com o nome de uma amiga, o que eu dou nessa amizade e o que eu recebo? Tá valendo a troca? Tô no azul ou no vermelho com essa pessoa ou é ela que está me devendo? E assim vai com tudo, família, amigos, namorado, trabalho, relacionamentos na vida, é só ir escrevendo o que se coloca, se investe e o que se recebe. Não precisa ser gênio, os buracos começam a aparecer no papel quando somos sinceros, a sensação de ser explorado é uma sensação que não precisa de um psicanalista para diagnosticar, a gente sente quando é explorado.
E se a conta não fechar? Tchau e benção, não vale mais a pena continuar, dali pra frente conta que não fecha é como cartão de crédito com o pagamento atrasado, só vai piorar até estourar da pior maneira possível.
E se for um investimento? Ora, sejamos claros, até investir em um banco pode ser perigoso, imagina então um emprego que não conhecemos as intenções do chefe ou um relacionamento. Mas existem investimentos de alto risco! Bom, um investimento de alto risco é uma coisa, a outra é viver assim em tudo, na família, no amor, no trabalho, na saúde, investindo alto sem certeza de ter o retorno.
E quem não quiser essa vida de ter que calcular tudo? Que faça como eu, nunca calculei, mas fui explorada por muitos e perdi tudo, já que não queria calcular, não queria ser fria nem me guiar por questões que eu considerava de princípios capitalistas. Aprendi na marra que a alma humana não se divide em direita nem esquerda, é simplesmente tenebrosa e assustadora, explorar alguma coisa ou alguém é um movimento natural no coração dos humanos, sempre insatisfeitos e salivando ambições baratas.
A vida não é tão meiga como parece, deixa bem claro o que acontece se a pessoa não aprender a reagir. E fazer contas não ajuda a pessoa apenas a se livrar de ser explorada, mas de ser justa, às vezes o papel mostra que estamos dando de menos e recebendo demais. Ali na nossa frente os números não mentem, também revelam o nosso pior lado, aquele que também explora alguma coisa ou alguém.
Foi a falta de gráficos, de contas fechadas que acabou com a vida de muitas mulheres da minha família, porque investiram tudo e não receberam nada. E hoje pagam pelo prejuízo, pelas contas em vermelho. E não tem volta, a energia, o amor, a saúde, tudo foi cobrado, tudo pagou essa conta e não teve retorno.
E coitado de quem fizer isso na frente dos outros, vai passar por uma pessoa calculista, fria e perigosa, onde já se viu medir relacionamentos e trabalhos por gráficos? Parece coisa de novela mexicana, onde as vilãs são frias e malucas.
Mas é para isso que todos temos a capacidade de fingir, dá muito bem para fazer as contas sem ninguém ver e os números não mentem, isso dizia o avô da minha amiga, os números estão ali, mostrando nosso prejuízo ou nosso lucro.
E neste mundo prejuízo é mais do que dever ao banco, pode ser perder tua vida com a pessoa errada, o emprego errado, a vida errada e mesmo você perdendo sempre tem alguém que está ganhando em cima de você. É melhor mesmo começar uns gráficos.
Não entendi na época, mas depois de alguns anos ela me explicou novamente e eu fiquei chocada. Eu estava no auge da minha maneira de ver a vida emocionalmente, achava que existia o ''bem'' e damos o que queremos, sem ficar esperando nada em troca, tudo me parecia certo, já que existia o ''castigo divino'' e as ''boas pessoas'' que sempre são recompensadas, com minha lógica para que um gráfico frio, vazio, distante e interesseiro? Ora, se eu sou uma boa garotinha faço as coisas porque quero, não porque espero receber algo em troca, não é assim que tem que ser?
Perdi o contato com minha amiga e tenho lembrado muito dela nos últimos tempos, só hoje consigo entender a genialidade do seu avô, um visionário que percebeu que tudo na nossa vida é uma questão matemática. Já na época que eu era criança ele era muito bem sucedido, apesar de ser professor em um país que isso não faz a menor diferença, principalmente economicamente.
Hoje conhecendo a natureza exploradora do ser humano entendo a importância de fazer as contas. Quando eu gostava de alguém, eu gostava, me jogava mesmo e nunca fiz contas nem gráficos, pelo contrário, na minha ingenuidade eu ia pela vida caminhando achando que o amor supera tudo e emoções são para serem vividas, não calculadas. Imagina, eu dou amor porque eu quero, pra que fazer contas, é amor, não é?
Não fiz e agora consigo ver como minhas contas viviam em vermelho. Eu entrava na relação, dava o possível e impossível e o outro não investia nada além do mínimo, eu ficava no vermelho. Comecei a fazer as contas de várias mulheres da minha família, todas exploradas pelos seus maridos. Elas deram tempo, energia, amor, dedicação para construir uma família e ainda trabalharam fora e o que receberam? Homens encostados, folgados, infiéis e irresponsáveis. E tudo isso aconteceu simplesmente porque ninguém fez uma simples conta de matemática, que até uma criança de sete anos pode fazer, se eu dou dez e recebo um, então quem fica no prejuízo? Quem vai pagar os nove que estão faltando? E o que é importante para mim, estou recebendo do outro lado o que eu quero ou estou me contentando com migalhas e vivendo no vermelho emocional, econômico, sexual e profissional?
E não foi só no amor que eu errei nas contas, foi em tudo. Não calculei prejuízos em trabalho, amizades, saúde, em nada, nunca fiz a porra de um gráfico, porque achava que o que nós dávamos as pessoas fazíamos isso por vontade própria não pensando em receber. Mas em um mundo que se construiu e gira ao redor da exploração não fazer contas é pedir pra morrer na merda. Investi tempo, dedicação em trabalhos que fui explorada, investi em amizades que fizeram a mesma coisa. Já vivemos em um país onde vemos o governo levar 77% do que ganhamos e ainda podemos ser explorados por amigos, amores e chefes? É muita coisa, mas pelo menos podemos evitar uma parte.
Ah, fazer contas parece tão frio, tão desumano. Mas não é? Também acho, mas alguém saiu ganhando nas contas que eu não fiz, alguém ficou no lucro.
Não é difícil de fazer, é só pegar um caderno e separar por temas. Começa com o nome de uma amiga, o que eu dou nessa amizade e o que eu recebo? Tá valendo a troca? Tô no azul ou no vermelho com essa pessoa ou é ela que está me devendo? E assim vai com tudo, família, amigos, namorado, trabalho, relacionamentos na vida, é só ir escrevendo o que se coloca, se investe e o que se recebe. Não precisa ser gênio, os buracos começam a aparecer no papel quando somos sinceros, a sensação de ser explorado é uma sensação que não precisa de um psicanalista para diagnosticar, a gente sente quando é explorado.
E se a conta não fechar? Tchau e benção, não vale mais a pena continuar, dali pra frente conta que não fecha é como cartão de crédito com o pagamento atrasado, só vai piorar até estourar da pior maneira possível.
E se for um investimento? Ora, sejamos claros, até investir em um banco pode ser perigoso, imagina então um emprego que não conhecemos as intenções do chefe ou um relacionamento. Mas existem investimentos de alto risco! Bom, um investimento de alto risco é uma coisa, a outra é viver assim em tudo, na família, no amor, no trabalho, na saúde, investindo alto sem certeza de ter o retorno.
E quem não quiser essa vida de ter que calcular tudo? Que faça como eu, nunca calculei, mas fui explorada por muitos e perdi tudo, já que não queria calcular, não queria ser fria nem me guiar por questões que eu considerava de princípios capitalistas. Aprendi na marra que a alma humana não se divide em direita nem esquerda, é simplesmente tenebrosa e assustadora, explorar alguma coisa ou alguém é um movimento natural no coração dos humanos, sempre insatisfeitos e salivando ambições baratas.
A vida não é tão meiga como parece, deixa bem claro o que acontece se a pessoa não aprender a reagir. E fazer contas não ajuda a pessoa apenas a se livrar de ser explorada, mas de ser justa, às vezes o papel mostra que estamos dando de menos e recebendo demais. Ali na nossa frente os números não mentem, também revelam o nosso pior lado, aquele que também explora alguma coisa ou alguém.
Foi a falta de gráficos, de contas fechadas que acabou com a vida de muitas mulheres da minha família, porque investiram tudo e não receberam nada. E hoje pagam pelo prejuízo, pelas contas em vermelho. E não tem volta, a energia, o amor, a saúde, tudo foi cobrado, tudo pagou essa conta e não teve retorno.
E coitado de quem fizer isso na frente dos outros, vai passar por uma pessoa calculista, fria e perigosa, onde já se viu medir relacionamentos e trabalhos por gráficos? Parece coisa de novela mexicana, onde as vilãs são frias e malucas.
Mas é para isso que todos temos a capacidade de fingir, dá muito bem para fazer as contas sem ninguém ver e os números não mentem, isso dizia o avô da minha amiga, os números estão ali, mostrando nosso prejuízo ou nosso lucro.
E neste mundo prejuízo é mais do que dever ao banco, pode ser perder tua vida com a pessoa errada, o emprego errado, a vida errada e mesmo você perdendo sempre tem alguém que está ganhando em cima de você. É melhor mesmo começar uns gráficos.
Entendo a ideia, mas acho que é melhor se manter como era antes. Se joga, deixa acontecer.
ResponderExcluirCertas "guerras", como a do sexo, vence quem se rende.
Poxa... Não sei. Não acho que fazer o gráfico e "zerar" e o melhor caminho. Quer dizer que se eu não "zero" o gráfico eu estou agindo errado? Que vou desistir de viver por estar no "negativo"? Ou será que as pessoas com quem eu vive são traiçoeiras, devedoras e egoístas? Ou seria egoísmo meu dar o meu melhor e fazer o bem esperando que todos façam o mesmo por mim? Daí seria eu o egoísta. Prefiro ainda pensar no bom senso. Agir em modo positivo, fazer o bem da forma como está ao meu alcance, para me sentir bem. Daí, prefiro pensar como uma hortinha, onde é possível ver cresce e desenvolver o no final, colher ótimos frutos. Bem mais cara de "vida" e bem mais natural. Pragas podem ser exterminadas com naturalidade, sem poluir minha plantação.
ResponderExcluirConcordo. Certas ervas daninhas tem que ser podadas.
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