Após quase três anos sem
ir, voltarei a meu país de origem, Cuba – de visita somente. Nestes seis anos
vivendo neste país, numa outra língua, numa outra realidade e cultura, estive
lá ao todo menos de dois meses... pouco, pouquíssimo é pouco.
Nunca até eu sair de
lá me imaginei morando num outro país. Vontade de conhecer outros lugares,
obvio, sempre tive. Porém aceitar este estado (migratório) de emigrante, nunca me passou pela cabeça.
Emigrante é coisa de
doidos. Você – eu no caso – tem que abrir mão de toda memoria, de todo passado,
dos amigos, da família, dos costumes. Esquecer, não por opção, aquilo que formatou
seu corpo e sua identidade – coisa dura, quase cruel. Somando, que no caso do português,
aprender outra língua e toda a realidade que ela nomeia é das coisas mais
intensas que jamais viverei – e eu vivi.
Nesse processo eu me
descobri uma pessoa nova, uma espécie de metamorfoses que fez nascer um novo
eu, este eu que sou – e escreve. Isto tomou tempo, lágrimas, pesadelos, mortes.
Eu nasci cubano, por
procedência. E me fiz brasileiro, por experiência.
Mas quem já abriu mão das
lembranças de infância, da adolescência, dos primeiros amores; quem esqueceu o acento cubano, a melodia que uma vez
teve enraizada na memória, quem não sofre mais pela distância daqueles que uma
vez foram as pessoas mais queridas, sabe e sente, que é possível começar tudo
de novo... NÓMADE.
No Brasil – e este
português que escrevo e me invento – tenho um filho. Estaca de tempo e espaço
que marcará para sempre minha origem. Renasci no corpo de um moleque, um
baixinho de hoje três anos que fala português, um pouco melhor que eu – pais aprendem
sempre dos filhos, completam-se, isso é certeza. Hoje toda incerteza de aonde vim
e aonde vou tem ao menos um ponto de apoio, uma bandeira em haste levantada
para não perder os rumos.
Em menos de dois meses
ficarei naquele país flutuante por três meses, quebrando meu recorde histórico
de estadia desde que uma vez, há 6 anos, sai de lá. Irei nessa calma de quem
não tem pressa em voltar. Irei no ganho de quem não tem o que perder, entregue
a preguiça do amanhecer, do mar batendo no encoste sem urgência do pôr-do-sol, sem
a agonia de voltar ao lugar do qual já me despedi sem sabê-lo, para nunca mais
voltar – quem sabe uma surpresa do destino, esse malvado favorito.
E o baixinho, mi hijo, abraçará a terra úmida daquele
outro país. Ainda sem total consciência, ele fechará um ciclo, o do pai- filho/pai- meu filho, numa
sequência sem mais lógica que a do amor paternal, e ficará registrada a
existência dele num lugar ao qual, se ele escolher, lhe pertencerá.
Borandá...
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Verdadeiro caso de "Gigantes de Aço".
ResponderExcluirTexto muito bonito!
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