Como você se sente quando é
roubado? Claro, partindo-se do pressuposto de que hoje é tão comum ser
assaltado que uma pessoa pode se habituar a isso. Então, novamente, como você
se sente?
Um conhecido costumava dizer
que em São Paulo existem três pontos turísticos principais: a enchente, o
engarrafamento e o assalto. Com um pouco de sorte, era possível visitar todos
os três ao mesmo tempo. Nossa ideia de camiseta “Estive em São Paulo e fui
assaltado no engarrafamento da enchente” só não foi pra frente porque os
ladrões levavam inclusive as camisetas.
A primeira impressão é de
incredulidade. Não uma coisa dramática do tipo “isso não pode estar acontecendo
comigo”. Não. É mais algo “não pode ser verdade que eu fui roubado por um
sujeito de bicicleta”. A vida da gente é tão agitada que o ladrão nem teve
tempo de parar pra me assaltar propriamente. Um desrespeito.
Depois disso, a esperança. Tentei
correr atrás mas eu e meus quilos a mais não fomos páreo pra perseguição. Aceitação.
Preciso mesmo voltar pra uma academia.
Aí vêm as preocupações. Será
que ele vai telefonar pras pessoas que eu conheço e começar a fazer ameaças?
Será que vai dizer que me sequestrou e pedir resgate? Cacete, meu pai foi multado
ontem e agora vai ter que se preocupar com resgate. Coitado do velho. Putaquepariu,
e as fotos? Meu celular tinha um monte de fotos da Maria Clara. E era só pra eu
ver. Droga de ladrão que vai invadir nossa privacidade. Deus do céu, ele vai
entrar no facebook e mudar meu status de relacionamento. Vai zonear minha caixa
de e-mails e marcar como lidos tudo que eu ainda não abri. Vou ter que ver um
por um, claro, pro caso de ter respondido algum. E as músicas que o shazam
identificou pra mim? Anda não tive tempo de baixar todas. Maldito, maldito
seja. Vai me dar a maior trabalheira resolver tudo.
O próximo estágio é a raiva. Droga,
vou ter mesmo que voltar pra academia! Ah, e comprar outro celular. Não queria
ter esse gasto agora, mas não vai ter jeito. Não vou tentar me enganar: não
quero só um telefone. Faço questão de um foguete que caiba no meu bolso. Ou não,
muito pelo contrário. Já tinha me interessado por um aparelho com 5 m², de
repente essa é minha chance. Acho que entrei na barganha. Infelizmente minha
operadora é durona e negocia melhor do que eu. Até consegui um telefone bacana,
mas não sem concordar em pagar um terço do patrimônio do Eike Batista.
E acabei me convencendo (ou
seria conformando) de que fiz um bom negócio. Porque o novo telefone é melhor do
que o anterior, que já estava capengando um pouco. Logo, ser roubado por uma
coisa boa. Forçando um pouco a barra, admito, mas ok. E aí percebo que participei
de uma experiência de autoajuda. E isso, sim, me preocupa.
Ei, mais um comentário excluído? kkkkkk....tava achando tão light.
ResponderExcluirNão, não teve comentário excluído, não.
ExcluirMelhor ....será que roubaram meu comentário?
ResponderExcluir