segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu sei ler seu humor pela sua despedida

Eu sei ler seu humor pela sua despedida. Sei a diferença entre beijos, beijo, beijão, bj, ou palavra nenhuma. Na falta de um s ou em uma abreviação, sei em que grau quer me matar. Sei quando está morta de tesão, sei quando é pressa, sei. Quando lê e não responde, maus lençóis, péssimos lençóis estou. E você é tão cristalina, mais fácil de ler que livrinho infantil, que cartilha. Não sou eu clarividente, é você, transparente. Até no escritório você deve agir assim. Sem nem pensar em intimidade, projeto de vento e popa, a despedida do e-mail assinala: beijos! Alá, até ponto de exclamação. Relatório para fazer, mil páginas para preencher e a despedida é att. Quando a raiva é tamanha, chefe insuportável, colega mala e a puta que pariu, vem um sem mais. Sem mais, esse desejo de morte. Sem mais, essa vontade que o outro leia o e-mail e nunca mais responda. Como foi comigo. Até hoje minha tela está aberta no seu e-mail. Frieza de texto empresarial, desculpas dedilhadas por nenhum amador. Discurso derradeiro. Irônico, esse não teve nem despedida. Foi só o ponto final, antes da assinatura. Nome e cargo. Você foi tão profissional que terminou comigo do e-mail corporativo.

3 comentários:

  1. Gostei demais do texto, infelizmente sei exatamente o que está escrito...já senti na pele...

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  2. É um texto ficcional, Iara! Quis fazer um exercício escrevendo como um homem. Nunca passei por isso, mas quis imaginar como seria (como homem) vivenciar essa experiência.

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