quinta-feira, 1 de maio de 2014

PERCA TEMPO ou o dia em que inspirei uma obra de arte


percatempo | yusuf etiman - 2012



a obra de arte não é o si-mesmo do artista, 

posto que o si-mesmo não pode criar singularidade; 

a obra de arte é o OUTRO do artista 
- uma alteridade radical em relação ao seu criador.

(roberto alvim)







dias atrás encontrei por acaso um cara que admiro muito e com quem convivi por um bom tempo, no passado, e que me contou algumas novidades ótimas, entre elas a de que ele havia feito um trabalho artístico com fotos que eu tirei dele. mesmo não tendo tomado conhecimento de tal exposição, achei interessante ter sido lembrado com uma obra de arte em um dos espaços novos e independentes mais bacanas de sp.

o nome do trabalho era/é: perca tempo. lembrei imediatamente do trabalho do YUSUF ETIMAN - PERCATEMPO (2012), cuja ideia é muito bacana e criativa. então pensei: poxa, o que o teria motivado a fazer um trabalho com fotos que eu tirei dele, num dia maravilhoso, feliz, no terraço do prédio que ele mora com este título?

talvez o trabalho em questão foi a forma que o artista encontrou para representar o que pra ele tenha sido o tempo em que mantivemos contato e, mesmo não sabendo como foi a concepção, nem mesmo a recepção do público em relação a este processo de exposição, acredito que seja mais do que sensato saber receber, pensar a respeito, refletir e tomar alguma lição disso tudo. 

a vida nada mais é  uma eterna exposição pública. nos expomos publicamente quando saímos na rua, quando trabalhamos, quando escrevemos, quando postamos algo no feice, quando escolhemos uma roupa para ir à uma festa, quando vamos à uma festa, quando expressamos uma opinião. estamos quase sempre em exposição pública.

o que me deixa pensativo e que me importa, de fato, é o que expomos diariamente na intimidade uns com os outros. quando acordamos ao lado de alguém e olhamos as remelas dos olhos, beijamos o mau hálito da manhã, limpamos o corpo após uma noite de amor, de paixão, de tesão ou tudo isso junto, o que é mais legal. eu penso na exposição privada, a dois, a três, a quatro, dentro das tão faladas quatro paredes. dos segredos ao pé do ouvido, das alegrias compartilhadas e das tristezas também. penso na exposição dos nossos problemas mais íntimos, os anseios, os planos, as risadas, as drogas, as fofocas, as brigas.

e daí penso no tempo. o quanto do nosso tempo que doamos ao outro, ao amigo, ao companheiro, ao irmão, ao colega de trabalho, ao garçom. seja no ouvir, seja no falar, seja no apoio, no conselho e principalmente na companhia. 

tempo - já disseram - é um dos bens mais valiosos que temos, ainda mais em época de constante e rápida mutação como a que vivemos. é preciso ganhar dinheiro, é preciso trabalhar, é preciso conhecer pessoas, pagar contas, ir ao cinema, casar, viajar e não há tempo a perder. e quando penso no significado da expressão perder tempo, prefiro pensar nas coisas boas, como por exemplo admirar um pôr-do-sol, o mar, ficar de papo e pernas pro ar, ou seja, ficar sem fazer nada, além da contemplação, atitude cada vez mais rara nesse mundo louco.

perder tempo é bom!


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