quarta-feira, 30 de abril de 2014

I KNOW IT'S OVER

Se você hoje é um cinquentão, tinha um bom contato fora do Brasil na década de 80 que lhe trazia discos de bandas de rock e gosta de música claro, você deve ter pego o finalzinho da melhor época do Punk Rock, o início do Pós Punk, e viu os Smiths começar e terminar.

Se você é um quarentão, vai jurar que a década de 80 foi a melhor década musical de todas, vai chamar balada de bailinhos, vai dizer que na sua época a cachaça bruta era vinho batizado, e com certeza ira me dizer que já dançou, ou já viu alguém dançar com a parede, ou abraçando a sim mesmo em uma das músicas dos Smiths.

Se você é um trintão muito provavelmente ira dizer que a década de 80 foi a melhor, mesmo não tendo vivido essa década musicalmente, provavelmente tomou um vinho pior do que os quarentões acima, e sempre que for a uma festa ira perguntar “Rola umas músicas dos anos 80?” sendo que você escutou Smiths e outras bandas da época até na quermesse do seu bairro.

Agora se você é um pobre mortal que está na faixa dos 20 anos, você pode não conhecer os Smiths (eu já presenciei isso mais de uma vez) e se você conhece a banda é porque assistiu o filme 500 com Summer ou o filme As Vantagens de Ser Invisível.





Mas, seus problemas acabaram né danadinho, com a tal da internet, e seus comparsas MP3 e  Torrent você tem a discografia completa ai incluindo os B-Sides, estou mentido?  Rs

Porém se você quiser agregar o seu camarote musical o escritor Tony Fletcher fez um resumão da carreira dos Smiths para você na biografia, “The Smiths – A Light That Never Goes Out”.



São mais de 600 páginas onde você encontrará até o mapa de Manchester com legenda para quando você estiver de bobeira ai no sofá ir para lá e conhecer onde os músicos moravam, ensaiavam, etc.

A biografia é rica em detalhes, alguns deles desconhecidos até então, está do jeito que os fãs gostam, e eu já garanti a minha.



Boa leitura 
Abs

Jeff


terça-feira, 29 de abril de 2014

oh no no no

quero prestar uma homenagem e pensei em duas músicas.  

a primeira música goza de originalidade, estilo e talento graças a incrível cantora e sem dúvida alguma o (meu) respeito é garantido. dispensa palavras e reivindica ouvidos e tempo para explorá-la. serve para qualquer ocasião feliz, alegre, festiva, amiga, companheira eteceteras. 

a segunda música excede na arrogância, no chupinhamento de estilo, pobreza musical pelo cantor e sem pestanejar não escuto (exceto por esta e adiante explico), não me informo, não compro disco (sequer aceito de graça), não respeito porque respeito é para quem tem e mereci, não me importo e mantenho total desprezo pela infame existência do cantor. enfim, jamais deve ser usado para qualquer merda.

mas como dizem a ocasião faz o ladrão né?
então peguei o carinha emprestado dos youtubes da vida para escolher e pensar...

e convenhamos, oh no no no no no no e oh oh oh oh oh oh oh oh oh
ohmeudeusdocéuedosplanetasdistantesdeseresestranhosedoscérebrosincapazesineficientesepreguiçosos que tarefa árdua é :
pensar, escolher e fazer.

antemão aviso, a homenagem visa parabenizar os envolvidos na parceria da secretaria de segurança para grandes eventos com a embaixada dos eua para o treinamento de policiais militares e agentes federais no combate ao terrorismo em são paulo. 

enquanto vou ali, bem ali, mas ali mesmo,  comprar produtos inflacionados com direito à susto nos preços e penso qual música devo escolher para homenagem leia aqui a matéria na íntegra e ouça a primeira música com prazer garantido e aproveite porque na segunda música eu não garanto, absolutamente nada. após pensar muitíssimo escolhi a música. mas antes de divulgá-la, vamos ao que interessa as perguntas que não querem calar - leu a matéria? - pensou e refletiu sobre? espero que tenha feito com o cuidado e importância devida  de quem lê e escuta  uma sentença sem ter cometido um crime. 


fiquei tocada no compadecimento americano as deficiências das polícias e segurança pública brasileira. vê se não é para agradecer aos céus, financiar programas para policiais brasileiros treinarem com o exército americano terceirizado e mercenário, poxa vida só pode ser divino, um anjo tocou em vossos corações. agora resta perguntar quantas e quais ações foram realizadas no território americano com este exército? além de atuações contra o terrorismo no oriente médio que sabemos perfeitamente quais propósitos continham, será que alguma alma bondosa pode informar quais ações esta agência promoveu no seu território e principalmente com os americanos? atá, desculpe os americanos não são terroristas só o resto do mundo né.

sabe o que mais dá medo, que existem pessoas que sustentam o argumento que isto é bom, afinal não estamos gastando e outra aprendemos com profissionais de expertise. ó céus. não sei o que é pior ser considerado o quintal do mundo ou a colônia de exploração. 

esse treinamento é exclusivo, visa proteger a presença americana em território nacional e sabemos que o time sequer irá permanecer aqui por muito tempo, se tiver sorte por duas semanas? não sei se é preguiça de pensar, administrar ou executar por conta e risco tarefas e atribuições que são da segurança pública nacional. 


desde quando a polícia militar trata de terrorismo? até quando ficaremos no mais do mesmo de séculos passados? qual a dificuldade de estabelecer um plano nacional de segurança para o evento, se quer aceitar o treinamento porque não fazê-lo destinado a quem de fato deveria receber - o exército - ou como queiram nomear - a força nacional.

este programa só reforça o carácter fascista das polícias. como se já não bastasse as declarações do secretário de segurança do rio em dizer num certo programa que ao pensar em segurança pública já somos derrotados, sendo impossível ganharmos esta causa. devido a tamanha descrença acho que o senhor deveria trocar ideias, planos, projetos e perspectivas com os semelhantes.


indico luiz eduardo soares (2006) no livro "segurança tem saída" tem doses cavalares de otimismo mesmo diante de uma experiência difícil enquanto (sub)secretário e pela denúncia da banda podre da polícia, se ainda assim não se animar converse com jorge da silva coronel reformado da polícia militar do rio e estudioso das polícias brasileiras que igualmente mantém certo otimismo.


evite mencionar asneiras para justificar a sequência de ações decadentes e lamentáveis das polícias, do projeto falido de segurança, as upps. ao que me consta no pouco conhecimento todas ações novas são imitações chinfrins de outras polícias, pelo simples motivo de ser impossível e incoerente seguir aplicar determinado modelo de atuação que não condiz com a realidade do país.


supor que modelos de polícias americanos ou europeus cabem num país que não goza de estrutura social e econômica igual é o mesmo que levianamente sob a perspectiva mais ignorante de entendimento comparar etta james com justinbestinha ou seja não há nexo, inviável.



enquanto não nos debruçarmos sobre nossas questões e resolve-las mediante nossas necessidade para elaborar atribuição e treinamento condizente, que nos cabe, continuaremos servindo a propósitos de terceiros, ou seja, treinando policiais para atender as necessidades de outrém, por exemplo,  do time americano de futebol, servindo de bucha de canhão, espécie de  guarda-costa. que ridículo!


e agora deu uma preguiça deixo o resto para o mês que vem.


resta a homenagem na face mais falsa do pop, assim como falsa é este treinamento as nossas necessidades, segue o cantor que emita os negros, minha homenagem a parceria escrota, segue o justinbestinha sintam-se salvos pela participação do chance the rapper, de fato o único motivo que vale a pena assistir o clipe e ouvir a música:

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Pra frente Brasil!

Vim do futuro para avisar que vai ter copa sim.

Vai ter manifestação.
Vai ter greve.
Vai ter trânsito. 
Vai ter caos.
Vai ter gringo sendo morto.
Vai ter estádio despencando.
A única coisa que não vai ter é dia dos namorados.








terça-feira, 22 de abril de 2014

O Fotógrafo: Uma história no Afeganistão

Uma fotografia não é apenas uma imagem imortalizada no papel. Uma fotografia também é o seu fotógrafo. Uma mesma imagem pode ser fotografada de infinitas maneiras dependendo de quem a fotografa, dependendo da intenção e das motivações do fotógrafo. Podem-se variar ângulos, enquadramentos, intensidade de luz, foco e por ai vai. E é por esse aspecto humano, pela alma do fotógrafo que carrega em si, que a fotografia é considerada uma forma de arte, tal qual seus irmãos, o cinema, o teatro, a pintura e, não me venham com preconceitos, a história em quadrinhos.

A lógica é a mesma. Experimente fazer o exercício de ler uma história em quadrinhos com o olhar de um camera man (lembre-se que um vídeo nada mais é do que uma sequência de fotografias). Sim, imagine que está com uma câmera invisível nas mãos! Você perceberá que de uma cena a outra precisará fazer arranjos com sua câmera invisível para poder acompanhar a dinâmica da história. Em alguns momentos terá que usar o seu "zoom" imaginário para mostrar uma cena panorâmica ou para mostrar detalhes do rosto de um personagem. Às vezes terá que mudar o ângulo para poder mostrar o personagem sendo visto de cima pra baixo, de baixo pra cima, de viés, de frente, etc. Nada disso é por acaso, assim como não é por acaso (ou não deveria ser) a ordem com que um escritor vai apresentando as tramas de seu romance ou a paleta de cores que um artista utiliza para compor sua pintura. Tudo é e deve ser intencional e a maneira como se arranja essas variáveis é o que faz cada obra ganhar a marca registrada do artista, sua personalidade.

As artes, como se vê, são expressões interdependentes da alma humana. Elas se prestam harmoniosamente umas às outras. Sendo assim, por que não misturá-las de uma vez por todas, de maneira explicita e sem medo de ser feliz? O quadrinista Guibert, o fotógrafo Didier Lefèvre e o colorista Lemercier, todos franceses, encararam este desafio e o resultado ficou nada menos do que genial. A série de três livros intitulada "O Fotógrafo - Uma História no Afeganistão" (Editora Conrad, 2010) registra com maestria a viagem que Lefèvre fez ao país asiático em 1986, momento no qual os afegãos estavam sob a tensão da invasão soviética ao país, acompanhado da comitiva da Médicos sem Fronteiras. O grande mérito deste trabalho em conjunto é o de intercalar história em quadrinhos e fotografia de maneira perfeitamente harmoniosa, fazendo com que o relato transformado em quadrinho se complemente e ganhe mais verissimilhança acompanhado da fotografia.

Recordem-se que eu disse que uma fotografia também é o seu fotógrafo. Pois bem, Lefèvre estava num país em guerra, caminhando dias sem fim em caravanas precárias, vendo de perto pessoas morrendo, vitimadas pelo horror dos bombardeios. Entretanto, isso não é mostrado na fotografia de Lefèvre da maneira estereotipada com a qual a história oficial nos acostumou. Lefèvre busca mostrar as pessoas comuns do Afeganistão, com seus sonhos e inseguranças, além das paisagens que fazem do país um dos mais bonitos do mundo, segundo ele. Didier não é irresponsável ao ponto de extirpar os problemas do país, mas tem o mérito de mostrar que não é só isso, que o Afeganistão não é sinônimo de guerra ou que até mesmo no meio da guerra é possível se enxergar a beleza.

Em suma, "O Fotógrafo" é uma série que eu estava relutante a ler, mas que foi um dos meus grandes achados recentes. Mais um que recomendo!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Alguém especial torna tudo especial!

Poucas vezes na minha vida, valorizei tanta coisa num único ser humano!

Valorizo até as chamadas de atenção q você me dá! Pois sei que isso visa o meu crescimento como pessoa! Tenho buscado aprender sempre com isso! Está certo aqueles que dizem que amigo de verdade, não é aquele que diz somente o que você gostaria de escutar, mas sim aquele que diz o que você precisa ouvir!

Por isso, esse texto tem a ver com o que vejo de especial em você!

Começo o dia achando especial sua voz ao acordar! Aquele sorrisinho em meio ao sono, tããão quentinho! Jeito de menina que não quer se levantar!

Amo a maneira como brinca! Como fala! Como gesticula!

Tudo em você tem um toque especial! Sou eu que me enrolo às vezes na péssima expressão de algumas palavras que uso! Modéstia à parte, penso me expressar bem... Mas às vezes...
Uma coisinha que digo pode ser uma bomba em potencial!

Se eu pudesse ir à Lua e trazê-la aqui, prá você, eu faria, só para demonstrar o quão grande é e tem o valor das coisas que giram em torno de nossa amizade!

Amo esperar você, ouvir você, ser seu amigo como sou, participar da sua história como participo!

Para mim, é um privilégio!

Com você, as coisas mais simples se tornam especiais! Pode ser qualquer coisa! Qualquer coisa mesmo!
A responsabilidade que tem, no viver no ser quem você é, em tudo, é exemplo para mim!

E preciso taaaaaaaanto que você me ajude! E você já o faz! Agradeço, e peço: Não desista de mim!

Até na maneira de me expressar preciso melhorar!

Sabe, anjo?! Às vezes, digo coisas que não deveria dizer! Ou, deveria dizer de uma maneira diferente! Palavras são perigosas! Podem construir, ou podem destruir! E como sou amante das palavras, devo tomar cuidado!

Hoje você é a pessoa mais próxima de mim! Por isso tomo muito cuidado com o que digo! Lembra que disse uma vez, que parece que sempre machucamos aqueles que mais amamos?! Lembra da crônica onde eu disse sobre o Rei Midas?! Pois é...

Não quero ser Midas... Muito menos Rei!!!

Quero apenas te dar a certeza de que, de uma maneira positiva, aí sim!

Tudo o que você faz em minha vida, faz com que ela se torne mais dourada! Privilégio de poucos!

Já disse e repito: Eu poderia escrever páginas e páginas nesse blog! Poderia escrever cartas quilométricas... Mas estou cada vez mais convencido de que não importa o que eu diga, faça, escreva, nunca serei capaz de fazê-la entender o quanto especial sua amizade é para mim!

Desejo à você, leitor, que lê agora esse texto, que cuide bem dos que você ama!
Se você for abençoado como sou, se você tiver uma amiga, como eu tenho, se existir uma Kátia na sua vida (esse é o nome de minha melhor amiga), cuide bem da amizade de vocês! Eu, Márcio, às vezes não sei como fazer isso direito! Mas amo ter a chance e a vontade de querer acertar!

Obrigado, Kátia, por você ser essa pessoa maravilhosa na minha vida! Que Deus abençoe todos os seus caminhos! E aproveito para pedir: Continue sempre fazendo cada momento de nossa amizade único, e especial!

Assim como você é!

Especial!

Publicado originalmente aqui.

domingo, 20 de abril de 2014

A impunidade passeia de helicóptero

Como medir o impacto de quase meia tonelada de cocaína na sociedade? Difícil ter uma noção exata com tantas variações, mas comecei a fazer uma pesquisa informal para ter pelo menos uma ideia.

Tudo começou com a apreensão de um helicóptero carregado com 445 kg da droga, no Espírito Santo. Essa quantidade, que já não é pouca, na verdade é de pasta base, a partir da qual se obtém o pó que será vendido.

Cruzando algumas informações podemos ver que a pasta pode render dez vezes seu volume, depois de refinada. Com isso a carga do helicóptero viraria 4.450 kg de cocaína pura. Dá para tentar transformar isso em valores.

O preço final varia muito. Pura, a droga pode chegar a 50 reais o grama (para comparação, a cotação do ouro está em 93 reais o grama). A estimativa é que a pasta apreendida renderia R$22,25 milhões. É muito, mas raramente a cocaína é vendida pura. O mais comum é que seja batizada, baixando a qualidade mais que o preço.

Com essa pesquisa informal cruzando dados não dá para saber qual seria o resultado final da cocaína encontrada no helicóptero. Há uma infinidade de níveis de pureza e por consequência de preços. Mas supondo que o produto final mantivesse certo grau de pureza, renderia pelo menos uns 50 milhões de reais.

É muito se pensarmos apenas no valor numérico, mas é pouco comparado ao impacto social que tudo isso pode causar. A quantidade de sangue por trás dessa cifra é imensurável, a quantidade de crianças que crescem em meio a traficantes armados, que posteriormente serão recrutadas pelo tráfico, para que os donos dessa pasta básica de cocaína apreendida tenham uma vida de luxo é incalculável.

Mesmo esquecendo os impactos sociais e nos atendo ao custo econômico que se desdobra a partir do cume da pirâmide do tráfico, o dinheiro destinado às clinicas para o tratamento de dependentes, aos hospitais que tratam vítimas diretas e indiretas do tráfico e as operações policiais, que mesmo sem o tradicional suborno, movimentam muito dinheiro.

Em geral as pessoas tendem a olhar para os problemas sociais como pontuais, remediando muito mais do que prevenindo. Tem tráfico de drogas? Prende o traficante (ou mate). Tem usuário? Prende. Têm policiais aceitando propina? Prende.

A particularidade deste caso da pasta base de cocaína é que todos sabem de quem é o helicóptero, de onde ele veio e para onde ele ia. Já a cocaína, ninguém sabe de quem é, tanto que ninguém foi preso. Até mesmo piloto e co-piloto, que poderiam levar a culpa, já estão em liberdade. Provavelmente o silêncio de ambos foi recompensado com a liberdade. Será que se a droga estivesse relacionada a alguém filiado a outro partido a repercussão não seria um pouco maior?


sábado, 19 de abril de 2014

X.I.S.

Ele não sabe quem ele é. Foi criado em um laboratório para ser estudado por um cientista, mas não tem noção de quem ele seja, nunca se viu no espelho, desconhecendo o fato de que seu rosto possui expressões faciais que demonstram sentimentos que ele não sabe o que é e nem explicar. Não sabe o seu nome, não sabe nem mesmo que as pessoas se identificam por um. Ninguém nunca conversou com ele, o que o faz desconhecer o poder da fala. Ele conhece os cinco sentidos embora não saiba o que significam. Antes ele temia o tato. Sabia que quando encostavam nele ele geralmente sentia dor. Hoje em dia a dor virou sua rotina e ele a considera parte de sua existência.
Seus sentimentos são sempre induzidos. Ele já sentiu e deixou de sentir toda prova de experiência sentimental. Com o passar do tempo, ele começa a perceber que sente coisas diferentes pelas duas únicas pessoas que vê. O médico que sempre se aproxima para tocá-lo, lhe causa raiva e medo por provocar nele dores com suas picadas e cortes frequentes. Já a nutricionista sempre lhe causa alegria e alívio por vir finalmente alimentá-lo. Ele começa a desejar aos poucos a companhia dela e querer acompanhá-la quando ela o deixa, mas embora a porta nunca esteja trancada, o medo de tudo que é desconhecido fora dali o segura sempre do lado de dentro.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Da evolução em espiral

É muito tênue a linha que divide a mulher sábia de 30 e a menina impulsiva de 15 que habitam em cada uma de nós.

A frase é da Diangela Menegazzi, mas como é fruto de nossas passagens e pairagens pela vida, não sei bem se a conclusão é minha ou dela.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Uma História

Elas viviam dentro do rio e só interagiam com o mundo externo a partir do reflexo das coisas de fora no espelho d'água. Nas noites claras elas gostavam de nadar na lua.

Do outro lado eles abriam um buraco no céu com uma enxada digital movida a energia solar.

Elas faziam longos tapetes juntando os cabelos de todas. As tranças eram um jeito de escrever sobre o mundo.

Do outro lado eles moravam dentro de quatro paredes de barro com capacidade para armazenar milhões de gigas.

Elas cantavam o canto de todos os peixes e flores. A água ficava encantada e o céu se aproximava da terra para melhor escutar.

Do outro lado eles dançavam ao redor do fogo uma dança que não sabiam se era festa ou guerra. A luz era fosforescente e fria no visor de 380 polegadas.


Elas sabiam que eles jamais voltariam e decidiram buscá-los.

As árvores  serviram de escada para elas subirem para a terra. Na terra  não conseguiram ser. Eram só sentimentos, emoções, sensações e se espalharam feito chuva.





Ps: Tá aí mais um experimento. Consegui fugir do autobiográfico e tentai escrever uma história. Inventei essa história quando pensei na imagem de mulheres tirando folha por folha de todas as árvores de uma floresta, mas depois acabei nem usando, pois elas moravam dentro d'água. Percebi que tenho uma trava para escrever coisas fora da lógica formal. 

sábado, 12 de abril de 2014

Não sabemos mais nem cortar um limão?


Desde que vi um comercial cismei com um produto. Fui no supermercado e peguei para ver, é um suco de limão para temperar a comida.
Quem cozinha sabe que poucas coisas dão tanta alegria como o limão, ele tempera, deixa um sabor delicioso e em muitos lugares onde a higiene é um luxo ele tem o poder de matar bactérias.

Segundo a medicina maia é um dos alimentos de maior valor energético, parecido ao alho, carregar um limão na bolsa ou na mochila afasta as invejas, ele puxa a energia ruim. Também serve para ser usado em gripes, é só passar o dia com um limão por perto, segurando ou deixando ele próximo, a energia dele é tão forte que acaba com dores de cabeça e melhora os sintomas.
Na casa ele funciona do mesmo jeito, também limpa as energias ruins, é só deixar um prato com alguns deles no centro da sala.
E um copo de água morna todos os dias em jejum com umas gotas de limão limpam qualquer organismo e eliminam as toxinas.

Ainda tem uma coisa incrível, ele dura muito, ao contrário de muitos alimentos mais frágeis o limão aguenta bem umas semanas, é só comprar, colocar em um prato e deixar na cozinha.
Por isso não entendi o produto, o suco de limão para temperar. Essa parte da humanidade me tira do sério. Todos reclamam das empresas alimentícias, dos seus alimentos modificados, de suas frutas e vegetais contaminados de agrotóxico e todas as mentiras e químicos que vem na embalagem, mas as pessoas também têm sua parcela de culpa, parece ser uma característica humana agir como um retardado.

Pra que alguém precisa comprar suco de limão? É tão difícil assim comprar limão, pegar uma faca e espremer? Sério mesmo? Chegamos a esse ponto de nos comportar como crianças de dois anos que não sabem mexer em uma faca?

Se a indústria inventou e colocou no mercado esse suco é porque vende, pessoas lá fora compram, totalmente sem noção, compram um produto que não tem a mesma qualidade do limão e pagam duas vezes o quilo do limão.
É fácil culpar a indústria, mas a humanidade virou uma lesma gigante e preguiçosa, quer tudo pronto e mastigado, sem problemas, não quer nem saber da onde as coisas vem.

Talvez o mundo inteiro deveria fazer uma dieta, porque só nela a gente aprende a cortar e cozinhar os alimentos naturais, antes disso agimos como imbecis comprando tudo pronto. Quem faz dieta aprende a acordar mais cedo para fazer sua marmita ou cortar sua fruta.
Tudo isso mostra que não somos tão inocentes assim, a indústria alimentícia cresceu e está envenenando o planeta porque todos estão mais ocupados e preferem perder seu tempo navegando em canais de filmes do que cortando um limão.

Não sei mais o que querem, comida mastigada? Só falta isso, se cortar um limão está exigindo demais das pessoas, imagino que mastigar vai começar a ser uma tortura.

Alguém me explicou que esse suco de limão para temperar é apenas para que o preparo da comida fiquei mais prático. Mas comer não é uma questão de ser prático ou não, mas de se alimentar. E agimos assim simplesmente, dane-se o limão, eu compro o suco. Enquanto isso as indústrias se mexem e vão jogando veneno na comida, dizem que é para evitar pragas, mas se não sabemos cortar um limão, vamos entender de pragas no campo e agrotóxicos? Não, estamos ocupados, não interessa a origem da comida nem o que colocam nela, desde que esteja no supermercado na esquina de casa e fique aberto até depois da novela, caso contrário atrapalha nossa vida.

As coisas mudam, hoje até comprar e cortar um limão altera o horário de qualquer um. Mas pelo menos com o suco de limão para temperar temos mais tempo livre, coisa fundamental neste mundo, cada vez mais precisamos de horas livres, porque ser infeliz como a grande maioria é, consome todo nosso tempo.



sexta-feira, 11 de abril de 2014

Vitoria-Gasteiz

10:00. 

A cidade desperta aos poucos ainda. Tempo úmido nesse local pacato. As árvores nuas ainda por conta das sequelas do inverno são o charme daquele momento junto com a vista das construções típicas e velhas dos vilarejos.

Bom para caminhar e divagar entre uma mista seleção de pensamentos sobre como a vida está agora com a realidade das imagens capturadas pelos meus olhos neste momento. Temperada com uma pitada do som suave da alma dali. Os velhos, as bicicletas, os sorrisos e mesmo a seriedade expressa na face dos residentes fazem todo esse remexido de itens se transformar dentro de uma mente livre de preocupações.

Ali, na rodoviária, compro meu bilhete e aguardo. Ainda divagando sobre ares e vidas, assim vou levando, na atmosfera daquela sensação pacata, sem me preocupar se amanhã...

Hora de partir para outro lugar, que não se trata do amanhã que pretendi por um instante citar.

10:30.

sábado, 5 de abril de 2014

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

- Como é namorar à distância? Como fica o coração?
- Me seguro na punheta.
- E a cabeça, como fica?
- Esfolada.

(Cleyton Cabral)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Um desabafo contra o feminazismo. Ou: das razões mais burras para se lutar por uma causa.

Esse é um texto sobre o seriado Game of Thrones e contém spoilers. Se você não assiste o seriado, não leia, pode ser decepcionante por total falta de contexto. Se você não assiste o seriado e é feminazi, não leia MESMO, você não vai entender nada. Se você assiste ao seriado e é feminazi, leia, mas saiba que não irá gostar. E se você só gosta de Game of Thrones, veja só a que nível chega a interpretação equivocada de alguma coisa.


Esses dias, no Facebook – o lugar feliz onde todos tem sua opinião respeitada (levando em consideração que “opinião” e “discurso de ódio” possuem linhas bem tênues a partir do momento em que você escreve “[coloque aqui o tema em pauta] merece morrer”) eu li uma crítica de uma amiga ao seriado Game of Thrones, do qual sou definitivamente viciado. Disse ela que os diretores estão “fazendo merda” dos livros, já que o seriado tornou-se “machista e racista”, “em oposição” aos livros. Argumentei com ela que ela estava indo longe demais no ponto de vista dela, que não era fácil trazer o ponto de vista de um personagem (o livro é escrito a partir do ponto de vista de personagens-chave para o entendimento da trama) para uma cena em terceira pessoa, que aquilo que é lido a partir do ponto de vista de alguém pode ser, em uma outra ótica, algo totalmente diferente. Ela contra-argumentou que não, que era racismo e sexismo e machismo e pronto. 
O-kay. Ela é minha amiga para além de suas opiniões. Não dou crédito a pequenas discordâncias em relação a um todo que vale tanto a pena.
Mas confesso que meu sangue ferveu quando uma qualquer começou a comentar a conversa, me chamando de machista (!), dizendo que eu estava errado, que eu acreditava que a única opinião que valia era a minha (!!!) e querendo defender o [ATENÇÃO! OS SPOILERS COMEÇAM AQUI!]  (supostíssimo) “estupro” de Cersei Lannister pelo seu irmão, Jaime Lannister, diante do velório do filho recém assassinado, envenenado, na festa do seu próprio casamento. 
Retire a palavra estupro e troque por relação sexual. Leia a frase de novo. Consegue perceber o nível macabro da cena, ainda assim? Ok. Precisa da palavra estupro para a cena ser bizarra? Não, Sim? Esse ponto de vista será necessário mais à frente.

A série Game of Thrones (baseada n’As Crônicas de Gelo e Fogo, de George RR Martin, citado a partir de agora como GRRM) nunca foi uma série para pessoas de estômago fraco e sensibilidade extrema. Para começar, o caos se instala na história devido a uma criança, Bran Stark, ter sido testemunha da relação incestuosa entre os irmãos gêmeos Cersei e Jaime Lannister. Uma relação proibida que custou a Bran as pernas, mas poderia ter custado a vida – ele foi jogado da torre onde os irmãos estavam tendo relações pelo Jaime, entrou em coma e voltou a si paraplégico.
Mortes (das mais variadas e surpreendentes formas), saques, torturas, sexo exacerbado. Mas também magia, valores, beleza, honra. Um caldeirão muito bem mexido de sentimentos e personalidades que encontramos no nosso caminho [exceto dragões. Por enquanto].
Mas não, não é uma história palatável, ainda que viciante. É tenso, é denso, é cruel, é intrincado e – pasme! – é uma história sem final feliz pré-concebido. Até o Jon Snow e a Danenerys Targaryen, que aparentemente são o gelo e o fogo do título, e o Tyrion Lannister, favorito de muitos fãs d’As Crônicas – não eu, por sinal – podem morrer. MORRER. O GRRM mata personagens como você compartilha fotos fofas ou piadinhas no Facebook. Todo o tempo.
Diante disso, desse peso todo, temos uma cena para analisar, e um caso da vida real para relembrar. E, ao final, uma reflexão a propor.


Muitos fãs se revoltaram com a cena do episódio 04x03 de Game of Thrones, na qual a cena já descrita da relação sexual entre os gêmeos ocorre no Septo de Baelor. Dentro de um templo. Na frente do cadáver do filho de ambos, recém falecido. Mas a revolta não se dá pelo contexto, já que esse está no livro. A revolta se dá porque, supostamente, o que foi ao ar não foi a cena do livro. Foi um estupro. 
Minha opinião é simples, e baseada em fatos reais: a partir do momento que uma cena íntima passa para terceira pessoa, o expectador passa a ser um juiz da cena. Ele está fora, ele está em pleno poder, pois é ao mesmo tempo testemunha, advogado, promotor e juiz. Contudo, por vezes, os telespectadores mais afoitos esquecem-se que não são partícipes. Não estão nos pensamentos daqueles a quem observam. São suas testemunhas, a partir dos seus pontos de vista. Se seus pontos de vista se adequam àqueles dos participantes, ok, temos um testemunho. Se não, temos um julgamento.
Nesse caso, em especial, as pessoas que mais se revoltaram com a cena foram, dentro do meu círculo de contatos, as pessoas que tem algum tipo de relação com o feminismo. E, nesse ponto, um dos motivos pelos quais tenho ojeriza de conversar sobre esse tema é que a conversa sempre é chata e unilateral. Sério. Ainda não achei uma feminista que consiga relativizar sua opinião ao cenário. Tudo é dado, é certo, é luta contra a opressão.
Não fui só eu quem se incomodou com o ponto em que chegou a interpretação da cena. O próprio GRRM se pronunciou a respeito.

“Nos livros, Jaime não está presente quando Joffrey morre e, de fato, Cersei teme que ele mesmo esteja morto, que ela tenha perdido o filho e seu pai/amante/irmão. De repente, Jaime está diante dela. Mudado, mas ainda Jaime. Apesar de o local e de o momento serem extremamente inapropriados, e de Cersei ter medo de serem descobertos, ela o deseja tanto quanto ele.A dinâmica é muito diferente na série de TV, na qual Jaime está de volta há semanas, no mínimo, talvez há mais tempo, e Cersei e ele já estiveram na companhia um do outro em diversas ocasiões, normalmente brigando. A situação é a mesma, mas nenhum dos personagens está no mesmo local em que está nos livros. Deve ser porque Dan e David alteraram o roteiro. Mas essa é a minha visão, e nunca discutimos esta cena em particular, que eu me lembre.Além disso, escrevi a cena no livro do ponto de vista de Jaime, então o leitor estava dentro da cabeça dele, lendo seus pensamentos. Na série de TV, a câmera é por definição externa. Não se sabe o que alguém está realmente sentindo ou pensando, apenas o que estão fazendo e dizendo.Se o roteiro manteve alguns dos diálogos de Cersei dos livros, deve ter deixado uma impressão levemente diferente – mas o diálogo é basicamente moldado pelas circunstâncias do livro, ditas por uma mulher que está revendo seu amante depois de muito tempo, depois de pensar que ele havia morrido. Não tenho certeza de que isso funciona no novo roteiro.Isso é tudo o que posso dizer sobre o assunto. A cena sempre teve a intenção de ser perturbadora… Mas sinto muito se ela perturbou as pessoas pelas razões erradas.[fonte]

Para além de qualquer comentário, está explícito na opinião do autor e responsável pela obra que não foi um estupro. Para mim, o assunto nem chegaria nesse ponto – quero mais que o GRRM escreva capítulos do Winds of Winter, não justificativas para gente que interpreta mal e interpela demais! Mas eu preciso ir mais além nesse assunto e futucar sua memória, leitor. Se você chegou até aqui, é hora de ir um pouco mais longe.


Não importa se você assiste ou não BBB, se acha uma merda ou se segue fielmente. Esse foi um episódio que revoltou as redes sociais e que teve um final para mim surpreendente. 
No Big Brother Brasil 12, o casal Monique e Daniel, embriagados, foram para debaixo do edredom. Até aí, nada de mais. O “de mais” começou quando, no Twitter, cogitou-se a possibilidade de estupro, porque aparentemente a modelo não reagia.
Tava feita a bagunça. 
Eu tomei contato com o assunto a partir de um ponto de vista completamente torpe. Daqueles que o acusaram, veementemente, de estupro, que a guria tinha de ser defendida, que algo assim não poderia ficar impune, que o Brasil não aceitaria isso bla bla bla guaraná de rolha.
A vida do Daniel foi destroçada ali. Ele foi expulso do programa. Tudo bem que entrar no BBB é entrar em uma roleta russa, onde você pode ser amado ou odiado e isso te marcará por um bom tempo. Mas ser injustiçado é ir longe demais.
Depois de semanas, e de ouvirem o depoimento de Monique – que, a propósito, era, para mim, a maior interessada no assunto (ou seria desinteressada? Ela foi “defendida” sem a menor necessidade!), Daniel foi inocentado. 

Fontes: [1] [2] [3]

Não sei bem do que adiantou, mas foi. Depois que sua imagem, seu instrumento de trabalho, foi destruída por um tweet.
Eu só queria saber se a pessoa que fez isso, deu o start nesse movimento destrutivo, se lembra do Daniel. Se lembra do que fez com ele. E principalmente, dorme à noite, feliz por ter feito isso.
Desejo-lhe pesadelos.
Dessa forma, queridx telespectador (usei o “x” porque é moda colocar “x” para indefinir o gênero, conforme proposto pela regra culta – uma ilustração clara do nível de ignorância que um movimento pode gerar), quando assistir uma cena que lhe ofende, não a julgue pelos outros, julgue por você mesmo: quem é você frente àquilo?. E se tiver de se manifestar, tenha a gentileza de ter noção do que está fazendo. Hoje, você se revolta contra o suposto estupro da Cersei (mas não contra o incesto da mesma nas quatro temporadas/cinco livros). Ontem, não foi você que acusou o Daniel de estupro?
Do seu anonimato, do conforto do seu sofá, da tela do seu computador, é fácil despejar o veneno de um discurso de ódio. Mas e se você estivesse no front? Seria tão ousadx? (Bendito “x”, normas de internet para se fazer compreensível... ou não.)
Por menos ódio, por mais certeza, por menos achismo, por menos acusação desnecessária. Por muito menos feminazis no mundo. 
Se bem que, conforme postula Valeska... “Desejo a todas inimigas vida looonga...”



Ah, claro. Para quem achar que esse texto é uma apologia ao estupro e uma defesa aos estupradores, ou chegar ao clímax de achar que esse texto é machista, é bom ressaltar – porque se depois de um texto desse tamanho eu não consegui ser claro, eu realmente preciso escrever um post scriptum – que eu acredito que todo indivíduo tem o direito inexorável à escolha. E que deve ser apoiado em sua escolha, por aqueles que concordam com ela. E que deve ser julgado quando suas escolhas ferem diretamente a escolha de outros – em nível constitucional. Feminismo que eu apoio é aquele proposto pela Valeska Popozuda. E eu to falando sério.
É complicado ver alguém tão marginalizada sendo tão lúcida sobre um assunto que aqueles que se dizem lúcidos são tão obtusos. Ela defende a liberdade de escolha pela mulher. Não o homem como eterno protagonista da vilania contra a mulher. Parece-me lógico ampliar os horizontes do feminino. Parece-me lógico não vilanizar tacitamente o masculino pelo caminho que o feminino trilhará. 
Mas, como ouvi antes, eu penso assim porque eu sou homem. E machista.
Rá. Eu ri.
Beijinho no ombro, feminazis. Que seu recalque passe longe da minha realidade.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Uma Odisseia com o Bad Religion - PARTE II - "Pão e Circo"

Antes de ler esse texto, é recomendável ler a parte 1, escrita após o incrível show de Seattle de 2010 no qual eu cantei com o Bad Religion a música Anesthesia. Leia saporra aqui: http://paulopilha.wordpress.com/2011/02/17/uma-odisseia-em-seattle-com-o-bad-religion/

Esta segunda parte poderia perfeitamente ter sido escrita quando eles vieram ao Rio em 2011 para se apresentar na Fundição Progresso. O problema é que na época achei que seria muita forçação de barra tentar cantar com eles pela segunda vez. Seria uma indelicadeza não só com o público presente, mas também para com os integrantes da banda, sobretudo o vocalista Greg Graffin, o homem responsável pelos meus três minutos de fama. A Fundição Progresso não é um bom local para a realização de shows de um modo geral devido a acústica ruim, e em se tratando de um show de punk rock, a coisa era ainda pior. O show não foi bem divulgado e o espaço era muito grande para a apresentação de uma banda que só tinha aparecido no rádio e na TV em meados de 1996, quando foi lançado o álbum “The Gray Race”. Ou seja, somente os fãs fervorosos iriam. Os fãs modinha de rádio, TV e Maria Vai Com As Outras, que costumam formar um grande público em shows e festivais como Lollapalooza e Rock in Rio, passariam batido pelo show dos dinossauros californianos do punk rock. Tudo bem, tem também a galera do surf e do skate, afinal, o Bad Religion é figurinha fácil nos vídeos de manobras radicais. Foi assim que a música “You” - que nunca aparecia nos set lists do grupo - se tornou do dia pra noite um hit que raramente deixam de tocar. 

O concerto na Fundição foi morno. Setlist totalmente previsível e apenas 24 músicas. No show desse ano no Circo Voador, Greg e sua trupe tocaram 29 músicas e atentem para um detalhe muito importante: o show da Fundição foi em setembro e do Circo em pleno verão. Os caras então me pegam um voo no gélido inverno norte-americano para desembarcar nesse maçarico do capeta pra tocar cinco músicas a mais que no ameno setembro carioca de 2011.

Logo que o show do Circo foi anunciado, eu mantive a mesma decisão de não tentar cantar com eles novamente. A partir de uma árdua pesquisa que eu mesmo fiz na internet, cheguei à conclusão de que apenas três pessoas no mundo tinham cantado uma música com a banda no palco. Três brasileiros. Os outros dois são paulistas e cantaram a música "Modern Man". Tentei conversar com um deles no Facebook, mas ele preferiu não aceitar minha solicitação de amizade e tampouco respondeu minha mensagem sobre o tema. Apenas leu o que eu mandei.

O baixista do Bad Religion frequenta quase que diariamente um site de fãs da banda no qual responde perguntas sobre os assuntos mais diversos. Ele não responde todas, mas até que escreve bastante. Diria que cerca de 60% das perguntas são respondidas. Depois do show de Seattle, fiquei conversando um bom tempo com ele ao lado do ônibus da turnê e o próprio, não um fã que estava no show, comentou no fórum que eu tinha mandado muito bem apesar do esquecimento de letra. “Até o Greg Graffin erra de vez em quando a letra, por que você não poderia?”, disse o simpático baixista em Seattle.

Faltando então cerca de quinze dias para o show do Rio, o primeiro da turnê sul-americana, perguntei no tal fórum se não teria como eu cantar "Anesthesia" novamente. Afinal, eu tinha esquecido um bom pedaço da letra e ele mesmo tinha dito que viriam ao Rio no carnaval para que eu pudesse cantar de novo da forma correta. É claro que ele falou isso de brincadeira, está inclusive no vídeo que gravaram da minha aparição, mas aproveitei o gancho da brincadeira para fazer um convite sério. Por que não? O Circo Voador é um lugar mágico. Não sou um ótimo cantor, mas também não sou um mau cantor. Seria um bom marketing para os próximos shows da turnê. Ok. Tudo bem. Poderia ser também o incentivo que muitos fãs precisavam para fazer o mesmo que eu contando com a elaboração de cartazes e mais cartazes solicitando a cantoria. A coisa poderia sair de controle para a banda, ainda mais porque os fãs latinos ficam muito elétricos nos shows. Sobem no palco para depois pular no meio da galera. Alguns shows no Rio foram insuportáveis por conta disso. Os fãs não deixavam o vocalista cantar direito: quando não estavam berrando junto com o vocalista alguma coisa não identificável entre o português e o inglês, davam um abraço de urso no cara durante algum verso. Felizmente o show do Circo teve uma segurança impecável.

                                              Esta pessoa com o dedo apontado para o palco sou eu.

Foda-se, eu pensei.  Não tinha nada a perder. Caso cantasse, no máximo receberia vaias da plateia. Se fosse em qualquer outro lugar eu ficaria na minha. Mas em se tratando de Circo Voador, eu iria tentar.

Jay Bentley, o baixista, respondeu outras perguntas, mas ignorou a minha. Só foi me responder alguns dias depois do show quando eu perguntei no fórum como foi o dia de folga no Rio:

Paulo Pilha: So Jay, how was your day off in Rio? Did you go to Ipanema beach? Or maybe see our huge Brazillian Jesus on the mountains?
Jay Bentley:  spent a couple of hours bodysurfing in the water at copa, went to the giant jesus dude on the mountain (great views!) and ate chicken at sats

(Sats é um restaurante em Copacabana que serve churrasco até altas horas da madrugada. Já fui muito lá. É incrível. Recomendo.)

                                                 Jay Bentley e seus backing vocals no Circo.

Só me restava então o plano B. Levar a mesma camisa da Croácia, que aliás é o primeiro adversário do Brasil na Copa do Mundo (mais uma coincidência), ficar bem na frente e torcer, como um fã de futebol, para que o Jay ou o Greg Graffin (vocalista) façam alguma piada sobre Seattle e se empolguem para me chamar ao palco. Mas chega de suspense, né? O Graffin me viu com a camisa erguida, chegou a pegar um livro pra autografar do cara ao meu lado, mas não fez piada, não sorriu, não esboçou absolutamente nada sobre a camisa da Croácia. Eu sei que ele viu a camisa e lembrou de tudo, eu sinto isso, mas deixou o racional prevalecer sobre o emocional. O plano não deu certo. Lá pela sexta música eu vesti a camisa novamente, depois de ficar agitando-a ininterruptamente e assisti o que seria o meu melhor show do Bad Religion. Muito por conta do setlist imprevisível e, claro, por ser no Circo Voador. Estava encostado na grade, suando feito um porco, ao lado de uma menina que sabia todas as letras, palavra por palavra, mas que reclamava de mim o tempo todo, como se eu fosse o grande culpado pelos empurrões que ela recebia. “Dá uma olhada pra trás. Olha a quantidade de gente que tem atrás de mim”, eu disse. “Deixa de ser chata e curte o show aí na boa. Se tá reclamando o tempo todo de empurrões, não devia ver o show na primeira fila”. Ela não disse nada, mas pelo menos parou de reclamar.

Talvez pouca gente ou muito provavelmente ninguém tenha associado a escolha das músicas do show com o momento atual de protestos e manifestações que estamos passando no Brasil. Ou pelo passávamos ou devíamos estar passando ainda. Enfim, alguma coisa do gênero. A banda trouxe ao país um setlist muito diferente daquele que vinha tocando na turnê atual. Vocês podem achar que é pura coincidência, que eu estou viajando, mas eu acho que a banda escolheu de propósito essas músicas inesperadas para mostrar que o brasileiro deve sim continuar protestando e lutando pelos seus direitos. A começar pela música “New America”, que não tocavam desde 2001. Isso mesmo. Desde 2001. E logo a mais forte de todas no que diz respeito a essa ligação com os protestos. Graffin trocou várias vezes a palavra “America” por “Brasília”. “Nós precisamos de uma nova Brasília, acorde a nova Brasília, essa é a nova Brasília!”. Outro trecho da letra diz “vitórias não significam nada se elas não duram, não temos que ter medo de nos reinventar, temos que começar a construir, progredir e implementar, pois quando pegamos nossa parte e nunca pagamos o preço, apenas construímos para nós um paraíso falso e fugaz”.

                                          Greg Graffin em ação no Circo. Fonte: www.rockemgeral.com.br

Aproveitou também para cantar a improvável “Raise your voice” que significa algo como “Eleve sua voz”. Trechos da letra mostram que “é a nossa desalentadora limitação que nos mantém vergonhosamente em silêncio, é nossa natureza sermos adversários e livres, nossa evolução não pode ser feita com passividade”. Poderia até fazer uma associação mais ousada, porém pertinente, com a esolha de outra raridade para o setlist brasileiro: “Skyscraper”. A letra fala de exclusão social, de egoísmo e mesquinharia. Me fez pensar em muitos políticos que montam seus impérios luxuosos com o dinheiro do povo e não deixam o povo “subir” junto. Todo mundo na lama, eles no paraíso. A letra faz uma clara associação à Torre de Babel e o refrão é “me construa, me despedace como um arranha-céu, me construa e depois despedace esses muros que se juntam e então eles (o povo brasileiro...) não podem  escalar conosco”. Outra também selecionada especialmente para a turnê brasileira foi “You are (The government)”. O nome já diz tudo. “Vocês são o governo”. O “povo é o governo”. Segue o trecho final da letra:

E enquanto o povo se curva, a estrutura moral morre,
O país não pode fingir que ignora o choro do seu povo
Você é a autoridade!
Você é a jurisprudência
Você é a volição
Você é a jurisdição
E eu faço a diferença também

Arrepiante, não é mesmo? Mas aí é nesse momento que você chega pra mim e diz: “ô Pilha, mas eles tocaram essas mesmas músicas em outros países da América do Sul e recentemente no Japão”. Não importa. Os primeiros shows da turnê foram no Brasil. Antes de montar esse set list eles pensaram na gente, não foi nos shows que fariam semanas depois em sei lá onde.  O recado está dado. Se não for possível ir novamente às ruas como em junho de 2013, acho que podemos pelo menos ficar de olhos bem abertos e fazer semanalmente coisas, mesmo que pequenas, que nos ajudem a construir um Brasil cada vez melhor. Wake up the new Brasília and Raise your voice!

terça-feira, 1 de abril de 2014

sobre o texto

ontem um amigo disse que sente falta dos meus textos mais densos, profundos, poéticos, dramáticos e conversamos muito sobre o fato de escrever sob algum efeito negativo, uma dor, um sofrimento, um soco no estômago, uma facada no peito.

ele disse que, pra ele, aqueles são os melhores textos meus e que eu devia aproveitar essa veia da tristeza, do amor perdido, da falta, da busca, do ódio.

ele também disse que eu nasci pra escrever tais textos e que em tais textos eu mostro o que há de melhor em mim, na literatura e na vida.

não sei se há tanta diferença assim na minha vida em relação à minha literatura, mas ele complementou dizendo que quando estou desse jeito - dramaqueen (ele usou este termo, dramaqueen) - eu escrevo muito muito muito muito compulsivamente e sempre muito bem. 

talvez seja por isso que tenho tenho escrito tão pouco e tão mal nos últimos meses!