domingo, 30 de novembro de 2014

Senhor Cidadão

Da série músicas que parei para refletir

Senhor cidadão
senhor cidadão
Me diga, por quê
me diga por quê
você anda tão triste?
tão triste
Não pode ter nenhum amigo
senhor cidadão
na briga eterna do teu mundo
senhor cidadão
tem que ferir ou ser ferido
senhor cidadão
O cidadão, que vida amarga
que vida amarga.
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantas mortes no peito,
com quantas mortes no peito
se faz a seriedade?
Senhor cidadão
senhor cidadão
eu e você
eu e você
temos coisas até parecidas
parecidas:
por exemplo, nossos dentes
senhor cidadão
da mesma cor, do mesmo barro
senhor cidadão
enquanto os meus guardam sorrisos
senhor cidadão
os teus não sabem senão morder
que vida amarga
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
se a tesoura do cabelo
se a tesoura do cabelo
também corta a crueldade
Senhor cidadão
senhor cidadão
Me diga por que
me diga por que
Me diga por que
me diga porque
Bjs/ Abs
Jeff

sábado, 29 de novembro de 2014

As coisas ou apenas pensando em você

Pensando em você, inventaram muitas coisas, algumas para facilitar o dia a dia e outras nem tanto.

De todas as quinquilharias e bugigangas tenho simpatia pela roda. Em pensar que essa engenhoca perpassou séculos como parte essencial da carroça, depois da bicicleta, carros, motos e aviões. Aliás, é incrível como algo tão grande e pesado ainda hoje precisa de rodas para voar, é mesmo impressionante para não dizer curioso porque ainda não inventaram aviões que simplesmente deslizem na pista e num segundo vuuuuuumpt estejam nos céus de encontro com as nuvens.

   O pensando em você, promoveu uma lista imensa de coisas necessárias da roda para o rádio, TV, telefone, PC e outras tantas mais com o objetivo de poupar energia, esforço, para tornar a vida humana [ou de coisa?] mais confortável e porque não dizer torná-la melhor ou alguém duvida disso? Será que existe algum saudosismo dos tempos das cavernas? Por acaso escutei um amém? Um eu? Um aqui? Não? Ufa, oxalá Deus, ainda bem, sinto alívio de saber que ninguém sente saudade de tempos passados, bom, pelo menos não dos tempos da caverna.

 É quase justo dizer que o todo inventado neste mundo é para facilitar e não complicar a vida e disso quase ninguém reclama, exceto quando não tem o devido acesso. E em pensar que poderíamos viver apenas de pensar em criar coisas para simplesmente facilitar o dia a dia para vivermos melhor e quem sabe aproveitar os dias de existência. Em pensar, por que [ainda] não permitiram uma forma, um sistema para que todos tenham o mesmo acesso, para uma vida mais descomplicada, fácil e satisfatória para todos e não para poucos.

Há tanto para criar com o objetivo de simplesmente viver e desfrutar de tudo quanto se pode inventar e temos de bom grado do planeta: chuva, água, sol, mar, vento, mas de tão inebriados com coisas, em apenas ter coisas sabendo que quanto mais tivermos mais aumenta a necessidade de criar espaço para coisas efêmeras que deixarão de ser importantes daqui algum tempo; mais importante é pensar em como reciclar ou reaproveitar do que adquirir mais. Nosso espaço sinaliza urgência para pensar nisso, de modo a respeitar mais o ambiente em que vivemos, ou melhor, habitat? Ou alguém já colonizou outros planetas com gente ou mais lixo e não estou sabendo? Sendo necessário criar urgentes soluções para o que não tiver mais espaço, utilidade.

Mas o pensando em você, te ajuda até nisso, a eficiência não está apenas em criar para consumir, mas também no pensar por você e disseminar a ideia de que não é preciso se preocupar basta você exercer o direito de cidadão a cada quatro anos ou dependendo do país cinco ou sei lá quantos anos mais, ao eleger alguém com tempo de vida curtíssimo posto a idade avançada e, portanto pouco importa o que será do planeta em 50 ou 100 anos, sendo importante apenas te representar e pensar por você, para resolver tudo para você, para que agora você tenha mais tempo para o trabalho para conquistar as coisas criadas por àqueles que só pensam em você.

Tanto é que a palavra de ordem atualmente é poupar energia, investir na tecnologia para aperfeiçoar a vida, na verdade ganhar mais tempo [e tempo é dinheiro] para a vida e para o trabalho; mesmo que o essencial – o trabalho - esteja em falta, inclusive sendo mão-de-obra super qualificada como têm na Europa, ou extremamente desvalorizada como noutros países desde que possa garantir maior crescimento (de quem?) em escala mundial, envolvendo todos os países e com isso elevar à décima potência a vida (de poucos) humana o discurso se prolifera de que o crescimento é para o bem de todos, para que desfrutem das facilidades de quase tudo que se cria na certeza de que foi pensando única e exclusivamente em você, portanto é para o seu bem.

Então inventaram as sextas mega promocionais, o charme e singularidade de chamar sua atenção como se fossem velhos amigos, do tipo: olha pensando em você enviamos o desconto de tanto em tal coisa, pensando em você dedicamos está promoção, pensando em você segue esta assinatura de tal revista com preço reduzido com 50% de desconto quase a preço de banana, e veja o quase de graça desconfie, deve ser uma porcaria, pois nada que seja de graça mereci bom proveito. E segue uma gigantesca lista de quereres de coisas criadas pelo pensando em você, incentivadas pelos representantes no discurso de que não há motivos para alarde, pois o mundo está exatamente como era noutros séculos, nada se alterou praticamente ignorando o que os cientistas mencionaram como alerta de que a existência humana está em risco e ao dizer que a nossa parte está feita em alertar falta a de vocês políticos em fazer algo, portanto não se preocupem, não participem, resolvemos tudo para você, quase no toque camarada do estamos pensando em você mesmo que estejamos no bico do corvo daqui alguns anos.

De todas as coisas que criaram essa com certeza foi à pior delas, tentar convencer a todos de que não é preciso participar da resolução dos problemas, que basta elegermos alguns representantes para que pensem e façam por nós, de modo a resolver, ainda que a solução não nos contemple; quando em grande parte ou na maioria das vezes os problemas foram criados por àqueles que só pensam em você, como potencial consumidor, sem a mínima oportunidade de pensar que tudo tem vida útil e precisa de destino [inclusive o humano], para não dizer um lixo e por isso é essencial a participação e cooperação dos sujeitos, diga-se são protagonistas nesta história da criação e destruição.

A solução dos problemas requer uma força e pressão de todos, para que aconteça é necessário o vetar que outros pensem e façam por você o que é de única responsabilidade. É evidente que todos não poderiam ocupar os mesmo espaços, mas é incontestável que aqueles que lá estão para nos representar compreendam que o lugar ocupado nada mais é que um empréstimo e não os pertence; mesmo que alguns ocupantes sejam semelhantes, por exemplo, que seja da sua cor, credo, crença não estão imune da disputa de poder de quem pensa o tempo todo em você como coisa a consumir coisas. Sendo essencial a participação e pressão de todos os envolvidos.

Se começar a pensar e agir por você mesmo vai notar que embora possua facilidades no dia a dia que são importantes e outras nem tanto, não é o bastante para de fato desfrutar das coisas e viver, mas apenas está vivendo para ter mais coisas e por coisas; em algum momento irão perceber que embora participe do festival de preços reduzidos e tenham tantas coisas como qualquer mortal ou na verdade como bem poucos o acesso à justiça e direitos são limitadíssimos se comparado com àqueles que só pensam em você e por você [para o consumo].

Sendo fácil perceber que a possibilidade de facilitar o dia a dia com coisas não te faz igual, e algum momento isso irá te forçar a pensar, a agir e provavelmente protestar de forma tão indignada que a primeira ação é destruir o que em certo momento você almejou ter, ou melhor, o que tanto àqueles que não pensam noutra coisa a não ser em você [como consumidor] fez com que desejasse ter, querer de todas as formas a ponto de não perceber que não importa o quanto você tenha de coisas que facilitam o dia a dia o acesso à justiça ao termo igualdade é limitado e não interessa a quem, ainda que seja o homem considerado o mais poderoso não poderá garantir justiça para todos, inclusive àqueles semelhantes a ele na cor e na origem. 

Mas alguém levanta e diz não é bem assim, existem pessoas que se importam com outras coisas – ah tem o amor! Não somos apenas consumidores de coisas. Pois é, até nas relações o pensando em você agiu [ou pensou por você?], exemplo disse são as relações de contrato ou aparência como dizem. O filme engraçadinho que ilustra bem isso é o “Amor por contrato” óbvio retirando da discussão o final mentiroso dos felizes para sempre o filme trata de forma bem realista como o pensando em você [consumidor] usa as relações sociais e a vidinha da família feliz como bem querem para que comprem mais coisas, inclusive o “amor” e a felicidade.

Noutro dia, numa troca de canal, escutei certo filósofo num programa da Cultura discorrer sobre a felicidade como uma invenção, ao dizer que desconfia dela, de que você precisa ser feliz; por que atualmente para estar feliz você precisa ter, precisa de coisas e a necessidade de ser está em último plano por que é urgente e preciso estar feliz, é preciso adquirir para ter a felicidade, pois te dizem o tempo todo que ninguém pode estar triste. Acredito que do ponto de vista da religião isso também é válido, pois ninguém aceita que o outro esteja triste, pois é preciso ter fé você vai conquistar as coisas que deseja ou enquanto se manter naquele pensamento positivo a depender do que acredita você vai alcançar àquelas coisas. A tristeza é para perdedores e perdedores não tem coisas, não compram, não tem nada e não alcançam a felicidade - o meu destino é a felicidade num amontoado de coisas, pois quero estar melhor e diferente, não quero ser igual a ninguém, quero ter coisas diferenciadas para ser único.   

Tão difícil quanto é perceber que você acaba acreditando em mentiras que te contam todo santo dia, pior ainda é saber que o pensamos em você, pensa em tudo absolutamente tudo menos em você. E se ainda não conseguiu perceber quem sabe num momento qualquer note que muitas invenções estão totalmente desconexas da paisagem e se tornaram irrelevante para àqueles que perceberam melhores criações ou talvez perceba que em exato momento a principal invenção está em algo melhor, como por exemplo, viver, seja mais “triste” do que feliz com pouquíssimas coisas, apenas viver.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Quem faz a cidade?

No contexto atual há uma disputa básica entre aqueles que querem do espaço urbano melhores condições de vida e aqueles que visam apenas extrair ganhos das negociações. É neste cenário em que a relação entre poder público e capital privado se torna mais evidente, e quando a transparência e a mobilização social se fazem mais necessárias.

Imersos nesta realidade, interiorizamos relações sociais que passamos a crer como verdade imutável, à qual temos que nos submeter. Acreditamos que política é isso mesmo. Que as coisas são assim. Nunca vai mudar. Entretanto, a partir do momento em que questionamos esta situação, que até então é tida como inabalável, criamos uma outra visão da política urbana: podemos não saber qual cidade queremos, mas sabemos qual não nos interessa.

O direito à cidade não é (ou não deveria ser) um direito condicional ou individual: ele é o direito à vida urbana, e isto inclui acesso à moradia digna, educação, saúde, cultura e lazer. Todos têm direito à cidade, inclusive às suas áreas nobres.

E, muito mais do que o direito de acesso, o direito à cidade também o engloba o direito de refazer a cidade.

“O direito à cidade não pode ser concebido simplesmente como um direito individual. Ele demanda um esforço coletivo e a formação de direitos políticos coletivos ao redor de solidariedades sociais”(HARVEY, David. A liberdade da cidade)







quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Fogo pagou


O galo canta e o sol se levanta. Lucinha ouve os passos da mãe pela cozinha. Ela se move lentamente na cama. O braço direito ainda lhe dói do dia anterior.

O cheiro forte de café invade a casa. “Onde será que ele está?”, Lucinha se pergunta. A mãe de cabelo desgrenhado não pára, seus movimentos parecem automáticos, difícil imaginar que algum dia ela deixou de ser mãe. A expressão dura na cara revela os sofrimentos colecionados ao longo da vida.

“Vá menina, tome seu café e vá buscar por ele”. Em silêncio, Lucinha aceita sua sina. Mais uma vez subiria a estradinha, olhando atenta às margens. Seria bom se ele estivesse perto, ao menos isso, mas é claro que seria pedir demais.

Hoje a farinha foi pouca, ainda estava com fome quando saiu de casa. As pessoas olham a pequena vizinha com um misto de compaixão e ódio. O bom da figura miserável é que faz o menos pobre se sentir mais afortunado e poderoso. “Lá vai a menina buscar aquele imundo”, diz a dona Tiana ao seu marido.

Lucinha caminha cabisbaixa, sentindo todo o peso do desprezo de que é vítima. “Um dia, tudo vai mudar no dia em que ele se for...queria que esse dia chegasse logo”. Uma rolinha pousa perto, a bichinha tão bonitinha, mas boa de comer. “Virgem Maria! Que foi que pensei?! Deus me perdoa por pensamento tão ruim assim!”

Ouve-se uma gritaria ao longe, só pode ser ele. Zé Loló tenta acalmar o homem que com um facão grita algo indecifrável. Ele mal se mantém de pé, mas ainda tem força para levantar o braço em tom de ameaça. “Lucinha! Ô Lucinha! Venha cá, tire esse infeliz daqui!” A menina nada diz, fica parada em frente ao homem que a ignora. “Tu não tem vergonha, homem? Deixe de conversa fiada e vá se embora”.

O homem resmunga e parece ceder aos pedidos do dono do bar. A perna direita atropela a esquerda e o homem cai sem proteção sob a terra. Indiferente, Lucinha se aproxima do corpo. Ele grita com a pedra e se apóia no frágil corpo da menina para se erguer. “Ô peste! Tu não tá vendo que meu óculos caiu?” Quieta, a menina apanha o objeto.

Os dois caminham com dificuldade. O corpo da menina arqueado sustenta quase os dois. Crianças com uniforme andam na contramão, a escola fica na cidade. Não que ela sonhasse com aquilo, só não queria ser obrigada a sentir aquele cheiro horrível do hálito dele. Aquele odor lhe causava náuseas, e pela manhã, era ainda pior.

Um gemido e de repente o enorme corpo desaba. Da boca, jorra uma água que encharca a camisa. Os olhos já tão sem vida, some com o restinho de alma. A menina olha a cena atônita. Não sabe se fica ou se corre. O coração palpita no peito “Nossa Senhora! Eu matei ele?” “Bora menina! Se avexe, vá buscar tua mãe!”, lhe ordenam. A menina obedece e sai correndo pela estrada de terra.

domingo, 23 de novembro de 2014

Dica de App: Thirty

Quantas metas da lista que você fez no começo do ano você já atingiu?
Como você quer estar daqui a 30 dias? O que você tem feito para isso?

Você precisa conhecer o Thirty. O Thirty é uma rede social criada por brasileiros que vai mudar sua vida (pelo menos tem mudado a minha).

O Thirty te ajuda a definir e alcançar seus objetivos.
Você escolhe quantos desafios quiser (que você pode fazer sozinho ou em grupo) e vai atualizando dia a dia como está sendo, por 30 dias.

Dizem que algo se torna um hábito depois que você o repete por 21 dias seguidos.
Se isso for verdade, o Thirty pode te ajudar a adquirir bons hábitos e a se livrar dos que não te fazem bem. 

Enfim, se você tem Windows Phone você PRECISA baixar o Thirty. Me segue lá: eu sou a @Mila.

Se você tem IOS ou Android torça para essa maravilha chegar logo até você.

PS. Post não Patrocinado

sábado, 22 de novembro de 2014

Fiat Blues!


Acabou a luz!

Podem me chamar de anacrônico, mas eu gosto quando falta a luz.

Quando somos privados, ao menos que por alguns instantes, dos benefícios da vida moderna, a primeiríssima impressão que dá é que quem perdeu a energia fomos nós. Nós, seres acostumados a viver sob a égide do conforto, conectados com o mundo todo, o tempo todo, por um momento perdemos o norte quando nos percebemos impossibilitados de tomar um banho quente, de acessar à internet ou de minimamente nos situarmos em meio à escuridão.

Acender uma vela? - o pragmatismo geralmente começa a funcionar daí – mas acender um objeto tão arcaico e simplório em plena era da tecnologia? - Sim! Você fricciona um simples palito de fósforo em uma superfície rugosa e produz fogo! – Aqui o ser pós-moderno se sente realmente poderoso – como numa epifania, ele se percebe capaz de fazer algo surgir do nada, por uma simples e fascinante reação química, motivada por suas mãos tão acostumadas a resolver as coisas com cliques e apertar de botões.

Não quero aqui negar a evolução tecnológica e escrever linhas nostálgicas sobre a vida franciscana. Não é isso. Mas existem coisas que só percebemos - e valorizamos - diante da privação. Coisas que não deveríamos esquecer, mas coisas que fatalmente esquecemos. 

Se naquela noite não tivesse faltado a luz, eu provavelmente não teria ido - com esposa e filha - visitar nossos vizinhos peruanos do 43. E mesmo que tivéssemos ido, provavelmente nossa conversa seria sobre alguma coisa banal que estivesse passando na TV e jamais teríamos ficado em roda - para aproveitar o melhor que podíamos a fraca luz de um lampião improvisado - vendo fotos antigas e prestando atenção em cada detalhe.

Se naquela noite não tivesse faltado a luz, eu provavelmente teria passado nervoso vendo pela TV meu time empatar mais um jogo contra um adversário medíocre, narrado por um narrador não menos medíocre e transmitido por uma emissora que sonega impostos. Ao invés disso, a luz da vela iluminou minha gaita, que há muito jazia encostada num canto do quarto, esperando por um dia que faltasse luz...

Naquela noite, os vizinhos dormiram ao som do meu blues...

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Acabou.

Não sabia como parar.
Só sabia que estava cansado daquilo tudo.
Da atenção que dava, e da atenção que não recebia.

Em algum momento da história, as pessoas começaram a achar que o "procurar" um pelo outro não era mais importante.

Mas pra ele, mais triste era saber que não procuravam por ele!
Mas procuravam uns pelos outros.
E ele sabia que era assim.

Gritou de todas as maneiras.
Esperou que as pessoas que ele amava percebessem.
Mas muitas vezes essas foram as primeiras a acharem que era tudo "frescura". Coisa de gente que não tinha o quê fazer.

Aquela que ele imaginava que o entenderia, não o procurava mais.
Perdeu-se o contato.
Acabou-se a cumplicidade.
As conversas eram diferentes.

Tornaram-se ríspidas.
Com desdém.
Parecia já não mais importar.

Pra ele, cada detalhe era importante.
Pros outros também!
Nos inícios...

Depois...

Bem... Depois, só a frieza. Só o "não se importar".
Só a indiferença e a conveniência.

Resolveu então escrever uma carta.
Colocou o coração nela!

No fundo, havia a esperança de que pelo menos ela lêsse!

Escreveu, mas caiu em si.
Ela não iria ler.
Eles não iriam ler.

Afinal, por quê razão se preocupariam?

"Ah... Ele mudou. Ficou mais calado. Não é como era antes. Mas deve estar bem!"

Deve.

E daí? Certeza pra quê?
Um dia ele volta.
E se não voltar, que diferença faz?

O mundo tem quase oito bilhões de pessoas.
Tudo na vida é cíclico.
"A catraca anda", dizem.
E é verdade.

Ele, mais do quê ninguém, sabia que isso era a mais pura verdade.

Àquela altura, lembrou-se dos olhares de admiração que um dia pousaram sobre ele.

Hoje, aqueles mesmos olhos o enxergavam como mais um na multidão.
Sem nada a acrescentar.
Apenas para encher.

Não iria continuar.

Um dia, com certeza, iriam sentir falta dele.
Queria porque queria acreditar nisso.
No fundo, pensava:
"Que nada. Hoje sou um zero à esquerda. Não valho pra mais nada."

Preferiu enfrentar a realidade, e cercado, continuar sozinho.
Sozinho em meio à multidão, que falava como ele falava. Que se comunicava como ele se comunicava.

Sim. Era tudo simples demais.
Narcisista, até.
Mas quem se importava?
Naquela atmosfera, ninguém ligava pra ninguém.
Nessa, a dinâmica é a mesma!
Mas... Quem se importa?
Com certeza, não os que ele amava.

Não os que ele amou.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Ditadura Democrática

Em um país bastante peculiar a população certa vez se revoltou contra o governo. Todos queriam mudanças, não se sentiam representados e alegavam que estavam sendo lesados pelos governantes. Não que estivessem errados, mas apesar da forma do discurso ser bastante coerente, o conteúdo de cada um costumava ser bem distinto, dada a desigualdade que imperava no tal país.

Logo surgiu o consenso de que algum governo era necessário em substituição ao atual, afinal viver sem governo seria anarquia e disso para o comunismo seria um pulo. Mas quem escolher? Um filósofo, um matemático, um economista, um engenheiro? Depois de um breve debate optaram por colocar os bancos no poder, mantendo eleições periódicas para decidir qual iria comandar.

A princípio a ideia causou espanto, mas o argumento de que os bancos ganham muito dinheiro até mesmo durante as crises econômicas mais graves foi a prova irrefutável de que eles eram a melhor opção para governar o país, já que só com muita competência seria possível ganhar tanto dinheiro.

De acordo com as últimas notícias que tive do tal país, quem estava no governo era o banco Bradesco, longe de ter pleno apoio. Boa parte da população, quase a metade, aceitou os argumentos dos demais bancos de que o Bradesco cobrava taxas altas, juros abusivos e era tendencioso em suas decisões, favorecendo amigos em detrimento de adversários. Não que fosse mentira, mas os seus defensores juravam que essas práticas eram comuns e recorrentes entre todos os bancos. Os críticos mais extremistas afirmavam categoricamente que a cor vermelha do Bradesco era uma clara referência às tendências comunistas da entidade, mas nem todos acreditavam.

Entre os bancos opositores, a principal força era o banco Itaú. Começava exaltando a identificação local e contra a suposta aproximação rubra do Bradesco com o comunismo, trazia o azul e o amarelo como uma promessa de governo mais competente e benéfico para todos. Olhando de fora eu nunca consegui entender – tão pouco alguém conseguiu me explicar – por que as pessoas que criticavam o atual governo defendiam o Itaú. Suas taxas eram mais altas, o serviço era péssimo e os juros exorbitantes. Sempre que alguém questionava um representante do banco, apresentando os números, esse representante desconversava e saía rápido, com cara de poucos amigos.

Figura emblemática era o Banco do Brasil. Era enorme. Um dos maiores. Talvez o maior. Apesar disso não se interessava muito por chegar ao poder. O que não quer dizer que não se interessava pelo poder. Ninguém governava sem seu apoio e, de uma forma ou de outra, sempre dava um jeito de impor suas vontades.

Essa característica do novo sistema de governo era interessante. Havia alianças através das quais os bancos se uniam. Separadamente o país tinha uma infinidade de bancos. Bamerindus, Nacional, Banespa, Unibanco, Sudameris, HSBC... Nenhum deles tinha expressividade sem se juntar aos grandes. Não chegavam a ser respeitados, mas ninguém dispensava a ajuda que individualmente era pequena, porém muitas vezes era fundamental na hora de aprovar ou rejeitar alguma medida.

Havia ainda o BNDES. O banco financiava grandes projetos, realizava empréstimos, promovia o crescimento e fomentava o desenvolvimento de infraestrutura. Mesmo assim não há muito que falar sobre ele. Nunca chegou ao poder, sempre se recusou a fazer alianças e parece que só existia para por o dedo na ferida de todo o sistema governamental.

Apesar das eleições periódicas, a luta pelo poder estava cada vez mais acirrada, o que tornava a governabilidade cada vez mais instável e difícil. A oposição acreditava que quanto melhor fosse o mandato, mais difícil seria derrotar a situação na próxima eleição, com isso fazia de tudo para emperrar as boas medidas.

A mudança no sistema governamental, que havia entregado o poder aos bancos, foi visto como excelente no princípio, mas já começavam a ganhar força os grupos que defendiam o fim dessa alternância, para que não corressem o risco de uma ditadura, que é a ausência de alternância, mas aquela população não primava pela coerência.

Difícil saber como se desenrolou a situação política do país. Fala-se em ditadura, fala-se em mudanças, fala-se em deixar tudo como está; mas o que chega mais perto de um consenso é que a desigualdade econômica é inegociável. Vai continuar, e ai de quem tentar mexer!

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Por que o transporte coletivo facilita o assédio sexual?

Nós mulheres lutamos muito para conquistarmos nossa independência financeira, para sair de casa e trabalhar, hoje encontramos mais uma barreira no transporte público.  No último século a maioria das mulheres vivia em casa, escondidas entre paredes, no entanto esse quadro mudou e atualmente ocupamos cada vez mais os espaços públicos (para nossa satisfação), porém isso significa que o assédio sexual se expandiu para mais esferas da cidade, que é o caso do transporte coletivo.
O alto número de vítimas de assédio sexual no transporte coletivo deixa claro que esse crime é muito recorrente nas grandes cidades. E as vítimas, cansadas, estão cada vez mais denunciando esses delitos.
O trem, metrô e ônibus lotado, não justificam, mas, facilitam essas práticas aqui no Brasil, há ocorrências que aconteceram em outros lugares do mundo também. Como podemos observar no caso que aconteceu em Nova Deli:
“A estudante Jyoti Singh Pandey, de 23 anos, foi estuprada e espancada com uma barra de ferro em um ônibus que circulava pela capital indiana, em dezembro de 2012.”
E por que esses lugares são cenários para esse tipo de ato? Por que não são seguros?
Enquanto providências de responsabilidade pública não forem tomadas mulheres serão cada vez mais constrangidas e reprimidas no espaço público, por isso deixo aqui a pergunta: Por que a cidade facilita o assédio sexual?
Uma das possíveis respostas está na segurança pública que em nosso país é muito carente, mas também no modo de vida que adotamos nos últimos anos. Concordo muito com Jane Jacobs quando diz que faltam olhos nas cidades contemporâneas dos anos 60, mas também tenho consciência que o que não faltam são olhos nos trens e metrôs lotados e mesmo assim isso acontece. Talvez o que falte seja educação e algo contra essa cultura machista, mas o que falta mesmo é um abrigo e refúgio onde essas mulheres vítimas possam denunciar e buscar por respeito onde não sejam julgadas e ainda mais reprimidas.
Onde estão os olhos que serviam de vigias? Não digo os das câmeras passivos e silenciosos, e sim os dos humanos, vivos, alertas e condolentes.
Termino com dados que me deixaram um pouco surpresa e desconfiada, digam o que acharam! ;)
Salvador teve 346 relatos, seguido de Brasília, com 269. São Paulo e Rio de Janeiro estão logo em seguida, com 250 e 236 denúncias respectivamente.  2012.
Dados da ONU listam os países com maior incidência de estupros em 2010 (os últimos consolidados): EUA (1), com 84.767 casos; África do Sul (2), com algo em torno de 67 mil casos; Índia (3), com 22.172 casos; Reino Unido (4), 15.934; México (5) 14.993.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

É claro que o ovo veio primeiro!

(É como cozinhar. Nunca sei bem o que vai sair. Sal de mais ou sal de menos....sempre acontece! Mesmo colocando fermento o bolo não cresce....Adoro inventar e colocar ingredientes a mais. Acho que só sei fazer salada. Salada de qualquer coisa. Molho não. Tá, mas se é como cozinhar, então onde está o forno? Acho que só sei fazer salada mesmo...tudo muito cru. É mais saudável. Mas geralmente não deixo as folhas de molho...Molho não. As folhas tem agrotóxico, os tomates também. Veneno. Talvez seja melhor não cozinhar nada. É, chega de cozinhar esse texto. Lá vai!)



É claro que o ovo veio primeiro!



Ser. Existir.
- Enquanto houver verbo não há revelação.

Ser “assim”.
- Por mais que se faça essa existência é maior do que qualquer ação, do que qualquer verbo.

“Assim”
- “Assim” define muito mais do que ser, existir. O “assim” é isso mesmo, é o que você entende por assim, mas é muito mais o que não é entendível. Toda a explicação é em vão. Não há o que entender, pois não há certo, nem errado aqui.

Chuva
-Sentir que as coisas todas vem como chuva. Mesmo um casamento, mesmo a construção de um navio, mesmo uma dissertação de pós doutorado: chuva!

- O universo empoeirado -
- A poeira das estrelas  –

Esse vazio tão pleno e que se enche tão completamente e rapidamente  quando chamamos por seu  nome:                                                                      
                                                               MISTÉRIO.

---------------------------- Alguém olha no fundo dos seus olhos e por algum tempo você não pensa em nada. Você diria que por um tempo muito breve--------------------------------------------------------------------


Algo ancestral, que não reivindica trono. Tão ancestral como os sonhos.


-------------------------------Um bichinho pequeno e silencioso escreve em uma folha verde somostodosbons comosomostodosbonscomosomostodosbonscomosomos------------------------------------


Encontra-se. Desperta-se. Acorda-se. Somos “ASSIM”.

Eu sou “Assim”: Água que escorre pelas formas arredondadas de uma caverna. Água do céu cavando embaixo da terra. Água que alaga, encharca e transborda rios. Água no bico do passarinho.


Algo ancestral, que não reivindica trono. Tão ancestral como os sonhos.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Síndrome de plebeia




Menininha de família;
Vários sobrenomes; todos com pedigree.
Dormia todos os dias numa Queen size, cercada de luxos e mordomias.
À noite, quando a levavam para cama, perdia toda a realeza.










quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Aviso de tempestade

Minha avó dizia que o silêncio era uma arma, bem usada poderia causar estrago. E valia para os amores, trabalho e inimigos, no nosso silêncio ninguém sabe o que pensamos e como podem nos atingir.

Nos últimos dias sou obrigada a concordar com minha avó, um silêncio assustador invadiu as redes sociais e fiquei com a impressão de que não sei mais o que está acontecendo no país.

Depois de tantos berros, gritos e discussões pela eleição presidencial, tantos links cheios de verdades e mentiras, tudo acabou. E comecei a ficar tensa. Tive, mesmo que por um segundo, a impressão de que durante a eleição as coisas vinham à tona e isso exigiria mais transparência de quem ganhasse a eleição.

Não é a primeira vez que me vejo como cidadã mergulhada em um silêncio profundo. Tantas  vezes escutei  ''isso não vai ficar assim!''.
Mas fica. Com o fim do processo eleitoral as portas se fecharam novamente e parece que nada mais é dito e ninguém reclama disso.

Acredito que minha avó tinha razão, o silêncio perturba e congela a espinha. E ainda lembro do que dizem os marinheiros, mar silencioso é aviso de tempestade.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Um Cara Chamado João


Um João, ou Jão, como dizem pejorativamente por aí. Quantos Jãos você conhece? 

Sempre conhecemos um e ele nunca é o mocinho da história. Também não é vilão. É um Jão! Secundário que é, não opina, não muda, não soma nem subtrai. Multiplica, talvez, em muitos outros Jãos.

Mas isso é generalizando. Eu conheci um Jão que conseguiu em alguns minutos neutralizar uma nação. Sim, neutralizar. Tornar neutra toda uma nação. Tudo em teoria, eu acho.

Foi em uma canção que Jão escreveu algo que faz qualquer um parar pra pensar, mesmo que por poucos instantes. Ela diz como seria se...

Tá certo que no fim das contas, pra variar, Jão não fez nada além disso. Não mudou a nação, não virou herói. Virou ídolo, talvez, mas não pra todos, afinal, um planeta é formado por gregos e troianos, e por isso não podemos agradar aos dois.

Mas ele fez a parte dele e depois disso, partiu. Partiram com ele. Era Jão, não era?

Não sou muito bom de memória, mas me lembro mais ou menos de algumas coisas que ele disse:

Feche seus olhos e imagine que não existe paraíso, nem inferno, só o céu.
Imagine todas as pessoas vivendo para o hoje, sem se preocupar com amanhã.
Imagine não existir países, nada pelo que matar ou morrer.
Já pensou se não tivesse nenhuma religião também?
Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz, já pensou?

Você deve achar que sou um sonhador, não é?
Mas não sou o único, tenho a esperança de que um dia você também pense assim!
E aí o mundo será como um só.

Continua imaginando, agora não existir posses, luta por terras.
Será que você consegue imaginar isso? Difícil né?
Sem necessidade de ganância ou fome, sabe?
Uma irmandade do Homem!
Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo. Seria bom demais...
Essas são algumas das palavras que o João disse. Será que faz sentido pra você?


*O texto citado acima é uma adaptação livre feita para esse texto, baseada na letra original da música Imagine, escrita por John Lennon.

domingo, 9 de novembro de 2014

Sobre a dança

Sugestão: ler ouvindo "Só sei dançar com você" ou "Dancing with myself" versão Nouvelle Vague



Dois pra lá, dois pra cá... Rebola, sacoleja, mexe o quadril... Atenção: te dou a deixa, prepara o passinho... 


A dança é uma das expressões artísticas mais antigas. Nasceu associada às práticas mágicas, para pedir caça, sol, chuva ou agradecer aos deuses. Há culturas contemporâneas que ainda preservam o caráter religioso da dança. 
Também é um forte elemento de identidade cultural, ora valorizando tradições, ora se reinventando em movimentos muito interessantes.


A dança me faz sonhar, me faz sorrir, me faz feliz.
Esqueço dos problemas do dia-a-dia para me concentrar nos passos. Dançando eu vôo, sorrio, me divirto, suo, boto o corpo em movimento.
Na dança pode rolar ritmo, emoção, energia, papo, concentração, afeto, confidências, olhares, safadeza, pisão no pé, ou pode rolar nada além de um movimento confuso e descoordenado (neste último caso não precisa esperar terminar a música para mudar de par, né, por favor!).


E quando inventamos nossa própria dança? Ah, que delícia fechar os olhos, sentir a música e dançar como se ninguém estivesse vendo! Delícia também é dançar quando realmente ninguém está vendo; dançar sozinha, enquanto faxina a casa, por exemplo.


E você, gosta de dançar? qual seu ritmo preferido? Você já dançou sem música?

                                                               
                                                      "E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."
Nietzsche


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

blogescritocomculpadenadadizerEquemsabe?éotempocorrendoEmeperdoeapressaéqueEutambémsóandoacem.quesabe?

Olá, como vai ?
Eu vou indo e você, tudo bem ?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você ?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe ...
Quanto tempo... pois é...
Quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios
Oh! Não tem de quê
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona ?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo talvez nos vejamos
Quem sabe ?
Quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa, rapidamente
Pra semana
O sinal ...
Eu espero você
Vai abrir...
Por favor, não esqueça,
Adeus...

https://www.youtube.com/watch?v=IEUPH1A7YkM

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Fuga


A água nos potes esquenta ao sol. O corredor da casa ainda sujo, pedaços de objetos roídos, pêlos. O cheiro no ar. O portão entreaberto. Eles se foram.

A fêmea média, amarela, muito medrosa. Esperta, escala coisas quatro vezes maiores que ela. Fica em uma excitação louca ao me ver . Não gosta de colo, carinho só na barriga.
O macho um pouco maior, mas ainda de porte médio, brincalhão, safado, estabanado. Gosta que o peguem no colo. É todo preto, até os olhos bem escuros e brilhantes.

Eles se foram pelo portão entreaberto, no mais absoluto silêncio de uma fuga bem planejada. Uma fuga que se deseja, não deixa pistas.

Anúncios de procura-se já foram espalhados pelo bairro. Ele é o Guno, ela é a Bloga. Eu sei, nomes horríveis para cachorros, mas tenho motivos engraçados, outra história.

Fico imaginando, no vazio do não saber, que ele saiu correndo depois de atravessar as grades que o separavam do mundo, todas as ruas a percorrer, cachorros a cheirar, uma imensidão inteira a ser mijada, a ser impregnada dele mesmo. Ela, eu penso que foi devagar, cautelosa, dando atenção a cada poste, parede, a matinhos revoltosos que nascem no asfalto rachado.

 Depois, a fome deve ter feito eles lembrarem de casa, dos potes cheios da ração marrom, sem graça, mas nutritiva, dos biscoitos de agrado. Mas pensaram em voltar? O que seria um passeio despretensioso mudou a vida; se pensaram, ainda não acharam o caminho. Talvez tenham ido por aí se enchendo de bondades dadas por estranhos que alimentam animaizinhos eremitas; nem lembraram de casa, porque isso é de humanos.

Eu que não me lembrei de passar a chave no portão. Queria mantê-los trancados, protegidos dos carros, da chuva, do frio, da fome, das pessoas que maltratam animais. Mas eles se foram. E sem culpa e nem rancor, eu só queria que voltassem. 



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Bromance.


Eu tenho visto muito essa palavra por aí, e na verdade eu tô aqui começando uma conversa. Uma daquelas de happy hour, quando a gente tá sem assunto, só relaxando, e surge algo na cabeça que nem o Lampadinha do Professor Pardal para mostrar alguma coisa ou o Toasty! do Mortal Kombat II [#Emanuelatestaidade]

Pois bem. Eu tenho visto essa palavrinha com uma certa frequência e tenho pensado sobre o contexto social que ela revela e carrega consigo. Quando, lá no princípio, era o Verbo e os que eu conheço já tinham suas noções pré-concebidas do mundo, era aceitável e compreensível o homem, a mulher e as possíveis inter-relações entre um (e um) e outro (e outro). Mas eram relações mesmo - o rapaz beijou um cara, é gay. Pronto. A moçoila beijou uma moça? Tá chamando atenção. Cortou o cabelo curto? Ihhhh...
Abençoados sejam os novos tempos, eu tenho visto as relações cada vez mais diluídas, mais evanescentes no que concerne ao gênero, à forma e ao efeito. E, novamente abençoados sejam esses dias em que vivemos, as demonstrações de afeto tem se tornado mais intensas, e não menos efusivas. As pessoas se querem. Isso é para mim sintoma de uma solidão de massa, mas não dá para ir muito a fundo aqui. Basta dizer que vivemos num arquipélago de solidões. 
Nesse contexto, o que seria há algum tempo uma manifestação genuína de homossexualidade hoje ganha contornos controversos; ainda assim, contornos que garantem que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Embora a simultaneidade de pensamentos nos permitam viver ao mesmo tempo um retrocesso no conceito de família e um avanço em políticas voltadas aos gays, eu sinto que, cada vez mais, teremos diluições no padrão de masculinidade que equivale à heterossexualidade.  
Mas olha, eu acho que eu já conhecia os bromances há muito tempo. Só não sabia que nome dar a isso. 
Vamos citar alguns aqui. 


O bromance mais adorável de todos os animes que assisti. Cito esse, em especial, porque no anime temos spoilers de uma possível relação mais íntima entre os dois [a cena da Mukuro frustrada de ciúme é impactante!]. Kurama mais de uma vez demonstra tranquilidade no trato com ambos os sexos [Karasu, Karasu...] e o autor, Yoshiriro Togashi, demonstra maestria em colocar essas nuances em um shonen manga. Outras duplas reconhecidas são Hyoga e Shun (Cavaleiros do Zodíaco), Carlos e Oliver (Super Campeões). Não, eu não vou falar do Batman e do Robin... rs.


Robbie Williams e Gary Barlow integravam a boyband Take That. Depois de uma briga muito feia, não quiseram mais falar sobre sua amizade. Tempos depois, sai um clipe maravilhoso e cheio de subentendidos. 



Esse bromance é um clássico! Assim que perceberam a química entre si, foram morar juntos. Confesso que acho um casal cute. O engraçado é que, se buscarmos esse bromance no Google, temos mais informações entre Jensen Ackles e Misha Collins (Castiel).

Existem mais casais desse naipe - os BBB da Globo que os digam. E eu observo como a afeição pode ter muitas cores. Eu não tenho muito como concluir essa história - é como uma mesa de bar, a gente começa um assunto e o outro começa outro e no fim ninguém sabe muito bem o porquê da conversa estar seguindo determinado rumo.

Sob as bênçãos de Eros e Afrodite, me despeço. Até mês que vem.
E desce uma cerveja.