Hoje são tantas as grandes cidades e
tamanha a supremacia do estilo de vida urbano que por vezes esquecemos o quanto
é recente a sociedade vivendo fora do campo. O homem sempre viveu o mais
próximo possível da produção agrícola, as cidades eram pequenos povoados se
comparadas às atuais e serviam principalmente como pontos de comércio, para um
consumo de produtos mais diversificados do que a própria plantação.
Foi com a revolução industrial que o
fluxo migratório se intensificou e com o advento da linha de produção que a
sociedade definitivamente encontrou um rumo aparentemente ideal. As indústrias
precisavam de cada vez mais mão-de-obra e pouco a pouco desenvolviam máquinas
para a lavoura, substituindo o trabalho do homem. As peças pareciam ter se encaixado.
A maior parte da população passa a se concentrar nas cidades, que abrigam
indústrias carentes de trabalhadores, enquanto um mínimo necessário permanece
no campo, onde a produção agrícola aumentou mesmo com menos trabalhadores.
O paradoxo é que a tecnologia não tem
limites e, sendo o lucro a principal meta de uma indústria, a mão-de-obra
humana passou a ser gradualmente substituída por máquinas e computadores. Onde
há pouco tempo grandes galpões reuniam centenas de trabalhadores para executar
uma tarefa mecânica, hoje existe uma única máquina, mais rápida, mais precisa,
mais eficiente, mais lucrativa.
As pessoas substituídas pelas máquinas
não poderiam voltar para o campo. Lá a tecnologia já havia se desenvolvido há
mais tempo. Plantadeiras, colheitadeiras, pesticidas. Para a produção agrícola
em grande escala, quanto menos gente melhor. Na cidade foi mais fácil a
diversificação de serviços, rearranjando a tecnologia e criando novas
necessidades, mesmo sem ter sanado as mais antigas.
Fica cada vez mais gritante um efeito
colateral do desenvolvimento desde a revolução industrial. As cidades, cada vez
mais poluídas, abrigam uma infinidade de subempregos. Ainda que a taxa de
desemprego não esteja alta, existe demanda o suficiente para que pessoas sejam
mal pagas para pendurar uma placa de anúncio de novos apartamentos no pescoço e
ficarem paradas em algum cruzamento movimentado.
No campo, economicamente, está tudo
perfeito. Gastos cada vez menores e lucros cada vez maiores. Para aumenta-los
ainda mais reduzimos as áreas de mata nativa, desenvolvemos transgênicos e se
for preciso o governo ainda subsidia a produção, concentrando fortunas nas mãos
de pouquíssimos latifundiários.
Poucos se arriscam a negar que do ponto
de vista ambiental o desenvolvimento industrial e econômico foram desastrosos.
O aquecimento global, as chuvas irregulares, níveis de poluição alarmantes,
presença de agrotóxicos e metais pesados em lençóis freáticos, etc. Uma
infinidade de fatores que levam alguns cientistas a afirmarem que não há mais
solução e que os recursos naturais estão fadados a acabarem.
Mesmo com o clima do planeta cada vez
mais maluco, há quem insista em priorizar o desenvolvimento econômico. Essa
mesma economia que reúne nas mãos das 80 pessoas mais ricas do mundo o
equivalente a toda renda dos 50% mais pobres (3,5 bilhões de pessoas).
Por mais benevolente que seja o olhar,
só é possível considerar algum sucesso no modelo atual se abstrairmos uma
quantidade estratosférica de fatores. E se as terras fossem minimamente
repartidas, passassem a empregar a massa de mão-de-obra dispensada nas cidades
para uma produção agrícola mais saudável, com menos agrotóxicos e sem transgênicos?
Os problemas do mundo não acabariam, mas
essa medida reduziria a concentração de renda insana citada acima, empregaria
muito mais gente e reduziria o preço dos alimentos ditos “orgânicos”. Diminuiria
o impacto ambiental e seria um passo em direção a um estilo de vida mais
natural – aquele que a humanidade cultivou por milênios, sem ameaça ao planeta
ou de auto extinção. Mas isso já é conversa de comunista. Melhor chamar os
militares para que eles evitem qualquer mudança no modelo atual.
Achei legal você expor o problema e em seguida propor uma solução.
ResponderExcluirÉ importante este tipo de reflexão, que raramente temos, absorvidos nos afazeres do dia-a-dia e nas questões levantadas pela grande mídia, que, não por acaso, ignora tais questões. Sempre que penso na quantidade de veneno e hormônios que ingerimos todos os dias (meio que inconscientemente) me dá um certo desespero... Sempre que penso na exploração trabalhista e subempregados, pessoas trabalhando em regime escravista e degradação ambiental, fico deprimida... E claro que bate aquele sentimento de impotência.
Sem falar na redução de jornada, pq daí eu teria que ir pra Cuba (o que não seria nada mal, aliás!)
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