O casal sentado à mesa do restaurante, ambos olhando o cardápio. Ele relaxado por natureza, ela naturalmente ansiosa.
– Lelê, parece que o polvo grelhado com risoto de
brócolis daqui é imperdível.
– Polvo? Não como polvo, Mário Sérgio. Me recuso a comer um bicho mais inteligente do que eu.
– Bom, Lelê.. por essa lógica, metade do pessoal lá
do escritório não poderia comer carne de vaca. Acho que nem de galinha,
só folha mesmo.
– Olha que tem umas samambaias bem inteligentes.
– Hmmm, escuta só, Lelê: “camarão graúdo em molho de tomate com manjericão guarnecido de arroz de olivas negras”.
– Camarão, Mário Sérgio? Você já esqueceu daquele
jantar na casa da sua tia? Minha garganta fechando, a pele coçando. Você
estava muito bêbado, Mário Sérgio.
- Bom, que tal uma massa então? “Fetuccine ao funghi”. Não tem frutos do mar, só creme de leite, funghi e tempero especial.
- Tempero especial? Como assim, tempero especial? O que tem de tão especial assim nesse tempero, Mário Sérgio?
– Devem ser ervas finas, relaxa.
- Ervas finas? Sei. Tipo ervas que não falam palavrão. Então deveria estar escrito aqui “Fetuccine-ao-funghi-com- molho-de-ervas-finas-que-não- falam-palavrão”.
Olha aqui, Mário Sérgio! Eles descrevem todos os pratos. Gergelim
torrado. Amêndoas na
manteiga. Purê de maçã. Batatas coradas.
- Mas então... - ele tenta interrompê-la, sem sucesso.
- Arroz de castanha. Cebolas caramelizadas. Creme de espinafre. Por que não descrevem o tal do tempero especial? Que espécie de tempero é esse? Já pensei numas três coisas nojentas que podem ser especiais
nesse tempero, Mário Sérgio. Se tem uma coisa que eu de-tes-to na minha comida é
mistério. Mistério não funciona em nada que a gente
precise engolir. Quero ver você tomar um remédio para gripe com paracetamol, vitamina c e "substância especial". Quero só ver.
– E a graça da vida, Lelê? (cantando) “Dois hambúrgueres, alface, queijo, mo-lho es-pe-ci-al!”
Lelê fecha o cardápio.
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