segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Enquanto escrevo e o sol brilha na janela:
leopardos caçam, 
carros correm de um lado a outro
pessoas choram pelas mais diversas razões
se desesperam 
Outras sorriem
outras se enfadam com a segunda-feira

Muitas se arrependem de erros
Muitos se desesperam e olham os espelhos e ali: fisgados
estrelas queimam elementos

tanques e canhões pintam o céu com pólvora e um zunido 
Enquanto escrevo, permaneço, 
Em minha permanência esqueço
Esqueço das presenças que fui
Permaneço no esquecimento 
Do que fui e não sou mais e me vejo como uma sucessão 
Meço o tempo e vejo que a presença é a ausência

E sendo ausência quem pode dizer que fui

Uma vida, uma sucessão de acontecimentos. 

Enquanto escrevo, a janela brilha no sol
Meu irmão ri, 
a floresta tomba, mães choram, pessoas se matam. 
E tudo isso é mistério, passado, futuro e presente de alguém

E eu não estou lá. Eu não sei o que é estar lá.
Estar lá e ser esse alguém que mata e que morre. Posso ser esse alguém amanhã
Posso também não ser. posso ser outra coisa


E essa outra coisa não está aqui agora, pode nunca estar
Mas ao não estar, ao ser ausência e ser como a voz oculta de uma presença o que pode se dizer q exista?

Quem pode dizer que de fato existe?

domingo, 29 de novembro de 2015

nota

Por acaso alguém já pensou em atribuir nota para os serviços prestados pelo Estado/Empresas? Não? Eu já. Principalmente em vários equipamentos públicos e instituições privadas que em determinado momento precisei acessar e fiquei ainda mais frustrada ou por incrível que pareça esperançosa.

E considerando o movimento maravilhoso, espetacular, estupendo e incrível de ocupações das escolas públicas por estudantes (principais protagonistas) com apoio e suporte de pais, professores, comunidades, movimentos sociais, coletivos etc, considero oportuno atribuir uma nota.

O que acham?
Será que as instituições aceitariam ou considerariam?

Resposta prévia: sem dúvida alguma, sem alternativas de certo ou errado tenho certeza absoluta que não!

A suposta democracia embora diga o quão é importante a participação social pouco ou nada liga ou se importa com a opinião pública, exceto quanto se trata de votos e consequentemente do interesse de pouquíssimos seres humanos.

Prova disso, é que para o governador do estado de São Paulo pedir reintegração de posse de escolas públicas é completamente normal. Afinal se trata de vagabundos que não tem o que fazer e que estão promovendo a desordem.

Também se torna normal, banalizar, prejudicar e criminalizar o movimento de ocupação das escolas pelos estudantes através da criação do suposto e falso movimento de: “devolva minha escola” (e oi?!!). Antemão pergunto que merda é essa?

Quem está "roubando"a escola dos alunos é o governo e não o contrário. 

Portanto, o movimento de ocupação das escolas públicas é legítimo por mil e uma razões e principalmente por que cuida melhor da escola do que ele (governador do Estado de SP) em 20 anos de governo.

O pior é saber que informação assim para gente como o governador e mídia que o apoia de modo irrestrito se transforma em justificativa a favor pois poderá dizer: ah se a sociedade civil cuida melhor, então que tal privatizar ou terceirizar através de OS (Organização Social)?

Então que tal atribuirmos nota para o ensino de São Paulo durante os 20 anos, tendo em vista que a avaliação para certificar-se de que os alunos aprenderam ou não algo é somente através de nota. Também atribuir nota antes que desvirtuem o movimento de ocupações pelos estudantes pois parece a nova indicação para o momento.

Que tal os (ex) alunos, professores, pais e comunidades darem notas para a educação de cada estado? Mas assim, sem esculacho hein, nada de zero, o negócio é de 1 a 10 ou de A a E conforme estipulado para os alunos seja qual for a época.

Sei que parece besteira, mas se pensar que nunca jamais em ocasião alguma a sua opinião vale, irá perceber que isso é importante. Principalmente no que refere a política pública e instituições sejam elas públicas ou privadas a sua opinião deveria valer e ser importantíssima.

Na ausência, da opinião valer ou significar algo, ficamos assim reivindicando mais do mesmo.

E seria loucura demais, imaginar que um dia esse movimento será para reivindicar uma escola de fato, democrática e pautada na educação? E não para manter o que já temos?

Será que nossa mente ainda é fértil para desenhar a escola que queremos?

Ou estamos tão institucionalizados e transformados em coisas que não conseguimos sequer essa possibilidade para um futuro bem distante?

Sinceramente: não sei. Mas acredito.

Principalmente neles que gritam pendurados em portões, grades, formados em rodas (odeio essa formação de uma cadeira atrás da outra), nessa gente nova que arrisca tudo para que o amanhã seja melhor.


E por eles e elas, desenho na mente e no coração numa luta diária e infindável a escola que eu imagino/sonho para meu filho (a), sobrinhos (as), priminhos (as)  e amiguinhos (as) que encontro às vezes por aí e diz: “olha tia o desenho que eu fiz”?! :>)

sábado, 28 de novembro de 2015

Não vão vencer

Marga coçou os olhos. Do terraço do centro cultural dava para ver uma parte grande da avenida. Não era alto o suficiente para enxergar a cidade inteira, mas era o suficiente para colocar os pensamentos em ordem. O vento bateu no rosto, empurrando as lágrimas e os cabelos ruivos. O dorso da mão rosada passava pelas bochechas cheias de sardas que compunham o rosto redondo.
Um casal passou de mãos dadas.
- Olha que vista bonita! Não sabia que dava pra subir aqui!
- É! Pouca gente sabe!
- Vem cá, vamos tirar uma foto!
Depois de observar a felicidade alheia, desviou os olhos do casal. Não estava afim de chamar a atenção com os olhos inchados. Ajeitou a gola da jaqueta jeans e tirou o cabelo do pescoço, ficou olhando as pontas.

“Red hair is great. It's rare, and therefore superior.”

Deu um sorriso bobo com a lembrança.
O que seria uma lembrança?

...

“O meio no qual você cresceu sempre foi hostil, violento...”

...

“Não é à toa que você é tão retraída, fechada no seu próprio mundo..”

- Meu próprio mundo – murmurou.

...

 “Me fale de quando você foi estuprada..”

...

“Essa violência era recorrente?”

...

“Alguém te ajudou?”

...

“É comum distorcerem o que você fala?”

...

“Quantas vezes você já pensou em se matar?”

- Todos os dias – sussurrou olhando para os pés e a vista depois da grade – todos os dias...

...

- E por que você não foi até o fim? – perguntou o terapeuta.
A sala era iluminada por uma janela. Uma cortina branca deixava luz difusa. Marga olhou de lado. O rosto mais magro. Curativos nos pulsos. Um cigarro na mão direita e as unhas roídas. Tragou o cigarro.
- Por que você está aqui, Margarida?
- Você não sabe? Sou fracassada. – Fala o que eles querem ouvir.
- Você é?
- Bom, é isso o que falam, então devo ser. – Não deixa eles saberem.
- E o que mais falam?
Falam que eu deveria ter sido abortada..
- Você sabe... – A voz saiu fraca. Merda. Não era pra sair fraca. Continue forte.
- Não, não sei, Margarida.

Filho da puta.

- Não gosto. Não desse nome. – Isso, boa. Continua desviando o assunto.
- Como você quer que te chame?
-... Marga. M-A-R-G-A. Não Amarga.
- Quem te chama assim?

Minha mãe.

- Todo mundo.
- E todo mundo fala o que?

Merda. Cigarro. Cadê o cigarro? A mão tá tremendo. Desiste do cigarro. Foca na respiração. Fala como se não fosse nada importante.

- Falam que.. que quem está perto de mim não está por opção. 
- E.. você acha isto?
- Bem, eu.. acho que.. – para de embargar, voz maldita.. olha pro lado – eu acho que mesmo que eu seja digna de ser amada, ninguém vai fazer isso. Ninguém realmente nunca ficou, sabe? Então talvez eles tenham razão.. mas.. mas mesmo que isso seja verdade.. algum dia.. algum lugar.. – não chora.. não.. ch.. merda.
- O que você quer, Marga?

Ah, foda-se.. já tá chorando mesmo..

- Encontrar um lugar pra voltar. Onde eu não seja um desperdício de espaço. Mesmo que seja eu sozinha. É por isso que eu tento me matar e sempre paro no meio do caminho, ou sempre acabo voltando pra um de vocês.. porque eu tenho que ser maior que essa bosta toda, porque eu sei que vai ter algum lugar melhor. Nem que eu tenha que fazer. Não vou deixar que eles vençam. Não vou.

...

A risada do casal tirando fotos parou com a chuva começando.
- Ai, meu cabelo!!
- Vamos voltar pra dentro!

Marga olhou para cima, algumas gotas ainda leves caindo no rosto. Fechou os olhos e respirou fundo.
- Eles não vão vencer. Não vão.


Não. Não vão.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Bichos escrotos


Em SP existe em média 15 ratos por habitantes
O fim vai ser quando eles tomarem consciência disto...


“Bichos!
Saiam dos lixos
Baratas!
Me deixem ver suas patas
Ratos!
Entrem nos sapatos
Do cidadão ci-vi-li-za-do”, era o que se podia ouvir ao fundo, baixo, porém nítido. Mais uma manhã ruidosa de segunda-feira.  Cabeças, pernas, braços, pés, olhos, barriga, boca transitavam pelos corredores. Eles faziam barulho, mas não se entendiam. Todo dia era a mesma coisa, seguiam o apito geral, ainda que com resistência, e entravam no quadrado. Para cada batalhão, soldados a vigiar e prontos para agir contra qualquer vazamento.

Sem querer, os pés trombaram as pernas. Muitas coisas importantes acontecem sem querer. Assim, pés e pernas descobriram que os seus movimentos eram mais ágeis juntos. Com mais agilidade também ganharam velocidade e, assim, foram esbarrando em várias partes espalhadas por aí.

As partes resultaram em corpos. Estavam juntos, mas ainda havia desconfianças e medo. Aquilo tudo era muito novo e o novo assusta na mesma medida que entusiasma. Mas a mudança já estava feita, era irreversível. Um novo campo de visão se abriu, agora eles compreendiam que estavam em um quadrado. ¿Quién dijo alguna vez: hasta aquí el hombre, hasta aquí no?”, sussurrou o poeta argentino. Conscientes dos limites arbitrários, os corpos atravessaram toda e qualquer aresta e desde então não páram de caminhar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Então é Natal....

Porque agora as decorações de Natal começam tão cedo?

PAREM JÁ COM ISSO!
Como posso cumprir minha promessa de ano novo de emagrecer 20 kilos comendo Panetone desde Outubro?

Que os Natais voltem para Dezembro em 2016!!

domingo, 22 de novembro de 2015

50

Hoje é domingo e esta é minha quinquagésima postagem aqui no Blog das 30 Pessoas. Tudo seria normal e esta seria só mais uma postagem se ontem eu não tivesse recebido um singelo bilhete que sorrateiramente escorregou por debaixo de minha porta. O emissário fora realmente bem rápido porque, ao abrir a porta, não consegui ver mais do que um vulto de alguém que aparentava estar vestindo um turbante na cabeça. Fechei a porta e abri o bilhete: "50 posts! Venha comemorar esta marca com os outros vinte e nove, na suntuosa casa de confraternizações aleatórias, localizada no número tal, da rua Tal. É hoje. Na noite deste sábado! Venha à caráter".

Respirei fundo. Não estava acostumado com tanta badalação. Tive a ideia de abrir a página do Blog pra ver se encontrava mais alguma coisa. Aparentemente tudo normal. A página que abriu era a de Márcio Luís, o simpático radialista de Caçapava, que costumeiramente me antecede no Blog. O título não podia ser mais perfeito para a ocasião "As pessoas mudam...". Sim! E como eu mudei nestes 50 meses! Achei que tinha mesmo era que comemorar. Na hora indicada no bilhete, estava eu, de bermuda e chinelo, em frente ao suntuoso salão.

Na entrada, ainda do lado de fora, fui recebido por um homem de turbante na cabeça (seria o mesmo que entregara o bilhete nesta manhã?) e que estava bebericando um café filosófico.

- Seja bem vindo!
- Uau! Quem é você?
- Pode me chamar de "O idealizador". 

A curiosa figura me deu passagem e adentrei o salão. Quanta gente!

Na primeira rodinha havia um rapaz que parecia um pouco pilhado com alguma coisa. Mostrava um livro de Rubem Fonseca para uma moça com a camisa da Caldense e um delicioso pastel da Pastelucho nas mãos!

- Uau! Aqui servem pastel da Pastelucho? - puxei assunto.
- Sim, camarada! É só chegar!
- Massa!
- E recheio!

Fiquei um pouco atordoado com a piada e me afastei. Ao voltar meu olhar para a porta, pude observar que algumas pessoas acabavam de chegar. O primeiro deles carregava uma pilha de livros infantis debaixo do braço e parecia ter a fluidez de Stephen King ao andar. O segundo, parecia não saber exatamente onde chegar, por isso aproveitava tanto o caminho. O terceiro compartilhava sua alegria com uma princesinha punk que carregava no colo. Por fim, o último entre os recém chegados carregava uma taça de vinho amargo como a vida e tinha o olhar de quem sabia se virar nos trinta.

A festa estava realmente muito animada!

Continuei passeando pelo salão. Todos queriam minha atenção, naturalmente, mas na festa de ontem eu não queria me fixar em grupo nenhum. 

No próximo grupo tinha um rapaz de quase dois metros de bom humor. Sorria como se não houvesse amanhã enquanto conversava com um jovem japonês. Vindo em direção à dupla, uma perfeita cabeça de vento chegava e espalhou os textos que o japonês havia tirado da gaveta.

Mais adiante uma moça e uma gata. Estava lendo o horóscopo (refiro-me à moça). Nada fazia sentido, mas ela lia mesmo assim.

Depois de beber uns sucos de groselha, entabulei conversa com uma moça que aparentemente sabia falar sobre tudo: sobre o tempo, sobre a chuva, sobre o tédio, sobre o ódio aos nordestinos e até sobre você! 

- O que você gosta de vestir? 
- Sobretudo.
- Que refeição mais gosta?
- Sobremesa.
- O que você faz quanto tem medo?
- Sobressalto.

Cansei daquela conversa sobremaneira.

- Antes de me despedir, dei-lhe um pedaço de minha queijadinha. Ela me deu um tapa na cara.

Que gente maluca! Isso não vou me esquecer nem daqui a trilhões de trilhões de anos!

Olho pro lado e vejo uma moça bem engraçada (outra!). Ela fazia umas danças esquisitas e de vez em quando recitava uma passagem de Platão. Fui lá dançar com ela. A coreografia era demais! De repente todo o salão parou e ficou olhando pra gente morrendo de vontade de dançar também! Subitamente, no melhor da apresentação, a moça escafedeu-se. Em seu lugar, simplesmente um bilhete: "Há vagas!"

Essa festa estava tomando um rumo muito esquisito. Parei na próxima rodinha. 

Um rapaz barbudo montava Lego compenetradamente. Para que cada construção ficasse perfeita, ele fazia rascunhos que pareciam vivos. Nem parecia se importar para o mundo ao seu redor. Uma moça que passava, viu aquilo e fez questão de comentar:

- Tenho síndrome disso!
- De que exatamente? - perguntei.

Nem tive tempo de responder. Um homem atravessou o salão correndo e quase me atropelou. Espero que ele tenha bom fim!

Continuei andando, conhecendo pessoas e ouvindo conversas. Passei por uma moça de olhar sereno e que amontoava simulacros. Passei por outra que contava moedas para pagar imposto por cada rima tosca que fazia. Uma terceira que andava acompanhada por uma pulga atrás da orelha.

Tinha de tudo nessa festa. Até música ruim. Naquele momento eu escutei a famosa canção natalina "... Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel..."

- Todo mundo uma ova! Eu sou a legítima filha do Papai Noel! - me confidenciou uma moça ao meu lado.

Eu não entendi o código e continuei circulando. Já estava no terceiro suco de cajamanga quando avistei num canto do salão, com um jeito meio sociofóbico, um cara cabeludo assistindo a um filme.

- O que é isso, companheiro? Não se mistura com a sociedade?
- Eu vejo a sociedade nas telas! - respondeu misterioso.

Depois dessa, não insisti.

Passei por um simpático bailarino aventureiro, por uma moça comendo brigadeiro num teletransportador, até que vi uma curiosa cena: um rapaz, de camisa alvinegra, narrando toda a festa e transmitindo ao vivo pela rádio! A coisa estava bombando mesmo!

Resolvi sentar um pouco para recobrar as energias. Vi um sujeito cheio de predicados dançando forró com uma moça que estava cronicamente insatisfeita com cada piada infame que ele fazia.

- Eu gosto é de gostar! - confessou uma que viu a cena.
- Parece um bando de loucos - disse uma outra.

Tive que levantar do sofá. Uma arquiteta, cheia de papeis com desenhos nas mãos queria tirar uma soneca lá. Uma psicóloga olhava atentamente para o chão, como que buscando algo.

- O que procuras? - perguntei.
- Uma razão de ser.

Isso já estava ficando pesado demais. 

- Som na caixa, DJ! - implorei.

E o DJ Jeff não deixou a galera parar de dançar!













sábado, 21 de novembro de 2015

As pessoas mudam...

Sempre fui do tipo que gosta de exaltar as pessoas, ou melhor, exaltar nas pessoas aquilo que nelas me chama a atenção.
Elogio sempre, claro, com todo o respeito devido! 

Aqui neste blog, me tornei um verdadeiro fã de pessoas que escreveram (e alguns e algumas que ainda escrevem) sobre tudo um pouco.
Nunca escondi que sou um eterno apaixonado pelo cotidiano.

Acontece que, tempos atrás, fui elogiar uma moça, que escrevia aqui, tempos atrás (conferi na lista de blogueiros para ver se era daqui mesmo que a conhecia) no Twitter!
Nada demais! Elogiei, mais ou menos assim: "Sou fã do seu trabalho! Continue assim, linda e inteligente", algo nessas palavras.

O quê recebi de volta, em rede nacional, foi um ESPORRO, meu amigo, dizendo que não era pra eu escrever aquilo, pois não a conhecia, e eu não tinha o direito de elogiá-la.

Estranhei! 

Em outras oportunidades, ela havia sido super simpática comigo, tanto aqui no blog, como depois pelo Twitter mesmo!

Tava aqui pensando comigo: "Por quê as pessoas mudam tanto assim?!"

Obviamente sei que todos mudamos. 
Mas é raro de ver pessoas que eram educadas, se tornarem o contrário depois.
Pedi desculpas na hora em que vi o tweet me detonando. Claro, publicamente também, dizendo que minha intenção nunca foi a de ofendê-la. 

Acho que joguei mais lenha na fogueira. Ela continuou me arrebentando, e mandou que eu parasse.
Pedi desculpas uma vez mais, e prometi que não aconteceria nunca mais.

E não aconteceu mesmo.
Deixei de seguí-la (no Twitter, deixando bem claro) naquele dia.

Fiquei chateado. Era alguém que eu admirava bastante. Que já havia trocado altas ideias comigo, mas que naquela ocasião, foi grossa e nem entendi o por quê. Parecia também que nunca havia falado comigo antes.

Não sei se é porque hoje ela trabalha numa empresa de renome mundial ou o quê.
Só sei que, deste que vos escreve, ela não verá nada mais publicado.
Até porque ela escolheu assim. E eu, só pude acatar a decisão.

Quis compartilhar isso com vocês.

Se forem mudar, por favor, que sejam pessoas melhores.
Prometo que se eu for mudar, farei o possível para conservar pelo menos a minha educação.

Abraço.
Até o mês que vem.


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Do gaslighting à sororidade

Se por um lado as redes sociais escancararam opiniões retrógradas de pessoas que insistem no autoritarismo e intolerância para expressarem posições políticas, por outro alguns grupos tradicionalmente alvos de preconceitos passaram a se unir, trocar experiências e, com toda a razão, não tolerar comportamentos considerados naturais até pouco tempo atrás.

O movimento feminista é um dos que utilizam as redes sociais com muita competência. De repente a culpabilização das vítimas de diversas formas de assédio e agressões começou a, finalmente, ser rechaçada; não por ser uma insanidade em si, mas graças à união de mulheres que passaram a reivindicar o que deveria ser óbvio: direitos iguais.

Ainda falta muita coisa para que os direitos mais elementares das mulheres sejam igualados aos dos homens, desde o direito a receber a mesma remuneração pelo mesmo trabalho até nuances do comportamento machista, tão enraizado e assimilado em nossa sociedade. Mas aos poucos o movimento feminista vem crescendo e ampliando sua abrangência.

O contato que tenho com amigas e grupos feministas tem me ensinado muitas coisas. A primeira é exatamente essa, ou seja, o contato que tenho com o feminismo serve para que eu aprenda, não para que tenha a pretensão de ensinar. É um movimento autônomo e por mais que os homens tentem entender, certas agressões só são plenamente compreendidas por quem as sofre.

Um termo ainda pouco conhecido, mas indispensável: Gaslighting. O debate sobre agressões físicas está um pouco mais avançado e, mesmo que muitas mulheres ainda sejam agredidas, parece um pouco mais fácil de argumentar que nenhuma agressão tem justificativa ou defesa. Porém nem toda dominação se dá por meio da força física e é aqui que entra o conceito de gaslighting, uma espécie de dominação psicológica, que não existe somente na relação entre homens e mulheres, mas historicamente é bastante usada por machistas.

Através do gaslighting a vítima tem sua autoestima atacada constantemente, até que se sinta frágil, indefesa e dependente de seu agressor, que pode não agir de forma consciente, com a intenção premeditada de criar uma relação de dependência, mas com a ideia de superioridade tão assimilada e a facilidade que algumas pessoas têm de manipular fatos e sentimentos, o gaslighting pode ter consequências até mais graves que uma agressão física.

Um outro termo recente, ainda não dicionarizado, é sororidade. Não por acaso, na sociedade machista as mulheres muitas vezes são colocadas como inimigas entre si. Ela roubou meu marido, ela usa roupas provocantes, ela não se valoriza, etc. Enquanto os homens passam praticamente despercebidos, muitas vezes até vitimizados.

A ideia de sororidade propõe uma união entre as mulheres para combater uma opressão que é comum a todas. Claro que lidar com uma traição é sempre difícil, acaba ficando de certa forma confortante acreditar que o companheiro, com quem ela fazia planos para uma vida conjunta, foi na verdade seduzido, mantendo assim uma dose de inocência. Em uma situação assim a sororidade evidencia uma postura racional: o mínimo que se espera de alguém com quem planejamos nossa vida é respeito e consideração.

Acreditar que o pobre homem foi apenas seduzido e não conseguiu segurar seus instintos é corroborar com o machismo tanto quanto aqueles que questionam a culpa da vítima em um estupro, ou que dizem que lugar da mulher é na cozinha, ou que aproveitam uma condução cheia para passar se esfregando desnecessariamente nas mulheres, ou tantos outros “ous” que poderiam ser citados.

É difícil romper com um padrão de comportamento tão enraizado na sociedade. Nossas bases são machistas, todas as grandes religiões, a cultura, a filosofia, etc. e isso fica bastante claro pela própria necessidade de um texto como este. Nada disso teria sido escrito por mim há dez anos atrás, porém tudo isso já era óbvio há dez anos atrás. A resistência ao feminismo é grande, mas parece não haver outra saída senão a militância, a compreensão e a união.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Desabafo

Eu que sempre tive o amor como tema preferido de meus textos, me deparo cada vez mais com a ausência da vontade de escrever. É fato que meus relacionamentos amorosos (reais ou platônicos) sempre foram alimento para que minhas palavras fluíssem entre as teclas, e a ausência cada vez maior das minhas postagens denuncia claramente que o amor tem andado distante. E se eu parar de olhar apenas para meu interior e procurar escrever sobre outras coisas que não eu mesmo e minha rotina amorosa, não fica mais fácil. Não pra uma pessoa que é fascinada por esse sentimento que tem se mostrado cada vez mais ausente do mundo.
Tenho andado triste e chorado fácil. Tenho me doído com as tragédias e sofrimentos alheios mais do que sempre. Me dói imaginar as mortes na frança, me dói ver que crianças sentem fome e me dói ver a situação política do Brasil e do mundo. Me dói porque parece que cada vez mais o amor se esvai de todo lugar. O que leva as pessoas a achar que isso vai de fato dar algum retorno futuro? Quem é realmente feliz dessa forma?
Preciso encontrar algum lugar em que esse sentimento ainda reine, alguém que ainda acredite. Preciso que as palavras continuem a fluir e que, de alguma forma, as coisas possam melhorar. Até lá, talvez meus textos piorem e meu ânimo diminua, mas eu volto a ser como antes, nem que seja sozinho.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Vida à Amor

Mudança, recomeços, mudanças e finais...
Dói como uma vacina, mas que deixa proteção.
Ora dói como a morte, que traz saudade, mas que também traz vida após vida.

Não pertenço mais ao lugar e o lugar está fora de mim.
Mas tudo o que cativa me pertence e assim continuará dentro de mim,
vivendo e movendo.

Hora de partir.
As histórias e as paisagens do caminho também me pertencem,
como o porta malas cheio e o coração apertado,
me pertencem como o destino mas não mais como o presente pertence.
Presente ponto de partida com o tanque cheio.

O hoje sempre chega com as bagagens,
trazê-las de ontem requer sabedoria pra saber carregá-las,
mas pra leva-las pro amanhã precisamos apenas da esperança viva.
Viva na forma mais simples,
porém a mais forte...

O combustível do tanque cheio.





sábado, 14 de novembro de 2015

Perdido em Marte


Estava pensando outro dia
No que Mark Watney faria
Se ficasse com o meu computador
Qual seria a pior parte
As minhas músicas em Marte?
O horror! O horror!

Aqui só tem música ruim
Quem é essa tal de Cheryl Lynn?
Pergunta o bravo astronauta
Se eu soubesse disso antes
Trazia tudo do Guilherme Arantes
E a coletânea da banda Malta

Qualquer coisa quebrava o galho
Até meu robô acorda com Beth Carvalho
“Ô coisinha tão bonitinha do pai”
Essa mulher só ouve discoteca?
Não tem outra biblioteca?
E eu aqui sem Spotify

Não aguento tanto Abba
Esse disco inferno não acaba?
Sente só o meu desespero
Já sujei a minha fralda
Já rezei para Santa Esmeralda
Já sonhei com o Tony Manero

Houston, nós temos um problema
Dá o seu jeito, muda o esquema
Só me manda outro arquivo
Empurro o Rover, durmo ao relento
Qualquer coisa eu aguento
Mas com Gloria Gaynor, não sobrevivo

Alô, você aí da Nasa
Eu quero voltar pra casa!
Pra mim já deu dessa odisséia
Tá achando que é cascata?
Ora, vá plantar batata!
(o que não é uma má idéia)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Um dia a mais. Um dia a menos.

Um dia a mais.
Um dia a menos.

Essa tem sido a minha matemática com o tempo.
Quando me convém, subtraio. Quando não, adiciono.

É provável que muitos façam o mesmo.

O raciocínio é simples: Segunda-feira com feriado: um dia a +. Mais para ficar em casa, mais para descansar, mais para dormir, mais para o Netflix.
Fim do expediente na Segunda: um dia a - para o fim de semana.

Devido ao trabalho, rotina, ou todos os demais ciclos da vida, acabamos por dividir o tempo em partes; os velhos e conhecidos fins e recomeços. 
Como diria Drumonnd:
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, [...] foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.(...)”

Há algum tempo, devido ao meu trabalho, tenho separado minhas porções de tempo em 4 semanas. 
Esses amontoados de 28 dias oram passam voando e ora se arrastam para passar.
Durante esse “quase” um mês, o mais incessante mantra, dentro da minha cabeça, foi:

Um dia a menos. Um dia a menos. Um dia a menos. Um dia a menos.

E foi.

Tirando de um em um, acabou-se. Fechou a conta. Se reduziu a zero. Hoje, sexta feira, com o lindo “um dia a mais” - Sábado.

Sexta feira 13 é realmente um lindo dia de sorte.

Brindemos os “um dia a menos” dos ciclos ruins e brindemos ainda mais os “um dia a mais” das boas fases da vida.

Vai uma cerveja aí?

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Se você trocar um sonho por um homem, tua vida acaba (acorda mulherada!)

Se Deus aparecesse agora na minha frente e me perguntasse qual foi a coisa que mais me atrapalhou a vida até agora, só tenho uma resposta: a falta de egoísmo.

Segui ao pé da letra a regra dada, nunca fui egoísta, sempre pensei nos outros, porque era isso que se esperava de uma mocinha católica em uma sociedade machista, minhas vontades nunca foram consideradas, até porque eu ignorava elas.

Depois de tudo que passei comecei a me lixar e fazer as coisas do meu jeito, mas ainda estou longe de ser uma pessoa que só pensa em si e tem um caráter egoísta. Tento pelo menos manter a mão firme na idéia, para evitar que passem em cima de mim como passaram a vida inteira.

E quando vejo alguém cair em uns erros parecidos tenho vontade de bater a cabeça da pessoa na mesa. 
Uma amiga vai se casar este ano, no momento caminha nas nuvens e Romeu é um X-tudão. Mas conversando com ela perguntei se já tinha resolvido aquele antigo problema entre os dois, ela morre de vontade de ter filhos, sonha até com os nomes e Romeu é divorciado, pai de dois meninos, já fez vasectomia e disse que a única maneira de reverter isso seria na próxima vida.

Minha amiga garantiu que ''tudo bem'', ela entende o lado dele. Mas eu quase berrei na mesa, de tão indignada, e o lado dela, ele entende?

Tem coisas na vida que a nossa única resposta deve ser: FODA-SE VOCÊ!

É absurdo a mulher ceder em uma coisa dessas tão grande. E já tenho dito, pior do que obrigar um homem a ser pai é impedir uma mulher de ser mãe, caso seja a vontade dela.

Resolvi contar duas histórias de terror para ela, da geração da minha mãe e uma da minha.

Uma amiga da minha mãe se apaixonou por um divorciado com dois filhos. Ela morria de vontade de ter filhos, ele não, mas ele a convenceu de que talvez não seria boa mãe, porque gostava demais de viajar e finalmente poderia considerar os filhos dele também seus filhos. Isso funcionou uns anos, mas um dia em uma fatalidade os dois filhos dele morreram em um desastre de avião. Ela já tinha passado da idade e não podia ter filhos e ele ficou sem os filhos do primeiro casamento.
Continuam casados, mas é claro que isso causou uma ruptura nos dois, ela escutou ele e mudou sua vida, ele preso o egoísmo perdeu tudo.

Muitas mulheres passam em cima do que querem, apenas para agradar alguém que nem sabe se vale a pena.

Outra amiga da minha mãe se apaixonou por um homem casado e acabou engravidando. Ele pediu que ela fizesse um aborto, porque ia se divorciar da mulher e achava que seria demais para ela o marido ir embora com uma amante grávida. E lá foi a trouxa fazer o aborto. Eles ficaram juntos mais uns anos, mas ele não se separava. Ela acabou engravidando novamente, ele jurou que dessa vez ia largar a mulher, comprou um apartamento, mas acabou recuando e dizendo que não estava pronto para ser pai, pediu que ela abortasse e desse um tempo para ele trabalhar a ideia. Ela deu mais uns anos, ele pensou melhor e foi embora, ficou com a mulher, que engravidou de gêmeos.

A amiga da minha mãe até hoje chora contando sobre os bebês que abortou em um momento de fraqueza, foi idiota mesmo, não era mulher estuprada, era uma mulher grávida do homem que amava. Ficou tão abalada com tudo que nunca se casou nem teve filhos.

E a única história da minha geração que conheci foi a pior de todas. Um lindo casal jovem resolve se casar e ficam juntos uns cinco anos. Ela sonhando com o filho, mas o rapaz não queria, não gostava de crianças e ela não queria perder seu amor, resolveu ceder. Depois de cinco anos ele se apaixonou por outra, divorciada com três crianças, largou a esposa e foi embora com essa. 
A esposa ficou traumatizada, mas recomeçou sua vida, se apaixonou de novo e decidiu ter filhos. Não conseguia engravidar e quando foi investigar a causa descobriu que tinha um câncer terrível, tanto que foi operada no mesmo dia que descobriu e tiveram que remover seu útero.
Já seu ex-marido, aquele que não gostava de crianças, adorou os filhos da sua nova mulher e se aventurou a ser pai, teve mais três. Para uma pessoa que ''não gostava de crianças'' ele encheu a casa logo com seis.

Disse tudo isso para minha amiga, sou ótima contando histórias de terror, quando na verdade apenas estou berrando: ACORDEM MULHERES!

Não errem pelo Romeu, se querem ter filhos e ele não, façam a fila andar, não vale a pena renunciar de um sonho para ter um homem que não vai renunciar a nada e pior ainda, mulheres têm que entender, nossa faixa de tempo não é a mesma deles, se quiserem podem ser pais aos noventa anos, caso se arrependam, as mulheres não.

Renunciar a vontade de ser mãe por um Romeu é uma das piores coisas que uma mulher pode fazer, ela vai pagar o preço disso a vida inteira. Conheço mulheres que não quiserem ter filhos e estão super bem com isso, mas as que conheci e não tiveram porque o marido não quis, arrastam correntes até hoje, acaba afetando até as amizades, porque elas se afastam de tudo, justo para não ficar vendo outras mulheres curtindo seus filhos.

E para que isso? Por um homem? Desde quando isso vale a pena? E por que um homem gostaria de ser pai? Isso acontece apenas com uma minoria, o resto não quer nem saber, não quer perder o trono, os privilégios e muito menos trocar a esposa que vive para ele por uma mãe que vai dividir o tempo.

Paternidade é uma coisa que não compensa para os homens, eles já entram recuando, não são obrigados nem a sentirem as dores, não correm para o parto nem amamentam, então 
a maioria passa reto da experiência, porque a curto prazo não compensa.

Ah, mas tem homem que curte ser pai ou quer ser, tem mesmo, mas são poucos. O resto é pilantra e egoísta, querem a mulher só para eles.

E eles são assim e a mulher ainda chega cedendo? Não pode ceder, senão eles passam em cima.

Falei para minha amiga que uma coisa é ceder e passar o Natal na casa da sogra, outra é foder tua vida inteira, ficar sem uma coisa que tanto sonha, os filhos, apenas porque o Romeu é um cagão e não quer assumir responsabilidades.

A parte da história que ninguém nos conta quando estamos crescendo é a mais importante, mas sonhos são egoístas e temos que ser um pouco egoístas para conquistar eles. Esse sonho meigo que todos ficam felizes não existe, ter o que se quer neste mundo exige uma noção clara de quem somos, o que queremos e nossa capacidade de egoísmo. Não conheço ninguém que tenha conquistado alguma coisa na vida agradando todo mundo, isso não existe.

Quem sonha com a maternidade que corra atrás dela, mas fuja dos Romeus que não querem nada de nada, esses homens emperram a vida e fazem o relógio biológico da mulher apodrecer. E vale para tudo, jamais se deveria renunciar a um sonho por alguém, devia ter lei proibindo isso, porque é claro que um dia a pessoa vai se arrepender, mais ainda neste tempos tão rápidos e rasos.

Se o Romeu não quer a mesma coisa ou seu sonho bate de frente, então se pode gritar as duas palavras mágicas: Foda-se você!

E continue andando. Mas que coisa feia! O amor é ceder, relevar, abrir mão. É? É por que só mulher faz isso e se fode? Eles não podem abrir mão? Tudo bem, eu não abro mão, que se dane.
Mais então  talvez eu fique sozinha, porque não sei renunciar aos meus sonhos para agradar Romeu. Já disse isso antes e digo de novo, os meus sonhos são mais importantes do que Romeu. E vou mais longe, a minha vida é mais importante do que qualquer Romeu. A equação contrária, onde mulheres se diminuem para se adaptarem aos homens sempre acaba em desgraça para elas, a conta nunca fecha. 

E ninguém te conta do dia seguinte, aquele momento que depois de ceder você é obrigada se olhar no espelho e saber que foi tua decisão, ninguém te obrigou a nada, se fez besteria pensando em agradar Romeu, o problema é teu, ninguém vai te consolar. E tem decisões erradas que podem durar para sempre. Para quem sonha em ser mãe e renuncia a isso por um homem, pelo menos que tenha claro que vai chorar a vida inteira, porque ninguém vale um sonho teu.

Iara De Dupont

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Dois Poemas

Éramos poetas, e resolvemos brincar de escrever um ao outro. Escrevi um poema que dizia:

Deixe que nossos olhares mesclem,
Deixe que os cheiros fundam,
Deixe que os tatos sintam,
Deixe que os beijos beijem,
Deixe?

Logo que leu, em resposta ao que escrevi, recitou seu poema, direto e sem rima, mas o mais belo e jamais visto por mim em toda minha jornada literária. A sentença de um único verbo, uma ação conjugada no mais intenso presente de nossas vidas e que dizia:

Deixo.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Daqui a trilhões de trilhões de trilhões de anos

Titan Surface by Ron Miller

Daqui a trilhões de trilhões de trilhões de anos nada mais existirá.
Nem o sol, nenhuma estrela.
Nem planetas, nem astronaves.
Nem vida, nem universo, nem buracos negros.

Daqui a trilhões de trilhões de trilhões de anos não haverá mais guerras.
Nem música, nem sons, nem cores, nem memórias,
Nem ornitorrinco, nem ciúmes, nem mar, nem poesia, nem palavras.
Nem sentimentos, nem pessoas, nem nossos descendentes.

Daqui a trilhões de trilhões de trilhões de anos a nossa existência na Terra não significará absolutamente nada.
E nada mais importará.
Nem as brigas por quem deve lavar a louça, nem o xadrez, nem o futebol.
Nem a alta do dólar, nem Bach, nem o Himalaia.
Nem Marte, nem Titã, aquela lua de Saturno.

Daqui a trilhões de trilhões de trilhões de anos não haverá sentimentos, nem consciência.
Nem culpa, nem alegria, nem tristeza.
Nem saudade, nem rancor, nem qualquer lembrança.
Não restará traço algum de tudo o que já existiu.

Vivo minhas experiências hoje.
Sinto, sonho, amo hoje.

Porque daqui a trilhões de trilhões de trilhões de anos
Haverá simplesmente o nada. 


Imagem: A personagem Death, de Sandman






P.S.: Se você acredita que há outros planos além deste em que vivemos, se sua espiritualidade permite que você creia em algo além das teorias científicas, talvez você discorde de mim.