quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A SOMBRA DA IMAGINAÇÃO

Caminho pela noite, olhando para trás, porque penso estar sendo seguido. Coisa de minha cabeça? Invenção de minha imaginação? Eu sei que sim. Mas mesmo assim, o medo e a angústia do desconhecido que teima em estar logo atrás, mesmo que apenas no meu mundo, me deixa com os nervos à flor da pele.

Passa da meia-noite. Gatos, mais à frente, fazem os seus tradicionais barulhos, à caça de uma fêmea para procriarem. Latas de lixo despencam de uma altura, de modo que o ruído seja alto e tenebroso. Arrisco uma olhada para trás. Imaginei que meu perseguidor pudesse aproveitar do som para me atacar. Mas não.

Sigo em frente.

O vento frio começa a ficar mais forte. Minha blusa não é capaz de me aquecer como deveria. Fricciono uma mão contra a outra, numa esperança de gerar calor. Até funciona, mas por poucos segundos. Passos? Ouvi passos?
Não sei. Mas resolvo apertar os meus. Onde diabos estão todos nesta cidade? Nenhuma alma viva dava o ar da graça. Claro… Figura de linguagem. Afinal, algum já me perseguia.

Ofegante, começo a notar que o cansaço também já chega. Minhas mãos suam. E não tenho ideia do por quê estar daquele jeito. Quem mandou ficar tomando um último drink com a moça bonita naquele lugar? E sem carro. Burro. Deveria aceitar minha condição, prevendo esse contratempo. Mas não o fiz.

Lembro que ela deixou seu número para que eu ligasse assim que chegasse em casa. “E se ligar agora?” - penso.

Não. Melhor não. O quê ela pensaria de mim? Que sou um homem medroso que liga para mulheres porque pensa estar sendo seguido por algo ou alguém? Só então noto que o celular já está em minhas mãos.
Dane-se o quê ela pensar. Vou arriscar ser ridicularizado. Meu Deus… Não consigo digitar… Maldito touch screen… Dificultando minha vida.

De repente, tropeço em algo, e o celular voa para onde não sei. Eu encontro o chão. E o meu medo aumenta, sou presa fácil. Cadê o telefone? Onde está? Preciso ligar… E o monstro das sombras? O assassino que se aproximava? O meu algoz?

Só sei que não encontrei o celular. Resolvi então sair dali o mais rápido possível. “Depois compro outro!” - pensei comigo mesmo, falando de maneira com que pudesse ouvir minha voz. O vento, há muito aumentara. Um zumbido estava em meu ouvido. Foi a queda? Não sei responder… Acho que sim.

Mas espere aí… Lá à frente… Um vulto, que parece caminhar em minha direção… Parece vestir um longo sobretudo… E está de chapéu… Oh meu Deus… Ele veio por mim… Não estava me seguindo. Estava à minha frente. Parei, atônito, olhando aquela sombra que se aproximava cada vez mais. A luz de um poste, mais acima na rua, impedia que eu enxergasse com clareza, e só via a silhueta. Foi então que alguém tocou meu ombro, e senti minhas pernas desfalecerem. Me virei. E vi.

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