Pequenos vaga-lumes fazem morada na teia do céu. A lua sorria em ser tríplice e entoava canções de um tempo muito antigo. Ouvia-se o tremor de asas dos besouros e a
dança das folhas, animadas com a visita da brisa noturna. Eu era criança e
sabia muito pouco sobre o desenrolar do destino. Com os pés descalços, sentia a
umidade da grama como um pequeno prazer.
Meu
irmão e eu, travessos de uma curiosidade de cientista, pegamos a pequena chave
azul para desvendar o universo. Aquela chave dava passagem ao cômodo da casa
que guardava todos os mistérios dos que ali já haviam vivido: fotografias
armazenadas em suportes de plástico que, quando olhadas pelo buraquinho,
pareciam se mover; maletas de couro com moedas acobreadas pela vida; livros,
inúmeros deles, com histórias de crianças transformadas em lobo na quaresma,
animais pré-históricos que viviam em cavernas, receitas de banhos de alecrim
para sonhos premonitórios, um oráculo chinês.
Ao
fundo do cômodo, encostada em um armário de madeira desenhado pelo tempo,
estava a luneta. Via Láctea era seu nome, devido ao seu corpo branco e suas
bordas negras. Ela era sustentada por um tripé cujas extremidades estavam
descascadas, deixando à mostra sua pele metálica.
Os adultos estavam bem
humorados – era uma noite de verão estonteante. Cantavam alegres "Vaga-lume vem, vaga-lume vem vem, seu pai tá aqui, sua mãe também", na tentativa de atrair para perto de si luminescências.
Permitiram-nos levar a Via Láctea para fora e observar o céu que, naquele dia, era só nosso.
Imagem disponível em: http://weheartit.com/entry/222180728/search?context_type=search&context_user=rubben_88&query=universo . Acesso em 02 de fevereiro de 2016.
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