assisti a boa parte dos filmes concorrentes ao Oscar 2016. e não posso dizer que desgostei de nenhum deles. por outro lado, posso dizer tranquilamente que nenhum me arrebatou, embora muitos tenham me comovido. e alguns outros tenham deixado algum rastro de memória.
mas de tudo, vou ficar com a sensação de um certo esgotamento da ideia de cinemão - aquele cinema feito para nos emocionar. porque, para mim, só vale a emoção quando eu não sinto claramente a manipulação --- as cenas construídas unicamente para tirar de mim uma lágrima, um susto, uma falsa expectativa. porque aí meus sentimentos se distraem::: porque aí a emoção é forjada a partir de algo que, de fato, constitui pouca monta para aquilo que avalio ser um grande cinema. um cinema no qual vale a pena investir as longas horas.
estão nessa categoria filmes como O quarto de Jack, O regresso, Perdido em marte, A garota dinamarquesa, que são filmes muito bons no momento em que assistimos, mas que quando pensamos seriamente sobre eles, identificamos facilmente as receitas, as recorrências e logo colocamos naquela categoria de filmes de entretenimento. filmes que nos fazem chorar, ou rir, dentro de uma convenção cinematográfica.
penso que estamos exatamente neste ponto: o da convenção --- que estende seus tentáculos para todos os campos de atuação do imaginário. é claro que deve ter por aí muitos filmes que rompem com esta ordem. mas para eles é necessário pesquisa, disposição, coragem.
Anomalisa, mesmo, é um filme que exige uma certa coragem. e também um certo discernimento. porque ele nos diz uma coisa, mas nos permite pensar outra. em linhas gerais, é fácil culpabilizar os outros, que são todos iguais, pelo desencanto de Michael Stone, palestrante motivacional sem motivação alguma para a vida. mas pergunto o que há de impostura no olhar de uma pessoa que passa a ver todos como iguais por causa de um simples "pontinho no nariz"? eu preferi acatar a pobreza do humano na figura de Michael, e não na daqueles que o cercam. e isso, sim, é um filme que não é exatamente de entretenimento, que causa um incômodo não exatamente localizável. porque nos permite estar diante de, no mínimo, duas vias.
no meio desses possíveis "oscarizáveis", assisti ao filme Mia madre, de Nanni Moretti e o documentário Eduardo Coutinho, 7 de outubro. e estranhamente, foram na verbalização nervosa de Moretti e na precisão do olhar de Coutinho que senti, realmente, por que o cinema nos causa um abismo inominável. e não digo mais nada
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