O cheiro do outono chegara mais cedo. O céu e o vento anunciavam sua aparição nos pequenos detalhes. Aos desavisados, coube sentir o embaralhar dos sentidos e lidar com os prejuízos das artimanhas outonais.
Com o passar dos dias que preenchiam as semanas e que se enrolavam nos meses conquistando um efeito de nó de marinheiro nas linhas de fibra de tempo, ela foi se familiarizando com seu novo esquadro. No começo, não conseguia dormir. Seu sono estranhava o novo ambiente e não era possível ter sossego em vigília ou letargia. Os sons e as cores também lhe eram incomuns. Não havia meios de escutar o frágil barulho das folhas das árvores ao entardecer, nem vislumbrar os diferentes tons de rosa e lilás do pôr-do-sol entre os hiatos dos galhos.
Os espaços daquela casa de poucos cômodos, comparados ao que era o seu lar, ecoavam vazios que não eram próprios das casas pequenas, pensava ela. Espaços pequenos deveriam ser aconchegantes e preenchidos facilmente. Aos finais de semana, vagava como as assombrações das histórias de infância, só que em círculos, procurando em espiraladas uma solução àquela inquietude.
Com o costurar do tempo, o estranhamento foi tomando diferentes formas, cores astrais, humores. A casa já não parecia um concreto de fome descomunal, que transformava pequenos espaços em grandes vazios, mas sim um planeta suspenso que, embora diferente do seu antigo lar, era um bom local para se refletir e digerir as brincadeiras doídas da vida.
Foto: Matizes do Tempo - Bárbara Mançanares.
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