sexta-feira, 29 de abril de 2016

desconfiômetro







Esta em desuso e ameaçado de completa extinção.

Seja com oração, reza ou pensamentos mais positivos e cheios de elétrons é preciso pedir, na verdade, implorar pela volta do desconfiômetro.

Dúvida? Desacredita é?

Novamente menciono e se preciso for quatrocentas vezes à cena terrível e catastrófica de domingo 17, quando 357 senhores e pouquíssimas senhoras votaram a favor da saída da presidente Dilma e declararam seu apoio incondicional ao golpe institucional, judicial, político e midiático. Golpe atualmente em curso e quase legitimado.

Para além do que foi comentado exaustivamente nos últimos dias impressionou nos discursos o desdém com as demandas da população ou do eleitorado ou mesmo o entendimento do que é uma família.

Porque ao contrário do que disseram não acredito que ao defender o voto em nome de Deus, da minha família, igreja, cidade etc estavam representando quem votou neles. Ali continha apenas e somente interesse próprio e o descarado acordo e alinhamento do discurso político.

Enquanto assistia senti que estava lendo ou vivendo o golpe de 1964, quando sob a desculpa da ameaça comunista (que nunca teve nexo ou força ou sentido de ser) o golpe foi aceito pela população dando plenos poderes aos militares em prol da justificativa de proteger a nação.

E diferente de 1964 não temos militares nisso exceto através da bancada da bala, mas temos o velho discurso imbecilizado de sempre, de que os comunistas estão chegando, ou vão tomar suas terras, dizimar as famílias e as cortinas de ferro se estendera pela América Latina.

Diante da palhaçada de domingo 17/04/2016 que entra para história política do país como uma das cenas mais ridículas quando nos tornamos chacota para imprensa internacional e piada até mesmo para a direita decente de outros países, percebo ou vejo a necessidade de explicar algo.

Assim sendo, caros senhores e senhoras golpistas ou 357 que fizeram aquelas justificativas inomináveis, venho por meio deste explicar que os socialistas, os comunistas, os anarquistas, os militantes autônomos e independentes ou leiam-se orgânicos e que pertençam a partidos políticos, coletivos e movimentos sociais não nasceram de chocadeiras, de plantas ou mesmo por osmose.

Portanto, todos absolutamente todos e digo de novo, todos tem: mãe, pai, irmãos, esposas e esposos (ou como queiram companheiros) filhos, sobrinhos, netos, bisnetos, cunhados, cunhadas, amigos etc.

Ou seja, caros ignorantes ridículos, quer dizer senhores e senhoras golpistas compreendam de uma vez por todas:  todos têm uma família.

Seja ela bendita, maldita, tenebrosa, linda, vergonhosa, escandalosa, abençoada é uma família. Tenha sido formadas através de contrato (leiam vínculo em cartório) ou formalidades de igrejas, tabernáculos, capelas, ocas, cenas hippies em floresta, matagal, mar ou qualquer biboca que na época ou naquele momento queriam jurar amor ou sexo eterno ou por determinado tempo até que a vontade separe; ou jurar o amor a revolução, ao Marx, ao Foucault, a Rosa e assim por diante . 

Mas todos tem uma família, seja composta apenas pela mãe, pelos amigos, pelos bichos, todos tem uma família, ok?

Então, resta saber que merda é essa de justificar o golpe através deste discurso que possui nas entrelinhas ameaça comunista?

Ou quero perguntar se os senhores e senhoras golpistas não possuem seja em pouca ou larga escala o afamado e famigerado: desconfiômetro?

Pode ser um centímetro, 10 ou uns metros sabe? Não importa!
Aliás vocês sabem o que é desconfiômetro?

Gostaria de ter metade desta ilusão ou crença de que realmente existe ameaça da esquerda, dos comunistas tomarem o poder. Não entendo a crescente onda de querer pontuar a família e principalmente a religião como algo a ser ameaçado.

Não temos concordância nem entre nós sobre alguns assuntos no que diz respeito à religião.

E mesmo notando que a mídia, políticos e golpistas ultraconservadores estejam deitando e rolando na interesseira participação de religiosos na política não noto ou percebo interesse ou temos feito o papel de aproximação e cooptação e sedução de religiosos para ala da esquerda. 

Pelo menos ainda não.

Mas diante do ocorrido vejo que é não somente uma tentação divina, mas uma empreitada de base incrível. Explico.

Recentemente um pastor que desejo não mencionar o nome para não dar ibope disse para um jornal que antes às igrejas eram apolíticas e que não participavam da política porque não se reconheciam nela. E mediante a crescente ameaça (comunista) através de leis  a participação das igrejas na política tornou-se uma exigência. Estas foram mais ou menos as palavras do senhor não citado.

Diante desta declaração e outras tantas, tenho que tentar explicar ou alumiar algumas coisas. 

As igrejas evangélicas jamais foram apolíticas!

Pelo contrário o que houve de um tempo para cá é que ao invés de apenas apoiar candidatos sem vínculo com a igreja, oraram: por que não criarmos nossos próprios candidatos, partidos e termos com isso nossos representantes.

Grande negócio! 
De tão grande e glorioso tornou-se maior que dízimos e ofertas.

Aqueles de uma época não muito distante sabem disso, pois seja eleições para prefeitos, deputados, senadores e presidentes os pastores apresentam determinados candidatos que nunca foram à igreja como potencial "representante" ou pessoa que necessita de oração.

Então os pedidos de votos eram traduzidos em: “irmãos vamos orar para que sicraninho e fulaninho tenham “direção e discernimento e sabedoria” (aqui leia-se votos, muitos votos dos irmãos) na política”.

Ou por vezes os votos eram pedidos em voz branda ou “ameaças” proféticas de que temos que velar pelos nossos e tasca oração e pedidos de apoio.

Esse tipo de ação é tão velha e costumeira que praticamente funcionava como campanha política em tempos de veto do STE, às vezes ocorre um mês, dois meses ou semanas antes da votação.  

Afinal não é pecado pedir oração né.

A igreja Católica nesta atuação é mais antiga e tão próxima quanto, tendo em vista que é uma das instituições mais antigas.

No caso da igreja Evangélica, isso se tornou ainda mais forte com o crescente número de templos, modernização de pregações (daí entende-se vestes, discursos e literatura vinda na grande maioria dos EUA)  e alteração radical do discurso.

Agora crente não é mais miserável, é e tem que ser próspero e ainda mais importante se for empresário eis um potencial Salomão do século XXI. 

As reuniões e cultos bem como campanhas em torno da prosperidade se tornaram ainda mais intensas com pastores-políticos e ação de completa despolitização dos presentes nos cultos.

Noutras palavras, é disseminado que o "povo do mundo" (ou leia-se em especial a esquerda) não é de Deus, mas gente que precisa de oração e deve ter o distanciamento porque não quer a formação da família, crescimento da igreja.

A aproximação com empresariado local é quase que natural e dízimos e ofertas e campanhas para pagar programas de televisão tornou-se uma imensa forma de evangelizar em nome de Cristo ou  propagar políticos pois ao vê-los é: "olha lá o irmão, político, homem de Deus, tá representando a igreja"! (sic).

Mas poucos e pouquíssimas famílias são prósperos (as). A maioria visita as igrejas porque estão desempregadas, endividadas, em sofrimento (seja emocional, enfermidades) procura um alento, uma direção ou mesmo ajuda.

Não entro no mérito escandaloso de mencionar o que ocorre muitas vezes e é quase naturalizado nas igrejas. Porque seria leviano e desonesto citar outras tantas cenas de sujeira e enganação dentro das quatro paredes que dizem ser dos santos.

Prefiro e deixo aos porcos o sabor da sua colheita, me eximo do papel de acusadora, permito que fiquem no sepulcro caiado que caíram há muito tempo. Pois lhes cabem muito bem não é muitíssimos bem amados?

Agora em tempos de golpe e muita sujeira vemos atuação bem como o vai e vem de políticos próximos da bancada evangélica e notamos que o discurso de que a igreja, especialmente evangélica participou da política para ver suas pautas e demandas atendidas é totalmente mentiroso.

A maioria dos senhores que compõem a bancada são pastores-empresários aliados a demais empresários  que estão usando de forma desmedida e desonesta instituições públicas para interesses próprios.

Outra forma de perceber o que está em jogo na esfera de poder e dinheiro é o interesse apenas em pautas não apenas conservadoras, mas moralistas, além da imensa atenção no que refere a pequenos, médios e grandes empresários e leis trabalhistas.

Neste contexto não é o capitalismo como religião, mas a religião a serviço intenso e descarado do capital. Ou noutras palavras pouco interessa as famílias pobres ou empobrecidas e suas demandas ou pouco importa as leis que pretendem ferir os direitos trabalhistas dos trabalhadores de pouca fé, porque sim, se você sofre é porque tem pouca fé e não oferta e não dízima.

E pouquíssimo interessa privatizações e terceirizações em  larga escala pois quem dá o sustento para, somos nós,  o empresariado abençoado e engajado na política em nome de Deus.

Uma tentativa de re-evangelizar o impossível?

Não.

Absolutamente que não!

É apenas o desconfiômetro acionado em escala máxima de que precisamos dialogar com a religião ou religiosos, ou aqueles que creem em Deus, dai perceba é quase 70% ou parte considerável que fala "amém", "Deus proverá" para tudo mas não necessariamente está na igreja ou tem algum vínculo. 

Precisamos refletir se não quisermos perder em tempos de crise e acentuado desespero dos trabalhadores para o discurso descarado e mentiroso de que esta é a vontade de Deus, pior ao receber esta oração oferte e participe desta campanha da prosperidade e entregue seu dízimo que você será abençoado porque Deus está vendo sua dor.


Mas por que ele não enxergou antes?

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