No redemoinho do meu caos
Oyá clareou o quarto como se fosse dia:
Venta, que o mundo é teu.
Quem nasce no mato sabe que quando Oyá chega rodando a saia, palmeira venera a rainha lançando suas folhas ao chão. Lá, seu espetáculo é euforia, é deslumbramento, é medo. E não há palco maior que a terra, não há cenário melhor que o céu. Quando ela vinha cheia de si, ventando como dizendo "tudo isto é meu", era clarão, era água, era estrondo. O mundo parecia findar para renascer de seus destroços. Nesses dias, a mãe abria a gaveta do armário da cozinha e pegava bem lá no fundo o capim santo. Queimava o capim dando voltas ao redor da mesa e rezava. A energia elétrica sempre sumia. O pai já ia buscar lampião na despensa e, quando penso nesses dias, quase consigo escutar aquele barulhozinho do gás com o fogo até principiar a luz. A gente acendia vela pela casa e quando via um raio cair ia contando números até o céu trovejar para ver se a tempestade estava vizinha. Quem nasce no mato tem desses (des)privilégios.
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