Etimologicamente, idiossincrasia surgiu do grego idiosugkrasía, que significa “temperamento particular”. No dicionário é definida como, designação do feitio pessoal de cada indivíduo; ou caráter típico de determinado grupo. Cabe ressaltar que o termo tem vários sentidos, podendo variar de acordo com o contexto em que é empregado. No meu cotidiano, por exemplo, eu observo que a idiossincrasia é parte da criação de muitos estereótipos que pessoas do meu círculo pessoal de convívio ainda tomam como verdade. Um exemplo é quando escuto, ou leio pessoas dizendo frases como: Todo baiano é preguiçoso; todo português é burro; os ciganos são ladrões de galinha, cavalo e rouba criancinhas; tatuagem é coisa de bandido e por ai vai.
Esses e outros esteriótipos estão presentes nos discursos e são refletidos em diversos meios, seja na televisão, nas redes sociais, livros ou jornais. As pessoas simplesmente criam uma ideia de como as outras são, devido a uma característica observada (ou inventada) em alguns pares comuns e tomam aquilo como verdade. Da idiossincrasia vem a criação de esteriótipos e neles habitam tanto o preconceito como o pré-conceito.
Caso você seja tão curioso como eu, já deve ter se perguntado de onde surge esses esteriótipos citados anteriormente. No exemplo da tatuagem, em uma simples pesquisa descobrirá que boa parte do preconceito contra tatuagens provém da cultura cristã, como citado acima, mas havia também uma grande questão social que embutia ainda mais preconceito contra os desenhos feitos na pele. Os primeiros homens a aparecerem em público com tatuagens eram os marinheiros, cuja má fama os precediam. Junte-se a isso o hábito que a Igreja Católica tinha de estigmatizar algumas pessoas que cometiam “pecados” com letras e desenhos tatuados, e temos aí uma união de ideias que levou a seguinte linha de raciocínio: Pessoas tatuadas pela Igreja eram pecadores, portanto indignos; Marinheiros tatuados eram prisioneiros condenados e que cometeram crimes diversos. Portanto, toda pessoa tatuada era um potencial criminoso ou pecador. Esse silogismo simplista deu à tatuagem o terrível estigma de “coisa de pessoas sem valor social”, ou simplesmente “coisa de bandido”. Atualmente, o principal foco de preconceito contra tatuagens ainda é o mercado de trabalho, mas setores mais conservadores da Igreja católica, seitas neoevangélicas e populações de cidades interioranas ainda cultivam o desprezo e ódio aos tatuados.
Já o esteriótipo criado em relação aos ciganos, é evidente que são coisas simplesmente inventadas. Sabe-se que quando Cervantes, no início do século XVII, criou o tema do roubo de crianças pelos ciganos, estava inaugurando um dos maiores filões da literatura ficcional sobre os ciganos. No século XIX, numerosos autores utilizaram o tema da criança roubada como objetivo "educativo". Acreditavam que o contraste entre o "mundo civilizado" dos jovens leitores e a "vida perniciosa" dos ciganos, por suposição, incitaria as crianças a apreciar mais sua própria cultura e a obedecer a seus pais. Essas “estórias” fantasmas contribuíram bastante para criar uma imagem extremamente negativa dos ciganos. Assim os autores manipulavam a imagem dos ciganos para valorizar as virtudes cívicas e civilizadas dos não-ciganos. Essa literatura sobre os ciganos foi uma estratégia de educação moral, portanto de dominação. E isso vem se perdurando durante época, pessoas de diversos lugares no mundo e em especial no Brasil, tem medo quando um grupo de ciganos chega em suas cidades. Por anos e anos vem ocorrendo perseguições, seja pelos próprios moradores, ou pelas autoridades das cidades que fazem de tudo para expulsá-los.
Poderia citar outros exemplos, mas esses dois retratam bem que não há mais sentido manter um conceito infundado sobre um determinado grupo social ou pessoa, sem nenhuma necessidade. Como eu não posso e não pretendo discutir com todo mundo que conheço quando escuto ou leio uma coisa que não é verdade, não é justo, ou não faz sentido, às vezes acabo me calando. Contudo, é preciso falar disso e ainda acredito que se todos nós fossemos um pouquinho mais críticos, mais céticos e abertos às mudanças, certamente o ambiente que vivemos, bem como nossas relações seriam muito melhores. Aceitar que não sabe tudo me parece o melhor caminho para saber cada vez mais.
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