(...)
O som que vinha do coração da mãe era tão constante quanto o silêncio. Constante também era o calor que vinha do meio líquido em que estava. Não havia pressa. O útero da mãe era alheio a estes caprichos do mundo de fora. O útero da mãe era o mundo inteiro.
Naquele momento era tudo um grande vir a ser.
E foi naquele momento que aconteceu. Nunca se saberá como, nem se chegará ao porquê, mas a verdade é que aquele minúsculo ser em formação, aquele pequeno amontoado de células, ouviu. Ouviu cada palavra. E cada palavra uniu-se ao ser. E cada palavra era o ser.
Elas diziam: Hoje tu és apenas espera, mas quando fores vida, nunca deixes de ser luz. Não importa com quem andarás, o que farás e como o farás. Tampouco importa tuas escolhas, se entre elas estiver esta, a de não deixar de ser luz.
Por um longo tempo as palavras calaram e o único que se ouvia era o coração da mãe e o suave murmurar do meio líquido. As células não cessaram de se multiplicar e de imiscuírem-se nas palavras. O ser então indagou:
- Agora que sei o que fazer, devo partir ao mundo de fora?
E ouviu como resposta, não se sabe de onde:
- Ainda é cedo. Ser luz não é tudo que deves saber...
E nada mais se ouviu por um longo tempo.
(...)
- Agora que sei o que fazer, devo partir ao mundo de fora?
E ouviu como resposta, não se sabe de onde:
- Ainda é cedo. Ser luz não é tudo que deves saber...
E nada mais se ouviu por um longo tempo.
(...)
Já estava se acostumando a esperar. Tudo era espera. A vida fluindo entre o ser e a mãe. Entre o ser e a palavra.
Foi quando a voz (era mesmo uma voz?) ecoou uma segunda vez; Não basta ser luz se não fores também equilíbrio. Saibas ver os dois lados que há em tudo no mundo. Também há muito o que se ver na escuridão...
Novamente silêncio.
- Serei luz e serei equilíbrio. Tudo isso já está em mim. Devo partir agora?
- Tampouco é agora que deves partir. O tempo se aproxima, mas ainda não é tudo...
(...)
Muito se passou sem que mais nada fosse dito. Os espaços se preenchiam. O ser e a mãe cada vez mais pertencentes.
Mas ele ansiava mais.
Num átimo, água que se esvai. Torrente.
Força. Movimento. Ritmo. Potência.
Súbito, a voz.
- Chegará o tempo em que terás que partir. Tal qual uma vela, sutilmente deixes de ser, mas ilumine tudo e todos até o último lampejo. E quando chegar esta hora, não temas: como luz que terás sido, deixarás um lindo caminho iluminado às tuas costas. Nunca deixes de ser luz!
Os movimentos eram intensos e constantes. O tempo urgia. Ele precisava perguntar uma vez mais:
- Posso ir agora?
- Sim, agora sim você pode ir. Já é tempo de aprender...
(...)
E tudo tornou-se Luz.
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