É claro que ninguém faria uma guerra por causa de chumaços de cabelo. Mas também é claro que alguém faria guerra por alguma coisa, como sempre. Prevendo a iminência do conflito, Natasha, Aleksis e Olegiev sequer tiveram tempo de lamentar a morte de Vassili. Correram para o laboratório o mais rápido possível. O tempo estava cada vez mais apertado. Talvez fosse precipitado, mas não havia alternativa e o invento precisava ser novamente testado.
Com base na Vortexoura o avô de Natasha começara a pesquisar uma forma de ampliar seu poder, para que o transporte entre dimensões fosse além de fios de cabelo. O diário deixado pelo falecido avô foi fundamental para que Natasha utilizasse os equipamentos do laboratório de Olegiev. O problema é que da última vez que tentaram testar o Vortex-temporal-ampliado com seres humanos, Natasha acabou com o ouvido sangrando, diante de uma criatura bizarra materializada não se sabe como, que só foi entretida e destruída depois de alguns truques de Aleksis. Em contrapartida o mágico exigiu passar a acompanhar de perto os experimentos.
Depois de ajustes às pressas Olegiev acreditava ter consertado os problemas do invento, mas para tirar a prova teriam que tentar testar mais uma vez. Aleksis, que sempre foi mais adepto dos truques de mágica do que da ciência, não se dispôs a servir de cobaia; Olegiev hesitou; e Natasha tomou a Vortexoura modificada de suas mãos e disse que honraria o trabalho de seu avô.
O coração batia forte. A última experiência havia sido bastante dolorida. Natasha estava diante de uma daquelas situações em que devemos deixar a razão de lado e pular de cabeça, caso contrário nunca criaria coragem para dar continuidade ao projeto do avô. Era necessário testar o Vortex-temporal-ampliado com alguma longa distância e, tendo lido no antigo diário que todo o projeto da Vortexoura teve início com um tal José Neemias Cordeiro, resolveu resgatar essas raízes e testar o Vortex-temporal-ampliado fazendo uma ponte temporal entre Russia e Brasil.
Empunhou o objeto em formato de tesoura. Fechou os olhos. Respirou fundo. Abriu os olhos. Abriu as hastes e cravou uma das extremidades no vazio, como se atingisse um tecido esticado. O golpe fez um ponto de luz, que se abriu em uma fenda quando Natasha deslizou o aparelho para cima. Aleksis e Olegiev olharam catatônicos a moça dar um passo a frente e sumir em meio à fenda de luz.
Natasha estava atônita. Mal conseguia acreditar que havia dado certo. Estava no país onde tudo teve origem e, sem saber quase nada sobre o Brasil, deu de cara com um grupo de pessoas que fechava a rua, com vários cartazes escrito "Fora Temer". Estando no país do futebol, concluiu que Temer deveria ser algum time e que pela cara dos torcedores esse time estava muito, mas muito mal.
Não havia tempo para tentar entender o que estava acontecendo naquela rua. O cerco estava se fechando. A KGB, o exército, talvez até o Vladimir Putin em pessoa buscavam desesperadamente o pequeno laboratório que, segundo investigações secretas, havia desenvolvido a maior invenção de todos os tempos. O Vortex-temporal-ampliado poderia requentar a Guerra Fria. Natasha abriu outra fenda no espaço. Precisava voltar ao laboratório.
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