quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A abstenção venceu?

A última semana de julho foi também minha última semana de férias, que eu ‘aproveitei’ na cama, com uma gripe daquelas. Já que não podia fazer nada mesmo resolvi acompanhar a sabatina que um portal fez com os principais candidatos à prefeitura de São Paulo.

Terminei com duas conclusões, a primeira foi que o João Doria conseguia ser pior que o Russomano – tão ruim quanto, mas com toda a máquina psdbista que governa o Estado há mais de vinte anos a seu favor. A segunda foi que felizmente ele estava só com uns 5% nas pesquisas.

Nesse momento Maquiavel deve estar rindo da minha segunda conclusão. Não se deve menosprezar ninguém na política. O máximo que eu posso alegar é que Doria não foi o primeiro; perdeu, por pouco, para as abstenções.

Essas são as regras do jogo. Vence quem tem mais votos válidos. Porém todo jogo tem suas regras aprimoradas com o tempo. Não é razoável que alguém governe tendo sido derrotado para a maioria que não votou em nenhum candidato.

Após as eleições foi divulgado que em um colégio particular de São Paulo foi feita uma experiência. Primeiro os estudantes fizeram uma votação simbólica nas propostas das candidaturas, que foram apresentadas de forma anônima, depois uma votação nos nomes dos candidatos.

Doria venceu a eleição nominal, mas as propostas anônimas vencedoras foram de outro candidato – de um partido tão demonizado que é melhor nem mencionar. Claro que um colégio não se estende necessariamente para uma megalópole, mas diante de propostas rasas ou mirabolantes, não seria uma surpresa se o experimento tivesse o mesmo resultado no sufrágio oficial.

A representatividade costuma ser um desafio dos regimes democráticos. Colocar o mais votado no poder é eficiente nas sociedades homogêneas, por aqui isso vem resultando no congresso de Brasília, por exemplo. Diante dos desafios de converter maiorias em representação, parece uma ideia interessante que o eleitor escolha as propostas que ele deseja ver implantadas na cidade, ao invés de confiar sua escolha, que pode ser enviesada e passional, a uma pessoa.

É evidente que isso não nos livraria de escolhas ruins. Em um Estado que elege há mais de duas décadas o mesmo partido, é bem provável que as forças retrógradas que formaram São Paulo atuem no sentido de impedir avanços sociais, mas pelo menos daríamos um passo tímido no caminho da democracia direta.

Não votar foi a escolha da maioria, que culminou em um péssimo resultado. A contagem dos votos válidos foi em favor do candidato que sequer se assumia um político. Não existe formação para político, o cargo pode ser exercido por qualquer um. Administrador, médico, torneiro mecânico, todos aptos a exercer um mandato eletivo, com a diferença que alguns negam a política como se fosse possível ser indicado pelo governador, comprar votos das prévias, criar racha no partido, tudo sem ser político.



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