O ano
começou pesado e pelo jeito a leveza anda passando longe, pelo menos por aqui
na terra da banana. Mas como a gente não se entrega e sempre acredita no dia
depois de amanhã, com aquela fé e esperança de que algo bom ainda está por vir,
seguimos.
A
quantidade de mulheres que foram vadiar pelas ruas com cartazes e gritos nesta
semana, principalmente em Washington D/C foi o fôlego, a respiração, a vitamina
D noturna que precisava para espantar o mar de desilusão.
Contemplá-las
na vadiagem pelas ruas mesmo de longe e sem entender o que falavam é a
evidência e certeza de que acreditar no dia seguinte é melhor que pensar no dia
anterior que passou e deixou arestas do machismo na forma de desânimo, chateação e tristeza.
Também é a
ratificação do não me calo diante do machismo seja na família ou em qualquer
lugar.
O ano de
2016 do ponto de vista político foi terrível para as mulheres. Digamos que
todos os anos são difíceis, mas na política em especial tivemos grandes derrotas.
Ler
matérias e artigos nomeando Hillary Clinton como a candidata da guerra e Trump
apenas como conservador com excesso de autoestima, mesmo sendo por meio de
discursos: xenofóbico, machista, misógeno, fascista, ultraconservador, eurocêntrico,
egocêntrico, primata, boçal, antiquado e figura política das mais ridículas de todos os tempos foi no mínimo horrendo
para não dizer o fim do mundo.
No mundo
dos homens, pois afinal, trata-se do mundo dos homens e para os homens uma vez
que os lugares de poder são ocupados quase que exclusivamente por homens, o
registro histórico da humanidade nos ensina que as principais guerras
(inclusive dos EUA) foram proclamadas
pela excelência e magnitude do poder de homens.
Sanders o
candidato para presidente considerado progressista estava apoiando a candidata
da guerra quando não tinha chance de vencer. A candidata da guerra estava disputando um cargo político no país
considerado número um no sistema capitalista e portanto o senhor da guerra.
Daí
ressurgiu aquela sagrada dúvida que toda gente de esquerda ou quem queira pensar sobre tem:
de que adianta mudar alguém do cargo quando o sistema ou o conjunto da obra
(normalmente econômico) determina as condições e decisões das opressões sejam de
exploração, golpes ou guerras?
A candidata
da guerra também foi acusada de ser mentirosa, de mentir muitíssimo em favor de
uma política favorável a guerra. Mentir. Algo que os homens mais fazem na
política, mentir, se tornou um peso quando se tratava de uma mulher ao disputar
o cargo mais poderoso.
Mas se
entrarmos no mérito se mentir é fazer ou é parte da política, também podemos
questionar uma vez que a política sempre foi uma criação evidentemente dos
homens e não das mulheres, pois a maioria seja na Grécia ou em qualquer pedaço
de chão estava nos lares cuidando dos filhos (hoje família) ou do trabalho
quando escravizada.
Não se trata
de defender a estratégia da candidata da guerra de assumir que iria a guerra (algo que o boneco fascista apenas não admitiu mas que com certeza irá fazer), e que se diga estava sim
alinhada à política dos EUA como todo e qualquer político que se propunha ao
cargo, ou seja, capitalista, exploradora e centralizadora para garantir a posição
de país número um durante décadas.
Obama
embora quisesse ou pelo menos demonstrava querer não conseguiu se isentar de
guerras, aliás, os historiadores podem informar qual o presidente dos EUA que
menos declarou guerra, para não dar a impressão de que a loucura ou histeria
pairou na cabeça da mulher aqui, o que não é difícil, uma vez que esse bicho é
bipolar e sangra todo mês e não morre.
Para as
mulheres fica a sensação de que política não é assunto para nos dedicarmos, não
é algo que deve ser uma meta para a vida. Perder a eleição mesmo com porcentagem
pequena para Trump é violência e opressão para a vida das mulheres e das
futuras que existirão.
Até quando
vamos nascermos crescermos e morrermos nas mesmas condições, sendo
inferiorizadas por homens, por nos julgar incapazes de pensar a organização de
uma cidade, estado, país e sociedade?
Ler os comentários e imaginar os risos de Putin e Trump sobre as mulheres, mesmo após a derrota estar consolidada reafirma que a
política não é nosso lugar, pior estão
nos dizendo de uma forma um tanto debochada e escarnecedora aonde é que devemos
estar: em qualquer lugar desde que servindo aos homens.
E mesmo
quando se decide não servi-los, cabe ressaltar que as decisões dos homens nos impõem
uma servidão que está além da nossa vontade e alinhada ao estado e
sistema capitalista.
Nos
hospitais quem são os cuidadores, se para enfermos, grávidas e acamados?
Nas prisões como visitas (mãe, irmã, esposa/união estável) quem é a maioria?
Nas guerras
quem supre o lar e quem é responsável pelo cuidado com os filhos?
Nas
epidemias quem é cuidadora?
No dia a
dia trabalhando e fazendo o serviço doméstico, quem é unanimidade?
Aponte um
lugar que esta minoria que é maioria no mundo não esteja?
Não se
trata de fazer o discurso do ódio aos homens, mesmo porque a maioria de nós tem
pais, irmãos, genros, tios, primos, amores, amigos, colegas. O feminismo na sua plenitude trata do
direito de igualdade (inclusive na política) entre nós, mas reconhecendo nossas
diferenças. Feminismo não se propõe ao discurso do ódio aos homens, mas enfrentamento dos privilégios machistas dos homens na sociedade.
Representação
política importa e interessa. Naturalizar somente os homens na política reforça
o sistema capitalista, racista, classista, homofóbico e machista que vivemos. Mundo e
sistema dos quais apenas oito homens são bilionários, com perspectiva de nos
próximos anos existir o primeiro homem com trilhões na conta.
Daqui alguns meses irá completar quase um ano do golpe político no Brasil. O golpe
através do impeachment da presidenta Dilma está entre as perdas e naturalização
da política de homens a serviço do sistema mais degradante e destruidor de
vidas.
Notar que
Temer é incapaz de produzir qualquer reação prometida seja o famigerado
crescimento na economia ou a tal estabilidade política mesmo com golpe e rodeado
de cuecas, com a grande mídia servindo de apoio é a prova convicta de golpe com machismo.
Golpes nos
trabalhadores, pois as reformas (trabalhista, previdência, educação, saúde, cultura etc.)
seguem o curso planejado com financiadores.
Golpe
também nas mulheres.
As doces
palavras, tais como incompetente, histérica, centralizadora, autoritária bem
como os números apresentados em altos índices de desemprego todos os dias nas
principais capas dos jornais e em gráficos nas TVs; ou a divulgação sobre a
lama de corrupção com direito a estrelas e destaque jamais serão dele, serviram
apenas para ela.
A única candidata
a presidência eleita, reeleita e deposta pelo vice com um golpe institucional:
político, jurídico e midiático serviu de chacota e discurso de ódio. A única
a ouvir em rede nacional ao vivo e a
cores um sonoro: vai tomar no cu como forma de ofensa enquanto o "princeso" político foi
apenas vaiado.
Fica a
certeza de que política aqui no Brasil (e no mundo) não é para mulheres. Mesmo
quando têm muitos diplomados/políticos/homens piores do que selvagens.