Nesse post, em meu mês de férias, pensei em começar dizendo que eu gosto de feriado. Que ideia boba. Todo mundo gosta. Eu gosto de tudo o que me deixa longe do serviço. Se até uma apendicite é bem-vinda, que dirá um feriadinho. Há quem pense o mesmo, mas nesse momento me censura por medo de duvidar de que o trabalho talvez não liberte.
O único problema é que não consigo me identificar com os feriados. Apenas aprecio o ócio que eles proporcionam, mas às vezes isso pesa um pouco na consciência.
A maioria das datas comemorativas é religiosa, destas todas são católicas. Pelo menos é a chance de dizer que é feriado “graças a deus”, independente de sua existência ou da crença do interlocutor. Ainda assim me parece bastante arbitrário salpicar exaltações católicas em um estado teoricamente laico.
Há também os feriados que exaltam a pátria. Nesses a coisa complica. Tem a incoerência da Inconfidência, na qual torturaram o Tiradentes para depois transformá-lo em mártir; a independência da república dependente; a proclamação da república que vê sua democracia minguar, etc. Nessas datas sempre existe a exaltação das forças armadas. Aprecio a folga com muito peso na consciência. Por mim poderíamos pegar toda a verba destinada ao exército e gastar tudo em paçoca.
Carnaval é bonito. Não faço ideia do porquê de sua existência, mas não importa. Esse ano, na véspera do que é considerado o marco do real começo de ano do brasileiro, ouvi um sujeito do meu lado no metrô dizendo que não gosta do Carnaval. Lembrei do ano que tive que trabalhar nesse ‘feriado’, sábado, segunda e terça, sem um centavo de hora extra, pois, pasmem, Carnaval não é feriado.
Não resisti ao impulso de agarrar o desconhecido pelo colarinho e gritar que sim, ele gosta de Carnaval. A menos que fosse um empresário que vê a própria empresa parar de produzir ao longo da folia, ele adora o feriado e só terá certeza disso quando tiver que trabalhar no meio do isquindô.
Só consigo me lembrar de duas datas com as quais eu poderia ter maior consideração. O dia da consciência negra, que sequer ganhou status de feriado nacional, muito menos emplacou uma real consciência sobre a luta negra, e o dia do trabalhador, que acabou virando dia do trabalho, afinal quem é esse tal de trabalhador para ganhar um dia só dele, sendo que nem existe dia do empregador?
Para piorar ainda moro no Estado de São Paulo, que resolveu transformar em feriado estadual o dia da ‘revolução de 32’. Eu apoiaria se fosse o dia da vergonha. A elite paulistana em sua histórica vanguarda do atraso se revolta contra a atenção governamental à população mais pobre, toma um couro do governo federal e transforma isso em feriado para criar uma imagem de vitória que não houve.
De repente poderíamos criar uma data específica somente para ser um feriado. De preferência algo como a primeira quinta-feira de determinado mês, para não correr o risco do dia cair justo no domingo. Uma ode à preguiça, dirão alguns; o dia da vagabundagem, acusarão outros; coisa de comunista que não gosta de trabalhar, afirmarão muitos.
Quem sabe um referendo não resolve o impasse? Um programa político explicando à população que ela pode referendar um feriado sem amarras. Nada de cobranças por exaltação à pátria, a deus, ao exército. Apenas um feriado prolongado para ser usado como bem entender. O feriado do dia do feriado.
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