segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

a insustentável dureza (ops - leveza) do ser

Acabei de assistir no youtube o pronunciamento sobre a reforma da previdência do qual o Silvio Santos e presidente interino se esforçam para convencer o público de que a reforma da previdência é imprescindível.

O discurso está numa linguagem popular e os bons velhinhos capitalistas fazem uso de jargões religiosos (pensamento maléfico, pensamento positivo) e domésticos (colocar azeitona na empada) para convencer-nos da necessidade para eles de reformar a previdência.

O argumento principal do discurso se não aprovar a reforma da previdência não existirá dinheiro para pagar os aposentados. E assim ocorrerá como noutros países de não ter dinheiro para os aposentados.



Fico com dúvidas sobre essas afirmações dos bons velhinhos capitalistas Silvio, Temer, Marinhos e etc, nunca sei se o estado burguês está prestes a ruir ou quer deixar de existir ou deseja promover a guerra civil entre povo e instituições.

O que aconteceria se de repente o estado deixasse de pagar os aposentados? Qual seria a reação dessas pessoas? Como foi e está sendo a reação das pessoas de outros países quando aconteceu de acordar e não ter dinheiro para comprar comida, pagar contas e etc?

Quando calamidades orçamentárias batem a porta qual é a melhor opção para que guerras civis não aconteçam?

 1-Exigir que empresas devedoras da previdência paguem/quitem as contas com estado.

 2- Cortar recursos para empresas que não conseguem se manter/fechar as contas sem dívidas. E daí entender se o setor privado não consegue lidar com fechamento das suas contas porque então privatizar o que é público?

3-Não fazer a reforma da previdência.

E se porventura em último caso se necessária de fato que tal fazer a reforma para todos, então que sejam incluídos (militares, políticos e judiciário) pois assim todos entram na guerra e o estado burguês e canalha sucumbe de uma vez.

Depositar essa conta nas costas dos trabalhadores usando os bons velhinhos ricos dentre eles donos de emissoras e empresas que devem a previdência está fácil quero ver apresentar a conta para todos pagar e ainda sim sair ileso da situação.

Perdemos o fôlego do Fora Temer. O Fora Temer tinha muitos significados tanto para direita quanto esquerda. A parte que mais interessou foi da possibilidade de desarticular as reformas com Fora Temer e Greve Geral. Não aconteceu.

Desde ano passado as atenções se voltaram para eleições entre defender candidatura do Lula e decidir eleição entre PSDB e PT com espaços para MDB sigla na ditadura civil militar/PMDB se articular e ficar na sombra das negociações do estado.

Os movimentos sociais estão apoiando o que resta da esquerda e infelizmente não é uma escolha. Porque não temos um movimento autônomo e de auto-gestão que possa contemplar todas as pautas, moradia, saúde, mobilidade, cultura, educação e etc. Mas isso seria a revolução.

E revolução é desobediência civil.

E infelizmente a desobediência é para quando há interesses difusos e individuais. 

O resultado disso chega no dia a dia. Hoje foi com esta declaração da ministra aqui , uma amostra do que é o fortalecimento de uma classe logo após aprovada uma reforma, neste caso trabalhista.

Ah falta um mês para aprovar a reforma da previdência.

Também poucos dias para o carnaval, pra mim está sempre bom é melhor dançar do que sofrer por antecedência.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O vão entre o trem e a plataforma

Eram só ele e ela no último dos trens noturnos com destino à Luz. Subiram no Butantã. Ele e ela no mesmo vagão. Ambos só desceriam no final. Ele perguntaria as horas, ela responderia. Ela perguntaria o nome, ele responderia. Para emendar, ele perguntaria o dela. Falariam da lentidão do veículo, do frio do ar condicionado, da sorte que tinham por terem conseguido pegar o último trem. Antes de chegar na Paulista, já saberiam onde um e outro moravam e o que gostavam de fazer nas tardes de domingo. Quando estivessem na República e o auto-falante anunciasse que a próxima era a última estação e que por gentileza desembarcassem todos, já teriam trocado os telefones e combinado algo para o fim de semana seguinte. Na Luz, se despediriam com um beijo no rosto e com a promessa de mais conversas como aquela. Próximo domingo, ela diria. Próximo domingo, ele diria. Formariam um belo casal, desses que a gente não imagina separado. Teriam filhos. Dois. Um casal de gêmeos lindos. Teriam feito tudo e talvez até um pouco mais, mas antes mesmo de Pinheiros, ela tombou a cabeça sobre o vidro e se perdeu distraída lendo as placas de publicidade. Teriam feito tudo e talvez até um pouco mais, mas assim que sentou no banco e ajeitou as pernas, ele levou mecanicamente a mão ao bolso e pegou seu telefone. Foi jogando cartas no aparelho durante todo o trajeto para não sentir o tempo passar. Ao chegar na Luz, cada um saiu por uma porta. Ela virou para a direita. Ele virou para a esquerda. Nunca se lembrarão de nada disso.

domingo, 21 de janeiro de 2018

À DERIVA

Queria falar das cores alegres, as mais vivas que lhe vinham à mente, mas de nada adiantava.
O cinza e as cores mais escuras predominavam.
Queria falar da alegria dos raios solares, do canto dos pássaros ao longe, do som das ondas batendo no casco. Mas de nada adiantava.
O vento frio que vinha do Sul ainda o fazia tilintar os dentes.
Queria falar de tanta coisa, mas as coisas é que falavam dele.
Meses já haviam passado, mas era como se tivesse sido ontem.  E não tinha com quem compartilhar tamanha frustração. O rádio havia muito não funcionava. Nem pombo-correio poderia se dar ao luxo de usar. Não. Eles não chegavam ali.

Sensação horrível de se estar à deriva, sem sinal de terra firme, de não ter onde se agarrar.
Pensava que, àquela altura, já deveria ter chegado. Já deveria estar com ela, mas não.
E agora, nem certeza de que era esperado tinha mais. Tudo sumiu como fumaça.

Resolveu então escrever.

Aquela caligrafia horrível.
Por causa da digitação que era super rápida, segurar numa caneta já não era mais o seu forte. Mesmo assim, ousou tentar.

O quê dizer? Com quem falar?

Ninguém iria ler. Provavelmente, ninguém veria aquele escrito.

Mesmo assim, ousou escrever.

“Errei o caminho. Tentei acertar. Não consegui. Não sei se vou chegar. Mas se chegar, tudo estará diferente. Já não estarão mais esperando. Não posso culpa-los. Uma pena. Tudo poderia ter sido diferente se chegasse no tempo certo. Mas não foi assim que aconteceu. Espero que estejam bem. Em mim, dói a saudade. Que pretendo matar quando chegar. Mesmo estando diferente, e encontrando não mais as pessoas que deixei, mas as pessoas nas quais vocês se tornaram. A vida é assim. Somos como as estrelas. Muitas vezes, o brilho que vemos, é o passado. O presente pode ser bem diferente. Mas ainda assim, não podemos esquecer de olhar para o horizonte. Onde as estrelas brilham. Lá, bem longe, enquanto umas morrem, outras nascem. Nascem para ocupar o lugar daquelas que se foram. Mas que jamais serão esquecidas.”

sábado, 20 de janeiro de 2018

Feliz 2018?

  • Bom dia, seu Agenor! Feliz ano novo! Muita saúde, paz, prosperidade para o senhor e para sua família, que 2018 traga muitas realizações, muito dinheiro e muitas alegrias!
  • Hum. Igualmente.
  • Mais um ano de trabalho, né, seu Agenor. Esse promete!
  • Que nada. Começou mal.
  • Por que, seu Agenor?
  • Já viu o tanto de feriado que tem nesse ano? Sem contar a tal da Copa, que acaba virando folga coletiva.
  • Ainda bem!
  • Como?
  • Ah, eh... "o que é que tem", seu Agenor?
  • Tem que a produção despenca, a economia encolhe, os números baixam! OS NÚMEROS!
  • Verdade. Mas pelo menos dá para viajar um pouquinho, encontrar os amigos pra ver os jogos em algum barzinho, né, seu Agenor.
  • E isso aqui é agência de viagens? Você vende cerveja pra ganhar a vida?
  • Não, seu Agenor, é que eu pensei que...
  • Pensando, de novo? Você não é pago para pensar. Vai, para de enrolar.
  • Seu Agenor?
  • Que é?
  • Nada, vai...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

É melhor investir em imóveis do que em relacionamentos

Desde pequena sou observadora, mas tudo na vida que é uma benção também é uma maldição. Observo tanto que acabo vendo coisas que não gosto e me deixam triste. E além disso tenho uma memória excelente, lembro de tudo, de datas, nomes, momentos.

De repente cismo com alguma coisa e começo a observar. Já faz muito tempo que venho reparando algumas coisas em casais amigos. Instintivamente, mesmo novinha, sempre achei que isso de casamento, de dividir vida, era uma coisa meio sufocante, eu sentia isso, mas não conseguia explicar o porquê.


Tenho lido muito sobre a questão do papel da mulher em uma sociedade machista e percebo como muitas das minhas crenças eram errôneas e talvez eu sentisse isso no fundo da alma, que alguma parte discurso estava errada, e eu  tentava reagir. Lembro muito de sempre ter escutado uma frase ''para os homens o amor é um capítulo, para as mulheres o livro inteiro''.


Em um patriarcado o que se espera das mulheres era que se jogassem no relacionamento, se entreguem por completo e vivam em função do homem. Mesmo no século 21 vejo em algumas amigas mais disposição para viver a história de amor do que os homens. Eles juram mais, mas na prática quem compra a questão inteira é a mulher, ela vira uma parceira automaticamente, enquanto eles vão encostando.


O tempo passa e amigos que eu vi casar há alguns anos começam a dar sinais de desgaste. Tudo na vida um dia acaba, o problema é quando essa coisa se arrasta meses e faz todos sofrerem.


De tanto observar comecei a perceber o seguinte, vale muito a pena investir em si mesmo, seja estudando, seja fazendo alguma coisa que traga prazer. Também vale a pena investir em imóveis e nos filhos, tem alguma coisa ali de amor incondicional. Mas fora isso, investir em um relacionamento é a maior roubada que a pessoa pode fazer, é como guardar dinheiro embaixo do colchão, depois de anos resolvem usar o dinheiro e ele não vale mais nada, porque são notas antigas.


O outro, a outra, são areias movediças e o que se pode construir em terrenos assim? Nada. O ser humano não é confiável e não é mais tão seguro quanto um dia pareceu ser. Hoje as coisas se movimentam diferente e as pessoas se sentem livres para procurar o que tem vontade de fazer, sem amarras. Isso é muito bom, mas quem investe em um relacionamento tem todas as chances de se dar mal, porque não pode prever as reações alheias.


Vi amigas que investiram pesado em relacionamentos se esfolando vivas. Quantas coisas a gente investe em nós mesmos e não dá em nada? Imagina no outro, esse ser que não conhecemos.


Bom mesmo seria viver o amor, a paixão livremente, sem investir nada além do mínimo, sem sacrifícios e discussões que não levam a nada, deu certo, então vai em frente, emperrou, sai fora, mas não invista.


Não só amigas vi morrer na praia, também as mulheres da minha família. De geração anterior se dedicaram a trabalhar, cuidar dos filhos e incentivar o benhê, esse amor que com o tempo vira encosto. Não receberam nada por isso, pelo investimento no seu amor, pelo contrário, foram abusadas e exploradas até a última gota.


Quando estamos com alguém não damos só nosso amor, também vai a energia, o tempo, muitas vezes o dinheiro, e outras coisas, tudo isso deve ser colocado em um papel e se perguntar se vale a pena investir tanto em alguém e qual será o retorno.


Sempre que escrevo isso alguém vem me dizer que eu sou fria, porque pessoas quando se apaixonam são felizes, a vida é sobre isso. Ah, é mesmo? Bom saber, porque pior do que o amor é o tempo, esse sim devasta tudo e te joga na cara todas as bobagens que você fez. Se eu sei que não vale a pena investir em um relacionamento é porque já perdi alguma coisa e me vi obrigada a fazer as contas e perceber que investir em pessoas sempre dá prejuízo.


Acho ótimo amar, beijar, ficar, se apaixonar, tudo isso é bom demais, mas conheço o prejuízo do dia seguinte, que pode custar anos para a pessoa se recuperar. Por isso quem quiser investir no seu amor tem que ter espírito de monge tibetano, uma coisa desapegada mesmo, então a pessoa investe e não sofre ao perder tudo. Mas eu não sou monge, nem tibetana, sou virginiana e pão dura, não me interessam investimentos que não vão me dar retorno e ainda por cima dão prejuízo.


Meu avô no seu machismo sempre dizia:


-As mulheres nem todo o ouro, nem todo o amor.

Em uma versão atualizada gosto mais de pensar -''As pessoas nem todo o ouro, nem todo o amor''. Precaver não mata ninguém. E tudo que pensamos ser digno da nossa atenção e amor, pode não ser. Mas quem vai cuidar dos nossos investimentos? Nós. E se não prestamos atenção nisso quem vai pagar o erro somos nós.

Iara De Dupont

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Do alto de minha ignorância assisto a documentários

Sabe, não tinha com quem comentar, então te pedi para conversarmos sobre. Tudo bem, você não assistiu, mas, em minha cabeça, você é uma das únicas pessoas capazes de entender minhas reflexões, que não servem de nada na vida prática. Então eu te peço que assista a três horas sobre a vida de uma escritora americana da década de 1970, mesmo sabendo que nunca vai ler porcaria nenhuma da obra dela. Quando me chama para conversar e pergunta o que achei, não sei responder. Você precisa de alguém com quem conversar sobre documentários, e não sou eu.

P.S.: não deixem de assistir a "Joan Didion: the center will not hold", um primor, apesar de nossa ignorância.

Photograph by Julian Wasser.