Caminhavam pela
noite. Ouvia-se pequenos burburinhos no interior das casas – a TV e
seu milagroso creme com o retorno da juventude em duas aplicações, a dança das
tampas e suas panelas no fundo da cozinha, um avô tossindo suas dores. A cidade
era pequena, conservara um charme decadente, vestígios da época em que os
cassinos eram a festa e a água, a cura. O vazio ocupava as largas ruas repletas
de noites. Eles continuavam a perambular, cambaleantes de conhaque e cigarro. O
vento de outono atingia a pele com rispidez a cada trago que compartilhavam.
Caminhavam pela
noite, mas, ouso dizer, a noite os encaminhava. Havia uma urgência de vida. Despertos,
sonhavam realidades possíveis.
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