Agenor havia sido
promovido. Agora seria responsável pela segurança. Começou arrumando uma
dívida, mas era por uma boa causa. Precisava comprar um terno caro. Era
imprescindível que responsáveis pela segurança vestissem um terno caro.
E
lá se foi Agenor para sua tarefa. Em meio aos risos e conversas descontraídas
dos clientes do bar, que se espalhavam pelas mesas da calçada, Agenor ficava
atento. Prevenir era sempre melhor que remediar, portanto ele interrompia os
brindes, as conversas de happy hour e
se necessário até mesmo os beijos apaixonados dos casais imprudentes.
Havia
passado os últimos três dias em frente ao espelho, decorando o texto e
treinando as melhores expressões faciais para passar segurança, afinal era para
isso que fora contratado.
"Boa
noite. (...) Boa noite? Muito bem. Permitam que eu me apresente. Eu sou o
Agenor, sou responsável pela segurança de vocês. Estou aqui para assegurar que
nada de mal vai acontecer. Eu conto com a colaboração de vocês. Permitam que eu
dê uma recomendação de segurança: caso algum pedinte se aproxime, não entrem em
pânico, não deem dinheiro para não estimular a prática, não ofereçam comida,
não puxem conversa. Sigam essas instruções e nada de mal acontecerá. Tenham uma
boa noite." E se afastava para cumprir sua função.
Tudo
seria muito mais fácil, não fossem os imprudentes. A maioria seguia as
recomendações, diante do perigo iminente apenas recuava e clamava pela ajuda de
Agenor, que corria expulsar os maus elementos que colocavam a paz e a ordem em
risco. Tudo na mais perfeita harmonia, não fossem os imprudentes.
Não
passava uma noite sem ter que agir com mais vigor, graças àqueles que,
contrariando as regras explícitas de segurança, davam moedas – moedas! – aos vagabundos
que se aproximavam.
Era
a hora de agir sorrateiramente, expulsar os transeuntes que ofereciam um perigo
inegável à gente de bem que se espalhava pelas mesas da calçada, lamentando não
poder agir com todo o rigor que gostaria.
O
maior problema era o direitos humanos. As pessoas que agiam de forma imprudente
e ainda criticavam Agenor quando ele realizava seu trabalho da forma mais
competente possível. Precisava de todo jogo de cintura para, depois de se
certificar de que o perigo havia sido afastado, se aproximar da mesa dos
imprudentes com o olhar sério, semelhante ao que lançava aos próprios filhos
diante de uma travessura.
“Boa
noite. Lembram do que eu disse? Eu conto com a colaboração de vocês! É uma
recomendação de segurança. Por favor, não estimulem esse tipo de atitude.”
E
voltava a se afastar, dessa vez mantendo uma atenção especial à mesa dos
transgressores da ordem. Só não conseguia compreender qual a dificuldade daquelas
pessoas de ter uma atitude de gente de bem e ajudar a escorraçar os maus
elementos. Vai entender...
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