Foi no curso pré-vestibular que o professor de história, daqueles raros apaixonados pela profissão, disse com brilho nos olhos que a conquista de leis escritas havia sido um grande marco na história da humanidade.
Eu, inocente, para não dizer outra coisa, fiquei pensando em tantas outras conquistas e invenções que poderiam, na minha cabeça, ser mais relevantes que pegar um papel e escrever um conjunto de leis.
A experiência do velho professor parece ter lido em meus olhos, e quem sabe essa não teria sido uma dúvida geral da classe de jovens inexperientes, que um papel escrito não parecia lá grandes coisas.
E lá foi a sala toda ouvir o óbvio. Se as leis não estão escritas qualquer um – sobretudo figura ligada ao judiciário – pode inventar que determinado comportamento é crime, só para punir um suposto réu com o qual tem algum tipo de desavença.
Não sei, naquela época, se ao saber que acusação e juiz estavam mancomunados contra o réu, minha reação seria de indiferença, mas são absurdos equivalentes, tanto a hipótese de inventar uma lei para punir uma pessoa específica quanto forjar um julgamento por baixo dos panos virtuais do Telegram.
Dizer que estando certo ou errado o importante é ter barrado o maior escândalo de corrupção da história da humanidade, que rendeu um ap no Guarujá, é um atestado de culpa. Se o escândalo era tão grande e notório, não precisaria de conluio, bastariam as provas.
E assim seguimos com mais um capítulo baseado em cometer um absurdo para supostamente combater um absurdo. Assim toleramos uma ditadura para combater a ditadura, toleramos armas para combater a violência, toleramos perder direitos trabalhistas para combater a precarização do trabalho. Haja tolerância.
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