quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Perdoe a ausência e o mal jeito...

... mas gente...
Correria total hoje.
Cheguei em casa há pouco pra editar meu programa (podcast).
Prometo que vou, logo no início, mandar um salve pra vocês pra compensar não ter um post legal aqui hoje!
Para ouvir, clique aqui, logo após a meia noite, que é quando o programa estará disponível! 
Abração!
Quer dizer... Já tem vários disponíveis, mas a edição dessa sexta sai meia-noite ou pouco depois disso!
Abraaaçoooooo!

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Uma América hemofílica

O livro “As veias abertas da América Latina”, lançado pelo uruguaio Eduardo Galeano, em 1971, deveria ser leitura obrigatória para todo cidadão latino-americano. 

Não é um livro dos mais agradáveis, nem prende o leitor do começo ao fim. Isso porque Galeano não escolhe o caminho sedutor da opinião sem fundamento. O texto agradável do autor é recheado de referências histórias e documentais, que comprovam as informações da obra que, já no sumário, fala da “pobreza do homem como resultado da riqueza da terra”.

Com quase 50 anos, o livro parece ter sido escrito ontem. Lá fica claro como o período conturbado que os países latinos estão passando não é uma exceção a ser superada, mas uma regra, interrompida por curtos períodos de prosperidade, necessários para apaziguar a revolta do povo explorado há meio milênio.

Hoje o petróleo – brasileiro ou venezuelano –, o gás boliviano ou o cobre chileno são o sangue das veias abertas. Em outras épocas foram o ouro, a prata, o açúcar e, como diz Galeano, até a merda das gaivotas que cobria as encostas de pedra da orla peruana, exportada como excelente fertilizante aos agricultores europeus.

O que sobra da pilhagem de países ricos é a metade da população brasileira que sobrevive atualmente com 413 reais por mês, são as mais de 200 pessoas que perderam a visão em protestos no Chile, alvos de policiais provavelmente alinhados com os oficiais bolivianos que recortaram a bandeira indigenista da farda após a derrubada do governo.

Policiais indígenas negando a bandeira indigenista só é compreensível em uma região em que a exploração europeia começou há mais de 500 anos, culminando no oprimido desejando o status de opressor. É o que explica a existência de ao menos 334 células neonazistas – movimento ligado à farsa da pureza da raça branca – no Brasil, país símbolo da miscigenação.

As veias abertas da América Latina é um livro denso, cansativo, triste, às vezes deprimente, mas ainda assim indispensável, por mostrar as raízes da exploração perene em uma região que, com as veias abertas, parece hemofílica. O sangramento não irá estancar com o tempo e o esforço para que a cicatrização aconteça deve ser coletivo.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Jeito

Por que tudo parece normal, mas não está?
Não sei.
Quando eu era pequena meu avô dizia ''o Brasil não tem jeito''. 
Ele falava isso há anos. 
É uma frase que entrou na corrente sanguínea do país, as pessoas pensam que o Brasil não tem jeito. E quando tudo está errado, parece certo. E quando está certo, parece errado.

Um amigo que trabalha em um centro espírita me disse ''o Brasil é um lugar de expurgo''.
O padre da igreja diz ''tem religiões demais aqui, isso bagunçou o país''.
Economistas dizem que tudo é instável por causa ''da moeda''. 
Pessimistas falam que é assim mesmo por culpa da ''corrupção''.

E vamos indo, nesse mar de opiniões contrárias, ninguém se entende, ninguém conversa, mas todos concordam com uma coisa ''o Brasil não tem jeito''.

Essa frase entrou no inconsciente coletivo e contaminou toda a nossa percepção. Vivemos em um país rico em recursos naturais, justo quando o mundo mais sofre a falta deles, temos espaço e clima bom, tudo para crescer, mas cada vez mais diminuímos, guiados pela certeza de que ''o Brasil não tem jeito''.

Tem sim. Tudo tem. E começa com a extinção dessa frase, com a remoção desse pensamento. Tudo tem jeito, ora, não somos o  país do ''jeitinho''?
E justo agora que precisamos dar um jeito, não tem jeito?
Sempre tem. O jeito é acreditar que tem jeito.

Iara De Dupont