Ontem foi Dia do Índio. Não fosse a pandemia, muitas crianças teriam vestido fantasias ridículas, feitas com papel crepom, para estereotipar os povos indígenas com cocares e tangas, de uma forma que só existe no imaginário preconceituoso. Pelo menos a pandemia livrou uma geração de ter que esconder pelo resto da vida uma foto de gosto duvidoso.
Aos indígenas a pandemia não trouxe alívio algum. Em São Paulo a Construtora Tenda luta na justiça para expulsar indígenas Guarani Mbya do minúsculo território demarcado no Pico do Jaraguá. Para erguer cinco prédios para cerca de 800 moradores a Tenda teria que derrubar mais de 4 mil árvores, na cidade que já quase não tem áreas verdes.
Longe dos centros urbanos a situação é ainda pior. Na floresta, 4 mil árvores derrubadas seriam uma pequena parte do ataque às reservas. A promessa de quem hoje ocupa o Palácio do Planalto sempre foi não dar mais terras aos índios, sem perceber que as tais terras sempre foram de indígenas, expulsos há séculos de terras que ocupam há milênios.
Em meio à crise do Covid-19 a notícia de uma safra acima da média traz respiro à economia, defendida até a morte, desde que a morte de pessoas que supostamente merecem morrer. Para quem ainda vê os povos indígenas como um mero empecilho ao progresso e as mortes em decorrência do vírus como um mal necessário em prol da economia, é a prova de que o caminho correto é o desmatamento para a agricultura ou para a criação de gado.
Difícil saber quantas pessoas têm esse pensamento, mas não são poucas. Muitas chegam a se aglomerar em passeatas a favor do presidente. Não, não são gado, são pessoas, como eu ou você. Animalizar adversários políticos, sobretudo quando defendem a barbárie de forma tão explícita, é tentador, mas não ajuda em nada. Gado não tem opção. Age da única forma que poderia agir. Manifestantes, de qualquer espectro político, têm a possibilidade da escolha.
Entre passeatas que parecem dar fôlego ao presidente e os panelaços que parecem desejar fritá-lo, melhor uma análise de pesquisas. Não são tão empolgantes, não ganham no grito, muito menos na bala, mas revelam um perfil mais preciso da população.
Segundo o Datafolha, o mesmo instituto que a extrema-direita exaltava ao indicar baixa popularidade de Dilma e agora desqualifica, como desqualifica qualquer coisa que não exalte o presidente como unanimidade inquestionável, indica que entre líderes mundiais, o brasileiro é um dos poucos que não teve sua popularidade aumentada com a crise. Também indica que é a pior popularidade de um presidente em primeiro mandato, desde Fernando Collor.
Pode parecer empolgante para quem nunca se conformou com a cadeira presidencial ocupada por um demente incapaz. Por outro lado, só 17% daqueles que elegeram o presidente se arrependeram do voto. A popularidade foi estabilizada há meses e se algo entre 30 e 35% de aprovação é pouco em condições normais, diante de todas as insanidades, ignorâncias e barbáries cometidas, é suficiente para que o presidente se sinta confortável e livre para fazer o que quiser.
Não são gados, são pessoas. Assim como observado pela filósofa Hannah Arendt, ao criar o conceito de “banalidade do mal”, são pessoas comuns. Se intitulam até de “pessoas de bem”, que ao tirar a camiseta da CBF que vestem para protestar contra a corrupção (!) costumam ir para a igreja, falam em nome de deus, se vestem bem, vão a shoppings, fazem compras, confraternizam com amigos e familiares.
Tudo isso ao mesmo tempo que defendem um regime autoritário que reprima ou eventualmente aniquile opositores. São aqueles que justamente por viverem da exploração do trabalho, não admitem que trabalhadores fiquem em casa. São os que, beneficiados pelo alto desemprego, sabem que caso os trabalhadores morram, basta contratar outros. Se indígenas morrerem, diminui a dificuldade de obter mais terras.
Não são gados, são pessoas, conscientes e sórdidas ao ponto de relativizar os fatos mais evidentes. Gados agem por instinto, da única forma que poderiam agir. Pessoas têm escolhas e podem optar pelo pior, fechando os olhos para as consequências nefastas em quem não reconhecem como semelhantes.
Aos indígenas a pandemia não trouxe alívio algum. Em São Paulo a Construtora Tenda luta na justiça para expulsar indígenas Guarani Mbya do minúsculo território demarcado no Pico do Jaraguá. Para erguer cinco prédios para cerca de 800 moradores a Tenda teria que derrubar mais de 4 mil árvores, na cidade que já quase não tem áreas verdes.
Longe dos centros urbanos a situação é ainda pior. Na floresta, 4 mil árvores derrubadas seriam uma pequena parte do ataque às reservas. A promessa de quem hoje ocupa o Palácio do Planalto sempre foi não dar mais terras aos índios, sem perceber que as tais terras sempre foram de indígenas, expulsos há séculos de terras que ocupam há milênios.
Em meio à crise do Covid-19 a notícia de uma safra acima da média traz respiro à economia, defendida até a morte, desde que a morte de pessoas que supostamente merecem morrer. Para quem ainda vê os povos indígenas como um mero empecilho ao progresso e as mortes em decorrência do vírus como um mal necessário em prol da economia, é a prova de que o caminho correto é o desmatamento para a agricultura ou para a criação de gado.
Difícil saber quantas pessoas têm esse pensamento, mas não são poucas. Muitas chegam a se aglomerar em passeatas a favor do presidente. Não, não são gado, são pessoas, como eu ou você. Animalizar adversários políticos, sobretudo quando defendem a barbárie de forma tão explícita, é tentador, mas não ajuda em nada. Gado não tem opção. Age da única forma que poderia agir. Manifestantes, de qualquer espectro político, têm a possibilidade da escolha.
Entre passeatas que parecem dar fôlego ao presidente e os panelaços que parecem desejar fritá-lo, melhor uma análise de pesquisas. Não são tão empolgantes, não ganham no grito, muito menos na bala, mas revelam um perfil mais preciso da população.
Segundo o Datafolha, o mesmo instituto que a extrema-direita exaltava ao indicar baixa popularidade de Dilma e agora desqualifica, como desqualifica qualquer coisa que não exalte o presidente como unanimidade inquestionável, indica que entre líderes mundiais, o brasileiro é um dos poucos que não teve sua popularidade aumentada com a crise. Também indica que é a pior popularidade de um presidente em primeiro mandato, desde Fernando Collor.
Pode parecer empolgante para quem nunca se conformou com a cadeira presidencial ocupada por um demente incapaz. Por outro lado, só 17% daqueles que elegeram o presidente se arrependeram do voto. A popularidade foi estabilizada há meses e se algo entre 30 e 35% de aprovação é pouco em condições normais, diante de todas as insanidades, ignorâncias e barbáries cometidas, é suficiente para que o presidente se sinta confortável e livre para fazer o que quiser.
Não são gados, são pessoas. Assim como observado pela filósofa Hannah Arendt, ao criar o conceito de “banalidade do mal”, são pessoas comuns. Se intitulam até de “pessoas de bem”, que ao tirar a camiseta da CBF que vestem para protestar contra a corrupção (!) costumam ir para a igreja, falam em nome de deus, se vestem bem, vão a shoppings, fazem compras, confraternizam com amigos e familiares.
Tudo isso ao mesmo tempo que defendem um regime autoritário que reprima ou eventualmente aniquile opositores. São aqueles que justamente por viverem da exploração do trabalho, não admitem que trabalhadores fiquem em casa. São os que, beneficiados pelo alto desemprego, sabem que caso os trabalhadores morram, basta contratar outros. Se indígenas morrerem, diminui a dificuldade de obter mais terras.
Não são gados, são pessoas, conscientes e sórdidas ao ponto de relativizar os fatos mais evidentes. Gados agem por instinto, da única forma que poderiam agir. Pessoas têm escolhas e podem optar pelo pior, fechando os olhos para as consequências nefastas em quem não reconhecem como semelhantes.
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