Quase fechando esse dois mil e vinte de meu Deus, tanta pauta de empoderamento, as influencers todas falando que a gente tem que se amar. E eu revidando conquista com fracassos.
Foi chão até que eu aprendesse a não revidar com autodepreciação o que vinha como mensagem de amor. Assim, em voz alta. Porque aqui dentro ainda me martelava. Aff, cê tá louca, amiga. A voz fala baixinho, mas é insistente.
Há duas semanas eu ganhei uma menção honrosa. Minha pesquisa de mestrado, super reconhecida. E eu, super convencida. Que arrasei? Não, é porque não tinha ninguém melhor, né? Eu sei. Amanhã vou avaliar um trabalho de conclusão de curso de graduação. Que lindo, confiaram em mim. Talvez as outras opções não estivessem disponíveis, né? Certeza.
Parece pesadelo, mas é só minha quarta-feira. As desculpas são cada vez mais sofisticadas. Do porquê não mereci. Provo com rigores científicos de que não sou capaz, foi só um descuido. E isso quase me basta.
Mas aí me apareceu Consuelo.
Consuelo é a voz que batizei na minha consciência que veio para achincalhar todo o setor das desculpas.esfarrapadas.criadas.para.diminuir.a.mim.mesma. Ela é uma matrona de fogo nas ventas, saia rodada e o tom de voz mais alto das Américas. Consuelo grita, ninguém se mexe. Ela sempre vem quando o setor trabalha demais. Ela também interfere no departamento acho.que.não.ficou.tão.bom.assim.
Consuelo põe ordem, na voz ou no pisar das tamancas. Não foi sorte, mulher. Ela fala. Consuelo afirma, a cabeça assenta. Ai de você dizer que é porque tinha gente menos qualificada. Ou que calhou de irem com a sua cara. Consuelo só aceita que você diga que trabalhou e se empenhou. Aí ela vai embora, barriga cheia, satisfeita.
Foi ela que pediu para eu fechar de vez esses departamentos e escrever mais. Escreva, mulher.
Quem sou eu para discordar.
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