Esses dias revi o remake de Footloose. Tenho uma queda por filmes em que as pessoas dançam. É uma pena, porém, que muitos deles tenham roteiro tão batido e previsível porque dançar não deveria estar limitado a competições. Footloose não é sobre concurso, embora seja um típico filme de comédia romântica adolescente com roteiro pouco original.
A trama se passa numa cidadezinha do interior americano que decidiu proibir festas e danças. A morte de um grupo de adolescentes depois do baile foi o estopim para acirrar ainda mais a moral religiosa dos habitantes da cidade que culminou na curiosa lei. Mas tudo muda quando um rapaz forasteiro chega e se rebela.
Fora o asco que tenho dessa relação promíscua entre Estado e religião, me chamou a atenção o discurso que o moço revoltoso fez ao tentar persuadir o conselho a revogar a tal lei. Ele dizia apaixonado que os jovens tinham o direito de se divertir, de fazer besteira, de ser irresponsáveis porque era esse o momento da vida em que estavam. Usando a própria linguagem dos seus interlocutores, cita a passagem da bíblia cristã em que diz “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: (...) tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar”. Completa afirmando que ele compreendia a preocupação dos pais porque é isso o que fazem os adultos: se preocupam. Se em breve seriam eles a ocupar esse lugar da preocupação, então não seria justo dar a eles o direito de curtir antes de tudo isso?
Fiquei refletindo sobre o quão triste e cruel é esse pensamento que permeia não apenas a sociedade americana, mas a brasileira também (felizmente em menor grau), mas ainda assim presente. É como se tudo de divertido, interessante, novo só pudesse ser vivido durante a juventude. Quem viveu, viveu, quem não aproveitou, perdeu. Vida adulta feliz e realizada só se tiver casado com filhos e ter dinheiro o suficiente para ostentar.
Por mais que se reflita sobre a arbitrariedade de tudo isso é difícil se livrar desse conceito. Não é por acaso que não se vê muitos adultos aprendendo novas habilidades ou mesmo vivendo experiências novas que não tenham uma finalidade utilitária. Pra quê aprender caligrafia? Pra quê você vai aprender a andar de patins agora? Pra quê você vai ler um livro sobre astronomia? Aulas de canto, rapel, balada? Nessa idade?!
Curioso que ao mesmo tempo que reina uma ideia de que não devemos ser pessoas entediantes também existe uma ridicularização de adultos e idosos aprendendo coisas novas. Não tenho muita esperança de que o mundo saia melhor dessa pandemia, mas desejo sinceramente que as pessoas, incluindo eu mesma, se libertem das amarras mentais que colocam um prazo de validade na diversão, na aventura, no sonho. Não precisamos ser gênios para poder realizar qualquer atividade. Não precisamos ganhar concursos de dança para poder dançar.
Tem um filme de dança chileno, chama Tony Manero, mas tem competição que rola na época da ditadura, achei bem interessante!
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