Pronto. Estabeleci nesse momento respeito por tudo que fosse profundo.
Anos depois eu nadava no mar, quando fui alertada por um grupo de banhistas para não me afastar tanto, porque o mar era agitado e profundo. Fiquei uns minutos ali até que senti o poder da água, que tentava me puxar para o outro lado.
Consegui voltar para a areia, mas muito cansada, tinha exigido demais de mim essa briga com o mar.
Profundidade sempre foi para mim um caso sério, de respeito. Profundidade em tudo, nas ideias, nos sentimentos, na vida.
E hoje percebo a enorme dificuldade que tenho em me adaptar a um mundo raso, que vive na areia, longe das ondas e das profundidades.
O profundo não é mais perigoso, apenas não é ''tão legal assim''.
A superficialidade dominou o planeta. O rápido, o raso, o vazio. Os sentimentos que são criados em um dia e mortos no dia seguinte.
E não vou reclamar, até encontrei o lado bom de viver em uma humanidade rasa. Não se precisa argumentar nem dizer nada, todos já nascem com os pensamentos em ordem e as ideias na ponta da língua.
Não é preciso sentir a intensidade do profundo para amar, gostar é suficiente.
O mar continua profundo? Talvez não. Já contaminado pelo ser humano, ocupado por grandes empresas que se dedicam a destruir o planeta, transformado em lata de lixo. Talvez o mar não seja mais profundo.
O raso dominou tudo. O que pensamos, sentimos, como vivemos, tudo é apenas areia, sem profundidade, sem grandes ameaças.
O profundo não existe mais.
Só resta nos adaptar ao raso, que cada dia é mais raso, liso e sem sentido. É apenas o raso sendo raso.
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