Grande parte do ouro que circula no mundo foi pilhado da América Latina. É um ouro avermelhado, que não reluz plenamente nem depois de purificado. Traz marcas do sangue que acompanha a história do continente desde a chegada dos europeus.
No livro “A revolução chilena”, Peter Winn relata uma reação dos mapuches, liderados por Lautaro, contra o comandante espanhol Pedro de Valdivia: “Quando a crueldade dispensada por Valdivia aos mapuche provocou a rebelião destes, Lautaro retornou ao seu povo e os conduziu à vitória sobre o comandante espanhol, a quem executaram despejando-lhe ouro derretido garganta abaixo e dizendo: "Eis o ouro pelo qual você matou". Foi uma das raras reações à violência europeia.
A América Latina é tão rica que mesmo após cinco séculos de exploração, ainda é alvo da cobiça de quem segue com a mentalidade de extrair riquezas imediatas para enriquecimento individual. Na floresta amazônica o garimpo ilegal se aliou aos madeireiros, grileiros, pecuaristas e por fim aos traficantes; todos mantendo o legado de uma terra cheia de riquezas, concentradas nas mãos de poucos, lavadas com o sangue de muitos.
Os exemplos mais recentes são o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips. Se juntam ao seringueiro Chico Mendes e à missionária Dorothy Stang, todos assassinados por combaterem ações predatórias de criminosos. São a ponta do iceberg formado por milhões de indígenas anônimos aos brancos, assassinados ao longo dos séculos.
Conforme a ciência avança, fica cada vez mais claro que o ouro da Amazônia é verde. Sem a floresta o solo perde a fertilidade, não serve para a agricultura; o regime de chuvas de todo o continente seria prejudicado, comprometendo toda forma de vida, desde o abastecimento e regulação térmica das cidades até o próprio setor agrário, tradicionalmente ligado ao desmatamento.
A floresta intacta, protegida pelos povos originários, gera riqueza perene. Flora e fauna se renovam, enquanto bombeiam água, que cairá como chuva no continente. É uma reserva de conhecimento ainda pouco explorada, que pode oferecer ao mundo diversos medicamentos, alimentos e saberes ancestrais guardados por indígenas. O metal brilhante do subsolo, se extraído, só engordará ainda mais a conta bancária de milionários.
Preservar a floresta vai além de não cortar árvores. Inclui questionar a própria noção de riqueza e como deve ser feita a distribuição do que é, de fato, valioso. O trabalho de Bruno e Dom na Amazônia tinham esse objetivo. Por isso foram assassinados por quem não sabe dialogar e não aceita nada além de dinheiro.
Quase 500 anos se passaram desde a revolta mapuche que culminou no ouro derretido goela abaixo do comandante espanhol. Hoje uma revolta à moda mapuche é improvável, os verdadeiros assassinos têm mais armas, mais amparo legal e respaldo da presidência da república para cometer as barbaridades.
A vantagem de hoje está na conscientização, que ainda enfrenta resistência por parte de uma mentalidade do século 16, que vê o indígena como um empecilho a ser assassinado, a floresta como um empecilho a ser derrubado, os rios como um empecilho a ser canalizado e o dinheiro como a droga viciante, que turva a vista do dependente e impede a atuação do bom senso.
Encerro o texto frustrado. Além da insanidade de mais dois assassinatos na Amazônia, sinto não ter escrito nada além do óbvio. Parece que enchi uma folha afirmando que dois mais dois é igual a quatro, que a terra é redonda, que vacinas previnem doenças. É frustrante ter que dizer o óbvio, mas é indispensável enquanto o óbvio for desconsiderado.
No livro “A revolução chilena”, Peter Winn relata uma reação dos mapuches, liderados por Lautaro, contra o comandante espanhol Pedro de Valdivia: “Quando a crueldade dispensada por Valdivia aos mapuche provocou a rebelião destes, Lautaro retornou ao seu povo e os conduziu à vitória sobre o comandante espanhol, a quem executaram despejando-lhe ouro derretido garganta abaixo e dizendo: "Eis o ouro pelo qual você matou". Foi uma das raras reações à violência europeia.
A América Latina é tão rica que mesmo após cinco séculos de exploração, ainda é alvo da cobiça de quem segue com a mentalidade de extrair riquezas imediatas para enriquecimento individual. Na floresta amazônica o garimpo ilegal se aliou aos madeireiros, grileiros, pecuaristas e por fim aos traficantes; todos mantendo o legado de uma terra cheia de riquezas, concentradas nas mãos de poucos, lavadas com o sangue de muitos.
Os exemplos mais recentes são o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips. Se juntam ao seringueiro Chico Mendes e à missionária Dorothy Stang, todos assassinados por combaterem ações predatórias de criminosos. São a ponta do iceberg formado por milhões de indígenas anônimos aos brancos, assassinados ao longo dos séculos.
Conforme a ciência avança, fica cada vez mais claro que o ouro da Amazônia é verde. Sem a floresta o solo perde a fertilidade, não serve para a agricultura; o regime de chuvas de todo o continente seria prejudicado, comprometendo toda forma de vida, desde o abastecimento e regulação térmica das cidades até o próprio setor agrário, tradicionalmente ligado ao desmatamento.
A floresta intacta, protegida pelos povos originários, gera riqueza perene. Flora e fauna se renovam, enquanto bombeiam água, que cairá como chuva no continente. É uma reserva de conhecimento ainda pouco explorada, que pode oferecer ao mundo diversos medicamentos, alimentos e saberes ancestrais guardados por indígenas. O metal brilhante do subsolo, se extraído, só engordará ainda mais a conta bancária de milionários.
Preservar a floresta vai além de não cortar árvores. Inclui questionar a própria noção de riqueza e como deve ser feita a distribuição do que é, de fato, valioso. O trabalho de Bruno e Dom na Amazônia tinham esse objetivo. Por isso foram assassinados por quem não sabe dialogar e não aceita nada além de dinheiro.
Quase 500 anos se passaram desde a revolta mapuche que culminou no ouro derretido goela abaixo do comandante espanhol. Hoje uma revolta à moda mapuche é improvável, os verdadeiros assassinos têm mais armas, mais amparo legal e respaldo da presidência da república para cometer as barbaridades.
A vantagem de hoje está na conscientização, que ainda enfrenta resistência por parte de uma mentalidade do século 16, que vê o indígena como um empecilho a ser assassinado, a floresta como um empecilho a ser derrubado, os rios como um empecilho a ser canalizado e o dinheiro como a droga viciante, que turva a vista do dependente e impede a atuação do bom senso.
Encerro o texto frustrado. Além da insanidade de mais dois assassinatos na Amazônia, sinto não ter escrito nada além do óbvio. Parece que enchi uma folha afirmando que dois mais dois é igual a quatro, que a terra é redonda, que vacinas previnem doenças. É frustrante ter que dizer o óbvio, mas é indispensável enquanto o óbvio for desconsiderado.