A primeira vez que fui em um show realmente grande foi em 1998. Era o primeiro show do Sepultura com o novo vocalista. Derrick Green entrou em uma época em que muitos brasileiros não faziam ideia do sucesso que a banda fazia no mundo.
Eu, que aos 16 anos mal saía de Valinhos, entrei em uma excursão para São Paulo, encarar o estacionamento do sambódromo do Anhembi lotado. Não era só o Sepultura, que já não seria pouco, mas toda a adrenalina de um evento grandioso para os meus padrões, uma mudança de quem começava a sair de casa, cheio de sonhos típicos da adolescência.
A banda, que também iniciava uma nova fase, trouxe convidados especiais para o show. Zé do Caixão fez a apresentação; o primeiro guitarrista da banda, Jairo Guedes, tocou alguns clássicos; Jason Newsted, baixista do Metallica na época, trouxe um pouco de punk para o palco; também teve uma apresentação de indígenas Xavantes e de Carlinhos Brown, que haviam participado do álbum Roots.
Na época torci o nariz para essas atrações tão distintas do som pesado que me atraía. Demorei para perceber que o Sepultura sem o sincretismo das referências brasileiras seria só mais uma banda de heavy metal entre tantas outras. Foi esse o diferencial que fez os brasileiros serem notados e respeitados no mundo todo.
Passados 24 anos, voltei a ver a banda ao vivo. Fiz o caminho inverso. Depois de alguns anos morando em São Paulo, vi o Sepultura no interior. Seguem como ícone para os fãs do som pesado, mesmo tendo se distanciado do auge, no fim dos anos 90.
Se há tantos anos eu estava em êxtase com um evento tão grande, dessa vez fiquei ainda mais satisfeito com a apresentação no Sesc. O espaço é menor, mas a importância cultural é unânime entre os artistas que se apresentam.
Com capacidade de público ainda reduzida devido à pandemia, pude ver a banda muito mais de perto, acompanhando detalhes, desde os riffs e solos de guitarra que me encantam desde a adolescência até o atual baterista, que tinha sete anos quando fui no meu primeiro show.
Quase trinta anos se passaram desde o lançamento do álbum Roots, com a participação dos Xavantes, e o Sepultura voltou a gravar uma música em defesa dos povos originários. O tema segue relevante, hoje ouço de outra forma as influências nacionais misturadas ao heavy metal estrangeiro. Claro que muita coisa aconteceu desde a adolescência, mas o Sepultura permeou e estimulou muitas dessas mudanças oferecendo outro ponto de vista por trás do aparente barulho das músicas.
O trabalho que ressalta os indígenas deu ainda mais sentido para o público, que no intervalo do bis começou a mandar o presidente para lugares nada nobres. Shows de heavy metal no Brasil costumam ter um público conservador, que vai contra toda a origem de revolta e insubordinação do estilo. Uma incoerência brasileira que felizmente não se confirmou.
Uma característica que chamou minha atenção foi como o público mudou entre um show e outro. Dos adolescentes desengonçados do fim do século passado para pessoas mais experientes, alguns acompanhados pelos filhos, um pouco de peso a mais, um pouco de cabelo a menos. Só assustei mesmo ao olhar no espelho depois do show. De onde vieram todos esses fios brancos no cabelo e na barba?
Eu, que aos 16 anos mal saía de Valinhos, entrei em uma excursão para São Paulo, encarar o estacionamento do sambódromo do Anhembi lotado. Não era só o Sepultura, que já não seria pouco, mas toda a adrenalina de um evento grandioso para os meus padrões, uma mudança de quem começava a sair de casa, cheio de sonhos típicos da adolescência.
A banda, que também iniciava uma nova fase, trouxe convidados especiais para o show. Zé do Caixão fez a apresentação; o primeiro guitarrista da banda, Jairo Guedes, tocou alguns clássicos; Jason Newsted, baixista do Metallica na época, trouxe um pouco de punk para o palco; também teve uma apresentação de indígenas Xavantes e de Carlinhos Brown, que haviam participado do álbum Roots.
Na época torci o nariz para essas atrações tão distintas do som pesado que me atraía. Demorei para perceber que o Sepultura sem o sincretismo das referências brasileiras seria só mais uma banda de heavy metal entre tantas outras. Foi esse o diferencial que fez os brasileiros serem notados e respeitados no mundo todo.
Passados 24 anos, voltei a ver a banda ao vivo. Fiz o caminho inverso. Depois de alguns anos morando em São Paulo, vi o Sepultura no interior. Seguem como ícone para os fãs do som pesado, mesmo tendo se distanciado do auge, no fim dos anos 90.
Se há tantos anos eu estava em êxtase com um evento tão grande, dessa vez fiquei ainda mais satisfeito com a apresentação no Sesc. O espaço é menor, mas a importância cultural é unânime entre os artistas que se apresentam.
Com capacidade de público ainda reduzida devido à pandemia, pude ver a banda muito mais de perto, acompanhando detalhes, desde os riffs e solos de guitarra que me encantam desde a adolescência até o atual baterista, que tinha sete anos quando fui no meu primeiro show.
Quase trinta anos se passaram desde o lançamento do álbum Roots, com a participação dos Xavantes, e o Sepultura voltou a gravar uma música em defesa dos povos originários. O tema segue relevante, hoje ouço de outra forma as influências nacionais misturadas ao heavy metal estrangeiro. Claro que muita coisa aconteceu desde a adolescência, mas o Sepultura permeou e estimulou muitas dessas mudanças oferecendo outro ponto de vista por trás do aparente barulho das músicas.
O trabalho que ressalta os indígenas deu ainda mais sentido para o público, que no intervalo do bis começou a mandar o presidente para lugares nada nobres. Shows de heavy metal no Brasil costumam ter um público conservador, que vai contra toda a origem de revolta e insubordinação do estilo. Uma incoerência brasileira que felizmente não se confirmou.
Uma característica que chamou minha atenção foi como o público mudou entre um show e outro. Dos adolescentes desengonçados do fim do século passado para pessoas mais experientes, alguns acompanhados pelos filhos, um pouco de peso a mais, um pouco de cabelo a menos. Só assustei mesmo ao olhar no espelho depois do show. De onde vieram todos esses fios brancos no cabelo e na barba?