Procura-se um gato que eu sempre jurei ter resquícios de siamês, embora na testa dele e na sua inata capacidade de revirar lixos esteja o decreto: sou vira-lata. Procura-se um gato que, não se sabe como, desapareceu do meu apartamento, do prédio e me deixou com cara de boba, carregando o saco de areia caríssimo (e fechado) que comprei para ele.
Cheguei em casa e pela primeira vez em 16 meses ele não me recebeu. Sumiu, escafedeu-se. Foi incapaz de estar em todos os esconderijos prováveis e até nos impossíveis. A ficha de que meu gato havia sumido, mesmo, caiu aos poucos. Eu sustentei, até um certo momento, a ideia de que ele estava dormindo, hibernando sob minhas cobertas e eu não fui capaz de sacudi-las o suficiente para despertá-lo.
Ele volta, todos me dizem. Já faz mais de 24 horas que notei seu sumiço. E desde então, mesmo estando pouco em casa, senti ardidamente o abandono da minha bola de pelos branca e encardida. Ainda na manhã que o deixei em casa pela última vez ele parecia reclamar da minha saída e da solidão que ele (imagino eu) deveria sentir.
E agora, brinda-me com a sua ausência. Disseram-me que gatos quando estão doentes fogem dos donos, para que eles não os vejam morrendo. Acredito que só uma instintiva vontade muito grande de não me decepcionar o faria pular andares abaixo, rumo à boca cheia de dentes de três cachorros nada amigáveis. Coisa que o seu quê de gato de apartamento cagão nunca o permitiu sequer cogitar fazer.
Recuso-me a rever suas fotos e prefiro imaginar que ele está de férias em um hotel fazenda. De todos os seus sons dos quais eu reclamava, nesse minuto eu daria de um tudo para ouvir. Até ele derrubando as coisas na pia ou tentando escalar a geladeira. Agora, não há mais por que retirar os pães da mesa, não há ninguém que vai tentar comê-los. Não há por que deixar o buquê de flores não alto, não há felinos para devorar as pétalas. Nem é preciso ter pressa para desfazer as malas, não haverá uma surpresa branca e peluda dentro dela.
Nesse momento, no qual eu digito, ele estaria pegando no sono nas minhas pernas e, se as marteladas no teclado ou as gargalhadas fossem altas, ele acordaria e passaria as unhas sobre meu pijama, sobrando uns arranhões para as pernas sob o tecido. Hoje só me sobrou o meu pijama de gatinhos que minha mãe fez pensando no gato. O gato sumido.
Já listei mentalmente todas as hipóteses de onde posso encontrá-lo e em seguida refutei todas. Já cogitei procurar em todos os lugares fora daqui e cada vez tenho a certeza de que ele se foi para não mais voltar. Pode ser que tenha sido levado por alguém e, confesso, essa é a alternativa que mais me dói. É aí que tenho a certeza de que devo chorar, mas me recuso, porque oras, ele pode voltar.
Entendo, salvo as devidas proporções, quando dizem que é melhor saber que a criança está morta do que desaparecida. É difícil fazer as tarefas diárias imaginando que aquele ser pode estar machucado, com fome, com sede, esperando por você. É difícil não poder fazer nada por ele. É difícil perder um ser que você mal sabia como tê-lo. Mas, sobretudo, é difícil ter e perder, mesmo sendo um gato arisco e sem pedigree. E não é preciso ter tido um bichano roçando nas pernas para saber que a falta que faz dói, de um jeito que você sabe que vai passar, mas até lá... ah, até lá...
Da campanha: volta, Polaco, volta.
Puta que o pariu. Miauuuuuuuuuu! Que texto gostoso do ca*****! Enquanto lia, o gato desaparecido fazia rom-rom. E que final perfeito. Beijo Tati.
ResponderExcluirGatos sempre guardam um ar de mistério, principalmente no momento que nos deixam. Minha família sempre foi de ter um deles em casa quando eu era criança. E fica na mente sempre o sumiço de algum deles. Havia terrenos baldios em volta de casa. Procurávamos, procurávamos, mas não achávamos vestígio. Ficava aquela interrogação... ninguém sabia o que tinha acontecido. Acho que isso deve fazer parte da natureza deles.
ResponderExcluirgatos já tive muitos,muitos mesmo, (mas a "vizinhança"...)agora só dois, que vivem aqui apertando o teclado, entrando pelas cobertas.
ResponderExcluirSeu texto é delicioso,o título então,faz lembrar o velho G.Rosa, quanta sensibilidade!!!
PARABÉNS, (tomara que ele volte)
volta, Polaco, volta.
ResponderExcluirdelícia de texto, fluido, leve e quase de uma inocência feliz, não fosse a tristeza do gato desaparecido.
Ai...
ResponderExcluirEu me arrependi de qualquer comentário maldoso que tenha feito sobre a retina deslocada dele e tudo mais...
Sabemos que ele nem saiu pra namorar...hipótese descartada.
Tomara que ele volte...desejo de coração!
Volta sim Polaco!
ResponderExcluirSinto sua falta...
Hoje sem perceber ao ouvir um barulho na cozinha já gritei seu nome, como se fosse você fazendo arte. Porem lembrei que você não estava mais aqui.
Hoje o dia foi triste, pois você era o único q me aguentava.
Ai meu Deus!
Ou será que você fugiu porque não me aguentava mais?
Não esperou nem eu chegar em casa do feriado e já havia desaparecido.
Seráá que eu o irritava?
Mas parecia que la no fundo ele gostava de mim, sempre estava no meu quarto querendo deitar junto do Bille Joy e vivia roçando nas minhas pernas...
Onde será que você esta nessa noite fria??
Saudades...
Texto MARAVILHOSO Tati..
Muito bom...
Sinto orgulho dessa minha companheira de ape!
Um bjo de sua fã numero 1.
a bjork, minha gata, vivia fugindo e eu sempre atrás dela. depois desencanei. agora ela passa dois dias fora e volta como se nada tivesse acontecido. mas poxa, é verdade isso do polaco? se for, ele volta. se for um texto de ficção, sugiro que não...
ResponderExcluir;-P
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aaaaaa, chorei.
ResponderExcluirminha cora sumiu assim, do nada, há dois meses, depois de 11 anos companheira. e eu fujo de pensar no que teria acontecido... prefiro alienar.
aaah, a cora é canina!!! a mais linda vira latas de todos os tempos.
ResponderExcluire eu ainda não tive coragem de escrever sobre ela, mas escreverei.
nhoi, Tati.
ResponderExcluirespero que o Polaco volte. e logo. mesmo.
porque se minha Pedrita sumisse, ah, a maior dor se abateria sobre mim.
um abraço grande, querida.
Tomara que o Polaco volte, senão você ficará sem um gato quando, na velhice, estiver tricotando...
ResponderExcluirQue triste! Eu morreria se a Peteca e Jujuba sumissem assim, fiquei chateada pelo Polaco.
ResponderExcluirSeu texto foi o que mais me tocou.
Oi Tatiana, ô dó...
ResponderExcluirAqui vai o mantra "volta gato":
São Longuinho , São Longuinho, se achar o meu gato eu dou tres pulinhos
não custa tentar, não é?
aaaaahhhhh =(
ResponderExcluirvooooolta polacoooo!!!
volta, Polaco, volta
ResponderExcluiraté comecei a gostar de gatos, do seu gatinho *.*
ele volta tatiii
;)
vc ja saiu pelo bairro chamando?
ResponderExcluirA farofa uma vez ficou dois dias sumida e fomos descobrir ela estava acuada na garagem do vizinho, morrendo de medo.
Eles não tem costume de sair desbravando o mundo, eles tem medo. Ele deve estar por perto.
Tati!!! Será que ele não tá vindo p Prude me visitar? Vai que ele sentiu saudade da sua outra mãe?
ResponderExcluirEu tive muitos gatinhos cá em casa. "Bichano", na infância, é o insuperável deles. Foi o primeiro morto amado que vi na vida. Esses dias pintou uma gata que vaga por minha rua aqui em casa. Chama MEL, segundo minha prima. Veio primeiro pelo portão, depois no corredor, na área, dentro da minha casa. Cada dia dá um passo, faz que vez, mas qualquer movimente e cai fora dessa coisa de ser querida, desejada. Desconfiada que só desses amores machos. Ontem dormiu aqui, na cadeira do computador onde escrevo. Acordei rápido, às nove, e abri a porta da cozinha. Ela saiu correndo, como uma amante furiosa de ter ficado aprisionada. Gatos são como amores canalhas, suas carícias raras sedutoras, a gente se sente o eleito. A paixão rouca de quem vai minando o ar dos nossos pulmões. O desprezo e a auto-suficiência atrativa de quem, cedo ou tarde, vai nos meter as garras, saltar o muro sem um miau de adeus, para sempre.
ResponderExcluirTudo isso para dizer que amei seu post.
eduardo,
ResponderExcluirseus comentários sempre profundos me põem sensível.
um beijo.
sempre é difícil conviver com a ausência de seres que somem de repente, não importa a espécie: bichanos ou bichos humanos...
ResponderExcluiresse sim é um assunto com o qual é possivel se identificar sem ser só da boca pra fora. se uma das minhas cachorras chatas e irritantes sumisse, acho que ficaria doente, estilo criança mesmo...
ResponderExcluirpor vc e por mim, espero que o polaco volte...
Ahn, esses gatos fujões...
ResponderExcluirDelícia de texto!
E tomara que o Polaco volte logo!
Polacão deve tá de gracejos com alguma gatinha aí, logo ele volta Tati, e quando voltar leia pra ele a homenagem, ele vai chorar de alegria.
ResponderExcluirTatii... eu nem conhecia o Polaco, mas também fiquei triste com o sumiço dele...
ResponderExcluirOlha só, os 'filhos' crescem e se vão... é assim mesmo... e gatos acabam voltando, eles são cruéis às vezes...
senão, vale o que ficou. e a companhia por esses 16 meses!!!
saudade, querida.
texto maravilhoso!
Esse conto real eu já conhecia, mas seu dom é contar história na forma escrita e eis que ele foi adequadamente elogiado pelos comentários acima! Feliz pela estreia e novamente comovido pelo Polaco! Ah, ele volta!
ResponderExcluirLucas: infelizmente, é real. =(
ResponderExcluirCajadOmatic: estou tentando com Santo Antônio, acho que ele possui mais influência lá em cima.
Marcela: ele não tem medo, ele se caga. Por isso acho q alguém o pegou. =(
Eduardo Santinon: ele é castrado.
Valeu aí, gente.
Que aperto!
ResponderExcluirHj por precaução fechei todas as janelas, só fui trabalhar depois de me despedir das duas. A Peteca ficou no sofá e a Jujuba na cadeira. Esta, tem uma mania nova, fica na cadeira toda vez que eu saío, sempre em posição de salto.
ResponderExcluirTomara que o Polaco volte.
Cara!
ResponderExcluirPrimeiro: AMEI a ideia do blog, e tava olhando, monte de gente de monte de lugar, cuméquisurgiu essa idéia???? Muuuuuuuito legal!!!!
Segundo: pode ser que o Polaco naum volte, naum vou fazer coro a quem diz ah, ele volta. Mas acho uma boa ideia passear pela vizinhança e visitar os vizinhos com uma fotinho... a gente tinha uma Pandora persa que sumiu e tava presinha na casa do vizinho que se apaixonou por ela... vc ja fez isso????
Terceiro: sua fã, já disse. Gosto MUITO dos seus textos.
:)
Não! Não pude acreditar, um post falando de gatos...meu sou apaixonada por gatos...amo.amo.amo
ResponderExcluirTenho o dylan um siamês que "mata" minha solidão, que tem um dengo é uma graça de gato, manhoso, esperto, dengoso sempre consegue o que quer...melhores rações, melhores chamegos, agradinhos, mimos, meuuuu esse gato é fogo. e sinto (MUITO) pelo seu...poxa vida!!!
Já perdi muitos, alguns sumiram, outros morreram, o dylan foi um presente de aniversário e está até hj aqui...castrado-mimado-feliz.
Dono absoluto da minha cama e lençois.......ahhhh como amo os gatos...os felinos são demais!!!!
e amo o dylan.
sorte com o Polaco!!!
quem sabe não volta!!!!
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grugruruururur triste.peninha
Torço pela volta do Polaco e de todos os gatos, cachorros e papagaios desaparecidos!!!
ResponderExcluirOi, Tatiana!
ResponderExcluirOs útlimos dias foram corridos e só agora estou conseguindo ler com calma os textos daqui.
Acho que eu teria um treco se acontecesse algo com o Rufus ou a Scarlet (meus cachorros) e sei o quanto dói não saber o paradeiro de um bichinho que a gente ama. Mas hoje vi o seu e-mail e fiquei feliz por saber que o Polaco voltou. Que bom!
Oh bichano voltouuuu
ResponderExcluirHuruu!!
Viva o Polacoo!