segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um lugar para chamar de lar

A avenida Caminho do Mar fica em São Bernardo do Campo, liga o largo do Rudge Ramos ao Jardim Hollywood.

Prefiro usar esse sentido, diferente ao que a prefeitura convencionou. Pois, vou seguir a minha cronologia.

São aproximadamente 2,4 km
, 9 faróis, 2 praças, 2 radares escondidos, 1 clube e o finalzinho uma via que adota a mão inglesa.

Tudo começa no Largo de São João Batista ou para aqueles que são de lá, simplesmente Largo do Rudge. Para aqueles que estudam na Metodista, não adianta, vocês não são de lá. Pois, bem, tudo começou nessa igreja.

O casamento dos meus pais foi no 31/03/79. Bem, eu nasci no dia 13/12/79, prefiro acreditar que fui gerado na lua de mel. Um pouco antes, há a Mercy Discos, foi lá que comecei a me interessar por música, tanto que virei amigo do vendedor, com direito a gravação de coletânea rara de Jorge Ben. Mas isso no foi na loja do Metrópóle.

Subindo a avenida, temos a Praça dos Meninos, as fotos do casamento foram tiradas lá, com gosto duvidoso e foi lá que comecei a anda de bicicleta, lógico que rodinha.

Era uma Ceci Prata, estava na promoção, meu pai era peão da Volks, não deu para ser uma Caloi Cross. Foi adquirida na bicicletaria do Paulo, que basta subir mais um pouco. Um japonês que empregou a família inteira no seu comércio e todos balbuciavam o português.
Em frente a bicicletaria tem o mercado municipal, sempre gostei do pastel, apesar do atendimento não ser primoroso. O cheiro desse mercado sempre me seduziu e sem contar a banca de jornal, lá foi o local que comprei todas as figurinhas do meu único álbum competado (Copa de 90).

Do outro lado da rua, ao lado da bicicletaria do Paulo, sempre teve a UFOSOM, toda vez que passava, sonhava num dia tocar violão, bem, esse sonho permanece.

Continuando a subida, temos o banco Real, que antes era América do Sul e depois Sudameris, local de minha primeira conta bancária. Do outro lado da rua há o clube dos Meninos. A minha família foi sócia dois anos e fomos lá um vez e não me deixaram sentar na mesa de truco.

Na rua acima, a 3 de dezembro, era o hospital e maternidade do Rudge Ramos onde nasci, meu pai foi atendido num pré enfarto, onde fui operado duas vezes de hérnia e tratei as minhas diversas doenças pulmonares.

Subindo mais a avenida tínhamos a loja do carro do "coleguinha" onde comprei o meu primeiro carro e tive que vendê-lo pois não conseguia pagar a dívida. Continuando o trajeto, no outro lado, em cima do auto elétrico do Alemão, foi a minha primeira casa, desconfio que os restos do meu umbigo ainda estejam naquele telhado velho.Já os meus dentes de leite estão no telhado da minha segunda casa na 12 de outubro.

Se descer a Cândido Portinari, temos o Kazue Fuzinaka. Lembro das coisas mais a partir da 5a série, subíamos a Caminho do Mar num grupo de amigos, até a Vila Mussolini, onde os meus pais tinham restaurante. Tímido como sou, tive as minhas paixões platônicas, engraçado, nunca com a gostosona e sempre com as magrelas, com óculos, contudo, tinham sorrisos bonitos. Acho que só fui dar bola as bonitas, depois, na vida adulta.

Falando de Vila Mussolini, nunca morei lá, mas sempre fui do bairro. Verdade que só morei 8 anos no Rudge Ramos e quase 20 em Mauá.

Sim, contudo, não há farsa. Tanto que na Direito SBC me apelidaram de Mussolini. O Nova Coimbra, restaurante que os meus pai tiveram por 23 anos, comigo, quase sempre atrás do balcão, deram-me essa competência de ser um cara do bairro.

Já que estamos no Nova Coimbra, se descermos pouco, tínhamos o Disco que virou Viamar, sobe mais um porquinho tínhamos o Argênzio que virou Bem Barato. Suba, passe a Grob, temos a Fris Moldu Car, o meu primeiro emprego sem o patronato dos meus pais.

Depois da Fris Moldu Car, há a famosa mão inglesa, contudo tenho que falar do lava rápido do português. Conheço o cara desde a minha infância e não sei o seu nome. Sei apenas que torce para a portuguesa e sempre está com o leiaute de lutador de capoeira.

Ainda bem que no lugar da Lins, hoje tem uma concessionária, ela fedia demais, tratavam atum e sardinha. Demorei anos para conseguir comer esses peixes.

Em frente ao Nova Coimbra, vi a morte pela primeira vez aos 11 anos, um rapaz foi atropelado por um Diplomata.

Já na frente do novo Nova Coimbra, sofri o meu primeiro acidente de trânsito, um motoqueiro bateu na traseira do meu Voyage e foi parar no canteiro central.

Continuando na mão inglesa chegamos no Jardim Hollywood, desembocamos na Universal. Sempre íamos jogar contra o pessoal de lá e perdíamos naquela quadra. Nunca fui muito de saltar, mas o morrão era o Oásis para essa prática.

A primeira videolocadora que fiquei sócia ficava lá, lembro-me de sempre alugar comédias. Sempre pensei que ia me casar com alguma moça desse jardim. Talvez, devido aos meus amores platônicos serem dessa região.

Hoje, sobram poucas raízes nessa avenida: a minha dentista e o Alemão que instala som. Mesmo assim, somente lá tenho a sensação de estar em casa.

27 comentários:

  1. Eu sempre sonhei com a Ufossom aqui da perimetral, em santo andré. E do mesmo jeito que você porco, o sonho persiste. E eu só me sinto em casa na calçada do murão da dona Olinda, piquete com luis silva.

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  2. A Caminho do Mar era o caminho da roça quando cursei Administração, todo dia o mesmo busão e o mesmo trajeto. Gosto do final, quando já está pra virar Dr. Rudge Ramos, me lembro da pizzaria e dos meus colegas toscos de sala (que não deixaram saudades, claro. eu só sinto saudades de umas 3 pessoas).

    Não direi que me identifiquei pq isso é brega, e brega por brega, prefiro ser brega cantando Fagner no chuveiro, onde ninguém ouve.

    PS: Você às vezes é tão fofo.

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  3. Rodrigo, eu sou o seu MAIOR fã, (ia falar MAIOR DE TODOS: eu sou dos pleonasmos, dos excessos), e o fato de você escrever assim, quase a cru, e esconder entrelinha a entrelinha impressões apaixonadas de estar no mundo, e sentimentos autênticos "camuflados de roteiro maduro da infância que passou", me deixa comovido e besta, como se tudo fosse dito em duro verso alexandrino. Eu escrevi há um bom tempo,(andei também nos morros daqui, fiz minhas panorâmicas monumentais), escrevi longa análise do que representa/representou o bairro onde cresci. Escrevi quase para demoli-lo, uma ode-ódio, "raconto" rancorosamente amoroso. E quando leio aqui, este mais que bonito itinerário do lugar, vejo que essas geografias são responsáveis pela "paisagem interior" daquilo que nos tornamos, seja por gosto ou à revelia das nossas vontades.

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  4. Caramba Rodrigão, que texto... tô sem palavras...





    mas apelido de Mussolini é osso hein?....

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  5. Wow, que legal, que texto honesto, puro! brilhante, gostei muito!

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  6. não sei porque, mas seu texto me lembrou de dois filmes:

    - mais estranho que a ficção;

    - melhor impossível;

    e também já escrevi um texto assim, mas foi na primeira série, quando tive que levantar a história do bairro onde nasci. na época não tinha google, nem máguinas digitais, mas juro que vou procurar a redação e, se achar, publicar no blog.

    .

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  7. gostei de sentir no texto que esses lugares são vivos para você, mesmo que sobrem "poucas raízes" hoje.

    em outras palavras: textos assim costumam ser melancólicos e nostálgicos (adjetivos que me fazem virar a página) e seu texto não é nem uma coisa nem outra.

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  8. ei!

    Já te contei que quando mudei pra São Bernardo, eu morava na Caminho do mar? 2700 e alguma coisa.
    Sabe a escola Harmonia? Pois é, lá.
    Subia e descia a avenida todo dia.

    Confesso que de bonito, só o nome, mas que nome, né? Foi o nome de rua mais bonito que eu já morei.

    E eu tenho saudades de desce-la com os amigos que eu nunca mais vi, e de subir e virar a lions, pra ir no extra ver a sessão da meia noite, e depois voltar morrendo de medo.
    De comer lanche no snooker e da quermesse do junho.

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  9. Adorei suas memórias.Lembrei-me de quando passava férias no interior, as casinhas, as ruas. Belo post! Abração Rodrigo.

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  10. eu, que não conheço quase nada de são bernardo (só os caminhos de sbc pra são caetano e santo andré, onde trabalhava) me senti guiada.

    gostei muito do texto. ;)

    beijos!

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  11. Nossa, quanta história em apenas 2,4 km de avenida, para mim a Caminho se resume ao caminho de volta pra casa depois do trabalho alguns anos atrás, a quermesse, ao Pq. Salvador Arena e aos peixes que lá moram.^^
    Poderia escrever texto similar sobre outra avenida, do outro lado da mesma cidade, e textos assim fazem viajar um bocado.

    Supimpa.

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  12. acabo de me dar conta que eu não conheço/lembro muito bem da transformação do bairro que vivo.
    ótimo post e ótima memória.

    ps: na verdade, se eu parar pra pensar eu vou me lembrar mais do bairro da minha oma do que o que eu vivo, mas tenho saudade de ambos.
    ;)

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  13. Adorei o texto Rodrigo, o Rudge é mesmo esse lugar 'aconchegante' de SBC.
    Me inspirou á escrever algo parecido, só que no meu caso trata-se um lugar bem mais longe, rs.
    ;)

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  14. SBC pra mim é so para visitas e sempre no carro, sendo guiada, logo, não presto atençao nenhuma nos caminhos...rs. não é desdém, tbm faço isso aqui em SP.

    gostei por demais do seu texto e tinha esquecido que seu apelido era mussolini. hauauauhaua
    lembro que ri animalmente quando seus amigos lhe trataram assim, no dia da pizza em que nanei lá na sua casa, e ri pencas agora de novo....

    sem mais o que dizer digo tchau e até logo. ;o]

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  15. Acabo de lembrar que foi n Mercy Disco que eu comprei meu primeiro disco do Paulinho Da viola.

    E logo ali do lado tinha um salão, onde eu encontrei o melhr cabelereiro da minha toda.
    Acho que de todas as pessoas de sbc, ele é a que eu sinto mais falta. Só ele sabia entender minhas ondas e volume. E a 15 reais!Ai ai, saudades.

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  16. Conheci um pedaço bom de São Bernardo do Campo sem nunca ter ido praí! E com os cheiros e sons da memória, o que é melhor!

    Adorei!

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  17. Caramba. Li num fôlego só. Lembrei da Amelie "mostrando" o bairro para o ceguinho q ela encontra na rua.
    Belo, belo, belo texto, belas lembranças. Lembranças de coisas primeiras costumam ser boas.

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  18. fiquei com vontade de conhecer outros caminhos pelos seus olhos. os meus. (e - veja - isso não foi uma insinuação). rs
    gostoso demais o post.

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  19. nossa, babei de lindo o texto.

    estudo na Metodista, mas nasci em São Bernardo. No Neomater e morei até os quatro anos na Vila Paulicéia.

    pra mim a terra das batatas é tudo na vida, assim como o ABC inteiro.

    parabéns pelo texto. muuuuito bem escrito! citou até a hérnia e os problemas pulmonares! haha

    :)

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  20. Senti vontade de fazer isso sobre os meus caminhos também.

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  21. O Dú, logo depois que estivermos bons no violão, podemos montar uma banda.
    Lê, pensei que fosse sempre fofo.
    Lucas, melhor impossível?
    Pois, é o meu apelido entre o pessoal ainda é Mussolini.
    Hoje a Mercy do Metrópole é mais legal que a do Rudge.
    O Rudge parece ter parado no tempo, mas, me dei conta que não.
    Tive que lembrar dos meus problemas de saúde.

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  22. Ah!
    Mas como não gostar do post mais tico-tico-no-fubá...rs

    Falando de São Bernas, Bernô City, São Berrrrrrrnarrrrdo do Campo....( com o R bem arrastado, de interiorrrr)largo do Rudge Ramos onde morei um tempinhoooo...uns 4 anos...

    Eu amo essa cidade e sinto uma saudade do Rudge...

    Ri alto com a magrela (inédito na tv brasileira) pois a maioria tem paixões platônicas por gostosona...

    hhahahhah....

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  23. Adorei o texto Rodrigo, passei longas noites pelo Rudge, mas como vc citou quem estuda na Metodista não é de lá!!
    Durante 6 anos da minha vida andei por lá. Fiz cursinho no falecido Anglo da Dr. Rudge Ramos e 5 anos de Metô... passeei muito pela Caminho do Mar.... que saudades!

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  24. Me senti passeando pelas ruas de São Bernardo, embalada por lembranças de uma vida. Muito bom o texto.

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  25. Mauricio / Costela4 de maio de 2012 às 21:38

    Faltaram alguns pontos na Caminho do Mar, mas são para quem já é quase cinquentão como eu : o Cine Rudge Center, onde hoje é a Igreja Universal... a Ruddylandia, alguns metros para cima, na mesma calçada, onde tomavamos todas e mais algumas, a danceteria Adrenalina, onde pelo fato do Raul Seixas ter dado cano, a danceteria foi destruída, e todo mundo que eu encontro diz "Eu estava lá"... Eu afirmo que EU estava lá naquela noite.. O Colégio Harmonia, onde uma vez teve um baile, não nos deixaram entrar, e como represália, um dos meus amigos (Sidão, irmão do Saul) pegou areia no chão e colocou dentro do tanque de gasolina das motos que estavam paradas, a lanchonete 3 mosqueteiros, onde eu apostei com um amigo meu que ele não comia 15 ovos coloridos cozidos, após saírmos da domingueira do Meninos FC, (ele comeu)...a pizzaria Piccola Roma, que infelizmente fechou... a Tintas Oxford e seu incrível incêndio nos anos 70 (minha irmã trabalhava lá na época), a caixa d'água da prefeitura, mais conhecida como BURACÃO. AMIGOS.. EU VIVI OS ANOS 70 !!!

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  26. Rodrigo, quando comecei a ler seu texto, senti uma pontado em meu coração, eu sou do Rudge. Morei na av. caminho do mar ao lado do mercado municipal, depois nos mudamos para a 3 de dezembro onde minha mãe mora até hoje são mais de 30 anos de rudge, só sai daqui quando meu casei, morei na praia, depois em ribeirão, mas foi somente quando meu pai faleceu em 1999, decidi voltar, dizia que era por causa do meu pai e tal, mas la no fundo o tempo todo, era porque eu só me sentia em casa aqui, e cá estou eu de volta a quase 10 anos e daqui só saio para no máximo cemitério da vila paulicéia, que se tivesse cemitério no rudge era aqui que ficava mesmo. Um grande abraço a todos que assim como eu amamos esse lugar especial.

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