O Leminski disse uma vez que problemas têm família grande.
Todos os domingos saem para passear os problemas com suas senhoras e os
pequenos probleminhas. E nosso sonho, disse ainda, é ver todos os nossos problemas resolvidos por
decreto.
E sabe, eu tenho uma amiga com quem divido meus problemas.
Tem o amigo de tomar café, o de assistir filme, o de encher a cara e o de
dividir problemas. Dividir problemas ocupa a maior parte do nosso tempo. É claro que não
queremos apenas falar de problemas, buscamos na lamentação uma justificativa,
uma busca pelo entendimento. Nós duas fazemos terapia, nós duas dividimos
figurinhas sobre o que o terapeuta falou, como se trocássemos receitas (ainda
bem que não são médicas!), como se trocássemos as vidas.
Mas sabe? Quer saber mesmo? Ontem eu coloquei uma saia
longa, um casaco novo, um colar meio extravagante. Saí pra comprar um presente
para uma outra amiga, encontrei uma terceira amiga e descobri que sou uma das
poucas privilegiadas com seu convite. Percebi nela o encontro da felicidade,
plena, fácil, assim, ao alcance das mãos. Não desejei a sua vida, não desejei a
sua felicidade. Porque eu tenho esse sol e esse céu azul, eu tenho esse vestido
mais curto e essas pernas arrepiadas com um friozinho gostoso. Eu tenho uma
marmita me esperando na geladeira.
Eu tenho a possibilidade de um caminho. Ele pode ser
difícil, tortuoso. Mas ele pode ser fácil, gostoso. É só inspirar pequenos ares
de felicidade que ela te contagia. A felicidade pode ter o cheirinho de roupa
lavada e o gosto da reconciliação. Pode ter meta, pode ter epifania, pode não
ter nada demais e mesmo assim ser um bonito trajeto.
Pode não chegar a lugar nenhum, mas esse sol ainda vai
aparecer outras vezes, dizendo que vale a pena colocar o vestido mais curto.
Esse sol ainda vai brilhar no meu caminho. Podia ser difícil, mas hoje eu
inspiro a esperança de uma felicidade fácil, ao alcance das mãos. Eu quero que
ela permaneça comigo, mas saia de vez em quando dar umas voltinhas, quando os
problemas vierem me visitar. Aí ela bate na porta e pede pra entrar. Fica me
esperando enxugar as lágrimas, tomar um banho e falar com ela. Eu quero que a
felicidade seja minha companheira derradeira.
Olá Tatiana!
ResponderExcluirMuito bom seu texto e sua colocação sobre a felicidade e os problemas me lembrou o compartilhamento dos dois com os amigos.
Estes extremos deixam a vida mais intensa, menos cansativa, mais límpida e menos monótona. Problemas todos temos, em graus diferentes. O pior é quando, ao invés de compartilhar, entregamos os mesmos para outras pessoas, como se fosse resolver por nós.
E a felicidade para mim é como uma camiseta nova, de qualquer cor, mas com aquele cheirinho de loja de departamento (sim! Loja de departamento!) e que você após alguns dias ou meses de uso, a deixa de lado, até comprar uma nova e voltar a rir do que lhe espera mais à frente.
Grande abraço!
www.horaminuto.blogspot.com
Tati, fico feliz em partilhar desse momento com você. O texto me emocionou... é isso aí, e lembra que a felicidade se encontra no caminho.
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ResponderExcluirFelicidade é o não cheiro do colchão, aquele provolone, o linha de passe e você.
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