Tenho achado essa vida meio severina. Meu projeto adulta tem falido todo dia. Tenho considerado difícil sair do casulo, dessa morte necessária, necessária, mas ainda assim, ainda assim severina. Em todo lugar, é esse tumulto, são esses muitos braços e pernas, não é o bonde de Drummond que passa, mas é o metrô, o trem, é o formigueiro de gente, de tanta perna, que se amontoa, que se engalfinha, que se abespinha, almas sonolentas, automáticas, robóticas, nem mortas, nem vivas. A vida é severina, tem andado severina, mas não da seca que seca o coração dos homens, não só da falta de broto, não da falta de justiça. Onde tem garoa a terra é abafada, acinzentada, sufocada, secando não as possibilidades de chuva, mas as de singularidades. Porque também são muitos Severinos, de mães chamadas Marias, é esse mesmo drama da gente que se amontoa nessa cidade tão grande. São muitos Severinos carregando debaixo do braço currículos, honorários, títulos, troféus e reconhecimentos numa pasta dourada para provar que são seres dourados, intocáveis, escolhidos. Ao mesmo tempo carregam os sonhos dentro de um saco de papelão. Severino se amontoa tentando ganhar o fruto, ao qual o homem se destina, tentando galgar o topo mais alto do mundo. Carrega no lombo todo o necessário para seu sustento, fica longe dos seus, compartilhando da sua energia com a gente que menos queria. A vida severina o carrega para longe, amontoado ainda, para o destino do maior medo de sua mãe Maria. Essa vida é tão severina que na secura de sonhos repete as mesmas mortes da secura da água: a velhice antes dos 30, a violência antes dos 20, a fome um pouco por dia. Quem aí nunca morreu por não saciar sua fome de mundo?
E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta(...) (João Cabral de Melo Neto - Morte e vida severina)
É uma pena que o conteúdo de um texto tão bonito seja tão triste, por ser real desde bem antes do João Cabral! Sentimento ambíguo... feliz por uma leitura de qualidade e triste pelos tantos severinos que vemos por aí.
Como Contador que sou (acreditem, eu estudei), aprendi que as contas tem que "bater". Logo, nosso lema é, "quem não bate, apanha, e eu não gosto de apanhar". Então colega, ou voce engole o sistema, ou ele engole voce. Não desiste não, voce será feliz, mesmo sendo gente grande. Começa procurando um trabalho perto de casa, isso já vai ajudar bastante.
Ps. Texto triste pra burro, vou até pesquisar umas piadas pra me recuperar.
Haha Risa, antes mesmo do PS eu ia te aconselhar a buscar um livrinho do Ary Toledo. Afinal, ninguém disse que esse é um blog de textos apenas engraçados. Mas compreendo e aceito a sua visão, tento usá-la muitas vezes, sem abrir mão das reflexões que as "mortes" me provocam. Até porque acho que ignorar que elas existem é se anestesiar. E não quero isso pra mim.
É uma pena que o conteúdo de um texto tão bonito seja tão triste, por ser real desde bem antes do João Cabral!
ResponderExcluirSentimento ambíguo... feliz por uma leitura de qualidade e triste pelos tantos severinos que vemos por aí.
Como Contador que sou (acreditem, eu estudei), aprendi que as contas tem que "bater". Logo, nosso lema é, "quem não bate, apanha, e eu não gosto de apanhar".
ResponderExcluirEntão colega, ou voce engole o sistema, ou ele engole voce.
Não desiste não, voce será feliz, mesmo sendo gente grande.
Começa procurando um trabalho perto de casa, isso já vai ajudar bastante.
Ps. Texto triste pra burro, vou até pesquisar umas piadas pra me recuperar.
Haha Risa, antes mesmo do PS eu ia te aconselhar a buscar um livrinho do Ary Toledo. Afinal, ninguém disse que esse é um blog de textos apenas engraçados. Mas compreendo e aceito a sua visão, tento usá-la muitas vezes, sem abrir mão das reflexões que as "mortes" me provocam. Até porque acho que ignorar que elas existem é se anestesiar. E não quero isso pra mim.
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